you kiddin', rite? - parte I
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Título: Considerações sobre o marxismo ocidental/ Nas trilhas do materialismo histórico
Título Original: Considerations on western marxism/ In the tracks of historical materialism
Autor(a): Perry Anderson
Prefácio: Emir Sader
Tradutor(a): Isa Tavares
Páginas: 240
Ano de publicação: 2004
ISBN: 85-7559-033-2
este acinte da boitempo prima também pela piada.
in the tracks of historical materialism foi a primeira tradução que fiz na vida para uma editora. saiu em 1984 pela brasiliense, na coleção "primeiros voos", com o título de a crise da crise do marxismo.
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lá se veem os erros e vezos de uma marinheira de primeira
viagem, fielmente reproduzidos na edição da boitempo, agora eu renomeada como
"isa tavares". um catholicity que dei como "catolicismo", uma
meia-dúzia de relevant como
"relevante", evidence como "evidência", o mais amador uso de
"através de" para through, uma enfiada
de "mentes" usados com pródiga liberalidade - por exemplo, três numa
frase só: "para alguns da minha geração, formados numa época em que a
cultura britânica parecia completamente destituída de qualquer impulso marxista endógeno
significativo - a retardatária da Europa, como constantemente denunciávamos ... -, essa foi uma metamorfose realmente espantosa", seguida por uma frase
horrorosa preservada com todo o carinho por minha döppel: "a relação tradicional entre a inglaterra e
a europa continental parece ... ter sido efetivamente invertida". alguns
outros traços muito pessoais, que considero corretos e aceitáveis, conservo até
hoje.
denise bottmann (brasiliense, 1984)
o marxismo, é claro, entra maciça e predominantemente na categoria daqueles sistemas de pensamento preocupados com a natureza e a direção da sociedade como um todo. (p. 12)
tal concepção não envolvia nenhum elemento de positividade complacente - como se a verdade, a partir de então, estivesse garantida pelo tempo, o ser pelo devir, e sua doutrina imune a erros graças à simples imersão na transformação. (p. 14)
a cultura marxista historicamente centrada que surgiu no mundo anglófono finalmente não permaneceu confinada a suas próprias províncias. (p. 31)
esse processo fez surgirem as eufóricas coberturas dos meios de massa norte-americanos e europeus em 1977, a revista time tendo sido apenas uma dentre elas. mas, apesar de a escala e a velocidade do fenômeno terem sido suficientemente dramáticas, o próprio termo sempre foi enganoso. (p. 33)
especialmente na frança e na itália, os dois principais territórios pátrios de um materialismo histórico vivo nos anos 50 e 60, o massacre dos ancestrais tem sido impressionante para alguém que, como eu aprendeu muito de seu marxismo com aquelas culturas. (p. 36)
o tosco cadastramento do estado atual da teoria marxista ... terminou com um enigma. (p. 37)
o ponto relevante é que esta inveterada tensão - às vezes lesão - dentro do materialismo histórico não assumiu nenhuma forma diretamente política (p. 40)
os debates que os dividiram, no seu empreendimento inicialmente conjunto, foram de rara qualidade e intensidade (p. 41)
sartre, confiou althusser às páginas do semanário do partido comunista italiano, era um falso amigo do materialismo histórico, na verdade mais distante dele do que seu ostensivo crítico lévi-strauss. (p. 43)
althusser tentou adaptar tardiamente sua teoria, concedendo espaço ao papel das massas, que, reconhecia agora, "faziam história", mesmo que os "homens e mulheres" não a fizessem. (p. 45)
se essa foi, então, a curva aproximada da trajetória do estruturalismo para o pós-estruturalismo, nossa pergunta inicial responde-se a si mesma. (p. 63)
isa tavares (boitempo, 2004)
o marxismo, é claro, entra maciça e predominantemente na categoria daqueles sistemas de pensamento preocupados com a natureza e a direção da sociedade como um todo. (p. 146)
tal concepção não envolvia nenhum elemento de positividade complacente - como se a verdade, a partir de então, estivesse garantida pelo tempo, o devir*, e sua doutrina imune a erros graças à simples imersão na transformação. (p. 147) - * mas aqui minha döppel comeu bola ao eliminar "o ser [garantido] pelo devir" e deixar apenas "o devir".
a cultura marxista historicamente centrada que surgiu no mundo anglófono, finalmente, não permaneceu confinada a suas próprias províncias. (p. 161)
esse processo fez surgirem as eufóricas coberturas dos meios de massa norte-americanos e europeus em 1977, a revista time tendo sido apenas uma dentre elas. mas, apesar de a escala e a velocidade do fenômeno terem sido suficientemente dramáticas, o próprio termo sempre foi enganoso. (p. 163)
especialmente na frança e na itália, os dois principais territórios de um materialismo histórico vivo nos anos 50 e 60, o massacre dos ancestrais tem sido impressionante para alguém que, como eu aprendeu muito de seu marxismo com aquelas culturas. (p. 166)
o tosco cadastramento do estado atual da teoria marxista ... terminou com um enigma. (p. 167)
o ponto relevante é que esta inveterada tensão - às vezes lesão - dentro do materialismo histórico não assumiu nenhuma forma diretamente política (p. 169-70)
os debates que os dividiram, no seu empreendimento inicialmente conjunto, foram de rara qualidade e intensidade (p. 170)
sartre, confiou althusser às páginas do semanário do partido comunista italiano, era um falso amigo do materialismo histórico, na verdade mais distante dele do que seu ostensivo crítico lévi-strauss. (p. 172)
althusser tentou adaptar tardiamente sua teoria, concedendo espaço ao papel das massas, que, reconhecia agora, "faziam história", mesmo que os "homens e mulheres" não a fizessem. (p. 173)
se essa foi, então, a curva aproximada da trajetória do estruturalismo para o pós-estruturalismo, nossa pergunta inicial responde-se a si mesma. (p. 189)
esses torneios inconfundíveis não cessam de surgir (e de ser copiados) até o final do livro, e creio ser desnecessário acrescentar outros exemplos. passo agora a apresentar trechos mais extensos da cópia deslavada:
denise bottmann (brasiliense, 1984)
essa longa e atormentada tradição - conforme argumentei - estava finalmente se esgotando na virada dos anos 70. houve duas razões para isso. a primeira foi o redespertar das revoltas de massa na europa ocidental - na verdade, bem no centro do mundo capitalista avançado -, onde a grande onda de inquietação estudantil em 1968 anunciava a entrada de contingentes maciços da classe trabalhadora em uma nova insurgência política, de um tipo nunca visto desde os dias dos conselhos espartaquistas ou turinenses. a explosão de maio na frança foi a mais espetacular delas, seguida pela onda de militância industrial na itália em 1969, pela decisiva greve dos mineiros na inglaterra, que derrubou o governo conservador em 1974, e em poucos meses depois pela sublevação em portugal, com sua rápida radicalização para uma situação revolucionária do tipo mais clássico. em nenhum desses casos, o ímpeto da rebelião popular derivava dos partidos de esquerda estabelecidos, fossem social-democratas ou comunistas. o que pareciam prefigurar era a possibilidade de um fim no divórcio de meio século entre teoria socialista e prática operária maciça, que havia deixado uma marca tão deformante no próprio marxismo ocidental. ao mesmo tempo, o prolongado desenvolvimento do pós-guerra chegou a uma abrupta interrupção em 1974, questionando pela primeira vez em 25 anos a estabilidade sócio-econômica básica do capitalismo avançado. subjetiva e objetivamente, portanto, as condições pareciam iluminar o caminho para o surgimento de um outro tipo de marxismo.
minhas conclusões pessoais acerca de sua forma provável - conclusões que eram também recomendações, vividas num espírito de otimismo ponderado - foram quatro. (p. 21-2)
isa tavares (boitempo, 2004)
essa longa e atormentada tradição - conforme afirmei - estava finalmente se esgotando na virada dos anos 70. houve duas razões para isso. a primeira foi o redespertar das revoltas de massa na europa ocidental - na verdade, bem no centro do mundo capitalista avançado -, em que a grande onda de inquietação estudantil em 1968 anunciava a entrada de contingentes maciços da classe trabalhadora em uma nova insurgência política, de um tipo nunca visto desde os dias dos conselhos espartaquistas ou turinenses. a explosão de maio na frança foi a mais espetacular delas, seguida pela onda de militância industrial na itália em 1969, pela decisiva greve dos mineiros na inglaterra, que derrubou o governo conservador em 1974, e, poucos meses depois, pela sublevação em portugal, com sua rápida radicalização para uma situação revolucionária do tipo mais clássico. em nenhum desses casos, o ímpeto da rebelião popular derivava dos partidos de esquerda estabelecidos, fossem socialdemocratas ou comunistas. o que eles pareciam prefigurar era a possibilidade de um fim no divórcio de meio século entre teoria socialista e prática operária de massas que havia deixado uma marca tão deformante no [] marxismo ocidental. ao mesmo tempo, o prolongado crescimento do pós-guerra sofreu uma abrupta parada em 1974, ameaçando pela primeira vez em 25 anos a estabilidade socioeconômica básica do capitalismo avançado. subjetiva e objetivamente, portanto, as condições pareciam iluminar o caminho para o surgimento de um outro tipo de marxismo.
minhas conclusões [] acerca de sua forma provável - conclusões que eram também recomendações, vividas num espírito de otimismo ponderado - foram quatro. (p. 153-4)
denise bottmann (brasiliense, 1984)
dito tudo isso, continua sendo verdade que a diferença entre a filosofia da linguagem e da história de habermas e a de seus contrapositores estruturalistas e pós-estruturalistas não é mera redundância. falei da curiosa inocência da visão de habermas: mas ela também comporta uma espécie de integridade e dignidade intelectual geralmente estranhas aos exemplares franceses do modelo linguístico. o próprio estilo de habermas - frequentemente (não sempre) enfadonho, incômodo, laborioso - revela seu contraste com as excitantes coloraturas dos mestres parisienses. por trás disso estão, não sugestões wagnerianas fin-de-siècle, mas os ideais austeros e o sério otimismo do iluminismo alemão. a bildung é o real motivo condutor que unifica a série característica de interesses e argumentos de habermas. leva a uma visão essencialmente pedagógica da política, o foro transformado em sala de aula quando as lutas e confrontos se transmutam em processos de aprendizagem. mas, com todas as limitações dessa ótica, dolorosamente óbvias numa perspectiva marxista clássica, ela não exclui realmente a política como tal. ao contrário de seus muitos opostos na frança, habermas tentou uma análise estrutural direta das tendências imanentes do capitalismo contemporâneo e da possibilidade de surgimento, a partir delas, de crises de transformação dos sistema - mantendo o projeto tradicional do materialismo histórico. sua noção de uma crise de "legitimação" moral a minar a integração social - uma crise paradoxalmente gerada pelo próprio sucesso da regulação, dirigida pelo estado, do ciclo de acumulação capitalista - nesse aspecto conforma-se fielmente ao esquema de primazia normativa postulada pela teoria evolucionária da história como um todo. (p. 76-7)
isa tavares (boitempo, 2004)
dito tudo isso, continua sendo verdade que a diferença entre a filosofia da linguagem e da história de habermas e a de seus opositores estruturalistas e pós-estruturalistas não é mera redundância. falei da curiosa inocência da visão de habermas, mas ela também comporta uma espécie de integridade e dignidade intelectual geralmente estranhas aos exemplares franceses do modelo linguístico. o próprio estilo de habermas - frequentemente (não sempre) enfadonho, incômodo, laborioso - revela seu contraste com as excitantes coloraturas dos mestres parisienses. por trás disso estão não sugestões wagnerianas fin-de-siècle, mas os ideais austeros e o sério otimismo do iluminismo alemão. a bildung é o real leitmotif que unifica a série característica de interesses e argumentos de habermas. leva a uma visão essencialmente pedagógica da política, o foro transformado em sala de aula quando as lutas e confrontos se transmutam em processos de aprendizagem. mas, com todas as limitações dessa ótica, dolorosamente óbvias numa perspectiva marxista clássica, ela não exclui realmente a política como tal. ao contrário de seus [] opostos na frança, habermas tentou uma análise estrutural direta das tendências imanentes do capitalismo contemporâneo e da possibilidade de surgimento, a partir delas, de crises de transformação dos sistema - mantendo o projeto tradicional do materialismo histórico. sua noção de uma crise de "legitimação" moral corroendo a integração social - uma crise paradoxalmente gerada pelo próprio sucesso da regulação, dirigida pelo estado, do ciclo de acumulação capitalista -, nesse aspecto conforma-se fielmente ao esquema de primazia normativa postulada pela teoria evolucionária da história como um todo. (p. 201)
Published on July 28, 2012 11:05
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