O Eternauta

Série, direção de Bruno Stagnaro, Argentina – 2025
O Eternauta é uma aposta ousada, tanto da Netflix como do audiovisual argentino. É adaptação da novela gráfica homônima, criada em 1957 e retomada nos anos setenta por Hector German Osterheld (texto) e Solano López (desenho, na década de 70). A HQ é icônica na argentina, mas pouco conhecida internacionalmente. Várias tentativas de adaptação para cinema (animação e live action) ao longo dos anos acabaram não vingando. Talvez pelo alto custo da produção, talvez pela extensão da obra, ou pela forte tradição do cinema argentino de trabalhar com dramas realistas, enquanto O Eternauta é uma fantasia distópica de ficção científica, com muita ação.
Além da obra em si, a história trágica de Hector Osterheld, desaparecido pela ditadura argentina, assim como suas quatro filhas, em 1977, traz mais um componente de peso para a mística da História em Quadrinhos. Hector criou uma trama que acabou tendo ligação chocante com seu destino e o de sua família. Para ler mais sobre Osterheld clique aqui.
A série conta com um elenco de peso, com os atores Ricardo Darin e Cesar Troncoso, mais conhecidos também por seus papeis em dramas realistas. Os primeiros episódios têm esse tom realista, e o fenômeno estranho que assola a capital argentina parece um desvio, algo como uma anomalia meteorológica ou física. A série engata numa estética sci-fi e HQ, a partir do terceiro episódio quando surgem os bichos. No entanto, ela já é prenunciada no primeiro plano do episódio inicial, um plongée radical de um barco parado em águas escuras, seu mastro desnudo da vela quase cutuca a lente, e no fundo, o rosto de uma moça deitada visto pela escotilha.
As cenas de ação e os efeitos são bem executados, os atores entregam boas performances ainda que não haja grande complexidade nos personagens. Mas há algo estranho na estrutura da primeira temporada que parece incompleta. Normalmente se espera que um ciclo se feche em cada temporada, ainda que com gancho para a continuação. No caso de O Eternauta, a sensação é que há uma interrupção no meio do ciclo. Ainda mais quando esse é um ciclo expositivo. Parece que faltou ainda um ou dois episódios para estabelecer o conflito principal, inclusive esclarecer o título da obra. Há que esperar, portanto, a próxima temporada, para fazer uma análise mais completa.
Apesar dessa anomalia estrutural, o lançamento foi um enorme sucesso, é a série de língua não inglesa mais assistida nos primeiros cinco dias pós estreia na plataforma. É provável, portanto, que a segunda temporada não demore para entrar em produção.
O Eternauta pode ser vista na Netflix.