vem aí

A peça é de 2000, foi 1 sucesso.


Ganhei até o Prêmio Shell de melhor texto com ela.


O que deixou mamãe bem orgulhosa, apesar de reclamar que a peça tinha muitos palavrões, e o protagonista usava Havaianas.


Aliás, uma rotina: ela sempre reclamava dos palavrões da minha obra.


E dos figurinos das minhas peças.


Dizia que meus atores eram mal vestidos.


E que quem vai ao teatro quer ver coisa bonita, caprichada.


Minha mãe é uma pessoa fina, sofisticada, fala línguas, estudou em escola francesa.


Advogada, tradutora, especialista em Dostoievski e nos Iluministas.


Uma lenda viva.


Tadinha, só a envergonhei com minhas peças cabeludas e provocativas.


E meus elencos com roupas do dia a dia.


Sem contar os personagens degenerados, drogados, sexistas, tarados, vagabas…


Eu dizia que era teatro naturalista, que o figurino ajudava a compor o personagem.


Ela dizia que mesmo assim 1 ator jamais deveria atravessar um palco com sandálias em que aparecessem as unhas.


O filme está prontinho.


Roteiro meu e do Lusa Silvestre.


Acho que nossos nomes aparecem no cartaz lá no cantinho.


Em destaque, só os das gostosas e galãs.


Talvez com um zoom consiga vê-los.


Mas, e daí?


Eles que são do front de batalha.


Nós apenas escrevemos a declaração de guerra.


Ator é a alma do teatro, comédia e drama.


E do cinema também, acho.


Aguarde…


Mas já vou avisando, é produção carioca, deve estar assim de neguinho descalço, de sandália, de unha aparecendo.


 


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Published on May 30, 2012 14:09
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Marcelo Rubens Paiva's Blog

Marcelo Rubens Paiva
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