Openheimer

Filme de Christopher Nolan, EUA 2023
Christopher Nolan é um dos cineastas que melhor consegue conjugar arte com entretenimento, crítica com bilheteria. Já no seu segundo longa, Memento (Amnésia, no Brasil) chamou atenção pela inventividade narrativa e a maneira ousada de prender o espectador, através da fragmentação de informação. Em Openheimer, ele traça a biografia do físico que foi alcunhado de o pai da bomba atômica, ou de o Prometheu Americano, título do livro biográfico que serve de base para o filme, dos autores Kay Bird e Martin Jay Sherwin.
Nolan estrutura sua narrativa em duas situações mescladas no filme e diferenciadas pela fotografia em colorido e em preto e branco. Ao pouco nos é revelado que essa estética separa dois pontos de vista. Nas cenas em colorido, Openheimer enfrenta uma audiência da Comissão de Energia Atômica, em que acaba narrando boa parte de sua vida, desde seus estudos universitários até a direção do Projeto Manhattan, que resultou na criação da bomba atômica. Nas cenas em preto e branco o inquirido (perante o senado norte americano), é Lewis Strauss. Lewis, descobriremos no decorrer do filme, é o antagonista, um dos membros da comissão que inquire Openheimer nos anos do Macarthismo. Nas cenas em preto e branco ele expõe o seu ponto de vista sobre seu desafeto. Cria-se assim uma obra sobre um herói injustiçado, em conflito interno com o ato que protagonizou.
Física quântica, intrigas políticas, e um dilema moral de proporções épicas tornam-se o centro da vida do cientista após aceitar o desafio de dirigir o projeto de pesquisa e construção de uma bomba nuclear, numa corrida contra o tempo e contra os esforços dos nazistas. Nolan costura muito bem esses temas num filme em que não se sente as três horas de duração. No entanto, o desafio de destrinchar o personagem, construir um protagonista de carne, osso e, principalmente sentimentos, não é vencido com o mesmo louvor.
Cilian Murphy faz o papel principal. Eu temia, antes de assistir o filme, ver o Thomas Shelby travestido de Robert Openheimer. Não é o que acontece. O ator soube se liberar do peso das seis temporadas de Peaky Blinders, porém tampouco nos apresenta um personagem complexo e real como fez na série britânica. É difícil dizer se o problema reside no roteiro ou no trabalho de ator, provavelmente em ambos, mas com mais peso para as escolhas do roteiro e um fetiche por frases de efeito nos diálogos.
Openheimer, centrado em personagem cativante e evento de grande impacto na história mundial, ainda que interessante, não é dos melhores filmes do diretor. Mesmo assim é o favorito nas casas de apostas ao Oscar. O filme disputa a estatueta em nada menos do que treze categorias, entre elas Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Ator e Atriz Coadjuvante. Em três dias saberemos se de fato será o grande vencedor. Para o meu gosto (não vi todos os candidatos) o melhor filme é Anatomia de Uma Queda.
Openheimer pode ser alugado na Amazon Prime, Claro TV, Apple TV e Google Play. É possível que após o Oscar, volte aos cinemas.


