RRR

Filme de S.S. Rajamouli, Índia 2022
RRR é um filme espetacular, ou melhor um filme-espetáculo. Sua trama, roteiro, personagens, ritmo, cinematografia e arte estão todos a serviço do espetáculo, e o espetáculo é alimentado por planos mirabolantes, uma explosão de cores e efeitos especiais e, principalmente, pelo que há de mais essencial na arte cinematográfica: o movimento.
RRR é um filme indiano, e fiel a tradição cinematográfica do segundo maior país produtor de cinema do planeta, permite-se mesclar musical com drama, ação, fábula, mitologia e…política. Nada parece muito profundo no filme, tudo é exagerado. Os vilões são radicalmente malvados e os heróis são ingênuos ao extremo, os conflitos são melodramáticos, os diálogos descritivos, os cenários e as cores pululam da tela para dentro de nossos olhos. Rajamouli, porém, igual a um Almodóvar ou Baz Luhrman, amalgama todos esses elementos numa obra de arte extravagante que abriga entretenimento e conteúdo e deixa o espectador extasiado pela maestria da movimentação da câmera e dos elementos em cena. Essa maestria é que opera a mágica de carregar-nos para dentro da fábula cinematográfica, fazer-nos acreditar e sermos impactados pela coreografia mirabolante.
Mas não é só de espetáculo que RRR se alimenta. Situando a trama no passado, quando a índia ainda era uma colônia britânica, o filme fala sobre racismo, classes, imperialismo, e natureza. E então entendemos que a vilania exacerbada representa uma condição – a dos dominadores – e que essa condição pode corromper inclusive indivíduos bons em sua essência. É interessante que apesar do desprezo pelo dominador a obra não deixa de abordar o fascínio do colonizado pelo europeu.
Os animais que aparecem no filme são todos gerados por computador, ou seja, não houve maus tratos aos animais.
O filme teve sucesso estrondoso na Índia e chamou a atenção do espectador ocidental. O ideal é vê-lo em tela grande, numa sala de cinema. Para o público brasileiro ele está disponível na Netflix.