Não Olhe Para Cima

Filme de Adam McKay – EUA 2021

Um cometa se precipita em direção à Terra. O choque, tudo indica, será fatal. Ele já pode ser visto no céu noturno do planeta, a olho nu. Olhe para cima!, clamam os cientistas em uma campanha para tentar conscientizar as pessoas. Não olhe para cima! é o lema da contracampanha, orquestrada pela presidente norte americana e seu patrocinador.

Não Olhe Para Cima não é um filme de ficção científica ou uma distopia apocalíptica, nem um blockbuster de catástrofe. É uma sátira mordaz sobre a humanidade, muito adequada a este fim de ano, início da terceira década do século XXI, época em que a idiotice uniu-se à superficialidade para tomar conta da espécie.

O cometa que irá despencar sobre nossas cabeças, olhemos ou não para cima, é o aquecimento global. Mas o filme aborda outros temas que se relacionam com o negacionismo explícito: a derrocada da democracia pela eleição de líderes fascipopulistas, a polarização e o pós verdade através da desinformação, a revolução tecnológica que criou novos multibilionários e a sensação que podem brincar de Deus, e a Covid que tanto no Brasil como nos EUA de Trump mostrou que o filme, frente à realidade, nem chega perto do farsesco.

Meryl Streep arrasa como a presidente dos EUA, um Trump feminino.

O governo, os políticos, a mídia, as grandes corporações e as redes sociais são os alvos dessa sátira mordaz, mas no fundo a obra é um reflexo da sociedade atual, um espelho com a imagem de cada um de nós, o que deve ter incomodado muita gente. Isso explica em parte as inúmeras críticas à obra. Dizem que não é um filme profundo, que a sátira é muito óbvia, que os personagens, em sua maioria, são estereotipados. Mas se analisarmos os personagens reais que eles representam, veremos que o estereótipo não é obra do filme, mas das próprias personas. E que os atores que os interpretam incorporam muito bem essa característica, sem se tornarem caricaturescos. Por outro lado, há personagens (como os três cientistas) que embora não sejam altamente complexos, são tampouco superficiais. Os diálogos são inteligentes e a construção do conflito (o negacionismo) é muito bem articulado. Não se pode esperar que um filme que almeja se comunicar com uma sociedade que denuncia como superficial, seja profundo como Bergman, ou sagaz como Billy Wilder. Mas há momentos de irreverência no filme que me lembraram Dr. Fantástico (Dr. Strangelove) de Kubrick. Ambos falam de um perigo de extinção oriundo da estupidez humana. E em nenhum dos dois  o humor tem a função de amenizar a seriedade da ameaça, mas realçar o absurdo. Odiado ou amado, criticado ou enaltecido Não Olhe Para Cima é certamente o filme mais comentado nos últimos anos, o que já é um bom sinal. Resta saber se isso será suficiente para levantarmos a cabeça e finalmente agirmos como a espécie inteligente que pretendemos ser, antes que seja tarde.

Recheado de estrelas como  Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence,  Cate Blanchett, Meryl Streep e Ariana Grande, Não Olhe Para Cima pode ser visto nos cinemas e na Netflix.

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Published on December 30, 2021 06:48
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