Sem Benevolência #1
Direitos autorais © 2021 Roger Oliver
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Sequestrada
O longo rabo de cavalo agitava-se em meio aos trotes pela calçada afora. A rua deserta e o silêncio deram um tom horripilante àquele momento de escuridão noturna, provocado por uma luz queimada.
O carro de janelas escuras parou ao seu lado no momento exato que ela cruzaria com um elemento suspeito que vinha à sua frente, no mesmo lado da calçada, e muito próximo do misterioso poste sem iluminação.
A ação estava devidamente ensaiada. Ela não teve o que fazer.
— Cala a boca e entra no carro — falou o criminoso com seus braços entrelaçados em sua cintura. O homem era alto e musculoso. Seus braços eram maiores que as coxas da menina.
O homem catinguento falou tão próximo da jovem, que, no momento do grito, uma gota espessa de saliva fétida fora expurgada da boca do criminoso, batendo contra o lábio superior da moça, a qual imediatamente sentiu a quentura do líquido nauseabundo, e isso a fez lembrar involuntariamente da saliva infectada de um dragão-de-komodo.
A garota abruptamente sentiu-se nauseada, cuspiu ruidosamente enquanto esfregava seus lábios no tecido da manga de sua camisa.
— Engoliu uma mosca? — perguntou retoricamente o homem do volante, sem entender o real motivo daqueles cuspes em direção ao assoalho do veículo.
Assim que a jogaram no banco de trás, interromperam suas cusparadas, ao colocarem um capuz em sua cabeça. Sua visão agora era escuridão total.
O carro saiu sem levantar suspeitas. Para os transeuntes das proximidades, era apenas um veículo comum, com vidros escuros, passeando pelas ruas.
— O que vão fazer comigo? — perguntou a jovem, que agora estava com suas mãos amarradas.
— Tantas coisas, amor. Mal posso esperar — falou o dragão-de-komodo com sua voz fina. Sua boca salivava descontroladamente.
A garota conseguiu escutar sons zombeteiros de sucção. O elemento parecia que sugava um prato inteiro de macarronada e depois ria freneticamente.
O trajeto até o cativeiro levou pouco mais de quarenta minutos, mas na mente dela haviam se passado horas. Ele não parava de zombar dela.
As ameaças choviam para cima dela.
Eles são perversos e não estão para brincadeira, pensava ela ao escutar todo o tipo de ameaça contra sua integridade física e moral. O rapaz do volante não fizera ameaças, mas soltou um risinho e outro, aprovando os dizeres de seu parceiro de crime.
Ela fora arremessada em uma sala escura e totalmente cimentada. Ainda estava com seu capuz. Estava difícil respirar, mas ela se manteve quieta até aquele momento.
— Se tentar fazer qualquer coisa, vamos complicar ainda mais a sua estadia por aqui — falou o criminoso que dirigia.
Ela estava em choque e os escutava atentamente. Ouvira o suficiente. Sabia do que eles eram capazes. Eles falavam com firmeza. O motorista era mais objetivo com as palavras, e tratava o sequestro com perspicácia aguçada, portanto, ele era o que mantinha o dragão-de-komodo amarrado, caso contrário o animal já teria devorado aquela presa suculenta.
A menina sentiu aqueles dedos ásperos arranharem seus seios. As mãos do criminoso pareciam-se com lixas de parede.
— Não. Por favor, não faça nada comigo — falou ela em tom desesperado.
— Timbú, agora não! — falou o motorista em tom rígido e breve.
— Qual é, parceiro? Que diferença vai fazer? Vamos aproveitar que ela está cheirosinha hoje. Logo, estará fedendo a esgoto. — Timbú, terminou com uma gargalhada que parecia com a de um maníaco psicopata.
O maníaco agora se calou e se afastou.
A garota não ouviu o parceiro dizer nada, mas imaginou que ele tivesse feito algum sinal de “basta” com a mão, pedindo para que o outro se retirasse; ou, muito pelo contrário, fizera algum gesto para que o parceiro colocasse algum plano em ação antes que a venda fosse retirada.
— Acredito que você esteja em sua plena consciência, e, por isso, não tentará fazer nada estúpido. Certo?
— Não te… tentarei fazer na… nada estúpido — disse ela em meio a uma gagueira repentina. Sua voz quase não saiu. E ela sentiu o choro preso em sua garganta.
— Muito bem! Agora eu vou tirar a sua venda. Isso aqui é um sequestro, e as coisas funcionam de modo simples por aqui: vamos contactar a sua família, pedir o valor do resgate, e, após o depósito do dinheiro, deixaremos você em qualquer lugar longe daqui para que a polícia a encontre. Entendeu?
— Não… por favor, não me machuque.
— Ninguém está te machucando, caralho infernal! — falou o criminoso antes de retirar a venda da garota, e prestes a se contradizer.
Aquilo fora o suficiente para que ela notasse o quão violento aquele criminoso era.
Ela fora sequestrada por um psicopata e outro agressor violento.
— Sou de uma família pobre. Não temos dinheiro.
— Não importa se são ricos ou pobres. Sei o que estou fazendo. Vão pagar e vou te liberar, ou não vão pagar, e eu vou te matar lentamente. Bem lentamente. Do jeito que eu mais gosto de fazer.
— Mas… — ela deu um longo gemido de choro. — Nãoooo.
— Acalme-se, sua infeliz miserável. Você acha que eu quero te matar?
— Aaaaah! — ela gritou aos prantos por dentro do capuz, mas se calou imediatamente ao receber um soco nos dentes. Sua boca agora sangrava.
— Desgraçada! Tenho contas para pagar! Se você acha que vou perder tempo com você, está enganada — gritou o sequestrador totalmente alterado.
— E se não tiverem dinheiro? — perguntou ela ao sequestrador, quase que sussurrando.
— Todo mundo tem dinheiro. Alguns mais do que outros.
— E quanto eles terão que pagar?
— Você está perdendo a noção das coisas?
Ela sentiu a mão do homem apertar seu pescoço e parte do queixo, quase a enforcando.
Agora o soco foi em sua têmpora, seguido de outro no meio da cabeça. Ele não queria deixá-la com hematomas, por isso, hesitou em acertar seu rosto novamente.
— Me desculpa. O que eu fiz?
— O que você fez? — Ele parou para uma risada maligna, com os olhos vermelhos de ódio, totalmente desconformado com aquela pergunta. — Você está fazendo perguntas demais! — Ele a arremessou contra a parede. Por pouco ela não quebrou o braço. — De agora em diante, não quero que você abra a sua boca para mais nada além de responder o que eu perguntar.
Dessa vez ela apenas balançou a cabeça.
O homem removeu sua venda.
Ela viu pela primeira vez aquele rosto tenebroso. O homem gordo estava com a barba grisalha por fazer — uma barba que se parecia com pentelhos. Tinha os globos oculares sobressaltados para fora das órbitas por natureza. Grossas veias desenhavam-se nas membranas brancas de ambos os olhos. Tinha os dentes demasiadamente amarelados. Tinha a pele branca, cabelo pixaim, o qual, assim como a barba, precisava de um corte.
— A primeira mentira que você contar, será fatal. Está me entendendo? FATAL! A primeira tentativa de me sabotar será tão ruim para você… que já sinto minhas mãos formigarem. E também, você sabe muito bem o que o camarada ali quer fazer com você. — O criminoso fez uma breve pausa para admirar o sofrimento da garota. — Então você terá que cooperar. Se você cooperar, o resto a gente desenrola, e logo estará de volta à sua casa.
Ela agora sentia o hálito de café misturado com pinga que saia daquela boca com dentes tortos e amarelos.
O obeso se virou de costas, revelando um círculo de suor por toda aquela corcunda oleosa. E bateu a porta de aço — era totalmente lacrada, exceto uma abertura central que permitia passar uma mão.
Continua.
Autor: Roger Oliver na Amazon
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