Trainspotting

Livro – Irvine Welsh – Escócia – 1993.


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Romance de estreia do escritor escocês, que retrata o universo de uma turma de jovens dos bairros operários de Leith (hoje subúrbio da grande Edimburgo) nos meados de 1980. São jovens que gravitam em torno de uma vida sem perspectiva, sustentada pelo seguro desemprego, nos anos de recessão que viram surgir os movimentos punk e skinhead. Mark Renton é o personagem principal, mas a protagonista é a heroína. O álcool e outras drogas são suas coadjuvantes. O sexo, as bandas de rock e o futebol são os figurantes. Um pseudoniilismo tenta dar um verniz de sofisticação ao vazio existencial dessa turma, vazio que em alguns momentos parece derivado do vício, em outros é preenchido por ele.


A obra tem uma estrutura original, raramente utilizada em romances. Construída como uma colcha de retalhos, a narrativa ganha forma a partir de relatos curtos que ora se cruzam, ora se complementam, ora têm enredos autônomos. Os narradores também se alternam entre  personagens que narram em primeira pessoa, um narrador/observador e um observador onisciente. Essa construção fragmentada, essa estrutura “desestruturada”, não é meramente um exercício de estilo, é um elemento importante para desacomodar e confundir o leitor, colocá-lo no interior das mentes e corações dos jovens junkies de Leith. Renton, Sick Boy, Spud, Stevie e Begbie são personagens caóticos, como a estrutura que narra suas histórias. A linguagem utilizada – uma mistura de gíria com o jargão local do inglês e forte sotaque escocês proletário – fortalece a autenticidade do texto,  transporta-nos para as ruas, pubbs e  muquifos frequentados por essa turma. Parte dessa riqueza se perde na tradução, é inevitável, mesmo assim, o trabalho de Daniel Galera e Daniel Pelizarri para a edição brasileira (Companhia das Letras) encara com louvor o desafio rítmico e de estilo na tradução de Trainspotting.


[image error]Mark Renton e seus amigos na adaptação de Trainspotting para o cinema.


O nome do livro tem alguns sentidos. Trainspotting é um passatempo britânico que consiste em observar os trens numa estação ferroviária, registrar seus horários, série do motor e outros detalhes que parecem relevantes apenas para quem é um adepto da prática. Por isso virou uma expressão (entre os não adeptos) que indica uma atividade inútil ou sem sentido. O termo aparece apenas uma vez no texto quando, em uma noite fria, Renton e Begbie param para mijar no muro de uma central de trem desativada e um bêbado, atirado no local, pergunta com deboche: “o que estão fazendo aí, trainspotting?” O termo, na gíria junkie de Edimburgo daqueles anos, também se referia a injetar heroína.


O livro, apesar do humor, da linguagem cativante e do ritmo alucinante, tem vários momentos barra pesada. A enganosa leveza na forma de tratar o mundo cão também causa desconcerto, sacode o leitor do conforto do sofá para as latrinas de um mundo amoral, em alternância contínua entre desespero e êxtase.


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Apesar dos desafios que apresenta aos leitores, o livro foi um sucesso. Foi adaptado para o cinema por Danny Boyle, o que aumentou a sua notoriedade. Gerou uma sequência, Pornô (2002) e, uma pré-sequência, Skagboys (2012). Pornô também virou filme: T2 Trainspotting (para ler a resenha, clique aqui), com o mesmo diretor e atores. Irvine Welsh escreveu vários outros romances, contos, peças de teatro e roteiros. Também dirigiu curtas e codirigiu um longa-metragem.


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Published on August 28, 2020 07:34
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