Alien, o Oitavo Passageiro
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Filme de Ridley Scott – Inglaterra/EUA – 1979.
É impressionante como Alien, o Oitavo Passageiro não envelheceu. Após quarenta e um anos segue com a mesma intensidade e qualidade cinematográfica que impactou o espectador no século passado. Seu sucesso gerou uma franquia de seis filmes, dois deles dirigidos pelo próprio Ridley (Prometheus – 2012 e Alien: Covenant – 2017) e um terceiro que, conforme revelou o diretor, está à caminho. Nenhuma dessas sequências ultrapassou o impacto do primeiro filme, lançado em 1979, com argumento de Dan O’Bannon e Ronald Shusett e roteiro de Dan O’Bannon.
Alien é um filme de terror de ficção científica que ultrapassou as fronteiras do gênero e subgênero, graças principalmente ao destacado estilo visual, que virou marca registrada do diretor; à gramática que ele emprega na narrativa; e à trupe de atores que dão vida aos sete membros da tripulação da Nostromo.
O início do filme nos conduz a um passeio pelo interior da nave. Está tudo silencioso, mas os movimentos de câmera sugerem que há algo errado, como se alguém estivesse à espreita ou a nave abandonada. O passeio encerra no dormitório e assistimos a tripulação despertar. A luz, até aquele momento pontuada entre grandes zonas sombrias e penumbra, banha suavemente a nave acompanhando o clima idílico do despertar e da primeira refeição. Até surgir o motivo do alerta que os fez despertar. Scott constrói sua narrativa como uma peça sinfônica, criando movimentos que alternam calmaria, susto, suspense, falsa calmaria e terror até o gran finale. Outra ótima sacada do diretor é empregar a máxima dos filmes B de terror dos anos 1950: oculte ao máximo o monstro do seu filme, pois nada pode ser mais aterrador do que o monstro imaginário de cada um. Ridley Scott explorou magistralmente essa ideia mostrando apenas parcialmente a criatura que ameaça a tripulação e que, para aprofundar o horror, muda de características no decorrer do filme. Os planos em que o alienígena surge em sua plenitude são curtos e raros. E são os menos impactantes. Mas não é só o monstro que o diretor oculta. Nas imagens do planeta e da nave acidentada mostradas pelas câmeras acopladas nos capacetes dos três exploradores – uma imagem de baixa qualidade que ainda sofre várias interferências e ruídos eletrônicos –, Scott acentua a sensação de mistério e ameaça que aguarda a equipe da Nostromo.
[image error]Scott, forte estilo visual, casamento perfeito entre cenário e luz
Scott é um cineasta que pensa com o olho, ou seja, calca a sua narrativa principalmente no visual. Dirigiu o filme operando a câmera, o que é incomum em produções como essa. Seu forte é a forma de iluminar, muitas vezes com as fontes de luz aparecendo em quadro ou a luz sendo desenhada por fumaça ou neblina. A incubadora de ovos é um casamento perfeito entre luz e direção de arte, um cenário criado com raio laser e fumaça.
Alien tem um roteiro típico de filme de terror, com um enredo simples construído em torno de uma situação básica: sete pessoas e um gato presos em uma nave espacial com um terrível predador sobre o qual nada sabem. O conflito é o mais elementar possível: matar ou morrer. Mesmo assim, há elementos de reflexão avançados para a época: duas das tripulantes são mulheres, uma delas, Ripley, é a oficial de máquinas que tem dois marmanjos sob seu comando. Ela acaba se revelando o herói do filme. Outra visão futurista interessante é a de que a nave não pertence a um país e sim a uma empresa, a Weyland Corporation. É a globalização, ou melhor, a universalização já que o globo ficou pequeno para o capitalismo. O oficial cientista Ash declara sua admiração pelo alienígena, por ser um puro sobrevivente, livre de sentimentos de culpa e consciência. Essa visão fascista que liga pureza à falta de escrúpulos casa perfeitamente com a visão utilitária da corporação que prefere preservar o monstro e descartar a tripulação. A obra revisita a questão do homem versus máquina, ou os perigos da inteligência artificial, apresentada em 2001, uma Odisseia no Espaço,de Kubrick e aprofundada depois em Blade Runner, de Scott. Embora não haja complexidade nos personagens de Alien, os atores conseguem criar uma dinâmica e um ambiente repleto de nuances entre os membros da tripulação. Os ingleses Ian Holm, John Hurt e Veronica Cartwright e os americanos Harry Dean Stanton, Tom Skerritt, Yaphet Kotto e Sigourney Weaver compõem o elenco dos tripulantes da Nostromo. O nome da nave é uma homenagem ao escritor Joseph Conrad e seu romance Nostromo, de 1904.
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Alien, o Oitavo Passageiro foi feito para ser visto em tela grande. Ele e outros filmes daqueles anos 1970 foram na contracorrente dos filmes que começaram a trabalhar com enquadramentos de TV para garantirem uma sobrevida na segunda janela. Ao optar pelo impacto da tela grande “salvaram” o cinema da morte anunciada pela acelerada inserção da TV colorida em todos os lares. Alien faturou o Oscar de efeitos visuais e vários outros prêmios. Além dos seis filmes da franquia, deu origem a livros e histórias em quadrinhos.