PALHAÇOS

- Odeio Palhaços!

- Coitados eles até que são bem engraçados
- Isso dizes tu. Mas a mim metem-me medo.
- Mas porquê? – João continuava a comer a sua tosta mista enquanto falava
- Não tens ouvido falar dos palhaços assassinos? – Miguel abriu um pacote de bolachas que a mãe lhe tinha enviado.
- Isso são pessoas que não andam bem da cabeça e se vestem de palhaço para fazerem disparates.
- Não interessa se estão bons da cabeça ou não. Eu tenho medo e não gosto deles.
- Olha mudando de assunto o que é que queres fazer amanhã à tarde?
- Sei lá. O que é que tem amanhã à tarde de tão importante?
- É Halloween.
- Uhhhhh. O dia das Bruxas.
- Ou dos palhaços.
- Pronto acabaste com a minha boa disposição.
Separaram o lixo colocando-o nos respectivos caixotes de reciclagem.
- Podíamos ir ao cinema. Isso se a minha mãe deixar.
- E a minha. Vai ser difícil na próxima semana temos teste de Português.
- Então temos que pensar noutra coisa. Podíamos jogar à bola lá em minha casa.
Naquele momento o vento ganhou mais força começando a rodopiar no centro do pátio onde se encontravam levantando muita poeira. Baixaram a cabeça fechando os olhos para se protegerem, colocando os gorros dos casacos sobre a cabeça. Quando o vento amainou ainda se encontrava muita poeira no ar não conseguiam ver mais do que um palmo à sua frente.
Mas o que conseguiram ver deixou-os gelados. Várias sombras começavam a materializar-se. E apesar de não se mexerem olhavam na sua direcção. Não estava ali mais ninguém além deles os dois e pelo menos seis palhaços com um ar muito zangado.
Apertaram as mochilas com força, não ousavam falar, tinham medo. Medo que eles começassem a avançar para eles.
- Miguel agora quem começa a ter medo deles sou eu. – sussurrava – De onde é que eles apareceram? Foi a muito custo que o amigo lhe respondeu.
- Não sei. Mas temos que sair daqui o mais depressa que conseguirmos.
- E tens alguma ideia de como o fazer? Teremos sempre que passar por eles.
- Estou a pensar.
- E se corrêssemos na mesma direcção e os empurrássemos à nossa passagem?
- E se um deles nos agarra?
- Para onde é que vamos se conseguirmos sair daqui?
- Para a biblioteca deve lá estar uma professora. Percebes agora porque é que os odeio?
- Não digas isso que eles ainda te ouvem e depois é que são elas.
- De onde é que eles apareceram? Quem serão?
- Olha eu não faço questão de lhes perguntar. Quando quiseres sair daqui avisa. Mas cá por mim saia já.
- Quando contar até três.
- Mas quando chegares ao três ou antes de dizeres três?  
Olhou para o amigo incrédulo.
- Olha e que tal JÁ! – gritou e começou a correr na direcção da entrada da escola com o amigo no seu encalço.
Passaram pelos palhaços e a muito custo conseguiram dar com as portas. O local estava deserto. Parecia que tinham atravessado uma porta mágica e tinham entrado num mundo paralelo ou quem sabe num circo.
Correram pelos corredores enquanto gritavam “está aí alguém?”, “ajudem-nos”. Porém nenhum deles se atrevia a gritar que estavam a ser perseguidos por palhaços. Além de soar muito mal ninguém acreditaria neles.
As portas estavam quase todas fechadas aparentemente eram as únicas pessoas ali. Depois de muito correrem conseguiram chegar à biblioteca entrando e fechando a porta atrás deles.Sentaram-se no chão encostados à porta a arfar. Um suor frio escorria-lhes pelas costas sentiam medo, muito medo.
- O que é que acabou de acontecer aqui?
- Os meus piores medos ganharam vida.
- Tudo isto é muito estranho achas que estamos a dormir?
- E a ter o mesmo sonho? Pois, não me parece.
- Como é que chegamos a casa?
- Não sei. Mas enquanto aqui estivermos fechados julgo que estamos protegidos.
- E se não voltarmos para casa no final do dia os nossos pais vêm à nossa procura.
- Então só temos que aqui ficar aqui quietos. Mas antes disso tenho que ir à casa de banho.
- Mas para isso temos que abrir a porta para que possas sair. Não acho boa ideia.
- Tenho mesmo que ir.
Levantaram-se a custo ainda a decidir o que fazer a seguir e nesse momento viram que os palhaços estavam ali parados a olhar para eles através do vidro da porta da biblioteca…
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Published on October 12, 2019 03:00
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