Treta de Cabos III - III
-Ó da casa. – gritou o Peles quando entrou pelo estúdio adentro, seguido dos outros dois.
Ninguém olhou para ele, pousou a guitarra de imediato.
-Atão, cumé? Tás fixe? – perguntou o Peles.
-Pfff! – Ninguém respondeu, encolhendo os ombros.
-Atão mais passa-se alguma coisa? – perguntou o Gadelhas enquanto o cumprimentava.
-Não, páh! Se calhar é esse o problema… - e eis que Ninguém repara no Eleutério – Olha, arrastaram isto para cá hoje?
-Foi. – respondeu o Peles – Encontrámo-lo por aí e trouxemo-lo.
Ninguém olhou para o Eleutério de sobrolho levantado, com aquela cara séria de sempre e encolheu os ombros.
-Prontos, tá bem… - disse com uma nota de resignação na voz, que o Eleutério sabia ser apenas na brincadeira. Afinal, ele estava sempre com aquela cara séria, mas depois acabava sempre a mandar bocas de ir às lágrimas. – Mas olha lá, a São deu-te ordem de soltura?
-Vai ficar a trabalhar até mais tarde hoje…
-Isso tem sido um bocado o pão-nosso-de-cada-dia não?
-Pois… - respondeu o Eleutério algo entristecido.
Ninguém ficou a olhar para ele com aquele olhar profundamente sério que costumava ter quando falava de alguma coisa importante, o que era raro, visto que fazia os possíveis por não ter nada importante para dizer.
Talvez por isso, quando Ninguém fazia aquele ar, convinha ouvi-lo, porque, ainda por cima, o Eleutério até o achava inteligente! Ou então disfarçava mesmo bem! Costumava falar de coisas quase ininteligíveis, como politica, civilizações antigas, história, teorias cientificas, em suma, coisas que não interessavam a ninguém, mas que, por algum motivo estranho pareciam interessar a Ninguém.
Ninguém ia para abrir a boca, mas foi parado por uma conversa silenciosa que ficou no ar por uma troca de olhares entre ele, Gadelhas e Peles, encolheu os ombros, respirou fundo, como se precisasse de algo que para substituir o que ia dizer, engoliu as palavras e disse simplesmente:
-Olha, já que vieste, faz-te útil e faz aí uma!
Nisto entra o Especiaria, com a guitarra na mão.
-Cuméké pessoal!
-Olha, chegaste! Trouxeste o Puto? – perguntou de imediato ninguém enquanto os cumprimentos se desdobravam.
-Vem ai atrás a arrastar o piano!
-Quem é o puto? – perguntou o Eleutério surpreendido.
-O Puto é o substituto do Tolas, páh!
-Atão e o Tolas?
-Olha, da ultima vez que tivemos notícias tinha-se juntado a uma seita “new age”, lá para Marrocos, daquelas que estão à espera do fim do mundo! – disse o Gadelhas.
-Mas porquê?
-Olha, porque não… - Ninguém disse – Assim, ao menos, se o fim do mundo chegar sempre parece mais divertido no meio da nuvem de produtos naturais de lá do sítio…
Riram-se todos.
-Bem, mas cumé? Vamos fazer barulho? – Ninguém perguntou, já com comichão nos dedos.
-Atão e o Puto? – perguntou o Gadelhas.
-O Puto ainda é puto. Há-de cá chegar e arruma-se depois. Bora lá mazé ao rock’n’roll!
E foram. Entretanto o Puto lá chegou à porta a arrastar o piano, mas já só encontrou o Eleutério, que ainda estava ocupado a fazer uma…
Ninguém olhou para ele, pousou a guitarra de imediato.
-Atão, cumé? Tás fixe? – perguntou o Peles.
-Pfff! – Ninguém respondeu, encolhendo os ombros.
-Atão mais passa-se alguma coisa? – perguntou o Gadelhas enquanto o cumprimentava.
-Não, páh! Se calhar é esse o problema… - e eis que Ninguém repara no Eleutério – Olha, arrastaram isto para cá hoje?
-Foi. – respondeu o Peles – Encontrámo-lo por aí e trouxemo-lo.
Ninguém olhou para o Eleutério de sobrolho levantado, com aquela cara séria de sempre e encolheu os ombros.
-Prontos, tá bem… - disse com uma nota de resignação na voz, que o Eleutério sabia ser apenas na brincadeira. Afinal, ele estava sempre com aquela cara séria, mas depois acabava sempre a mandar bocas de ir às lágrimas. – Mas olha lá, a São deu-te ordem de soltura?
-Vai ficar a trabalhar até mais tarde hoje…
-Isso tem sido um bocado o pão-nosso-de-cada-dia não?
-Pois… - respondeu o Eleutério algo entristecido.
Ninguém ficou a olhar para ele com aquele olhar profundamente sério que costumava ter quando falava de alguma coisa importante, o que era raro, visto que fazia os possíveis por não ter nada importante para dizer.
Talvez por isso, quando Ninguém fazia aquele ar, convinha ouvi-lo, porque, ainda por cima, o Eleutério até o achava inteligente! Ou então disfarçava mesmo bem! Costumava falar de coisas quase ininteligíveis, como politica, civilizações antigas, história, teorias cientificas, em suma, coisas que não interessavam a ninguém, mas que, por algum motivo estranho pareciam interessar a Ninguém.
Ninguém ia para abrir a boca, mas foi parado por uma conversa silenciosa que ficou no ar por uma troca de olhares entre ele, Gadelhas e Peles, encolheu os ombros, respirou fundo, como se precisasse de algo que para substituir o que ia dizer, engoliu as palavras e disse simplesmente:
-Olha, já que vieste, faz-te útil e faz aí uma!
Nisto entra o Especiaria, com a guitarra na mão.
-Cuméké pessoal!
-Olha, chegaste! Trouxeste o Puto? – perguntou de imediato ninguém enquanto os cumprimentos se desdobravam.
-Vem ai atrás a arrastar o piano!
-Quem é o puto? – perguntou o Eleutério surpreendido.
-O Puto é o substituto do Tolas, páh!
-Atão e o Tolas?
-Olha, da ultima vez que tivemos notícias tinha-se juntado a uma seita “new age”, lá para Marrocos, daquelas que estão à espera do fim do mundo! – disse o Gadelhas.
-Mas porquê?
-Olha, porque não… - Ninguém disse – Assim, ao menos, se o fim do mundo chegar sempre parece mais divertido no meio da nuvem de produtos naturais de lá do sítio…
Riram-se todos.
-Bem, mas cumé? Vamos fazer barulho? – Ninguém perguntou, já com comichão nos dedos.
-Atão e o Puto? – perguntou o Gadelhas.
-O Puto ainda é puto. Há-de cá chegar e arruma-se depois. Bora lá mazé ao rock’n’roll!
E foram. Entretanto o Puto lá chegou à porta a arrastar o piano, mas já só encontrou o Eleutério, que ainda estava ocupado a fazer uma…
Published on October 07, 2016 04:41
No comments have been added yet.