Peças de Teatro



A determinada altura da minha vida pareceu haver uma dissociação dentro de mim. Não que não houvesse antes, uma ambivalência entre o que eu queria ser, não num sentido de aspirar a algo, mas no de aspirar a ser um determinado tipo de pessoa, e o que eu sabia ser na realidade. Mas só nessa altura tomei consciência plena de que essa dicotomia existia dentro de mim.
Esta consciência travou-me de repente. Era como se fosse um trem descarrilado que se estampou contra uma parece de rocha! Doeu!
Devia ter os meus dezasseis anos, no meio de uma adolescência algo calma mas turbulenta por dentro. A vida escapava completamente ao meu controlo e eu também.
Foi quando comecei a procurar-me, a questionar-me, a procurar as respostas que nunca viriam porque ninguém as tem. Procurei na ciência, na religião(ões), nas filosofias, nas ideias de outros, nas minhas…
…e comecei a perceber, devagar, que a ausência de respostas era em si mesmo uma resposta, tal como os gritos de dor mais intensos são dados em silêncio!
Era alto, parecia mais velho, tinha alguma facilidade em…
…e usei e abusei dessa facilidade, durante algum tempo! Mas nada enchia o silêncio.
E foi o silêncio que me fez tomar consciência.
E fiquei sozinho por muito, muito tempo! Mais ainda naquela idade…
Mas a verdade é que tudo passa, mas aquilo que marca deixa nodoas que nunca sairão…
Escrever esta música, alguns anos depois, foi uma catarse!

Como sempre, se gostarem gostam, se não...



É por detrás desta máscara que eu me escondo
Perdido num mundo só meu…
A vida é um palco e eu o actor principal
E a cada acto que passa continua tudo igual!

Uma peça de teatro encenada por mim, num palco só meu, numa história sem fim. Faço o que digo, mas não digo o que penso e quebro por dentro a cada momento!

Eu quero que te afastes de mim.
Não posso deixar que me vejas assim…

Em cada dia que piso o palco sinto-me numa prisão! Cada passo um castigo, cada frase uma faca no coração. Uma fachada, mantida, que começa a quebrar quando a dor que há cá dentro não mais dá para aguentar!

Eu quero que te chegues a mim…
…não quero que me abandones assim…

…perdido num mundo só meu!

© 1996 C.N.Gil

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Published on July 19, 2016 13:26
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