A história do poema declamado ali mais abaixo…
Estávamos em 2013. Era Verão! Podia até nem ser, mas por acaso era!
O meu estúdio está sempre num constante reboliço, pejado de cabos por todos os lados e, volta e meia convém arrumar aquilo. E era o que me propunha fazer nessa tarde!
Andava eu todo contente a arrumar tralha quando o telefone tocou. Era o meu editor na altura, Paulo Afonso Ramos, a perguntar-me o que é que eu andava a fazer! E eu disse-lhe!
-Pá, mas estás no estúdio?
-Estou!
-Era mesmo por causa disso que queria falar contigo! Há hipótese de gravarmos uma coisa para fazer um trailer para um livro?
-Yá, é na boa, mas podes demorar um bocadito, que eu ando mesmo a arrumar isto…
Mas ele não demorou! Passados uns vinte minutos estava lá! E não veio sozinho.
Trazia com ele o Paulo Nogueira, que estava a lançar o seu primeiro livro de poesia “Alma em fogo”, junto com a sua esposa, Olívia Santos. Não conhecia nenhum dos dois.
Liguei o meu microfone “Mágico”, um microfone de captação de estúdio, a válvulas, o que lhe dá aquele som quente e pessoal que nenhum outro microfone consegue dar e começamos a gravar alguns poemas. Pelo caminho eu ouvia e dava as minhas sugestões!
Não deixa de ser curioso o quanto um microfone consegue intimidar alguém, e o Paulo Nogueira estava obviamente nervoso. As pessoas tem tendência a ver o microfone como fim último em vez de um veiculo para chegar a outro lado (Não é, caríssimo Observador?) e isso faz toda a diferença…
…acabei por gravar alguns poemas do livro para lhe mostrar, não como declamar a sua própria poesia (algo que seria no mínimo estranho…) mas para lhe mostrar que não podia estar a falar para o microfone, mas sim ao ouvido de alguém, quem quer que fosse!
Finalmente conseguimos os takes que eram necessários e a coisa seguiu e veio a tornar-se num vídeo-trailer do livro!
Umas duas semanas depois, um novo telefonema:
-Pa, olha lá, qual é a hipótese de gravarmos um “audiobook”?
-Mas porquê?
-É que o Paulo quer dar um presente invulgar à Olívia e pensou em gravar um “audiobook” com o livro dela…
-A Olívia escreve?
-Sim, editou agora um livro e ele pensou que era giro…
-Por mim tudo bem, mas olha que isso é uma carrada de trabalho! E é bom que ele leia bem, mas mesmo bem o livro em voz alta antes de vir e gravar…
-Mas ele quer que tu graves!
-Claro que gravo É só ele aparecer!
-Não é isso! Ele quer que sejas tu a ler!
-Eu? A declamar poesia? Tás parvo! Sabes que a minha veia poética é muito escassa e que nem sou grande apreciador de poesia… Quanto mais declamá-la…
-Mas ele gostou à brava dos takes que fizeste e pergunta se dá…
Considerei as hipótese que tinha! E decidi que, a bem do facto de não querer passar um numero interminável de dias a gravar o mesmo poema vezes sem conta, que faria a coisa e depois logo se veria!
O editor mandou-me o livro de imediato, em formato electrónico, imprimi aquilo tudo e enfiei-me no estúdio numa tarde de sábado.
Fechei a porta, liguei o microfone, acendi um cigarro, li o primeiro poema a pesar-lhe os tempos das palavras, e gravei a seguir. E fui fazendo isso, poema atrás de poema.
Ao fim de três horas tinha 64 poemas gravados.
Pensei no que se poderia adequar ao conjunto do livro, encontrei a música que queria, misturei tudo e fiz dois CD’s, que foram a prenda de anos da Olívia Santos!
E foi esta uma das duas únicas vezes na minha vida que declamei poesia, sendo a segunda no lançamento do segundo livro de Paulo Nogueira, “2073”, em que declamei alguns dos poemas do livro ao longo da apresentação do mesmo, depois de ter sido convidado (quase à força) a fazê-la.
E agora que já conhecem a história, digo-vos também que o mérito da excelente voz que tantos elogiaram é mais do microfone que meu! Aquela coisa capta mesmo, mesmo, mesmo, todas as pequenas nuances e inflexões que os outros deixam de fora…
…e eu não falo para um microfone! O microfone é só como o ar entre duas pessoas! Mas é mais visível…
…e mais duro (no outro dia dei-lhe uma cabeçada que até vi estrelas)!
Published on July 11, 2016 02:43
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