A propósito
...deste artigo em que hoje tropecei sem querer, veio-me à memória uma daquelas histórias que acontecem e que nós nem sabemos o que dizer até anos depois de terem acontecido! Aliás, uma história que deveria estar num dos dois “Tretas de Cabos” mas não está, porque eu já nem me lembrava disto…
Ora então, sem mais introduções e evitando perder tempo em paleio desnecessário como, por exemplo, este parágrafo que não diz absolutamente nada e só está aqui a encher chouriços, criando uma pausa para vos preparar mentalmente para a parvoíce que aí vem, passemos à estória.
Há muitos, muitos, mas mesmo muitos anos atrás, bastante antes de conhecer a minha cara-metade e luz da minha vida (isto é só para deixar a minha respectiva babada, que ela quase de certeza vai ler isto e convém passar-lhe já a mão pelo pêlo…), estava eu completamente solteiro e mantinha uma amizade colorida (com as tonalidades todas do espectro) com uma colega de trabalho!
Esta colega perguntou-me se eu não queria beber um café, a meio da tarde, no refeitório/cafetaria lá do sítio e eu, claro, disse que sim! Aliás, para eu recusar um café já devo estar mesmo mal… Muito menos na companhia dela!
Lá chegado encontro-a acompanhada por um tipo muito mais velho, pequenino, curvado…
…uma fraca figura!
Ela apresentou-nos prontamente sendo que me introduziu a ele com os termos “Aqui o Gil também é músico” e o olhar do tipo iluminou-se de repente.
-Ai és?
-Sim!
-E tocas o quê?
-Guitarra.
-Sim, mas que tipo de música?
-Hard Rock, Heavy metal…
De referir que, na altura, era mesmo muito metaleiro, embora fosse um metaleiro ecléctico! Não me fechava em estilos musicais, tal como hoje em dia ainda não o faço.
-É pá, isso é porreiro. Eu sou baterista…
Olhei para o tipo e pensei “Mas consegues levantar umas baquetas?”
É que, vendo a coisa do meu ponto de vista, os bateristas com que costumo tocar são, por norma, gajos algo vigorosos e que gostam mesmo de dar porrada na bateria.
-…mas na área do Jazz!
Pronto! Estava explicado.
Gostei mesmo de falar com o tipo e, uma vez que trabalhávamos no mesmo edifício, começamos a encontrar-nos com alguma regularidade.
Então convidei-o, quase com a certeza que ele não aceitaria, para vir ver a minha banda de bares da altura, os Undercover. Para minha surpresa ele não só aceitou, como apareceu de facto num concerto que demos no extinto Trancão bar, afirmando que tinha adorado ver-nos.
Tendo em linha de conta a vocalista que tinha na altura, a FF que está bem descrita nos Treta de Cabos (isto é uma nota subtil a falar do livro quase como quem não quer a coisa, não sei se repararam…) creio que não teria sido necessário tocarmos para fazermos um sucesso!
Umas duas semanas depois disto, num principio de noite de sexta-feira, a minha amiga colorida liga-me, dizendo-me que o fazia a pedido do tipo, que ele ia tocar ao Speakeasy e gostava que eu lá aparecesse!
Eu nunca tinha ido ao Speakeasy!
Nem sabia sequer onde ficava!
Nunca gostei nada de vir para a noite de Lisboa e sempre o evitei…
…mas, uma vez que a amiga colorida ia…
E lá fui eu.
Chego à porta, com a minha t-shirt branca meio gasta, umas calças de ganga prestes a passar de prazo e uns ténis de lona que outrora tinham sido brancos mas agora apresentavam uma coloração bem mais estranha e o porteiro olhou-me de alto a baixo com um ar de “Pá, não te enganaste no sítio”, que foi respondido com o olhar de rocker mal disposto “Eu vou onde quero, como quero, sou um rockeiro rebelde e mainada!” e abro a porta, paro, fico estático a olhar para o pessoal que lá estava (curiosamente, de tanta gente conhecida, só me lembro do Miguel Sousa Tavares), tudo naquele estilo casual-chick, olho de lado para o porteiro que deixou que um mui leve sorriso se esgueirasse pelo canto do lábio enquanto me manda aquele olhar de “bem me parecia que estavas enganado, a casa de putas é aqui ao lado…” e olho novamente para a frente e vejo aquela gente toda a olhar para mim com aquele olhar que diz “c’orror, já deixam entrar qualquer um!" e tomei nesse mesmo instante a decisão que estava realmente no sítio errado, pensei nas alternativas e decidi-me dar meia volta e telefonar para a minha amiga a seguir inventando uma desculpa esfarrapada qualquer, e começava a dar meia volta ao mesmo tempo que ia, mentalmente, revendo a minha lista de desculpas esfarrapadas para ver qual se adequaria melhor quando o tipo se levanta na outra ponta do bar e diz alto e bom som:
-É páh, fixe, vieste, anda cá e junta-te aqui ao pessoal!
Puf! Tarde demais!
Engoli em seco, segui em frente com os olhos daquela gente toda postos em mim enquanto o tipo dizia ao pessoal que estava com ele, mas de forma perfeitamente audível:
-Este é um colega meu de trabalho, que também é músico. É guitarrista de rock…
E conforme isto foi dito houve uma espécie de “AAAAAAHHHHHHHH!” mental, um suspiro de alívio, qualquer coisa do género “OK, então se é músico de rock até podia vir nu que seria normal…” e as coisas acalmaram!
Uma das coisas mais curiosas é que verifiquei, de facto, a velha máxima…
…um músico de jazz toca 3000 acordes em três minutos para três pessoas, mas um músico de rock toca três acordes durante três minutos para três mil pessoas…
Quando a maior parte das raparigas que estavam na mesa demonstraram um profundo interesse no facto de eu ser guitarrista de rock…
…para profundo desagrado da minha amiga colorida, que olhava para mim com um ar de “vê lá se não te esticas, que eu tou aqui, OK?”
O tipo era, nem mais, nem menos, que o Gualdino Barros, mítico baterista responsável por lançar nos palcos gente como o Jorge Palma ou o Danny Silva…
Já não o vejo há anos, nem tenho sequer o contacto dele, e tenho pena. Ainda demos umas excelentes gargalhadas juntos! Só muito depois vim a saber que afinal o homem era uma lenda!
Gostava de o ver outra vez, para recordar os velhos tempos…
Ora então, sem mais introduções e evitando perder tempo em paleio desnecessário como, por exemplo, este parágrafo que não diz absolutamente nada e só está aqui a encher chouriços, criando uma pausa para vos preparar mentalmente para a parvoíce que aí vem, passemos à estória.
Há muitos, muitos, mas mesmo muitos anos atrás, bastante antes de conhecer a minha cara-metade e luz da minha vida (isto é só para deixar a minha respectiva babada, que ela quase de certeza vai ler isto e convém passar-lhe já a mão pelo pêlo…), estava eu completamente solteiro e mantinha uma amizade colorida (com as tonalidades todas do espectro) com uma colega de trabalho!
Esta colega perguntou-me se eu não queria beber um café, a meio da tarde, no refeitório/cafetaria lá do sítio e eu, claro, disse que sim! Aliás, para eu recusar um café já devo estar mesmo mal… Muito menos na companhia dela!
Lá chegado encontro-a acompanhada por um tipo muito mais velho, pequenino, curvado…
…uma fraca figura!
Ela apresentou-nos prontamente sendo que me introduziu a ele com os termos “Aqui o Gil também é músico” e o olhar do tipo iluminou-se de repente.
-Ai és?
-Sim!
-E tocas o quê?
-Guitarra.
-Sim, mas que tipo de música?
-Hard Rock, Heavy metal…
De referir que, na altura, era mesmo muito metaleiro, embora fosse um metaleiro ecléctico! Não me fechava em estilos musicais, tal como hoje em dia ainda não o faço.
-É pá, isso é porreiro. Eu sou baterista…
Olhei para o tipo e pensei “Mas consegues levantar umas baquetas?”
É que, vendo a coisa do meu ponto de vista, os bateristas com que costumo tocar são, por norma, gajos algo vigorosos e que gostam mesmo de dar porrada na bateria.
-…mas na área do Jazz!
Pronto! Estava explicado.
Gostei mesmo de falar com o tipo e, uma vez que trabalhávamos no mesmo edifício, começamos a encontrar-nos com alguma regularidade.
Então convidei-o, quase com a certeza que ele não aceitaria, para vir ver a minha banda de bares da altura, os Undercover. Para minha surpresa ele não só aceitou, como apareceu de facto num concerto que demos no extinto Trancão bar, afirmando que tinha adorado ver-nos.
Tendo em linha de conta a vocalista que tinha na altura, a FF que está bem descrita nos Treta de Cabos (isto é uma nota subtil a falar do livro quase como quem não quer a coisa, não sei se repararam…) creio que não teria sido necessário tocarmos para fazermos um sucesso!
Umas duas semanas depois disto, num principio de noite de sexta-feira, a minha amiga colorida liga-me, dizendo-me que o fazia a pedido do tipo, que ele ia tocar ao Speakeasy e gostava que eu lá aparecesse!
Eu nunca tinha ido ao Speakeasy!
Nem sabia sequer onde ficava!
Nunca gostei nada de vir para a noite de Lisboa e sempre o evitei…
…mas, uma vez que a amiga colorida ia…
E lá fui eu.
Chego à porta, com a minha t-shirt branca meio gasta, umas calças de ganga prestes a passar de prazo e uns ténis de lona que outrora tinham sido brancos mas agora apresentavam uma coloração bem mais estranha e o porteiro olhou-me de alto a baixo com um ar de “Pá, não te enganaste no sítio”, que foi respondido com o olhar de rocker mal disposto “Eu vou onde quero, como quero, sou um rockeiro rebelde e mainada!” e abro a porta, paro, fico estático a olhar para o pessoal que lá estava (curiosamente, de tanta gente conhecida, só me lembro do Miguel Sousa Tavares), tudo naquele estilo casual-chick, olho de lado para o porteiro que deixou que um mui leve sorriso se esgueirasse pelo canto do lábio enquanto me manda aquele olhar de “bem me parecia que estavas enganado, a casa de putas é aqui ao lado…” e olho novamente para a frente e vejo aquela gente toda a olhar para mim com aquele olhar que diz “c’orror, já deixam entrar qualquer um!" e tomei nesse mesmo instante a decisão que estava realmente no sítio errado, pensei nas alternativas e decidi-me dar meia volta e telefonar para a minha amiga a seguir inventando uma desculpa esfarrapada qualquer, e começava a dar meia volta ao mesmo tempo que ia, mentalmente, revendo a minha lista de desculpas esfarrapadas para ver qual se adequaria melhor quando o tipo se levanta na outra ponta do bar e diz alto e bom som:
-É páh, fixe, vieste, anda cá e junta-te aqui ao pessoal!
Puf! Tarde demais!
Engoli em seco, segui em frente com os olhos daquela gente toda postos em mim enquanto o tipo dizia ao pessoal que estava com ele, mas de forma perfeitamente audível:
-Este é um colega meu de trabalho, que também é músico. É guitarrista de rock…
E conforme isto foi dito houve uma espécie de “AAAAAAHHHHHHHH!” mental, um suspiro de alívio, qualquer coisa do género “OK, então se é músico de rock até podia vir nu que seria normal…” e as coisas acalmaram!
Uma das coisas mais curiosas é que verifiquei, de facto, a velha máxima…
…um músico de jazz toca 3000 acordes em três minutos para três pessoas, mas um músico de rock toca três acordes durante três minutos para três mil pessoas…
Quando a maior parte das raparigas que estavam na mesa demonstraram um profundo interesse no facto de eu ser guitarrista de rock…
…para profundo desagrado da minha amiga colorida, que olhava para mim com um ar de “vê lá se não te esticas, que eu tou aqui, OK?”
O tipo era, nem mais, nem menos, que o Gualdino Barros, mítico baterista responsável por lançar nos palcos gente como o Jorge Palma ou o Danny Silva…
Já não o vejo há anos, nem tenho sequer o contacto dele, e tenho pena. Ainda demos umas excelentes gargalhadas juntos! Só muito depois vim a saber que afinal o homem era uma lenda!
Gostava de o ver outra vez, para recordar os velhos tempos…
Published on June 29, 2016 07:30
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