Os Méricos (continuação)
A guerra civil Mérica lá acabou com uma vitória da facção do norte, liderada por Abraão, o Barbudo! Aquilo até podia ter trazido paz à terra, mas não trouxe porque os Méricos eram casmurros como só eles. Mas, numa nota positiva, deixaram de andar à porrada uns aos outros abertamente!
Os Méricos, além de casmurros, não eram brilhantes! Isso só por si, levando em conta quem continuamente povoava a Mérica, não era surpreendente! No entanto eram espertos o suficiente para perceber que não eram brilhantes. Como tal, importavam pessoas brilhantes de outros países e, assim que os apanhavam lá, tornavam-nos Méricos.
Isto levou a que a Mérica se transformasse numa sociedade com alguns distúrbios bipolares! Por um lado havia o grosso da população que não era propriamente brilhante. Eram razoavelmente honestos, pelo menos a maioria, eram trabalhadores esforçados, pelo menos alguns, eram homens e mulheres de fibra, porque não tinham outro remédio, mas não deviam muito à inteligência.
Por outro lado, havia toda uma classe dirigente importada, com algumas pessoas de intelecto superior e que, praticamente sozinhas, fizeram a Mérica avançar e prosperar!
Se as outras nações já despejavam gente na Mérica que era um disparate, quando a Mérica se tornou prospera todos para lá queriam ir. Espalhou-se pelo mundo a ilusão de que a Mérica era uma espécie de terra prometida, que qualquer um que fosse para a Mérica poderia ser bem-sucedido, que a Mérica era a terra dos sonhos e das oportunidades.
Os jovens dos reinos radicais, por exemplo, tentavam de todas as formas cumprir o sonho e ir para a Mérica como sonho supremo de rebeldia.
Mesmo na fronteira sul de Mérica havia um território enorme chamado Agávius, terras dos povos mais selvagens entre todos os povos selvagens. Eram tão selvagens, mas tão selvagens que a bebida que eles faziam, produto da destilação da fermentação do sumo de um cacto chegava a ser tão forte que após um trago era possível ver elefantes voadores cor-de-rosinha a saltar levemente de nenúfar em nenúfar através dos lagos. Era tão potente que, depois de a beber havia quem afirmasse ter visto Deus, embora ninguém se lembrasse nunca de como ele era, excepto pelo facto de ser mesmo, mas mesmo muito grande! Era tão potente que havia quem afirmasse que em bebê-la se poderia chegar à unicidade com o Universo…
…Haver, havia, mas que se saiba nunca ninguém lá chegou mas todos tinham valentes ressacas depois de tentarem. Era tão potente que todos os que a bebiam juravam no dia seguinte que nunca mais beberiam uma gota, marcados pelo arrependimento atroz e que durava, normalmente, até ao fim da tarde, altura em que já se tinham esquecido das promessas da manhã.
O sucesso de Mérica levava a que enormes quantidades de Agavianos tentassem de todas as maneiras possíveis emigrar para lá. Mas com o seu enorme sucesso, com tanta procura, algo que não deixava de ser irónico, visto que foi uma nação fundada por quem não queria para lá ir, Os Méricos começaram a não deixar que lá entrasse toda a gente, mas apenas quem lhes convinha. Mas isso não impedia os Agavianos de tentarem de todas as maneiras possíveis.
Isto começou a ser um problema, sobretudo quando os próprios Méricos começaram a acusar os Agavianos de lhes roubar os trabalhos que eles não se dispunham a fazer de qualquer maneira.
Queria isto dizer que, apesar da evolução de Mérica enquanto nação, os Méricos continuavam a não ser brilhantes! Isto reflectia-se, sobretudo, na sua escolha por governantes. Se durante bastante tempo escolhiam pessoas proeminentes, heróis da nação, generais com provas dadas nos campos de batalha, chegou a uma altura em que escolhiam os governantes mais pela sua figura e popularidade do que por capacidades comprovadas.
E foi assim que um dia chegou à presidência Trumphas, o Descabelado!
Trumphas, o Descabelado, era um estalajadeiro que conseguiu fortuna criando uma rede de estalagens. Depois foi investindo e diversificando, conseguindo sólidas posições na produção se cevada e tremoço o que aumentou o seu pecúlio para níveis quase obscenos. A única coisa que lhe faltava era poder político, e usou de todas as armas que tinha à disposição para ser eleito, sobretudo o medo que os Méricos sentiam de serem invadidos por populações Bárbaras ou Selvagens. Apresentou-se como uma alternativa aos que faziam da política uma carreira e foi eleito porque afirmava que queria uma Mérica diferente! Uma Mérica mais em contacto com o seu povo. Uma Mérica mais voltada para si. Uma Mérica que valorizasse os Méricos!
Uma vez eleito, mandou Fazer um enorme muro a toda a volta de Mérica para impedir que lá entrasse fosse quem fosse! A Mérica era dos Méricos!
O problema que teve foi que, graças à Nascença Nmista, o mundo estava cada vez mais pequeno. As diferenças entre Nmistas e Bárbaros esbatiam-se e, mesmo com os Selvagens, à excepção de uns quantos conflitos que tinham origem sobretudo no negócio do contrabando de tremoços, havia uma paz relativa e uma cada vez maior abertura!
Mas a Mérica fechou-se!
Mais, expulsou todos os que não eram Méricos.
Foi então que a Mérica colapsou. Uma vez que eram maioritariamente os Agavianos que faziam os trabalhos que os Méricos não queriam fazer, uma vez expulsos levaram o seu conhecimento de volta para Agávius enquanto a Mérica se tornou no local mais sujo e nauseabundo do mundo Nmista. Isto levou a que, progressivamente, As terras fossem sendo abandonadas.
Já bem perto do grande cataclismo, os únicos que ainda viviam em Mérica eram os descendentes dos que já lá estavam antes de Mérica ter sido fundada…
…e esses refutavam acerrimamente quando os chamavam de Méricos!
E quanto a Trumphas, o Descabelado? Bem, esse ficou para a história como um exemplo do que a falta de noção pode fazer a uma grande nação!
A história de Mérica foi contada por gerações como o pior exemplo daquilo que uma democracia pode fazer a um grande país, sobretudo se os seus governantes não forem, no mínimo, brilhantes…
…Coisa que, como sabemos, os Méricos não eram!
Published on May 17, 2016 02:37
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