Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 63

April 27, 2012

Uma cadeira à vossa espera

FEIRA DO LIVRO: EDITORA ÉSQUILO - STAND B 17
Domingo, 6 de Maio, das 16 h. às 19 h.
Sábado, 12 de Maio, das 16 h. às 19 h.



Vou estar na Feira do Livro para conversar com quem quiser aparecer para me ver. São os meus momentos de liberdade e convívio mais gratificantes e os raros que me arrancam à escrita e me levam para fora de casa. Assinarei livros, claro, a quem desejar, incluindo os antigos. 
Apareçam, já sabem como gosto de conversar com os leitores amigos.[image error]
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Published on April 27, 2012 11:29

April 26, 2012

Apresentação de livro

Sábado, 28 de Abril, 18 h.
Hotel Palácio
Rua Tomás Ribeiro, 115, Lisboa

Irei apresentar o livro de poemas "Mentes Perversas ... e outras conversas", de Ana Paula Lavado, uma poetisa de muito talento que gostaria de dar a conhecer aos meus amigos.
Convido-vos a juntarem-se à nossa tertúlia e a tomarem mais íntimo conhecimento com a sua bela poesia, num local simpático e abrigado da chuva.
Lá vos espero para uma conversa.
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Published on April 26, 2012 11:06

April 23, 2012

O negócio das edições de autor

Ainda a propósito da edição e promoção de livros:

Quando as distribuídoras deixam de pagar às editoras, estas deixam por sua vez de pagar aos autores, aliás, aqueles que criam as obras são sempre os mais prejudicados em todo este processo.

Contudo, enquanto editoras de renome e distribuidoras vão à falência, porque não vendem livros, prolifera e prospera agora um novo tipo de "editoras" que se dedicam a publicar livros... à custa dos seus autores! Isto é, os poetas e os romancistas que são rejeitados pelas verdadeiras Editoras (as que editam mesmo livros de raiz, com os riscos e as margens de lucro inerentes ao seu ofício) pagam a estas novas empresas um balúrdio de dinheiro para lhes publicarem as obras.

As ditas empresas fazem-no sem correrem quaisquer riscos, assegurando à partida (cobram logo a factura, pois então!) que o preço estipulado pague a edição, a sessão de lançamento, os livros que o autor recebe e aque inda dê lucro à "editora". Sem contrapartidas de promoção ou qualquer tipo de distribuição - imprescindível para o livro ser visto e poder ser comprado -, excepto pela passagem em alguma livraria on-line, coisa que o próprio autor pode conseguir sem dificuldade.

É de facto um belo e florescente negócio-da-China para estas empresas, porém ruinoso para os autores. Entendo que seja a solução para aqueles que mal sabem escrever e que teimam em publicar um livro, mas lamento muito ver gente de talento a ser recusada pelas editoras de nome (que, por outro lado, publicam catadupas de traduções de verdadeiro lixo estrangeiro) e acabar por cair nas garras e bicos dos abutres.

É pena que não haja Cooperativas de Autores, capazes de publicarem e distribuirem as suas obras.
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Published on April 23, 2012 12:12

A insolvência da CESodilivros

Ao blogue Cadeirão de Voltaire fui buscar esta notícia pelo interesse que tem para os que, como eu trabalham neste mundo dos livros:

A Antígona enviou este comunicado à imprensa e o Cadeirão não podia deixar de o publicar, em primeiro lugar porque importa que situações como estas sejam conhecidas, e não mantidas em silêncio, como é costume, mas igualmente porque, por aqui, também se partilham queixas relativamente a esta empresa (a última detentora da revista Os Meus Livros, que entretanto deixou de ser publicada e que deixou parte do vencimento em atraso dos seus colaboradores por pagar).

Comunicado à Imprensa – Insolvência de CESodilivros A CESodilivros, a maior distribuidora de livros em Portugal, no mercado há mais de vinte anos, acaba de pedir a insolvência, deixando em grandes dificuldades e com muitas dívidas as mais de quarenta editoras que distribuía, incluindo a Antígona e a Orfeu Negro.

Os administradores desta empresa, o Sr. José da Ponte e o Dr. João Salgado, o patrão da mesma e também proprietário da Coimbra Editora, têm-se comportado como descarados malfeitores.

Quase todas as distribuidoras de livros faliram nos últimos trinta anos. Há aqui um erro; onde está esse erro? Os meios de comunicação social têm estado silenciosos, indiferentes à desgraça dos editores e do pessoal trabalhador da CESodilivros.

Jornais e televisões andam muito ocupados com as banalidades do Governo e afins. Deseja-se que a partir desta comunicação acordem para este gravíssimo problema cultural, ficando a Antígona disponível para fornecer todas as informações necessárias."
Lisboa, 20 de Abril de 2012
Luís Oliveira Editor da Antígona
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Published on April 23, 2012 11:31

April 13, 2012

500 anos Portugal/Sião (Tailândia)

Foi recentemente inaugurada no "Museum Siam", em Banguecoque, a exposição interativa "Olá Sião - Cinco Séculos de Relações Tailândia-Portugal" que constitui uma narrativa da história das relações entre Portugal e o Sião contada na primeira pessoa por atores que encarnam oito personagens históricas.

A exposição divide-se em três núcleos temáticos (mar, comércio e armas), incluindo reproduções de instrumentos de navegação e de armas feitas com grande autenticidade. O cenário da sala principal joga com as imagens icónicas dos portugueses na Tailândia (igrejas portuguesas de Banguecoque, bandel de Ayutthaya, Embaixada), em estilização tipo banda desenhada.

É coberto o essencial da história de Portugal na Tailândia, segundo um guião cuidado em que cada personagem tem um papel a desenvolver. O Professor Predee Phispumvidhi, do Departamento História Universidade Burapha foi o consultor do projeto.

O percurso inicia-se com Afonso de Albuquerque que revela as razões e a inspiração para a lendária viagem, com detalhes de rotas, de portos e as experiências de navegação entre Lisboa e a Índia, e de como os portugueses se relacionaram com as populações locais, aprendendo muito sobre as culturas locais; segue-se Fernão Mendes Pinto que relata a sua jornada da Índia até Malaca e Ayutthaya e conta as suas aventuras no Sião; logo depois, um Padre quinhentista apresenta o bandel de Ayutthaya e as três igrejas de Banguecoque; uma outra personagem é Francis Chit, o célebre fotógrafo de Banguecoque de origem portuguesa, que faz o retrato do bairro português de Kudi Chin (Santa Cruz) e da comunidade tailandesa; Maria Guiomar de Pina tem aqui o seu lugar enquanto responsável pela introdução no século XVII dos Foi Thong - fios de ovos - na cozinha tailandesa; Domingos de Seixas, o comandante das forças portuguesas em Ayutthaya que apoiaram o Sião na altura da guerra contra birmaneses é uma figura respeitada; uma portuguesa Thai que apresenta a vida de um luso-descendente contemporâneo; e finalmente "Cristiano Ronaldo" que invoca o Portugal atual e as suas atrações turísticas, incluindo alguns marcos arquitetónicos.

Como texto de suporte foi editada uma pequena brochura bilingue (tailandês e inglês) profusamente ilustrada e com boa qualidade gráfica.

A exposição estará patente até 29 de Abril de 2012.

Detalhes fotográficos disponíveis na página do Facebook: http://www.facebook.com/500Years.Port...
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Published on April 13, 2012 05:32

April 10, 2012

Coisas que precisa de saber antes de comprar português

Já me tinha apercebido de que os códigos e o "made in Portugal" são muitas vezes enganadores... Nunca haverá nada transparente e verdadeiro em Portugal?

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Published on April 10, 2012 16:10

April 6, 2012

Camões no Oriente, por Eduardo Ribeiro



Uma parte da vida de Camões pouco conhecida, contada por Eduardo Ribeiro que em Macau se tem dedicado, com paixão e muito trabalho de pesquisa, a descobrir os mistérios que envolvem a personalidade do nosso Épico. Um livro a não perder.

No próximo dia 13 de Abril, às 18h30, no Clube Militar de Macau, Eduardo Ribeiro apresenta o seu mais recente livro, "Camões no Oriente", mais um dos vários contributos que tem dado ao tema.
Segundo autor "é o primeiro dos lançamentos há tanto tempo esperados e preparados nos últimos anos. Este é uma coletânea de textos revistos e actualizados que foram publicados na "Labirintos" e em jornais locais... que vão desde a partida de Camões do Reino em 1553, à sua chegada à Índia e depois a Macau e à torna-viagem até à morte." Um outro livro, sobre o mesmo tema ficará pronto muito em breve. "Talvez Junho, mês camoniano..."
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Published on April 06, 2012 08:46

March 20, 2012

No blogue Satanhoco

Sendo este meu blogue o meio para interagir com os meus amigos leitores, procuro pôr nele os assuntos que mais me agradam ou incomodam, mas também os que esses leitores me enviam, as críticas que me fazem, as impressões sobre os meus livros.
Muitas vezes não conheço os seus autores, que me dizem ser leitores anónimos, mas que não o são para mim; embora não os conheça pessoalmente, há um elo muito íntimo que se estabelece entre mim e os que lêem o que escrevo e o entendem, às vezes até de um modo mais profundo do que eu poderia imaginar e se dão ao trabalho de me comunicarem essas impressões, deixando-me muitíssimo emocionada e grata. Como podem ser anónimos, se conhecem o que de mais profundo sinto e penso, que são os meus livros?

Vem isto a propósito de um dos meus romances preferidos, que teve pouca divulgação - "O Navegador da Passagem", sobre as viagens de Bartolomeu Dias e os reinados cheios de intrigas de D. João II e de D. Manuel - referido por um leitor no seu blogue Satanhoco , cuja crítica, ainda que me possam apodar de narcisista, não posso deixar de transcrever, até pela qualidade da prosa do seu autor e pelo conhecimento que mostra sobre o tema dos nossos aventureiros em África:

Leituras:

"O outro romance histórico sobre Bartolomeu Dias que, há muito, me prendeu trata-se de "O navegador da passagem - a história de um descobridor de mundos que o Mundo ignorou" , da autoria de Deana Barroqueiro (Porto Editora, 2008, 437 págs.). A minha paixão pela escrita de Deana Barroqueiro não me tolda a mente nem me desfoca o sentir lúdico que tenho pelos pontilhados da ponta da sua pena.

"O navegador da passagem" é o romance de um homem amargurado, que se sente injustiçado por, ao ter aberto as portas da estrada aquática da canela, do cravinho e do colorau (mas não tendo franqueado as mesmas) foi forçado a deixar que outros depois de si as passassem e, à premonição da chegada do seu fim, anunciado num cometa quando ia de navegação no Atlântico Sul, revê a sua vida, no muito que deu e no pouco que recebeu.

Deana Barroqueiro, consagrada capitã-mor desta imaginária jornada quinhentista, leva-nos a viajar pelas cortes joanina e manuelina, puros viveiros de intrigas, maledicências e traições, onde tudo era válido pela benesse da proximidade do poder, traçando-nos os perfis de Dom João II e de Dom Manuel I , férreo o primeiro e sortudo o segundo, para além de nos fazer embarcar em naus claustrofóbicas, pútridas e sobrelotadas de anónimos miseráveis que pouco se apercebiam do gigantismo que estavam a construir, naus carregadas de febres, viscosidades e doenças mas, onde no meio deste pantanal de madeirame, era capaz de florir o amor ficcionado da escrava Leonor pelo seu amo.

Bem documentado, pelo que se pode observar pela bibliografia consultada, bem estruturado na sequência narrativa dos factos, e bem encorpado numa linguagem escrita que, atirando-nos por vezes para as expressões da época, torna-se clara quando enquadrada no todo do texto, é mais um livro que lustra as letras portuguesas. Aqui e em qualquer parte do mundo. Por isso, sem complexos e com o à vontade de quem nunca se cruzou com a Autora posso, camonianamente, dizer: "Ditosa Cultura que tal escritora tem".


Satanhoco , 13 de Março

Muito obrigada, caríssimo leitor, pela sua generosidade e pelo prazer que me proporcionou a sua crítica. Bem haja.
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Published on March 20, 2012 13:29

March 13, 2012

Uma visão economicista e estratégica do AO

Num artigo para um debate sobre o Acordo Ortográfico (AO), no Público de 10 de Março, Vasco Teixeira, administrador e director editorial do Grupo Porto Editora, lamenta que Portugal tivesse adoptado o acordo sem garantir o acompanhamento de Angola e Moçambique. O artigo parece reflectir uma visão economicista e estratégica da Língua Portuguesa em que, embora se fale de "património de valor (quase) incalculável", se esquece por completo a sua vertente fundamental, que é a cultural.

A propósito das críticas feitas por Angola ao AO, Vasco Teixeira tece algumas considerações que me parecem um tanto ambíguas, na medida em que a sua editora se apressou a adoptar o dito Acordo nos seus manuais escolares e a produzir dicionários com a "nova" grafia (ou língua), muito antes da data oficial para a sua aplicação. Percebe-se a pressa, por razões económicas e de lucro, querendo ser a primeira a pôr os ditos produtos no mercado.

Porém, como Angola e Moçambique, os dois maiores países africanos de Língua Portuguesa não ratificaram o Acordo e escrevem com o português de Portugal, "o tiro parece ter saído pela culatra" aos apressados. Se ambos os países mantiverem a sua posição e continuarem a escrever o português europeu, presumo que as exportações, que devem ser seguramente maiores do que para o Brasil (ou deveriam sê-lo de futuro), vão sofrer muito com este "negócio" da Língua.
E Vasco Teixeira reconhece-o, como se pode ver por estes excertos do seu artigo:

"Estas notícias têm a particularidade de sublinhar a gritante ausência de visão estratégica de quem conduziu o processo do Acordo Ortográfico em Portugal – a reboque de uma eventual harmonização ortográfica com o Brasil, afastámo-nos da África lusófona.
Todos sabemos que a língua portuguesa é um património de valor (quase) incalculável. Infelizmente tendemos a esquecermo-nos da sua efectiva importância económica.

(…) o peso das edições portuguesas nas exportações para aqueles países (Angola e Moçambique) cresceu gradualmente, chegando mesmo a atingir, na primeira década deste século, 1/6 das exportações para Moçambique. Hoje, as principais editoras, com a Porto Editora à cabeça, têm nos maiores países africanos lusófonos importantes investimentos que têm contribuído, por um lado, para o desenvolvimento educacional daqueles países e, por outro, para reforçar os laços culturais e linguísticos com Portugal

Um facto tem de ser constatado: em Angola ou Moçambique não se escreve português como cá (eu diria: "como o que se passou a escrever cá"), o que significa que toda a nossa produção editorial só é exportável para aqueles países se for adaptada à antiga ortografia, com tudo o que isso significa em termos de custos acrescidos. Ou seja, falamos efectivamente a mesma língua, mas escrevêmo-la de forma diferente. Faz sentido?

(…) Não deixa de ser curioso que dependamos dos bons ofícios diplomáticos de Portugal e, em particular, do Brasil para convencer Angola e Moçambique a adoptar o acordo ortográfico e assim preservarmos um património de enorme importância económica e estratégica - a nossa língua."


Vasco Teixeira quer que Angola e Moçambique ratifiquem o AO para preservar "um património de enorme importância económica e estratégica".
Eu espero que Angola e Moçambique não o ratifiquem, preservando assim o nosso Património Cultural fundamental, o cerne da nossa identidade, que é a Língua Portuguesa.

A única unificação que me parece útil, senão mesmo necessária, é a terminologia científica, artística, tecnológica, informática e, mesmo assim, evitando os americanismos aberrantes ditados pela aculturação do Brasil, sem qualquer ligação à nossa matriz linguística.

Nota: como não subscrevo o AO, emendei os erros nas citações retiradas do artigo que o Público publicou, a pedido de Vasco Teixeira, no novo português.
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Published on March 13, 2012 12:34

March 11, 2012

Jornal de Angola condena Acordo Ortográfico

Quando os Países Africanos de Língua Portuguesa a respeitam e acarinham mais e melhor que os governantes do país onde ela nasceu, sacrificando-a aos "negócios", alguma coisa há de errado nisto.
E quando se faz um acordo ortográfico sobre a Língua Portuguesa com apenas dois dos muitos países que a falam, ignorando todos os outros, ainda o erro é maior.
Mas o Brasil pressionou Portugal para assinar o Acordo, porque, ele sim, quer expandir os seus negócios, embora vá continuar a escrever como sempre fez - já no anterior acordo se esteve nas tintas para o acordado. E os nossos governantes obedeceram ao mais forte, com a menoridade que lhes conhecemos.

Será que os negócios com o Brasil terão mais futuro do que os que poderão ser feitos, por exemplo, com Angola e Moçambique, que querem manter a nossa Língua com as suas variantes, tal como ela é? Não me parece.
E os escritores portugueses que defendem este Acordo,fá-lo-ão porque acham que a Língua ganha com ele, ou porque esperam ganhar pessoalmente com publicações no Brasil? Será que vale a pena?

Ainda tenho esperança de que este Acordo Ortográfico, mutilador e aberrante, seja enterrado à nascença como o nado-morto que é, se Angola, Moçambique e os outros países que amam a Língua Portuguesa que é sua, como um Património precioso, mantiverem a sua verticalidade e não o assinarem.

Aqui fica, para quem não leu, o belo e sensível Editorial do Jornal de Angola, que vale a pena conhecer:


Editorial
08 de Fevereiro, 2012

Património em risco

Os ministros da CPLP estiveram reunidos em Lisboa, na nova sede da organização, e em cima da mesa esteve de novo a questão do Acordo Ortográfico que Angola e Moçambique ainda não ratificaram. Peritos dos Estados membros vão continuar a discussão do tema na próxima reunião de Luanda. A Língua Portuguesa é património de todos os povos que a falam e neste ponto estamos todos de acordo. É pertença de angolanos, portugueses, macaenses, goeses ou brasileiros. E nenhum país tem mais direitos ou prerrogativas só porque possui mais falantes ou uma indústria editorial mais pujante.
Uma velha tipografia manual em Goa pode ser tão preciosa para a Língua Portuguesa como a mais importante empresa editorial do Brasil, de Portugal ou de Angola. O importante é que todos respeitem as diferenças e que ninguém ouse impor regras só porque o difícil comércio das palavras assim o exige. Há coisas na vida que não podem ser submetidas aos negócios, por mais respeitáveis que sejam, ou às "leis do mercado". Os afectos não são transaccionáveis. E a língua que veicula esses afectos, muito menos. Provavelmente foi por ter esta consciência que Fernando Pessoa confessou que a sua pátria era a Língua Portuguesa.
Pedro Paixão Franco, José de Fontes Pereira, Silvério Ferreira e outros intelectuais angolenses da última metade do Século XIX também juraram amor eterno à Língua Portuguesa e trataram-na em conformidade com esse sentimento nos seus textos. Os intelectuais que se seguiram, sobretudo os que lançaram o grito "Vamos Descobrir Angola", deram-lhe uma roupagem belíssima, um ritmo singular, uma dimensão única. Eles promoveram a cultura angolana como ninguém. E o veículo utilizado foi o português. Queremos continuar esse percurso e desejamos que os outros falantes da Língua Portuguesa respeitem as nossas especificidades. Escrevemos à nossa maneira, falamos com o nosso sotaque, desintegramos as regras à medida das nossas vivências, introduzimos no discurso as palavras que bebemos no leite das nossas Línguas Nacionais. Sabemos que somos falantes de uma língua que tem o Latim como matriz. Mas mesmo na origem existiu a via erudita e a via popular. Do "português tabeliónico" aos nossos dias, milhões de seres humanos moldaram a língua em África, na Ásia, nas Américas. Intelectuais de todas as épocas cuidaram dela com o mesmo desvelo que se tratam as preciosidades.
Queremos a Língua Portuguesa que brota da gramática e da sua matriz latina. Os jornalistas da Imprensa conhecem melhor do que ninguém esta realidade: quem fala, não pensa na gramática nem quer saber de regras ou de matrizes. Quem fala quer ser compreendido. Por isso, quando fazemos uma entrevista, por razões éticas mas também técnicas, somos obrigados a fazer a conversão, o câmbio, da linguagem coloquial para a linguagem jornalística escrita. É certo que muitos se esquecem deste aspecto, mas fazem mal. Numa entrevista até é preciso levar aos destinatários particularidades da linguagem gestual do entrevistado.
Ninguém mais do que os jornalistas gostava que a Língua Portuguesa não tivesse acentos ou consoantes mudas. O nosso trabalho ficava muito facilitado se pudéssemos construir a mensagem informativa com base no português falado ou pronunciado. Mas se alguma vez isso acontecer, estamos a destruir essa preciosidade que herdámos inteira e sem mácula. Nestas coisas não pode haver facilidades e muito menos negócios. E também não podemos demagogicamente descer ao nível dos que não dominam correctamente o português.
Neste aspecto, como em tudo na vida, os que sabem mais têm o dever sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos. Nunca descer ao seu nível. Porque é batota! Na verdade nunca estarão a esse nível e vão sempre aproveitar-se social e economicamente por saberem mais. O Prémio Nobel da Literatura, Dário Fo, tem um texto fabuloso sobre este tema e que representou com a sua trupe em fábricas, escolas, ruas e praças. O que ele defende é muito simples: o patrão é patrão porque sabe mais palavras do que o operário!
Os falantes da Língua Portuguesa que sabem menos, têm de ser ajudados a saber mais. E quando souberem o suficiente vão escrever correctamente em português. Falar é outra coisa. O português falado em Angola tem características específicas e varia de província para província. Tem uma beleza única e uma riqueza inestimável para os angolanos mas também para todos os falantes. Tal como o português que é falado no Alentejo, em Salvador da Baía ou em Inhambane tem características únicas. Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é "contaminada" pela linguagem coloquial, mas as regras gramaticais, não. Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer acordo ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica. Se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras.
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Published on March 11, 2012 16:40