Deana Barroqueiro's Blog: Author's Central Page, page 61

October 19, 2012

NOTA NEGATIVA PARA O MUSEU DA MARINHA

NOTA NEGATIVA PARA O MUSEU DA MARINHA, cujos serviços administrativos pediram 5.500 euros pelo aluguer de uma sala (por 3/4 horas) para a apresentação de um livro. Extorsão ou estratégia para afastar "quem não é da casa", embora sejam financiados por todos os portugueses que pagam impostos?
Quando, para o lançamento do meu Corsário dos Sete Mares, a editora Casa das Letras/Leya procurava um lugar que tivesse ligação com o romance, pensou no Museu da Marinha, mas o aluguer da sala das galeotas (com poucas cadeiras e por poucas horas) custaria 5.500 euros!!! Como se pode justificar tamanha exorbitância, num país em crise, pobre em dinheiro e em Cultura, pedida por uma instituição paga pelos nossos impostos? Só pode ser uma estratégia para afas tar os que não pertençam ao seu "clube". O Padrão dos Descobrmentios, gerido pela Câmara, apresentou um pedido decente e eu poderei fechar nele o meu Ciclo dos Descobrimentos, ali iniciado com a apresentação de O Navegador da Passagem pelo Prof. Eduardo Marçal Grilo. Vale a pena ver esta Página sobre o Monumento, para se lembrarem das figuras que o compões:
http://www.pbase.com/diasdosreis/descobrimentos
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Published on October 19, 2012 03:32

October 18, 2012

Colectânea de escritores portugueses traduzidos (Bolonha)



Recebi hoje a colectânea de textos de escritores de Língua Portuguesa, traduzidos por formandos da Scuola Superiore per Interpreti e Traduttori da Universidade de Bolonha/Forli, orientados pela Professora Anabela Ferreira. Este trabalho pretende contribuir para o conhecimento da literatura portuguesa contemporânea em Itália.

Fui um dos autores escolhidos para a tradução, com os primeiros capítulos do meu romance O Navegador da Passagem e confesso-me emocionada com a tradução de Martina Diani, que soube compreender e transmitir na perfeição o espírito ou alma dos meus textos, pelo que lhe estou profundamente agradecida.
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Published on October 18, 2012 17:45

October 13, 2012

Tese de Mestrado sobre O Romance da Bíblia

Poster da Iniciação Científica, na Semana do Conhecimento da Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil), de Késia de Oliveira, sob a orientação da Prof. Dra. Lyslei Nascimento : "Reescrever o sagrado: mulheres e crimes em O Romance da Bíblia" de Deana Barroqueiro. Saiu este ano uma nova edição do mesmo romance com o título de "Tentação da Serpente".

Reescrever o sagrado:
mulheres e crimes em O romance da Bíblia,
de Deana Barroqueiro

 Késia Oliveira (Bolsista IC/CNPq)
Lyslei Nascimento (Orientadora)

 Resumo

Esta pesquisa visa estudar as estratégias de reescritura da narrativa bíblica na literatura a partir do conceito de crime. Para isso, serão estudados as noções de sagrado e profano, de acordo com Mircea Eliade, em uma possível relação com a intertextualidade. Nesse sentido, a apropriação de um texto sagrado, portanto, total e unívoco, como a Bíblia, pela literatura criaria desvios que podem provocar uma multiplicidade de vozes e a fragmentação ou a desconstrução de verdades absolutas. Deana Barroqueiro em O romance da Bíblia: um olhar feminino do Antigo Testamento, 2010, é uma das escritoras que, na contemporaneidade, ao reescrever episódios bíblicos, como o de Judite ou Ester, e conferir voz a personagens tradicionalmente silenciados, parece criar uma literatura em que alguns embates entre o sagrado e o profano são explorados. A metodologia desta investigação será bibliográfica com o estudo dos conceitos de intertextualidade e apropriação. Além disso, serão estudados as noções de sagrado e profano. A partir desse aparato teórico, objetiva-se elaborar uma leitura crítica de O romance da Bíblia, de Deana Barroqueiro. Metodologia   A metodologia desta investigação será bibliográfica com o estudo dos conceitos de intertextualidade e apropriação. Além disso, serão estudados as noções de sagrado e profano. A partir desse aparato teórico, será feita uma leitura crítica de O romance da Bíblia, de Deana Barroqueiro.                                                    CARAVAGGIO, Michelangelo. Judith degola Holofernes. 1598. Objetivos

- Estudo dos conceitos de intertextualidade e apropriação, a partir das noções de sagrado e profano;
- Leitura crítica de O romance da Bíblia, de Deana Barroqueiro.
 Referências
_ A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. Trad. Euclides Martins et alii. São Paulo: Paulus, 2010. _ BARROQUEIRO, Deana. O romance da Bíblia: um olhar feminino do Antigo Testamento. Lisboa: Ésquilo, 2010. _ BUCHMANN, Christina; SPIEGEL, Celina (Org.). Fora do jardim: mulheres escrevem sobre a Bíblia. Tradução de Tania Penido. Rio de Janeiro: Imago, 1995. _ COMPAGNON, Antoine. O trabalho da citação. Trad. Cleonice Mourão. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1996. _ ECO, Umberto. O sagrado não é uma moda. In: _____. Viagem na irrealidade cotidiana. Trad. Aurora F. Bernardini e Homero de Andrade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 110-116. _ ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. Tradução de Rogério Fernandes. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. _ ROGERSON, John William. O livro de ouro da Bíblia: origens e mistérios do livro sagrado. Trad. Talita Rodrigues. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. _ SANT'ANNA, Affonso Romano. Paródia, parafrase & cia. São Paulo: Ática, 1985.
Projeto de Pesquisa Protocolos, evangelhos apócrifos e testamentos traídos: a literatura como crime

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Published on October 13, 2012 19:20

October 9, 2012

Pré-apresentação aos Leitores



O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto só vai aparecer nas livrarias a partir do dia do lançamento, 23 de Outubro, 18.30 h., no Padrãos dos Descobrimentos. Contudo, está disponível em pré-venda nas livrarias on-line de 1 a 19 de Outubro. Em modo de pré-apresentação deixo aqui a minha Carta aos Leitores que me serve de introdução ao romance:
A palavra deve ser vestida como uma deusa e elevar-se como um pássaro (Provérbio Tibetano)
Caríssimo leitor/leitora
 Fernão Mendes Pinto é uma figura singular da nossa História e Literatura, tanto pela vida que viveu como pela sua obra Peregrinação. Foi também, como é frequente acontecer com os que mais contribuem para o conhecimento e valorização de Portugal, injustiçado e desacreditado pelos seus compatriotas, incapazes de apreciarem o valor do seu livro, publicado em 1614, trinta e um anos após a sua morte.
Nesse século XVII, a sua obra (de difícil leitura nos nossos tempos) teve uma enorme repercussão na Europa, com vinte edições em várias línguas, contribuindo para o conhecimento pelos europeus dos povos do Oriente, dos costumes e mentalidades de variadíssimas civilizações até então totalmente desconhecidas. Independentemente das imprecisões e erros cronológicos ou dos exageros e efabulações que contribuem para o fascínio da Literatura de Viagens, em que se insere a Peregrinação.
Posteriormente, nos finais do século XIX e também  no século XX, as opiniões dos críticos dividiram-se sobre a importância e o valor do autor e da sua obra. Os Portugueses seguindo, como é seu hábito, as vozes dos críticos ingleses – que se esforçam por enaltecer os seus heróis e apagar ou destruir os das outras nações que lhes foram rivais, em particular o Portugal dos Descobrimentos –, encarniçaram-se contra a “inveracidade” da sua narração.
           O galardão que lhe ofereceram pela singularidade do seu génio e pela sua obra única – sem comparação na Europa do seu tempo – foi o chiste que perdurou, denegrindo o seu nome e o seu trabalho: Fernão, Mentes? Minto.
No entanto, Fernão Mendes Pinto faz parte também da Literatura e História de países tão longínquos como Japão, Birmânia ou Tailândia, surgindo como um dos primeiros portugueses a tocar solo japonês e o noivo  do primeiro matrimónio de uma japonesa com um ocidental, um caso que servirá de suporte ao mito da Madame Butterfly, na tradição oral e escrita de cerca de quatrocentos anos; ou ainda como cronista quase único das guerras da Birmânia com o Sião, nos finais da década de 1540, que serviram de base para o impressionante filme histórico A Lenda de Suriyothai, de Chatrichalerm Yukol (2002) e Francis Ford Coppola (2003).
Figura polémica, ele pertence à galeria de personalidades marginalizadas ou injustamente ignoradas que tenho procurado reabilitar em benefício dos meus leitores, como Bartolomeu Dias e Diogo Cão em O Navegador da Passagem, Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva em O Espião de D. João II e tantos outros que os Portugueses esqueceram ou desconhecem ainda, substituídos no nosso tempo por “famosos” de vidas fugazes e vazias.
No entanto, hesitei sempre em escrever um romance sobre este anti-herói desmesurado, de quem pouco mais se sabe além daquilo que ele contou na sua Peregrinação, uma vida de contínuas viagens, aventuras e desastres que davam e sobejavam para outras sete vidas. Embora ninguém pudesse oferecer melhor exemplo e suporte para se  escrever a saga dos Portugueses no Oriente longínquo, parecia-me uma tarefa impossível romancear a vida de Fernão Mendes Pinto sem correr o risco de me colar à sua narrativa, fazendo uma paráfrase ou uma glosa da sua obra.
Como pretendo que cada um dos meus livros seja diferente dos anteriores, necessito de experimentar estruturas e processos narrativos distintos, para manter viva a chama da imaginação e da paixão da escrita que me faz sentir viva e me alimenta, no intuito de causar surpresa aos meus leitores, permitindo-me o prazer de um diálogo renovado a cada romance.
À dificuldade de conciliar as peregrinações de Fernão por inúmeros mares, ao som da aventura, para mais enredada nos erros de datas, lugares e acontecimentos (compreensíveis, por estar a contar tais sucessos quase trinta anos depois de os ter vivido),  com a saga dos Portugueses no Oriente – com que pretendo completar a narrativa dos Descobrimentos que venho fazendo ao longo das minhas obras –, acrescentei uma estrutura demasiado complexa de concretizar, mas que, por meio de múltiplas intertextualidades, me permitia alargar o conhecimento dos meus leitores, espicaçar-lhes a curiosidade e  diverti-los. Levando-os, numa viagem no Tempo e na pele das personagens, ao encontro de mundos antigos e de outros povos, tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes na sua humanidade. Daí a razão para cada capítulo começar por um provérbio e um texto da época retratada, português ou dos muitos países visitados e até imaginados, desde o Mar Roxo à Terra Australis, na busca incessante da mítica Ilha do Ouro.
A divisão do romance em sete mares, de acordo com as áreas geográficas por onde Fernão navegou, teve de jogar com mais de uma viagem ao mesmo lugar, feitas em épocas diferentes, intercaladas com as de outros mares que poderiam estar nos seus antípodas. Por isso a sua narradora, meu caro Leitor/Leitora, ousa guiá-lo algumas vezes por entre esses baixios e restingas para que chegue a bom porto, estabelecendo consigo um diálogo mais cúmplice e íntimo.
Recriando com fidelidade esses mundos de antanho, sempre através do olhar do visitante, maravilhado ou repugnado com o que via. Desta forma, certas atitudes, falas e pensamentos das personagens podem veicular mentalidades e comportamentos que, nos nossos dias, não podemos deixar de considerar preconceituosos ou mesmo racistas, mas que no tempo dos Descobrimentos traduziam o ponto de vista próprio do homem europeu, que se julgava o centro do mundo, dificilmente aceitando o Outro, de raça ou credo diferentes, como detentor de uma civilização e cultura distintas.
Procurei manter em Fernão Mendes Pinto, a personagem central do romance, essa característica picaresca, tão portuguesa, do andarilho aventureiro que, graças à sua esperteza e expediente (vulgo “desenrascanço”), consegue salvar-se das situações mais difíceis e perigosas e sobreviver. Contudo, ele é muito mais do que uma figura de comédia, a sua inteligência e curiosidade, a ânsia de conhecer o mundo, os sentimentos de piedade e generosidade, o seu espírito crítico, evidentes na sua obra, dão-lhe uma dimensão humana a que dificilmente se pode ficar indiferente.
Ele é também o pretexto para o encontro ou a evocação de outras histórias com “heróis” conhecidos ou anónimos, cuja grandeza e miséria, tão humanas, construíram o nosso Passado colectivo, criando os alicerces do nosso Presente e, de algum modo, marcando também o Futuro dosPortugueses.
Se o leitor chegar ao fim do romance com desejos de saber mais destas gentes e da sua saga no Oriente, será a minha maior recompensa pelos três anos de trabalho que me levou a fazê-lo. Oxalá… Deana Barroqueiro
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Published on October 09, 2012 15:26

October 4, 2012

Os Sete Mares do Corsário


A fim de dar aos Leitores uma ideia da estrutura do romance O Corsário dos Sete Mares, a Casa das Letras/Leya disponibilizou na sua Página on-line, em pré-publicação, o primeiro capítulo do o livro.
Ver AQUI.

Para situar os Leitores no espaço da acção, do Mar Roxo ao Mar do Japão, o romance tem logo no início, em dupla página, esta carta/mapa que achei inserida numa edição muito antiga das Décadas da Ásia de João de Barros. E, para cada uma das sete partes/mares em que se divide o livro, há o mapa correspondente (baseado no primeiro ou em outras cartas de marear coevas de Fernão Mendes Pinto.[image error]
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Published on October 04, 2012 03:46

October 2, 2012

O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto

 O  novo romance de Deana Barroqueiro
Fernão Mendes Pinto é o exemplo vivo do aventureiro português do Século XVI, que embarcava para o Oriente com o fito de enriquecer.

Curioso, inteligente, ardiloso e hábil, capaz de todas as manhas para sobreviver, vai tornar-se num homem dos sete ofícios, sendo embaixador, mercador, médico, mercenário, marinheiro, descobridor e corsário dos sete mares – Roxo, da Arábia, Samatra, China, Japão, Java e Sião – por onde, durante vinte anos, navegou e naufragou, ganhou e perdeu verdadeiros tesouros, fez-se senhor e escravo, amou e foi amado, temido e odiado.

Herói polémico e marginalizado, Fernão participa em campanhas de paz e guerra, da Etiópia à China, sendo também um dos primeiros portugueses a visitar o Japão, onde introduz os mosquetes ali desconhecidos e fica nas crónicas locais como o noivo do primeiro matrimónio de uma japonesa com um ocidental.

Através de Fernão Mendes Pinto e dos testemunhos das personagens com quem se cruza, na sua peregrinação pelo Oriente longínquo, a autora faz ainda a narrativa dos principais episódios da grande saga dos Descobrimentos Portugueses, como as conquistas de Goa e Malaca, o heróico cerco de Diu ou as campanhas do Preste João na Etiópia.

Em sete mares se divide o romance, por onde o leitor, na pele das personagens, fará uma intrigante viagem no Tempo, ao encontro de si próprio e de mundos e povos antigos, tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes, uma peregrinação na busca incessante de fortuna, encarnada na demanda da mítica Ilha do Ouro.
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Published on October 02, 2012 11:33

September 14, 2012

Carta Aberta ao Primeiro-Ministro, de Eugénio Lisboa



O texto que publico na íntegra, por cortesia da poetisa Ana Paula Lavado, é do escritor e ensaísta Eugénio Lisboa. O autor foi presidente da Comissão Nacional da UNESCO / conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Londres entre 1978-1995 / professor catedrático especial de Estudos Portugueses na Universidade de Nottingham / professor catedrático visitante da Universidade de Aveiro / e coordenador do ensino da língua portuguesa na Suécia.
É Doutor Honoris Causa pelas universidades de Nottingham e Aveiro. A Câmara de Cascais outorgou-lhe a medalha de Mérito Cultural.Em Moçambique foi sucessivamente administrador e director das petrolíferas SONAPMOC, SONAREP e TOTAL.


CARTA AO PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL

Exmo. Senhor Primeiro Ministro

Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe.

Para ser inteiramente franco, escrevo-lhe, não tanto por acreditar que vá ter em V. Exa. qualquer efeito — todo o vosso comportamento, neste primeiro ano de governo, traindo, inescrupulosamente, todas as promessas feitas em campanha eleitoral, não convida à esperança numa reviravolta! — mas, antes, para ficar de bem com a minha consciência. Tenho 82 anos e pouco me restará de vida, o que significa que, a mim, já pouco mal poderá infligir V. Exa. e o algum que me inflija será sempre de curta duração. É aquilo a que costumo chamar “as vantagens do túmulo” ou, se preferir, a coragem que dá a proximidade do túmulo. Tanto o que me dê como o que me tire será sempre de curta duração. Não será, pois, de mim que falo, mesmo quando use, na frase, o “odioso eu”, a que aludia Pascal.

Mas tenho, como disse, 82 anos e, portanto, uma alongada e bem vivida experiência da velhice — a minha e da dos meus amigos e familiares. A velhice é um pouco — ou é muito – a experiência de uma contínua e ininterrupta perda de poderes. “Desistir é a derradeira tragédia”, disse um escritor pouco conhecido. Desistir é aquilo que vão fazendo, sem cessar, os que envelhecem. Desistir, palavra horrível. Estamos no verão, no momento em que escrevo isto, e acorrem-me as palavras tremendas de um grande poeta inglês do século XX (Eliot): “Um velho, num mês de secura”... A velhice, encarquilhando-se, no meio da desolação e da secura. É para isto que servem os poetas: para encontrarem, em poucas palavras, a medalha eficaz e definitiva para uma situação, uma visão, uma emoção ou uma ideia.A velhice, Senhor Primeiro Ministro, é, com as dores que arrasta — as físicas, as emotivas e as morais — um período bem difícil de atravessar. Já alguém a definiu como o departamento dos doentes externos do Purgatório. E uma grande contista da Nova Zelândia, que dava pelo nome de Katherine Mansfield, com a afinada sensibilidade e sabedoria da vida, de que V. Exa. e o seu governo parecem ter défice, observou, num dos contos singulares do seu belíssimo livro intitulado The Garden Party: “O velho Sr. Neave achava-se demasiado velho para a primavera.” Ser velho é também isto: acharmos que a primavera já não é para nós, que não temos direito a ela, que estamos a mais, dentro dela... Já foi nossa, já, de certo modo, nos definiu. Hoje, não. Hoje, sentimos que já não interessamos, que, até, incomodamos. Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo. Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais — tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter, para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.Já alguém, aludindo à mesma falta de sensibilidade de que V. Exa. dá provas, em relação à velhice e aos seus poderes decrescentes e mal apoiados, sugeriu, com humor ferino, que se atirassem os velhos e os reformados para asilos desguarnecidos, situados, de preferência, em andares altos de prédios muito altos: de um 14º andar, explicava, a desolação que se comtempla até passa por paisagem. V. Exa. e os do seu governo exibem uma sensibilidade muito, mas mesmo muito, neste gosto. V. Exas. transformam a velhice num crime punível pela medida grande. As políticas radicais de V. Exa, e do seu robôtico Ministro das Finanças — sim, porque a Troika informou que as políticas são vossas e não deles... — têm levado a isto: a uma total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.Falei da velhice porque é o pelouro que, de momento, tenho mais à mão. Mas o sofrimento devastador, que o fundamentalismo ideológico de V. Exa. está desencadear pelo país fora, afecta muito mais do que a fatia dos velhos e reformados. Jovens sem emprego e sem futuro à vista, homens e mulheres de todas as idades e de todos os caminhos da vida — tudo é queimado no altar ideológico onde arde a chama de um dogma cego à fria realidade dos factos e dos resultados. Dizia Joan Ruddock não acreditar que radicalismo e bom senso fossem incompatíveis. V. Exa. e o seu governo provam que o são: não há forma de conviverem pacificamente. Nisto, estou muito de acordo com a sensatez do antigo ministro conservador inglês, Francis Pym, que teve a ousadia de avisar a Primeira Ministra Margaret Thatcher (uma expoente do extremismo neoliberal), nestes termos: “Extremismo e conservantismo são termos contraditórios”. Pym pagou, é claro, a factura: se a memória me não engana, foi o primeiro membro do primeiro governo de Thatcher a ser despedido, sem apelo nem agravo. A “conservadora” Margaret Thatcher — como o “conservador” Passos Coelho — quis misturar água com azeite, isto é, conservantismo e extremismo. Claro que não dá.Alguém observava que os americanos ficavam muito admirados quando se sabiam odiados. É possível que, no governo e no partido a que V. Exa. preside, a maior parte dos seus constituintes não se aperceba bem (ou, apercebendo-se, não compreenda), de que lavra, no país, um grande incêndio de ressentimento e ódio. Darei a V. Exa. — e com isto termino — uma pista para um bom entendimento do que se está a passar. Atribuíram-se ao Papa Gregório VII estas palavras: “Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.” Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.

De V. Exa., atentamente,

Eugénio Lisboa

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Published on September 14, 2012 10:27

Camões no Oriente, de Eduardo Ribeiro

Finalmente em Portugal a apresentação da obra do investigador e escritor Eduardo Ribeiro, a cargo do Prof. Dr. Rui Manuel Loureiro. Uma sessão a não perder.
18 de Setembro, pelas 18 h.
na Delegação Económica e Comercial de Macau
Av. 5 de Outubro, nº 115 - r/chão
Lisboa



SINOPSE DO LIVRO

‘’Camões no Oriente’’ de Eduardo Ribeiro é um «contributo relevante para o conhecimento da vida de Camões nas partes do Oriente e para o conhecimento de alguns aspectos da sua obra poética escrita durante uns largos anos», segundo palavras de um emérito camonista em carta particular ao Autor.

Que continua: «o título não faz jus à amplitude da obra (…) porque as suas informações, reflexões e plausíveis conjecturas sobre Camões após o seu regresso a Lisboa, em 1570, em particular sobre a edição de Os Lusíadas, merecem leitura atenta».
Com efeito, a obra que ora apresentamos ao público é muito mais do que o título anuncia. O título, retirado do primeiro dos seis textos publicados (Roteiro Cronológico de Camões no Oriente), acompanha cronologicamente a vida do Poeta quinhentista desde a partida de Lisboa para a Índia em 1553, segue-lhe os passos em Goa (1553-1562), acompanha-o até Macau (1562-1564), faz com ele o regresso pelo Índico (Goa, 1565?-1567) e Moçambique (1568-1569) e, finalmente, analisa os últimos dez anos do Poeta no Reino (1570-1580).

Um acompanhar a par e passo dos últimos vinte e sete anos do Épico e Lírico, dessa figura ímpar das Letras Portuguesas, aqui revisitado mas sobretudo descoberto, num ‘’passeio prazenteiro e redentor pelo Camões que não nos foi mostrado e nunca revelado’’, em ‘’digressão não apenas pelo poeta mas pelo homem de combate e de cultura, o cidadão, o pinga-amor, o amador, o cientista, o homem liberto que Camões sempre foi, ainda que várias vezes preso, súbdito e obediente, soldado do império, amante da arte e dos sentidos, escravo do seu estro criador, um português de alma genuinamente lusa (…)’’ (Frederico Rato, Nota de Apresentação).

É esse Camões que Eduardo Ribeiro pacientemente estuda e investiga, recupera e trata, remoça e nos devolve, após trabalho de formiguinha talentosa, laboriosa e infatigável, em dádiva generosa’’) (idem).

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Published on September 14, 2012 08:00

September 11, 2012

Nevoeiro, de Fernando Pessoa (Mensagem para Passos Coelho)



Depois da mensagem do primeiro ministro a anunciar medidas que vão criar mais pobreza para os velhos e os trabalhadores e mais riqueza para os ricos e intocáveis, deixo-vos esta outra Mensagem premonitória de um poeta desassossegado, na voz de Gal Costa.

Imersos num país de Nevoeiro de que nem o sol glorioso logra libertar-nos, assistimos impotentes à nossa destruição, levada a cabo por governantes incompetentes que juraram proteger-nos. Onde está a prometida equidade, que me faria aceitar os sacrifícios insuportáveis que nos pedem, quando vejo que os que mais podiam contribuir para a crise, são os que menos pagam e mais recebem, graças a um rol de medidas de excepção que lhes são oferecidas?
Estou a atingir o ponto de saturação, com esta política de extorsão, desigualdade de sacrifícios e de falta de horizontes. Estão a destruir o tecido social do país, borrifando-se para a democracia e os direitos do indivíduo. Não foram tanto os gastos das pessoas, mas as más políticas, a corrupção, jogos de influências e compadrios dos partidos que alternaram no Governo que puseram o país neste estado.

Portugal... é Hora!
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Published on September 11, 2012 02:41

July 12, 2012

Talibans executam uma mulher publicamente em Cabul

O Regresso à barbárie islâmica fundamentalista


Uma mulher, suspeita de adultério, mas sem direito a julgamento ou sequer a ser ouvida, é executada publicamente a tiro num povoado próximo de Cabul, mostrando que pouco mudou em relação à condição feminina no Afeganistão, após dez anos de presença internacional.

Num pequeno povoado da província de Parwan, dezenas de homens, sentados no chão ou nos telhados das casas, observam a mulher coberta por um véu. A acusada, sentada no chão empoeirado, ouve a sentença de morte sem esboçar um gesto.

"Esta mulher, filha de Sar Gul, irmã de Mustafá e esposa de Juma Jan, fugiu com Zemarai. Não a viram no povoado durante mais ou menos um mês", enuncia um homem, aparentemente um juiz, com barba longa e negra. Em seguida cita versículos do Corão que condenam o adultério.
"Mas, por sorte, os mujahedines prenderam-na. Não podemos perdoar-lhe. Juma Jan, seu marido, tem o direito de a matar".

Um homem vestido de branco recebe uma espingarda e vai postar por trás da acusada. Ao grito de "Alá akbar" (Deus é grande), o homem dispara duas vezes na direção da mulher, errando o alvo. A terceira bala atinge a cabeça da vítima, que cai por terra, o que não impede o marido de disparar mais dez vezes (por ódio ou vingança?).

Entre os presentes, apenas homens, uns aplaudem, alguns gravam a cena com seus telemóveis.

Segundo a versão oficial, Najiba, de 22 anos, foi detida pelos talibãs por ter mantido "relações" (extra-conjugais), forçadas por violação ou consentidas, com um comandante talibã rival do distrito de Shiwari, também em Parwan. A mulher foi torturada e condenada à morte. Porém, este acto bárbaro parece ser afinal um ajuste de contas entre duas facções rivais. Ela foi apenas o bode espiatório, por ser indefesa.

O ministério do Interior afegão condenou com firmeza o que chamou de "acto anti-islâmico e desumano cometido por assassinos profissionais".

Todos os meses são registrados crimes odiosos contra mulheres no Afeganistão, principalmente nas zonas rurais, que ainda se regem pelas tradições e a sharia.

Segundo a organização não-governamental Oxfam, 87% das afegãs afirmam ter sido submetidas a violências físicas, sexuais ou psicológicas, ou a um casamento forçado.

Najiba, de 22 anos, foi morta como um cão no terreno pedregoso da vila, porque a valia da mulher para o fanatismo islâmico é inferior à de qualquer animal, podendo ser morta do modo que nos revoltaria e causaria movimentos de solidariedade por todo o lado, se o víssemos fazer na Europa a uma cadela.
Contudo, estas mortes, violações e casamentos forçados não parecem incomodar a opinião pública muçulmana.

Alguma vez chegará a Primavera Árabe às mulheres dos países islâmicos?
Duvido!

(Este artigo tem por base uma notícia do Tribuna Hoje)
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Published on July 12, 2012 03:13