Alexandre Andrade's Blog, page 5
January 1, 2017
Passam as horas violentas, do repúdio e do desassossego e...
Passam as horas violentas, do repúdio e do desassossego e passam igualmente as higiénicas, da acomodação. Passam também as de crítica, praticamente inútil. Passa tudo e volta tudo.
(Irene Lisboa, "Solidão")
(Irene Lisboa, "Solidão")
Published on January 01, 2017 11:36
December 30, 2016
Esse logro que consiste em julgar que existe uma resposta...
Esse logro que consiste em julgar que existe uma resposta diferente de "sim" ou "não" para a pergunta «És feliz?».
Published on December 30, 2016 15:15
December 29, 2016
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
No Alfa Pendular, entre Porto e Lisboa, um leitor lia "Finisterra", de Carlos de Oliveira.
Há lá melhor lugar e circunstâncias para pôr em dia a leitura dos clássicos portugueses do século XX do que sobre carris, a 200 quilómetros por hora?
Há lá melhor lugar e circunstâncias para pôr em dia a leitura dos clássicos portugueses do século XX do que sobre carris, a 200 quilómetros por hora?
Published on December 29, 2016 13:27
November 13, 2016
LEONARD COHEN (1934-2016)
Published on November 13, 2016 13:15
October 23, 2016
How attractive, how delectable, the prospect of intimacy ...
How attractive, how delectable, the prospect of intimacy is, with the very person who will never grant it.
(Alice Munro, "The Turkey Season")
(Alice Munro, "The Turkey Season")
Published on October 23, 2016 12:03
LEITURAS EM LUGARES PÚBLICOS
No comboio Porto-Aveiro, uma leitora folheou "Espaço do Invisível 3", de Vergílio Ferreira, antes de o guardar na mala e começar a ler outro livro, que não consegui identificar.
Published on October 23, 2016 12:01
October 16, 2016
SETSUKO HARA (1920-2015)
(Obituário escrito por mim e publicado originalmente na revista LER.)
A
actriz Setsuko Hara (1920-2015), que desapareceu a 5 de Setembro [de 2015] (o anúncio
surgiu mais de dois meses depois), participou pela última vez num filme em 1962,
mas perdurou na memória dos cinéfilos graças sobretudo aos filmes que Yasujiro
Ozu realizou entre 1949 e 1961. Nestes, a sua personagem é quase sempre uma
mulher inteligente, sensata e activa, mas condicionada por conflitos entre
gerações ou por situações familiares complexas. Representar personagens
positivas e gentis pode ser uma vantagem aos olhos da posteridade, mas a
explicação para o facto de Hara ser tão recordada e chorada mais de meio século
depois da sua última aparição não se pode resumir a isso. Como escreveu Miguel
Esteves Cardoso, a propósito da literatura: não basta escrever bem sobre coisas
belas e moralmente defensáveis: convém também ser-se boa pessoa. Hara pertencia
àquele rarefeito conjunto de actrizes que dão corpo a personagens plenas de uma
humanidade sereníssima e que o fazem esplendidamente (porque é também de um
talento assombroso que se está aqui a falar). Quanto à pessoa, essa remeteu-se
à reclusão quando abandonou o cinema, mas deixou atrás de si uma presença humana
que transcende os filmes e os anos e que condensa toda a decência, doçura e
verticalidade que o cruel século XX teve para oferecer. Setsuko Hara foi a
amiga, a irmã, a filha, a mãe, a mulher e a amante que todos julgamos, muito lá
no fundo, poder vir a merecer. Os minutos finais de Viagem a Tóquio (1953), e
em particular a cena em que Hara e o (também imenso) Chishu Ryu, de três
quartos, parecem trespassados pelos cabos eléctricos omnipresentes nos filmes
de Ozu, são momentos em que se percebe que o cinema é afinal uma maneira de tocarmos
e olharmos de frente esse estranho fenómeno que se chama estar vivo no mundo.
A
actriz Setsuko Hara (1920-2015), que desapareceu a 5 de Setembro [de 2015] (o anúncio
surgiu mais de dois meses depois), participou pela última vez num filme em 1962,
mas perdurou na memória dos cinéfilos graças sobretudo aos filmes que Yasujiro
Ozu realizou entre 1949 e 1961. Nestes, a sua personagem é quase sempre uma
mulher inteligente, sensata e activa, mas condicionada por conflitos entre
gerações ou por situações familiares complexas. Representar personagens
positivas e gentis pode ser uma vantagem aos olhos da posteridade, mas a
explicação para o facto de Hara ser tão recordada e chorada mais de meio século
depois da sua última aparição não se pode resumir a isso. Como escreveu Miguel
Esteves Cardoso, a propósito da literatura: não basta escrever bem sobre coisas
belas e moralmente defensáveis: convém também ser-se boa pessoa. Hara pertencia
àquele rarefeito conjunto de actrizes que dão corpo a personagens plenas de uma
humanidade sereníssima e que o fazem esplendidamente (porque é também de um
talento assombroso que se está aqui a falar). Quanto à pessoa, essa remeteu-se
à reclusão quando abandonou o cinema, mas deixou atrás de si uma presença humana
que transcende os filmes e os anos e que condensa toda a decência, doçura e
verticalidade que o cruel século XX teve para oferecer. Setsuko Hara foi a
amiga, a irmã, a filha, a mãe, a mulher e a amante que todos julgamos, muito lá
no fundo, poder vir a merecer. Os minutos finais de Viagem a Tóquio (1953), e
em particular a cena em que Hara e o (também imenso) Chishu Ryu, de três
quartos, parecem trespassados pelos cabos eléctricos omnipresentes nos filmes
de Ozu, são momentos em que se percebe que o cinema é afinal uma maneira de tocarmos
e olharmos de frente esse estranho fenómeno que se chama estar vivo no mundo.
Published on October 16, 2016 12:55
October 11, 2016
OFÍCIO
Os poemas que não fiz não os fiz porque estava
da...
OFÍCIO
Os poemas que não fiz não os fiz porque estava
dando ao meu corpo aquela espécie de alma
que não pôde a poesia nunca dar-lhe
Os poemas que fiz só os fiz porque estava
pedindo ao corpo aquela espécie de alma
que somente a poesia pode dar-lhe
Assim devolve o corpo a poesia
que se confunde com o duro sopro
de quem está vivo e às vezes não respira
(Gastão Cruz, "Escarpas", Assírio & Alvim, 2010)
Os poemas que não fiz não os fiz porque estava
dando ao meu corpo aquela espécie de alma
que não pôde a poesia nunca dar-lhe
Os poemas que fiz só os fiz porque estava
pedindo ao corpo aquela espécie de alma
que somente a poesia pode dar-lhe
Assim devolve o corpo a poesia
que se confunde com o duro sopro
de quem está vivo e às vezes não respira
(Gastão Cruz, "Escarpas", Assírio & Alvim, 2010)
Published on October 11, 2016 12:41
October 5, 2016
5 DE OUTUBRO
O 5 de Outubro de 2016 possui um sabor especial porque é a primeira vez que a data é celebrada com feriado nacional, como deve ser, depois do período negro durante o qual este e outros três feriados estiveram abolidos. Esse acto vergonhoso não deverá ser jamais esquecido. Porém, o que importa hoje é recordar e homenagear os heróis que, precisamente há 106
anos, puseram fim a quase oito séculos de reis, reizinhos, dinastias e
crises sucessórias e lançaram as fundações do Portugal moderno. Viva a
República!
anos, puseram fim a quase oito séculos de reis, reizinhos, dinastias e
crises sucessórias e lançaram as fundações do Portugal moderno. Viva a
República!
Published on October 05, 2016 12:43
September 26, 2016
TANIZAKI E MELOPEIA
Talvez Manuel da Silva Ramos nunca venha a fazer parte dos meus duzentos autores portugueses favoritos; problema meu e só meu, bem entendido. Mas como não cobrir de indulgências alguém que diz de uma prostituta brasileira que podia ter saído de um romance do Tanizaki, e que intitula um dos seus contos "Melopeia sintrense com direito a sonho e pausa musical entendida como copulação sonâmbula vertical"? (A propósito de "Perfumes eróticos em tempos de vacas magras", Parsifal, 2014.)
Published on September 26, 2016 13:31


