Amanda Bento's Blog
October 23, 2025
O Animal Social
Este ano perdi mais amigos do que nos anos anteriores (que já vinha perdendo). Entenda esse ‘perder’ como cânions criados entre relações com gente que amei muito – e talvez ainda ame, porque amar demais sempre foi uma das coisas que eu sei fazer de melhor. E nessas idas e vindas, relembrei aquele trecho do Política do Aristóteles:
Portanto, é evidente que o Estado é uma criação da natureza, e que o homem é, por natureza, um animal político*. E aquele que, por natureza, e não por mero acidente, não tem Estado, está acima ou abaixo da humanidade; é o “sem tribo, sem lei, sem coração” que Homero denuncia — o pária que ama a guerra; pode ser comparado a um pássaro que voa sozinho
*Em algumas traduções, pode ser traduzido como social, pois a pólis grega era uma predecessora da sociedade.
Claro que, nessa sociedade de animais, conheci novos amigos que rapidamente passaram a fazer parte do meu cotidiano e das minhas orações silenciosas — e que sorte a minha — mas ainda lamento por aqueles que não estão mais comigo. E as circunstâncias que nos despedimos.
Alguns envolveram advogados.
Outros, xingamentos.
Um veio com a negociação e envio de valores mensais.
Um só se comunica comigo por pix mensal.
E principalmente, em todos, há o silêncio excruciante. Além do fato de que nenhum tentou se comunicar de volta.
Saber que minhas relações chegaram a esse nível me adoece e me faz intensificar o pensamento casualista que julga o único denominador comum delas: eu. Tento desviar esse pensamento guardando em mim o que me atraiu a essas pessoas, como eu as via no começo. E deixar por aí.
Sou muito sociável, isso é fato. Tanto, que nunca precisei de bebida para tomar atitudes noturnas que eu me arrependesse, e nem café para ser amigável pela manhã. Dos animais, sou a mais sociável e política. Aguardo por risadinhas, segredos e refeições compartilhadas com aqueles de que gosto como o faminto aguarda o pão. Gosto de gente. De gente boa.
Já sentei em mesas que nunca imaginei que sentaria e já transcrevi meus segredos com a confiança de um cofre da coroa britânica e não me arrependo. Confiei mais do que confiaram em mim.
A cada novo dia é uma nova oportunidade de me conectar com alguém. E devo continuar, ainda que esteja no processo de cura de amigos que se foram. Se fosse um animal, sem dúvida seria daqueles que vivem em bando, se comunicam de maneira própria e habitam lugares lindos. Essa é uma das minhas naturezas.
Ando meio meio NamastêTenho repetido aquele mantra “aham prema” que afirma que eu sou amor. Quando a gente começa a ficar desesperado, apela para os símbolos da religião: sou amor, sou Deus. E meio que sou isso mesmo. Nutro carinho e amor por quem chamo de amigo, amigue, para eu gostar de alguém é fácil demais (Tanto que já fui advertida várias vezes com: 1) preciso parar de confiar demais nas pessoas e 2) as pessoas me passam pra trás muito fácil). E meio que é isso. Mando amor para aqueles que se foram, fisicamente e espiritualmente, e torço, de coração, que sejam felizes e completos.
Porque, à minha maneira, também estou tentando ser.
E a escrita?Esse ano faz três anos que não lanço nada, sendo o padre vampiro o meu último suspiro na superfície. Não é falta de boia, tenho vários livros aqui aguardando a minha coragem, e a qualquer momento sai um link.
Essas últimas perdas me fizeram perder a habilidade de fingir confiança e o ato de ficar deitada na cama sentindo dor no peito substituiu a vontade de escrever. Ainda assim, como o fósforo barato que a gente usa quando a chama automática do fogão não funciona, ainda tenho fogo. Novos gases vão aparecer.
A segunda noiva já está pronta para fugir por Istanbul, e eu espero que, quando ela correr do altar montada num cavalo, vocês a acompanhem.
Livros legaisJá era fã da Lis Vilas Boas, agora sou ainda mais. Essa mulher consegue escrever o mágico de uma forma tão cotidiana que a gente começa a questionar se não somos, também, feras e bruxas.
Músicas legais“Quando eu morrer vou ser um lindo cadáver” meio pesado né? Adoro.
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar no Halloween, nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Sacolas de compra retornáveis são ótimas para carregar muitos livros
Para recuperar da lesão, opte por um tênis com bom amortecimento.
Amigos de verdade sempre vão respeitar seu tempo e sua doença.
February 27, 2025
Retomando o fôlego depois do caldo
Estou passando uma temporada no Rio de Janeiro e minha depressão foi cancelada no momento que o ônibus encostou na Barra da Tijuca e eu desci com aquele olhar “retirante chegando na cidade grande” igual as novelas do Maneco. Logo na primeira vez que entrei no mar levei um caldo, dei cambalhota, ralei o joelho e paguei peitinho na praia porque o bikini barato não tankou. Mais um dia normal de um mineiro visitando o mar e fingindo costume.
Talvez por causa desse caldo que eu tomei das ondas é que volto a escrever essa news, mas também além disso, volto a escrever porque me lembrei que sou escritora.
Não sei se você já passou por isso, mas em alguns estados de dissociação, geralmente associados a algum episódio depressivo, às vezes a gente pode se esquecer de quem é. E eu esqueço de quem eu sou — infelizmente, com determinada frequência. Recentemente fui a psiquiatra pela primeira vez e além de me fornecer o diagnóstico de depressão ela tem me estudado pra avaliar se tenho bipolaridade ou algum outro transtorno similar. Esse léxico ainda novo pra mim, que até então sempre fugiu de auto cuidado e ser gentil comigo mesma. Não sei ainda se essa parada de esquecer que sou mulher, escritora e adulta tem a ver com essas questões que estão sendo analisadas, mas elas tem acontecido principalmente quando estou mais pra baixo. Igual a esse emoji T^T
Meu deus, que fanfarra deprê. Em plena véspera de carnaval.
Mas entenda, se eu to falando disso, é porque uma parte de mim está curando. Na maior parte do tempo, por não me lembrar que sou uma autora, nem me lembro de existir. Quando percebo que estou na merda é porque parei de correr, estou dormindo 13 horas por dia e tendo apenas uma refeição por dia: um hot pocket.
A depressão é traiçoeira, essa safada, mas eu estou aprendendo a lidar.
Dar esse passo, segurando na mão da minha psicóloga, de enteder mais profundamente meu diagnoótico de depressão, começar a tomar a medicação adequada, foi essencial para que eu conseguisse retomar minha vida — e meus livros.
Parecido com voltar ao mar depois de levar um caldo. A gente vai mais devagarinho, prende a parte de cima do bikini com mais força e vai se molhando aos poucos.
Ainda tem altos e baixos, como sempre, senão não teria graça. Alguns dias quero morrer e outros, quero viver ferozmente tudo o que tem para viver. O mais improtante pra mim é poder pelo menos ter chance de escrever e é o que quero fazer mina vida inteira.
Hoje a praia tava bem legal, e eu não tomei caldo :)
O que vem aíTerminei um conto gótico que pretendo disponibilizar em breve (Espelho de Artemísia) e também uma fantasia (Mardi Gras) que lembra um pouco de Mercador de Veneza (bati 30 mil palavras, to feliz pra car@lho) e mesmo que eu tivesse planejado publicar agora em março e não rolou, já estou feliz por estar conseguindo terminar essa história.
Nada melhor do que me lembrar que ainda sou escritora do que lançando ao mundo novas histórias.
Recomendação de livro da semanaEsse livro foi um achado. Além de estar na Audible disponível para audioleitura narrado pelo próprio narrador, o livro tem um precinho bem legal na Amazon. Narra a história de pobres fodidos tentando fazer dinheiro, e me vi muito neles.
Viciante, terminei em dois dias.
Recomendação de música da semanaQuem diria que música de meme seria tão boa? É bom demais ser do prog!
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar no carnaval nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Não compre bikinis que custam 25 reais no mercado livre: você vai pagar peitinho
Beba bastante água, chorar desidrata mais do que você pensa.
Às vezes o cara não quer nada mesmo. E foda-se.
September 12, 2024
30 anos de fome
Ouvi falar aqui na comunidade da Substack que Newsletter não é lugar pra escritor chorar as pitangas da própria vida, é lugar de agir profissionalmente como um contador de histórias. Bom, esta sou eu sendo profissional contando a mais difícil das histórias: a minha.
Há um mês fiz 30 anos e por mais que eu tenha tentado passar essa data com muita parcimônia e fingindo não ser afetada pelo Zeitgeist de desespero que a acompanha, não rolou. Sufoquei. Percebi que sempre tive fome e ela veio com tudo quando soprei as velinhas. A sorte, contudo, é que neste lindo banquete que é a vida, assumo a cadeira na ponta da mesa. Eu faço o pedido e eu pago a conta.
Nas datas fatídicas que aguardavam o 12 de Agosto, eu acordava com tanto peso no peito e falta de vontade de viver que anda difícil fingir tranquilidade, Estive com aspecto perturbado e austero, como um eremita reeinserido na sociedade. Cabisbaixa. Pouca energia. Tudo exigia o dobro do meu esforço.
Parei para pensar nas origens desse desespero. Quando paro para pensar em tudo o que já passei, principalmente dos 20 anos até agora, eu devo estar mesmo cansada. Todos esses anos de contribuição para o INSS, todos esses meio-homens que encontrei e os trouxe para morarem dentro do meu peito e todas as amizades que vi nascer e morrer. Todos esses pedaços de mim jogados ao vento pela BRou do alto do oceano agora são leiloados ao tempo e devidamente entregues sem remetente. Não quero nada de volta.
Renunciei, intimamente, as Amandas que fui. Estão livres de racionalização e espetáculo, não as escolho mais. Tudo o que fiz para agradar e para caber já não me serve mais, nestes calcanhares endurecidos e juntas grossas, entreguei as melhores partes de mim para o teatro que me deu pouco em troca e agora eu saio do palco e assumo a caneta de roteirista. As decisões não serão mais emuladas, mas tomadas. Com medo mesmo.
Pode parecer bonito, mas é só metafórico. Quanto mais interpretei menos fome de viver eu tive, sedada no meu próprio hábito de mentir e atuar. Precisei ocultar minha criatividade e meu talento à sete chaves, obscuro em um inconsciente lacerado. Se eu puder levar algo para os 30, que seja essa chama, encontrada há muito tempo, que promete não apagar, a fome. A brasa criativa que sempre menciono e maltrato, ela resta firme do outro lado desse portal onde a recebo no início de uma nova era pessoal.
Uh, gostaria que fosse mais bonito, confesso. Mas há uma certa beleza nesse caos, não há? Quando eu atravessá-lo, poderei dizer com mais certeza. Um mês depois desse novo ciclo, ainda tem coisas que não me acostumei.
E eu estou esfomeada. Quero banquetear da vida até o último farelo de pão e último sopro de madrugada antes do ceu alaranjar, gozando de todas as refeições que pulei e vinhos que derramei no chão. Estou com aquela fome que pertence aos enlutados, que aparece no fim do velório, quando todo mundo foi embora e só acaba quando finalizamos uma lata de leite condensado.
E vamos viver, mais do que tudo. A mesa está posta.
we all have a hunger.
Recomendação de livro da semanaPreciso falar de Irmãs Blue, que é um livro recente que li, mas vou deixar pra próxima. Vou falar de uma das minhas últimas leituras por audiobook, A Outra de Mary Kubica. Se você gosta de trhillers com mulheres doidas, esse é pra você. A narração em portugues tá muito boa e se você gosta de ouvir no 2.5x, fica ainda melhor.
Recomendação de música da semanaEstou numa vibe meio pós-industrial com alguns sons experimentais que parecem que saiu do tiktok. Esse é um deles. Amo?
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar (acho que vai) nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Faça uso de soro fisiológico para que seu nariz não se torne um cenário de Diablo 3.
Tempere seu frango com lemmon pepper e observe a magia acontecer. Se você é vegetariana, o mesmo vale para sua carne de soja.
Não é o cara que tem que querer você, você tem que querer o cara. E você quer mesmo?
August 1, 2024
No que você pensa antes de dormir?
Volto a escrever essa Coluna de Opinião Sobre O Fim Do Mundo que é minha newsletter em um horário não tradicional para a quinta feira, e quando eu mandá-la pode ser que ela vá parar no fundo dos seus e-mails, mas tudo bem. Estou há tanto tempo sem escrever aqui que chegou a hora de ventilar (21h de um dia útil).
O tema de hoje é inquietação. Aquele comichão, a voz que ecoa no fundo da nossa cabeça. O que ela te diz? A minha fala muitas coisas. Algumas brilhantes, outras desesperadoras. A questão é que ela é a última coisa que escuto antes de dormir, os pensamentos que levo para minha cama são os que mais me inquietam. O que vou escrever amanhã? E se o personagem que eu estou escrevendo usar maquiagem? Deveria ter corrido pelo menos um pouco. Será que o dinheiro vai dar? E se eu fundar uma editora?
Essa inquietação nada saudável para o horário nada saudável que eu ando dormindo tem sido gasolina para a fogueira do meu coração. Por muito tempo fui consumida por coisas que não me levaram aonde eu queria, agora sou queimada por inquietações cada vez maiores. E quando eu paro para ouvi-las, elas fazem sentido.
Aquilo que durmo pensando geralmente é exatamente o que estou precisando. Ou o que precisei pensar.
Você é tola ou tolo ou tole de achar que ao conquistar uma coisa essa inquietação vai diminuir, talvez ela só piore. Igual a correr. Você começa com 1k, depois 3 e quando corre a primeira maratona de 5k, agora quer a de 10k.
Essa inquietação, quando dialoga com algo que ansiamos, nos torna mais poderosos. Reforçamos um desejo que tenta escapar pelos dedos da nossa praticidade, ameaçado. Aquilo que habita nossa cabeça e nosso coração não pode ser ignorado, o universo não nos presenteia com tímidas obsessões que não significam nada. Elas significam algo. Elas encontram morada dentro da gente não é a toa. Talvez seja hora de ouvi-las.
E você, qual é a sua obsessão? Ontem, quando dormiu, no que pensou por último?
O que isso significa para você?
Eu não sei. Espero que sejam inquietações inspiradoras que te levem a causar a mudança que você quer fazer na sua vida.
A primeira pré-venda da minha editoraSobre coisas que me mantém acordada a noite, ser responsável financeira por uma editora independente é uma delas. Ainda tenho muito a dizer sobre a sorte que tenho de poder fazer parte desse sonho, mas fica pra próxima. A pré venda do primeiro livro lançado pela editora abriu, vem dar uma força pra gente:
Recomendação de Livro da SemanaEstou devagar nas leituras, mas o audiolivro tem sido uma ótima saída. O último que ouvi foi Bel Canto, da Ann Patchett, uma autora que gosto bastante desde Casa Holandesa e Commonwealth. Uma história que se passa em poucos dias e durante o sequestro em um show de Opera.
Recomendação de Música da SemanaSe você tem family issues e ansiedade, provavelmente você ama The Bear assim como eu. Na terceira temporada, você deve ter ouvido essa canetada do jovem rapaz Eddie Vedder. Save it for later, don’t run away and let me down. As vezes é sobre isso, né?
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Protetor solar de spray pode ser uma solução se você não quiser ficar coberta de uma camada branca
Às vezes a resposta é só “é foda” e fica por isso mesmo.
Seu próximo livro favorito pode estar em um sebo. Passa lá depois.
July 4, 2024
O que acelera seu coração?
Quando eu usava o Tumblr, circulava uma imagem de uma moça com a frase “Coração quente, mãos frias” e assim como toda adolescente nos anos 2010, isso mudou minha vida. Mal sabia eu que mão fria é também um sintoma de ansiedade, mas deixa isso pra Amanda de 30 anos, foca no coração. Um coração quente é sinônimo de vida a ser vivida, de entusiasmo e de uma revolta contra um mundo que existe cada vez menos do coração das pessoas. Esse coração nunca parou de ficar quente, permaneceu como uma brasa contínua, às vezes à beira de se apagar, mas ainda capaz de encontrar o caminho para voltar a brilhar.
Essa chama pra mim é várias coisas. É minha sócia concordando em fundar uma editora comigo, mesmo sem eu ter nenhuma experiência de mercado editorial. É minha mãe me dando um mamão picadinho. É meu irmão me mandando uma mensagem quando estou no aeroporto, morrendo de medo de subir num avião “Vai dar tudo certo, Manda.” Sou eu lançando um livro de 6 anos de idade, que levou bordoadas por toda existência, mas que ainda pulsa firme. Sou eu abrindo mão do controle e abraçando o mistério de existir.
Sobre Das Fitas VermelhasAmanhã, dia 5 de Julho, DFV volta a estar disponível na Amazon e logo após o primeiro lançamento da minha editora, vou disponibilizá-lo em livro físico para compra. Foram meses de aprovação de capas, revisão e eu aceitando que essa história estaria novamente disponível e dessa vez, com uma capa du caralho, pardon my french.
Sim, relutei muito. Ainda que eu amasse DFV, estava morrendo de medo de ter novos leitores. Será que vão gostar da minha protagonista mais velha que detesta coisas abstratas? Do meu playboy quebrado e gentil? Do meu conde que vive no mundo da lua? Todos esses personagens que foram tão amados quando odiados, ainda encontrariam espaço em 2024? Ainda são capazes de conquistar novos corações e fazê-los acelerar como o meu?
A resposta, leitor, é que eu não sei.
Das Fitas Vermelhas vai estar aí de novo e em breve sua continuação. Essa história linda de 800 anos de desencontros encontra as mãos dos leitores novamente e expõe meu hiperfoco em história e arte. Eu, a menina cujo primeiro livro favorito foi um Atlas, ainda crio personagens inspiradas nos protagonistas de A Múmia e Caçadora de Relíquias, ainda vivo por meio de objetos históricos e seus cheiros de poeira.
Seja o que for, DFV está aí. Espero que gostem.
Em breve também vem:
Monster romance inspirado em O Mercador de Veneza
Noivas em Fuga livro 2: Eu Quem Escolho
Nas Marés do Tempo - DFV 2
Como sempre digo, a vida fica boa pra mim depois do segundo semestre. Eu amo meu aniversário, mas isso é papo de outra news.
Recomendação de livro da semanaCasa no Mar Cerúleo
Li esse livro e chorei muito. Por sorte, já o emprestei para uma querida amiga a qual espero que chore muito também, afinal livro bom é livro que tem catarse. Esse livro é uma fantasia urbana sobre crianças estranhas que moram em um orfanato, prestes a ser fechado pelo serviço público. O funcionário do governo passa a viver próximo das crianças esquisitas e acolhê-las de um modo que me fez sentar na beira da cama e chorar, me sentindo acolhida também. Recomendo para todes que precisam dar aquela reconectada com a criança estranha interior.
Recomendação de música da semanaEstamos falando de coração, vamos de Heartbeats do cantor e compositor que também fez a trilha sonora de Walter Mitty, um dos meus filmes favoritos.
E você, você conhecia a mão do diabo
E você, nos manteve despertos com dentes de lobos
Partilhando diferentes batimentos do coração
Em uma noite
Ai de mim que sou romântica.
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Se você vai correr 5km, coma bastante macarrão ou pão no dia anterior (carboidratos são seus amigos);
Não barganhe atos de amor. Sua gentileza não tem preço e a dos outros também não;
Se você não sabe qual decisão tomar, pense em qual delas deixaria sua criança interior orgulhosa.
June 13, 2024
Com amor, para nós, esquisitas
Como nenhuma experiência é individual, provavelmente você já foi emo, otaku, gótica trevosa ou ainda é. Essa news é para nós, adolescentes que tínhamos gostos estranhos como My Chemical Romance, Naruto ou solos de violoncelo. Para nós, meio fake do orkut, meio RPG de mesa, que tudo o que queríamos eram amigos para compartilhar nossas esquisitices em um mundo de Luan Santana e moda de cintura baixa.
Você subiria uma montanha e trocaria de lugar com Deus? A Kate Bush simPor muita sorte, tive amigas e amigos incríveis que abraçaram as coisas que eu gostavam e ainda me mostravam outras ainda mais esquisitas. De Dinosaur Jr a Kingdom Hearts, meus amigos nunca me decepcionaram. Mas depois que me tornei adulta, ficou mais difícil encontrar pessoas que ainda eram tão estranhas quanto na adolescência. Sabe, a camisa do Korn foi substituída pela camisa social e o All Star virou um sapato fechado. Nós leiloamos nossa estranheza por um emprego e uma aprovação social e não recebemos nada além de um burnout em troca.
Um esgotamento, por esconder tanto.
Um esgotamento, por fingir tanto.
Só que uma raiva silenciosa sempre me queimou, sempre incendiou o crachá pendurado no meu peito que trazia meu nome, minha foto e meu cargo. Sempre existiu em mim uma chama muito forte de personalidade que eu tentava esconder - e olha que nem estou falando de ser escritora.
E é só agora, aos quase 30 anos, que tenho coragem de anunciar todos os lados da minha personalidade, quem eu sou de verdade. O que eu gosto, o que eu sou, o que eu sempre fui - e que delícia.
Saindo do armárioOntem, na data nada desproposital do Dia Dos Namorados, minha editora lançou o edital do Amor Monstro e what a ride. O negócio nem começou e eu já estou louca com tanta coisa que tive que aprender pra colocar isso para rodar, além da Editora Madame Houdini. Ainda bem que tenho uma amiga e sócia incrível, porque sozinha eu não ia conseguir.
Ser nós mesmas, sozinhas, é impossível. É só quando a gente tem companhia e estamos em uma comunidade, que conseguimos ser quem a gente é. Precisamos desse acolhimento e de alguém falando “ei, que massa isso aí” em vez de “ugh, o que é Sukuna?”. E como é bom quando a gente encontra amigos que nos permitem ser quem somos, sem medo e sem julgamentos. Posso estar com minha camisa social, mas não preciso esconder meu wallpaper do Kim Namjoon no celular.
E desde ontem, abrindo as portas da Editora para receber autoras para escrever monster romance, me fez sentir parte de uma comunidade literária, feminina e estranha. Agora ninguém segura a gente.
Pode ser gostar de ler livros com monstros ou saber a diferença entre seinen e shounen, qualquer sensação que nos faça pertencer ainda mais aos nossos lados estranhos, merece ser vivida.
E eu posso dizer, como uma das donas de uma editora que publica histórias de fantasia, terror e ficção científica, como uma pessoa que está esperando sair o próximo episódio de Demon Slayer e como uma leitora assídua de webtoons, que nunca fui tão feliz em toda minha vida.
Desde que voltei para mim, eu sorrio todos os dias.
E vamos ser a gente mesma, tá? Não deixa o capitalismo te normalizar.
Recomendação de música da semanaComo estamos falando de estranhezas, preciso trazer Kim Namjoon, lead do BTS cuja subjetividade eu ainda tento entender, mas dessa vez sem escrever artigos. No seu último lançamento, ele explora os sentimentos confusos e deliciosos de ter 30 anos e eu ainda estou ouvindo esse áudio on repeat. I'm goddamn lost, I never been to club before, I hit the club, I never felt so free before, you're goddamn ghost.
Recomendação de livro da semanaPreciso trazer a palavra da Fernanda Castro aqui. Já recomendei Lágrimas de Carne, agora é a vez de Mariposa Vermelha. Comprei minha cópia na Rodoviária do Tietê no começo do ano, em um misto de desespero com medo de faltar livros na minha viagem de volta (meu kindle mal tem espaço) e como tenho o hábito de sempre marcar meus livros com data e local, agora tenho um livro que viajou comigo. Esse livro valeu cada centavo, mas devo avisar que, infelizmente, não contém o feitiço que invoca um demônio bonito (mas vou mandar um e-mail para autora solicitando). Recomendado para nós, estranhas, que talvez queiramos mais um namorado demônio do que um humano.
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Se você estiver começando a correr, alongue bem os quadris (rebolar ajuda).
Você deve estar trabalhando muito, que tal fazer uma pausa e dar uma alongada?
Termine com esse cara que está te enrolando ou você vai acabar sendo mãe do filho dele.
May 30, 2024
A revolução silenciosa dos meus livros de romance
Meus livros foram doados como brindes para rifas literárias que pretendem ajudar os refugiados climáticos do Rio Grande do Sul, apoie:
Para ajudar animais resgatados nas enchentes:
Para acolhimento de pessoas PCD que foram vítimas das chuvas
O CriarDe onde vem tanta energia pra sobreviver? No meu caso, vem de uma eterna insatisfação com meu destino. Não acredito e não aceito estar onde estou. Preciso estar além, preciso, a todo custo, encontrar a minha felicidade e a minha paz.
E para falar em felicidade e paz, é indispensável falar do peso do dinheiro no meu cotidiano. Como uma filha mais velha de uma família partida, percebi que meu salário não seria só meu desde cedo e que a perspectiva de ficar sem trabalhar era inviável. A carteira sempre deveria estar assinada, o dinheiro sempre caindo no banco, uma vida sempre à mercê do outro. Money, money, money, must be funny in a rich man's world.
A minha energia para criar meus livros me custa muito caro, porque para chegar nela, preciso chegar na energia para meu trabalho. A energia para mudar de carreira, para fazer um curso de Big Query e ter 4 reuniões com stakeholders gringos, a energia para ouvir que não sou boa o bastante, para só assim, com o que restar, ter a energia para criar.
Digo sempre que sou gerente de projetos de dia e escritora em tempo integral, porque, ainda que não tenha energia, tenho um impulso de vida que me projeta para a hora que vou poder sentar e criar. Eu aguardo o dia todo por esse momento.
E talvez, bem talvez, é disso que tiro minha energia. Desse exato momento.
Pulsão de vidaNos dias em que não escrevo, fico cabisbaixa e intranquila, como um Gregor Samsa acordando de nuca suada. Quando não crio, sou um inseto.
Ainda que o capitalismo me queira assim, irracional e perturbada, eu sempre luto. Eu sempre tento criar ou fazer algo que só tem valor para mim, seja lavar meu cabelo ou escrever um poema que nunca vou ler em voz alta. Esse é meu silencioso ato de resistência, é aí que habita minha pulsão de vida.
Entenda, eu não me cobro. Não exijo altos padrões de mim. Hoje foi só uma frase? Tudo bem. Hoje foram 10 páginas? Tudo bem. Hoje só consegui escrever meu diário? Ótimo. Enquanto meus dedos estiverem no teclado, fora de planilhas do Excel ou dos e-mails do trabalho, estou vencendo. Essas narrativas que habitam em mim aos poucos vão saindo e dando espaço para outras florescerem.
Retrato de Lucrezia Panciatichi, Agnolo di CosimoMinha mente é como um canteiro em uma horta, colho as hortaliças que compõe meus livros e preparo a terra para plantar as próximas. Existem ervas daninhas e pragas, geradas por mim mesma, mas não as impede de crescer.
Eu as adubo e as rego, lentamente, com a mesma paz que vejo minha mãe cuidando de seus tomatinhos e salsões. Sempre constante, sempre tranquila.
Já percebi que esse auto cuidado com minha hortinha e comigo é minha revolução silenciosa, meu ato rebelde contra um capitalismo que quer me esgotar e me esmagar no canto da parede como a barata Gregor Samsa. Escrever meus livros de homens bonitos e mulheres tristes, de vampiros apaixonados e piratas vingativas, narrando essas histórias pelos continentes, é a minha pulsão de vida.
E vamos viver muito, tá? É assim que derrubamos o capitalismo.
Recomendação de Música da SemanaEssa semana, conversando com minha sócia maravilhosa, Carol Carnevalle e falamos sobre músicas pop de mulheres meio tristes. Uma das minhas preferidas é a Ane Brun, mais uma nórdica que roubou meu coração com sua voz e seus arranjos experimentais.
Recomendação de livro da semanaA recomendação de hoje é diferente, mas tem tudo a ver com a proposta da minha Editora Madame Houdini, em breve vocês saberão por quê.
Atnomen é um quadrinho da autora IlustrAriane, disponível para leitura online sobre um romance de uma gárgula e uma coitada. Não preciso dizer mais nada, né?
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Consulte o oftalmologista anualmente e peça para medir a pressão do seu olho.
Beba água em temperatura ambiente, tá frio.
Não tem nenhuma pesquisa indicando os riscos de tirar uma soneca de 3 horas em horário comercial. Vá em frente.
May 2, 2024
Eu vivo para criar. Eu crio para viver.
Ser escritora e trabalhar com tecnologia muitas vezes é uma coisa Clark Kent e Superman. A melhor versão sua, ainda que pareça intrínseca e só separada por um óculos, não é óbvia para quem trabalha com você. É preciso ter uma versão diminuta e doente de você para caber nessa fórmula capitalista do trabalho. Seu grande eu, precisa ser um minúsculo você.
E o tema da News do Fim do Mundo de hoje é esse: Como a sociedade capitalista precisa diminuir e minar suas vítimas para que nunca entendam que essa é a melhor forma de alimentar seus burgueses já assoberbados.
Afinal, você provavelmente trabalha para um dos caras mais ricos do Brasil, em algum nível super tercerizado.
Minha engrenagem, entendam, já é gasta. Trabalho para os outros desde 2011, mas ainda antes disso eu percebi que eu e minha família éramos só mais um pedaço da grande máquina exploradora dos pobres no interior de Minas Gerais. Uma máquina encabeçada por latifundiários que nunca foram perturbados e que até hoje vendem suas terras, que nunca foram verdadeiramente suas, para a Noruega. E andam de jatinho para trajetos que demorariam meia hora de carro.
Eu sempre questionei, mas sempre abaixei a cabeça porque precisava de uma modesta quantia para alimentar a mim e a quem dependia de mim. Os pensamentos materialistas-históricos sempre foram silenciados quando meu estômago roncava ou o meu tênis perdia o solado no meio da rua. É difícil fazer política com fome.
You were brave, with a free-talking mindAnd a voice that is still a cry for life!And no matter what we want, we want to be loved!Yes, we were here – we were afraid!We paid them for the right to commit our own ego’s suicideBut I believe it’s just a ride!Rishloo - Just a RideSemana passada, contudo, esses pensamentos voltaram à tona. Ouvi, depois de quase 6 anos no cargo que executo, que minhas ações são juniores, de principiante.
Respirei fundo. Observei a parede branca atrás do computador. Tenho 6 anos de carreira no meu cargo. 12 anos de experiência com tecnologia. É isso que escuto.
Ulisses ordena seus marinheiros usarem cera nos ouvidos, para não ouvir o canto das sereias. O capitalismo não é assim tão diferente.
Essa máquina irá sempre sugar tudo de mim e me colocar no espaço performático de menor valor. Faço sempre muito, em dois idiomas, ganho sempre o mínimo. Tenho quase 30 anos e me aproximo do que o mercado chama de “idade fértil”, onde já era esperado eu ter meus órgãos internos esmagados por um feto e/ou um marido medíocre como filho. Não recebo mais tantas propostas de trabalho, não sou mais contabilizada para promoções ou chamada para apresentar resultados. Sou menos do que esperavam e com a grande sombra do etarismo me aguardando atrás da porta. O que esperam de mim é um endereço para me mandar um babador infantil com a logo da firma.
Tudo isso passa pela minha cabeça enquanto ouço, pelos meus fones de ouvido que considero meu patrimônio de maior orgulho, que minhas atitudes são insípidas. Atitudes que me fazem perder feriados e horas de descanso, atitudes que me levam sacrificar tempo que era para meus livros, para atualizar planilhas.
Eu Caçadora de MimMas sabe, eu voltei a jogar RPG, estou aprendendo a comer sem culpa e estou escrevendo todos os dias. Vou relançar o livro que mudou minha vida e lançar o segundo livro das Noivas. Afinal, minhas histórias me alegram e acalmam meu coração, são peças essenciais do meu tratamento terapêutico.
Nada a fazer senão esquecer o medoAbrir o peito à força numa procuraLonge se vai sonhando demaisMas onde se chega assim?Vou descobrir o que me faz sentirEu caçador de mim.Milton NascimentoPorque escrever me coloca no lugar que eu quero: um lugar de criação e amor sinceros. Eu amo criar e escrever. Das minhas histórias mais malucas, meus poemas tristes, meus contos autobiográficos, passando pelas fanfics secretas e pelos turnos de RPG, eu amo escrever cada uma dessas coisas. Escrever é a minha resposta ao Absurdo, é a minha resposta a esse mundo capitalista de merda: Eu existo e eu sou grande. Ah, mundo, eu sou grande pra caralho.
Eu quando fazia vídeos pra falar de Das Fitas Vermelhas, há 3 anos.
Criar é uma parte de mim feita de pura resistência, calor e pulsão de vida. Eu não quero mais morrer, desde que seja capaz de criar. E criar sempre.
Sempre que me lembro que sou escritora, eu me lembro que Eu Estou Viva.
Recomendação de música da semanaAlém das múscas que citei aqui, estou muito numa vibe Eyes On Fire de Blue Foundation como toda garota que não superou a trilha sonora de Crepúsculo, e entrei numa vibe de músicas parecidas. Tô gostando.
Recomendação de Livro da SemanaEstou muito feliz de ter descoberto esse livro nacional essa semana. Ainda é cedo pra falar se amo, mas com 30% já estou comprada e querendo saber o que vai acontecer (inclusive assim que eu terminar de escrever essa news vou retomar a leitura). Semana que vem ou depois eu volto pra falar se valeu o hype, mas se você gosta da Primeira Guerra Mundial e vampiros igual eu, compre agora!
Obrigada por ler até aqui e se o mundo não acabar nos vemos semana que vem.
Não se esqueça das regras básicas de sobrevivência:
Carregue seu fone bluetooth
Lembre-se de consumir no mínimo 20g de proteína diariamente
Se você está se questionando se um cara gosta mesmo de você, é porque talvez ele não goste.
Obrigada. Vamos nos manter vivos e criar sem medo, beleza? Até semana que vem.
April 11, 2024
A Insustentável Leveza da Terceira Latinha de Brahma
Uma das coisas que mais me considero é pesada. Sou muito realista e reclamona. Com duas latinhas de Brahma já estou abrindo o berreiro sobre meus traumas e meu glaucoma. Estar no mesmo recinto que outras pessoas me faz sentir a mais pesada entre todos, com uma massa córporea equivalente a de um boeing.
Isso faz de mim uma autora perfeccionista, boca suja e pervertida. Tenho personagens para todos os gostos e poucos são puros e belos. A maior parte é concreta, densa e chata, como partes de mim mesma.
Contudo, esses dias atrás, essa sensação passou um pouco. Eu estava cercada de jovens, visitando meu irmão, e me lembrei que esse peso todo pode ser dissipado. Quando a gente tem 22 anos, tudo é pesado, mas olhando 8 anos depois, a gente vê como é efêmero, e a leveza vem. Aquilo tudo passa e afirmo isso no alto do meu privilégio de ter 30 anos. Ufa.
Essa juventude já cansada me fez lembrar que escrever é um ato efêmero. Não posso ser pesada demais, senão terei apenas um livro escrito e nunca mais vou querer passar por isso de novo.
Nada precisa ser tão sério. Nada é tão pesado.Não tem tanto espaço assim pra seriedade. Nem para o peso.
A Insustentável Leveza do SerÉ meu livro favorito não à toa. Dialogo com o peso e a leveza todos os dias. Ainda que as duas latinhas de Brahma vão me fazer falar coisas tristes, na terceira eu já to te chamando pra ir pra praia ouvir Diogo Nogueira e João Gomes. É assim.
Compreender o peso que carregamos é o que o torna mais leve. Compreender a leveza das coisas é o que deixa tudo mais pesado. Esse momento, ainda que lindo, não passa de um momento. Esse momento, ainda que terrível, não passa de um momento.
O delicioso paradoxo da essência, a ser observado todos os dias, em cima da esteira ou lendo algum livro russo onde todos os personagens se chamam Ivan, é lindo.
Escritora de mão leveÉ o que pretendo ser. Ultimamente eu estava me sentindo muito pesada, culpa talvez dos ciclos que fechei. A gente sai tão pesada de certas coisas que passamos a acreditar que esse peso vai nos acompanhar. Mas a verdade, é que quando eu tiver 38 anos vou virar para trás e pensar a mesma coisa: Efemeridade. Ufa.
De oito em oito, através da perspectiva que vivo na minha própria vida e da que eu encaro a vida do meu irmão, vou tomando consciência dessa efemeridade.
Se por alguma aventura do espaço tempo minha eu de 22 anos ler essa news, lembre-se lembre: vai passar. Você vai ficar mais esperta e bonita do que nunca. Confia. E por favor, não coma croissant no restaurante Le Coffee em 2023 porque você vai passar mal.
E que eu traga leveza para meu processo de escrever. Que esse livro passe e depois venha outro, que também vai passar. Minhas narrativas veem, tomam o tempo que precisam tomar de mim e depois vão embora. Pesado. Depois leve.
É assim que tem que ser.
Recomendação de livro da semanaVale o meu? Eu Estou Viva está por R$29,90 com frete grátis para usuários do Prime, aproveite!
Além do meu proprio livro (rs) recomendo também Adultos. Um livro sem pé nem cabeça sobre mulher doida que vale muito pra quem gosta de Fleabag. É caótico, doente e muito dinâmico, como a vida de qualquer mulher de trinta anos.
Música da semanaUma das jóias das minhas playlists é o Bruce Springsteen, o homem de jeans mais charmoso do mundo. Because tramps like us, baby we were born to run.
E não se esqueça das regras básicas de sobreviência:
Passe vaselina na parte das coxas se for caminhar ou correr
Alongue-se depois de acordar
Coma fibras
Até na próxima semana, se o mundo não acabar. Ciao!
February 29, 2024
Chiquitita, tell me what’s wrong
Estou passando por um dos momentos mais difíceis da minha vida e como evento canônico, cortei o cabelo. Calma, ainda não é o loiro chanel, mas em algum momento ainda começo essa loucura (de novo).
Contemplei os pedaços ressecados das pontas do meu cabelo caindo conforme meu cabeleireiro cortava. Os pequenos tufos, já secos, se acumulavam enquanto ele valsava atrás de mim, tentando achar o ângulo certo. Sentada na cadeira do tempo infinito (5 horas), eu tive muito tempo longe do celular para pensar em cada um daqueles tufos.
Pensei que, para ter espaço para crescer, a gente joga muita coisa fora e escrever não seria diferente. Assim como as pontas secas do cabelo, um escritor corta palavras e as reescreve, criando um lixão invisível de cenas apagadas, sobrenomes irrelevantes apagados, falas estúpidas e sentimentos confusos. Cortar palavras é parte fundamental da profissão da escrita. E não é tão ruim quanto parece. Assim como as pontas duplas, tem coisa que dá alívio de tirar do texto.
Eu poderia estar escrevendo isso para me referir o processo de reedição de Das Fitas Vermelhas o qual, com ajuda da Camila (a melhor revisora de todos os tempos), estou ressignificando. Eu sentia pânico ao reler um livro escrito há quase 4 anos, encarar uma versão do passado é sempre dolorosa, mas foi - ainda está sendo - uma ótima experiência. Estou ficando satisfeita. Eu amo a Amanda de 4 anos atrás que escreveu esse livro.
Mas não é por conta desse processo de revisão de Das Fitas Vermelhas que falo sobre cortar para renascer, falo também da minha vida pessoal. Com o coração partido, enxergo a importância dos cortes, diretos e indiretos, no meu crescimento. E de certa forma, isso deve me acalmar ao longo das próximas semanas.
You will be dancing again and the pain will endEscrever. Amar. Viver. Eu posso acrescentar Chorar a essa tríade, como um D'Artagnan, mas ele está implícito. Chorar com toda força, soluços e lágrimas é parte de Escrever, Amar e Viver (devo mudar o nome da newsletter?). Afinal, a gente dá uma choradinha de depois fica bem. Você já chorou hoje?
Eu já. Eu choro com propaganda e com K-drama, eu faço PIX para toda vaquinha de animais resgatados, constantemente me voluntario para ajudar alguém. Isso não me dá a licença para dizer que estou sofrendo dobrado, mas meio que estou, afinal escrever é saborear a vida duas vezes. Sentar aqui toda quarta à noite para escrever essa news é o meu momento de viver de novo. Ser artista é deixar o coração para fora, como um órgão exposto. Está aqui, todos podem ver, acariciar ou massacrar. Está aqui. Sempre esteve aqui.
Escrevo na internet desde o Orkut e ainda tenho um wordpress repleto de poemas, contos e pequenas histórias. Se pesquisar meu nome no Google você vai encontrar, no mínimo, algum texto meu. Eu aprendi a me expor desde cedo, quando percebi que tinha muito o que dizer e muito o que chorar.
Essa exposição só acontece porque aparo as pontas. Corto as mechas ressecadas do meu texto e o considero pronto, ainda que não estejam, eu me forço sair da cadeira e andar por aí com meu cabelo novo. Deixo de lado as aparas, arestas e restos de mim por aí, como um traço que comprova minha existência e minha vida. Só vivo porque esses restos de mim foram cortados, porque só assim consigo continuar.
A gente carrega e acumula coisa demais. E pra quê? Vamos fazer uma limpa essa semana? Limpe sua mesa de trabalho ou a sua gaveta de calcinhas, ou até mesmo pare de adiar e marque o cabeleleiro para aparar essas pontas secas. Não tenha medo, você vai sair dessa — nós vamos.
Semana que vem volto. Eu prometo.
Recomendação de música da semanaEstou batendo minha cabeça em alguma parede em Amsterdam do mundo metafísico, igual a essa música aqui do Nothing But Thieves que não sai do meu replay. Todos vivemos debaixo do mesmo sol e todos morremos como um. Vale mesmo sofrer tanto por um final que é compartilhado?
Recomendação de livro da semana
Você pode não acreditar, mas estou viciada em um livro com uma capa duvidosa. Aluguei no Kindle Unlimited porque tem adega no nome. Comecei a ler porque não só se passa em uma vínicola, mas umavinícola na França. Por que não? A leitura é muito rápida e divertida (à maneira dos franceses) e é um ótimo escape. Recomendado para quem está buscando uma leitura leve bebendo uma taça de vinho.
Vamos ter razões para brindar essa semana? Hoje ainda é quinta, vamos beber um Merlot ou um Canção. A gente merece. Obrigada por ler até aqui!


