Lira Neto's Blog, page 2
January 26, 2018
Eticamente incorretos

Eles não são apenas politicamente incorretos, são também intelectualmente desonestos, eticamente deploráveis.
Meses atrás, fui abordado por um certo Matheus Ruas, diretor e roteirista da produtora Fly, que me disse estar "produzindo um especial sobre história do Brasil" para o History Channel. Queria colher meu depoimento sobre temas relacionados aos livros que escrevi.
Solícito com repórteres e documentaristas que me procuram, disse que poderia recebê-lo dali a alguns dias, em minha casa, para conceder-lhe a entrevista. Após uma troca de e-mails, combinamos a data. Mal podia imaginar que, com isso, estava caindo em sórdida arapuca.
Recebi Matheus na sala de casa. Sem me dar conta, abria gentilmente a porta para uma das situações mais constrangedoras de minha trajetória pessoal e profissional. Mas, isso, só constataria meses depois.
Naquele momento, apenas estranhei a forma com que o entrevistador me pediu para responder às questões: "Nosso público-alvo é alguém com a inteligência do Homer Simpson", explicitou, referindo-se ao personagem abobalhado de desenho animado, símbolo da idiotia. "Responda como se estivesse falando para ele", pediu-me.
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Texto publicado na Folha de S. Paulo em 29/10/2017.Para ler na íntegra, clique aqui.
Published on January 26, 2018 06:57
Abominável mundo novo

A cena me deixou terrificado. Há poucos dias, visitei uma escola paulistana de ensino fundamental, em um bairro de classe média da cidade. Cheguei à hora do intervalo e deparei-me com um quadro que parecia retirado de algum episódio de "Black Mirror", a série televisiva que explora os aspectos mais sinistros do impacto da tecnologia sobre o mundo contemporâneo.
Espalhados pelo pátio, recostados nas paredes, sentados ao chão, divididos em pequenos grupos, praticamente todos os alunos mantinham os olhos presos às telinhas dos respectivos celulares. Eram dezenas de crianças e pré-adolescentes. De ombros arqueados, quase nenhum olhava diretamente para o outro. Boa parte deles utilizava fones de ouvidos.
Muitos movimentavam os polegares freneticamente, digitando algo nos minúsculos teclados virtuais, enquanto caminhavam às cegas, sem olhar para a frente. Outros, imóveis, nucas curvadas, retinas fixas nos aparelhinhos, mantinham o semblante vazio, uma expressão de ausência e torpor.
Estavam fisicamente juntos, mas separados por uma barreira invisível. Naquelas mentes e corpos em formação, a criatividade, a energia e o fulgor tão típicos à idade pareciam tragados pela entropia de um assustador buraco negro. A imagem me provocou tamanho abalo que, nos dias posteriores, arrisquei-me a investigar um pouco mais o fenômeno.
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Texto publicado na Folha de S. Paulo em 15/10/2017.Para ler na íntegra, clique aqui.
Published on January 26, 2018 06:55
"Onde se queimam livros, acabam-se queimando pessoas"

Sou fascinado pelo incontornável clichê: a fotografia do escritor em primeiro plano, a estante coalhada de livros ao fundo, o fetiche das lombadas atraindo-me o olhar como um convite à curiosidade e ao prazer. Tento identificá-las, apreciando a imagem por minutos, detendo-me em velhas capas conhecidas, adivinhando outras tantas que nunca tive em mãos.
Por idêntico motivo, ao entrar pela primeira vez em uma residência qualquer, passeio a vista pelo ambiente, exploro o local em busca de volumes empilhados à toa ou dispostos em fileiras contíguas sobre as prateleiras. Invejo os rituais de uma possível organização, deixo-me seduzir pelo caos da eventual desordem.
Durante a visita, se tiver oportunidade, roço a ponta dos dedos pelo costado dos tomos mais ao alcance, acaricio o dorso das encadernações e brochuras. Leio títulos, distingo autores, descubro temas, constato minhas ignorâncias. "Eu, que imaginava o Paraíso/ tendo uma biblioteca como modelo", propõem, aliás, os versos do "Poema dos Dons", de Jorge Luis Borges.
A escritora Marguerite Yourcenar, por sua vez, afirmava que a melhor maneira de se conhecer alguém é observando seus livros. Um homem, afinal, é aquilo que lê. Os desavisados não devem, porém, confundir tal constatação com a ideia de que lemos só aquilo que nos conforta e anima. Livros não são escritos para consolar certezas. Na verdade, mostram-se muito mais úteis quando conseguem semear a dúvida, desestabilizar credos, vergalhar convicções.
Por isso mesmo, livros sempre foram considerados perigosos pelos regimes de força, pelas mentes autoritárias e cheias de verdades, pelos inquisidores da vida alheia. Nos antigos ordálios da Antiguidade e da Idade Média, escritos considerados perniciosos eram atirados ao fogo e submetidos ao "juízo de Deus".
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Texto publicado na Folha de S. Paulo em 01/10/2017.Para ler na íntegra, clique aqui.
Published on January 26, 2018 06:49
"Queermuseu" confirma cenário de obscurantismo

Não houve incitação à pedofilia, incentivo à zoofilia. O que houve foi histeria, alimentada por doses inacreditáveis de preconceito, desinformação, moralismo, ignorância e má-fé. O que houve, também, foi a mais nítida demonstração de pusilanimidade por parte do Santander Cultural, que se rendeu ao barulho e aos faniquitos da turba e, por meio de nota xucra, endossou o atestado de retrocesso coletivo.
O cancelamento da exposição "Queermuseu", em Porto Alegre, passará à história como mais um episódio a confirmar o atual cenário de obscurantismo no país. O Santander, que dizia apoiar a diversidade, dobrou-se à intolerância. O marketing pretensamente arejado não resistiu à tática do grito.
Eram obras em geral já conhecidas, algumas delas circulando em galerias e museus há dezenas de anos, incluindo trabalhos de Volpi, Portinari, Leonilson, Flávio de Carvalho e Lygia Clark. Postas em conjunto pela curadoria para ilustrar a presença da diversidade sexual nas artes nacionais, foram tratadas como objeto de escarcéu.
Difícil apontar o mais constrangedor em toda a celeuma: ativistas jovens escandalizados diante de imagens sexuais, a mais tosca carolice manobrando o instinto de manada que tomou conta das redes ou um centro cultural emitir nota ao público argumentando que a arte "perde seu propósito" quando não gera "reflexão positiva".
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Texto publicado na Folha de S. Paulo em 17/09/2017.Para ler na íntegra, clique aqui.
Published on January 26, 2018 06:47
March 10, 2017
Entrevista ao Brasil de Fato

"É preciso não confundir, é claro, o conceito de mestiçagem com a mitologia anacrônica da 'democracia racial'. A história de formação do povo brasileiro é uma história de violência, de exclusão, de arraigado racismo. Isso também se deu no campo da cultura, que é fundamentalmente conflitivo. O interessante é perceber como o samba, exposto ao processo geral de domesticação e controle posto em ação pelas políticas urbanas, pelo aparato repressivo e pela indústria do entretenimento, soube se reinventar, atuar pelas bordas, negociar espaços, sempre de maneira antropofágica."
Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.
Published on March 10, 2017 11:21
March 8, 2017
March 6, 2017
No Correio da Bahia
Published on March 06, 2017 13:59
March 1, 2017
February 28, 2017
February 23, 2017
Agenda dos primeiros lançamentos

As datas e horários dos primeiros lançamentos, em março, de Uma história do samba - Volume 1 - As origens:
São Paulo
Dia 9, às 19 horas - Livraria da Vila, na Vila Madalena.
Rio de Janeiro
Dia 15, às 19 horas - Livraria Travessa, em Ipanema.
Dia 18, a partir das 14 horas - Livraria Folha Seca, na rua do Ouvidor.
Fortaleza
Dia 23, às 19 horas - Livraria Saraiva, no Iguatemi.
Dia 25, a partir das 13 horas - Café do Passeio, no Passeio Público.
Published on February 23, 2017 12:02
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