Edyr Augusto's Blog, page 4
April 19, 2019
O TEMPO DA DELICADEZA
Um templo em homenagem à Fé, Beleza, Arte, que levou 200 anos para ser construído, destruído em algumas horas. A Igreja de Notre Dame era o coração de Paris. Aquele fogo encheu de tristeza o mundo dos que ainda acreditam na delicadeza. Não há como não deixar de pensar no Brasil desses dias. Na Belém desses dias. Mais de vinte anos de abandono da Cultura e outros tantos do abandono à Educação, geraram o que vivemos. A grosseria, a boçalidade, a violência e a burrice. Por conta da mídia, cidades como Rio de Janeiro e São Paulo têm suas dificuldades multiplicadas, enquanto Belém, por exemplo, com muito mais problemas, mantém-se como em estado de choque. Grassa a burrice. Na Educação, algumas gerações de analfabetos funcionais, alguns pretensamente mais sofisticados, vestindo roupas de grife, desfilando em carros importados, ouvindo sertanojos, escrevendo errado e com gosto cultural perto do zero. Sempre leio Claudia Costin e ela escreveu que tanto quanto mudar radicalmente o olhar para as primeiras séries, é preciso requalificar os professores, seja em salários, seja em preparo técnico. Nós, que fazemos Cultura, que escrevemos, atuamos, tocamos, cantamos, pintamos, enfim, temos pela frente uma barreira, um muro, como aquele do Game of Thrones, gelado, intransponível, para alcançar este público. Não leio porque dá sono. Não vou ao Teatro porque de dramas, chegam os da nossa vida. Aquele músico, aquela cantora, só canta coisa chata. Não entendo pintura. Hoje não saio à noite porque tem jogo, porque tem BBB, porque tenho preguiça. Não leio jornais porque os artigos são longos e perco o interesse. Na internet, leio os highlights e pronto. Vivemos a falta de Educaçào, onde a ignorância é anunciada como a nova virtude, como disse Joaquim Ferreira dos Santos. Eu sou imbecil mas sou feliz! Uma terra de surdos, de insensibilidade. Onde foram parar a elegância, a suavidade, os bons modos? Ser gentil, hoje é frescura. Tempos de barbárie e grosseria. O inverno é rigoroso. A prefeitura nunca está preparada. Também ninguém deixa de jogar lixo onde não deve. Há mais carros que ruas, mas ninguém deixa de fazer fila dupla, em qualquer lugar, se lhe apetece. Fazer Cultura em Belém é torcer para que a mídia divulgue matérias de sua obra e ficar aguardando. Será que “eles” vêm? Depois, passar pelos bares, lotados de gente enchendo a cara, assistindo em monitores, lutas no UFC. A nova Secult e a Fundação Tancredo Neves (foda-se o nome que o infame deu), esta comandada por um neófito, têm à sua frente tarefa hercúlea. Construir estruturas, primeiro. Refazer tudo o que foi destruído. Os artistas, famintos, alguns impacientes. Grupos que fazem Cultura, mas ainda no alcance da Prefeitura, com sua completa ausência, também querem que o Estado resolva seus problemas. Quando minha primeira peça estreou, foi no Teatro da Paz, lotado. Hoje, impensável. Mas ninguém parou. A Secult é que está voltando. Na ausência de tudo, escritores criaram a Flipa, já em seu quarto ou quinto ano. Até agora, seus organizadores não foram chamados para qualquer consulta. Quem entrou deve saber tudo. Será? Repito, não paramos. Temos artistas suficientes em todas as áreas, aguardando não paternalismo, mas fomento para que o mercado volte a existir, a Educação forme pessoas interessadas, que tenham opinião, para que a vida fique melhor. A vida de todos, não somente dos artistas. Está melhor que antes, a escuridão. Mas o tempo da delicadeza pode voltar.
Published on April 19, 2019 07:29
April 12, 2019
DO ZERO
Senti pena do presidente da Fundação Cultural do Pará, no palco do Teatro Waldemar Henrique, no encerramento da Mostra de Teatro promovida pela Secult. No palco, peixe fora d’água, sem graça, seu olhar passava da curiosidade ao espanto assistindo à sua frente, a história do teatro paraense desfilando, com pessoas diferentes, roupas, cabelos, linguagem, do seu mundo mais comportado de advogado. Ele olhava querendo entender. Nunca tinha ouvido falar daquela gente. E eu pensei que há um longo caminho de recuperação da nossa Cultura, destruída pelo infame por mais de vinte anos.
Uma das maldades foi fatiar a gestão da Cultura em diversos órgãos. Assim, geridos por pessoas que pouco entendem do assunto, cada um foi atirando para seu lado e ninguém acertou o alvo. Acho que essa era a idéia, assim como, principalmente, separar a Fundação da Secult. O reizinho ficaria em seu trono e a Fundação distribuía minhocas a seus apaniguados. Trabalhei com Guilherme de la Penha e ele dizia que tinha a importância de ser Secretário e a agilidade da presidência da Fundação. Penso que a Secretaria é o órgão máster. Dela parte toda a política a ser desenvolvida e cada uma das outras partes converge, atua para um único objetivo. No meu pensamento, até a Funtelpa estaria debaixo do guarda chuva.
Estamos recomeçando tudo. Do zero. O orçamento deste ano já está comprometido. Mas deixemos todos esses dias para reconstruir estruturas. A Prefeitura, há mais de 30 anos, afastou-se da Cultura. Sua Fundação, hoje, cuida apenas das quadrilhas juninas. Até a Lei Tó Teixeira está parada. Seu presidente, que se diz músico, não conhece os músicos locais. Nem nós o conhecemos. Como chegou ao cargo? Com esse afastamento, passamos todos a exigir da Secult, ações que estão ou deveriam estar no âmbito da Prefeitura. A Secretaria do Estado tem mais de cento e trinta municípios para atender, formular uma política, estruturar algo que pode dar resultados em dois, três anos. Começar do zero. Tudo foi destruído em termos de organização. O Pará tem o tamanho de um país. Paciência. Nós, da Cultura, que nunca fomos muito unidos, nos distanciamos mais ainda. Quem dera um Luiz Otávio Barata, hoje. Foi cruel. Imaginem quantas carreiras passaram esse tempo todo sem qualquer alento. Quantos desistiram. A Educação também emburacou. Por isso todo esse caos. A Secult está recomeçando, mas nós nunca paramos. Não paramos. Ninguém nos deteve. Temos músicos magníficos. Atores maravilhosos. Artistas plásticos, escritores que participam da Flipa. Até cinema. Foi difícil. Muito. Sem apoio oficial. Sem a compreensão que a Cultura é um bem de todos e essencial para a formação de cidadania. O resultado está em todo país, mas me preocupo essencialmente com o Pará. Com Belém. O Teatro sobreviveu em espaços alternativos. Músicos voltaram aos bares cantando qualquer coisa. Artes Plásticas em guetos. Escritores aproveitando a internet e a Flipa. Não morremos. Não nos mataram. Mas há quanto tempo não lotamos espaços para ouvir música que faz pensar? Peças que pedem reflexão? Filmes inteligentes? Isso ficou perdido? Estamos recomeçando. Não acho que tudo esteja bem. Por isso deu vontade de escrever essas linhas aqui. Nós existimos. Fazemos Arte para o bem comum. Para melhorar o mundo. Não fazemos por dinheiro mas precisamos pagar as contas, o super mercado. E ainda nos exigem 50% nos ingressos para estudantes. Há muito a fazer. Vamos recomeçar.
Uma das maldades foi fatiar a gestão da Cultura em diversos órgãos. Assim, geridos por pessoas que pouco entendem do assunto, cada um foi atirando para seu lado e ninguém acertou o alvo. Acho que essa era a idéia, assim como, principalmente, separar a Fundação da Secult. O reizinho ficaria em seu trono e a Fundação distribuía minhocas a seus apaniguados. Trabalhei com Guilherme de la Penha e ele dizia que tinha a importância de ser Secretário e a agilidade da presidência da Fundação. Penso que a Secretaria é o órgão máster. Dela parte toda a política a ser desenvolvida e cada uma das outras partes converge, atua para um único objetivo. No meu pensamento, até a Funtelpa estaria debaixo do guarda chuva.
Estamos recomeçando tudo. Do zero. O orçamento deste ano já está comprometido. Mas deixemos todos esses dias para reconstruir estruturas. A Prefeitura, há mais de 30 anos, afastou-se da Cultura. Sua Fundação, hoje, cuida apenas das quadrilhas juninas. Até a Lei Tó Teixeira está parada. Seu presidente, que se diz músico, não conhece os músicos locais. Nem nós o conhecemos. Como chegou ao cargo? Com esse afastamento, passamos todos a exigir da Secult, ações que estão ou deveriam estar no âmbito da Prefeitura. A Secretaria do Estado tem mais de cento e trinta municípios para atender, formular uma política, estruturar algo que pode dar resultados em dois, três anos. Começar do zero. Tudo foi destruído em termos de organização. O Pará tem o tamanho de um país. Paciência. Nós, da Cultura, que nunca fomos muito unidos, nos distanciamos mais ainda. Quem dera um Luiz Otávio Barata, hoje. Foi cruel. Imaginem quantas carreiras passaram esse tempo todo sem qualquer alento. Quantos desistiram. A Educação também emburacou. Por isso todo esse caos. A Secult está recomeçando, mas nós nunca paramos. Não paramos. Ninguém nos deteve. Temos músicos magníficos. Atores maravilhosos. Artistas plásticos, escritores que participam da Flipa. Até cinema. Foi difícil. Muito. Sem apoio oficial. Sem a compreensão que a Cultura é um bem de todos e essencial para a formação de cidadania. O resultado está em todo país, mas me preocupo essencialmente com o Pará. Com Belém. O Teatro sobreviveu em espaços alternativos. Músicos voltaram aos bares cantando qualquer coisa. Artes Plásticas em guetos. Escritores aproveitando a internet e a Flipa. Não morremos. Não nos mataram. Mas há quanto tempo não lotamos espaços para ouvir música que faz pensar? Peças que pedem reflexão? Filmes inteligentes? Isso ficou perdido? Estamos recomeçando. Não acho que tudo esteja bem. Por isso deu vontade de escrever essas linhas aqui. Nós existimos. Fazemos Arte para o bem comum. Para melhorar o mundo. Não fazemos por dinheiro mas precisamos pagar as contas, o super mercado. E ainda nos exigem 50% nos ingressos para estudantes. Há muito a fazer. Vamos recomeçar.
Published on April 12, 2019 12:32
April 5, 2019
ADEUS BATUCADA
Como se fosse necessário para voltar. Não estou saindo da cidade. Mudei de endereço. Pela primeira vez na vida, saio da Presidente Vargas e Serzedelo Correa, um corredor que percorri diariamente. Meu avô dizia, como blague, que além do Grande Hotel ou Manuel Pinto da Silva, era outro município. Eu alongaria mais os limites até o final da Serzedelo Correa. Conheço cada detalhe, casa, calçada, prédios. Meu playground foi a Praça da República e lembro do dia em que a Presidente Vargas foi asfaltada pela primeira vez. À noite, as famílias desceram para passear e eu com minha bike. Brinquei no terrace do Grande Hotel, dancei nos bailes no Palace. Em casa, ouvíamos os apitos dos navios chegando ao porto. No carnaval, via os Boêmios da Campina, paletó vermelho, calças e sapatos brancos. Ainda desfilei pelo Quem São Eles, orgulhoso, cantando o samba enredo em parceria com meu pai. No réveillon, havia batidas nos postes de ferro. A Barbearia em frente ao Palácio do Rádio. A Mercearia O Vesúvio. O Cine Palácio, maravilhoso, onde assisti grandes filmes e tive a educação perfeita às sextas feiras quando Fellini, Buñuel e Godard, entre outros, eram exibidos. Mesmo quando morei mais adiante, na Serzedelo, o caminho diário ao trabalho, no Palácio do Rádio. Havia desfiles escolares e o mais importante, Trasladação e Círio. Nunca deixei de assistir em toda a vida. Agora que meus pais se foram, nem sei. Piso naquelas calçadas com respeito. Quando escrevi o musical sobre Barata, o Cuíra queria falar da história da cidade e lembramos de Calvino e suas “cidades invisíveis”. As pessoas, hoje, pisam naquele chão, onde tantos e tantas histórias passaram, como se o mundo tivesse começado no dia em que nasceram. Sem dar importância. A Presidente Vargas, hoje, é uma avenida destroçada, abandonada. Suja, esburacada, cheias de ambulantes, mendigos, párias e edifícios desertos. E é um monumento de Belém.
Morar ali é estar no centro de muitos acontecimentos. Carros guincham, ambulâncias gritam, prostitutas discutem, carros som (que deveriam ser coisa do passado) dizem propagandas. Já sinto falta de toda essa vida à minha volta. De falar com Baldo, que toma conta dos carros. Da Travestriste, detonada nas manhãs de sábado. Maria de Fátima, trabalhadora, desde as oito da manhã, esperando fregueses. Os motoristas de taxi, comandados por Seu Wilson. Dona Maria, desde as 5 da manhã vendendo cafezinho e cigarros. Alvino e sua banca de revistas. Raimundona e seu carrinho de guloseimas na parada de ônibus. Blake, que desafia as intempéries a que está exposto e continua vivinho, de vez em quando superando a deficiência motora e roubando cordões de senhoras desavisadas. Roni, Seu Carlos e José, os engraxates, que velam pela esquina com a Aristides Lobo. Não eles que precisam gostar de mim e siu, eu. Meus personagens. O corredor polonês absurdamente instalado na esquina com Manoel Barata, onde muitas pessoas comem, na calçada, em cadeiras de plástico, iguarias regionais. O Bento que aos domingos passa, impune, com seu som de. Ainda em adaptação, penso estar em uma capsula, sem nada em volta. Sem aquela vida toda que me cercava. Meu coração está enterrado lá, na Presidente Vargas.
Morar ali é estar no centro de muitos acontecimentos. Carros guincham, ambulâncias gritam, prostitutas discutem, carros som (que deveriam ser coisa do passado) dizem propagandas. Já sinto falta de toda essa vida à minha volta. De falar com Baldo, que toma conta dos carros. Da Travestriste, detonada nas manhãs de sábado. Maria de Fátima, trabalhadora, desde as oito da manhã, esperando fregueses. Os motoristas de taxi, comandados por Seu Wilson. Dona Maria, desde as 5 da manhã vendendo cafezinho e cigarros. Alvino e sua banca de revistas. Raimundona e seu carrinho de guloseimas na parada de ônibus. Blake, que desafia as intempéries a que está exposto e continua vivinho, de vez em quando superando a deficiência motora e roubando cordões de senhoras desavisadas. Roni, Seu Carlos e José, os engraxates, que velam pela esquina com a Aristides Lobo. Não eles que precisam gostar de mim e siu, eu. Meus personagens. O corredor polonês absurdamente instalado na esquina com Manoel Barata, onde muitas pessoas comem, na calçada, em cadeiras de plástico, iguarias regionais. O Bento que aos domingos passa, impune, com seu som de. Ainda em adaptação, penso estar em uma capsula, sem nada em volta. Sem aquela vida toda que me cercava. Meu coração está enterrado lá, na Presidente Vargas.
Published on April 05, 2019 05:53
March 29, 2019
BIBLIOTECAS VIVAS
Leio que acaba de ser nomeada para uma das grandes bibliotecas públicas de São Paulo, alguém que até há pouco estava na organização da Flip. Em seu primeiro pronunciamento e atendendo orientação de sua autoridade superior, planeja dar vida intensa à biblioteca. Nem todos parecem perceber que elas não são depósito de livros, um cemitério, talvez, à espera somente de interessados em pesquisar. Trata-se de um lugar onde a vida literária deve ser a maior. Lugar onde escritores, editores e leitores se encontram para diversas atividades, entre palestras, oficinas, lançamentos, discussões e claro, pesquisa.
Sou um escritor. Posso dizer isso após 16 livros lançados, quatro deles traduzidos e lançados na França, entre outros países. Tenho orgulho em acrescentar que já estive duas vezes na Sorbonne, Paris, a primeira para falar na Bilipo, Biblioteca de Livros Policiais, a segunda para uma turma avançada de Estudos Lusófonos. Estive, recentemente na Biblioteca Pública de Curitiba e fiquei maravilhado com o trabalho desenvolvido ali. Aqui em Belém, minha cidade natal, para a Biblioteca Pública do Estado, sou um desconhecido. Não somente eu mas diversos outros colegas. Ou é preguiça, ou ignorância, o que desqualifica pessoas que imagino, sejam formadas em Biblioteconomia. Nunca participei da Feira/Farsa de Literatura, até o ano passado promovida pelo sectário de Cultura. Sim, estive por duas vezes lá, a primeira convidado pela Editora da Universidade, a segunda pela Aliança Francesa. Eventos paralelos. Nem por isso, claro. Com outros colegas que sentem a mesma coisa, passamos a realizar a Feira Literária do Pará, com apoio da Livraria Fox e Editora Empíreo. Decidimos fazer por nós. Foda-se. Fazemos porque queremos e não temos verba pública nem particular de ninguém. Agora deu cria, com a Feira de Livros Infantis.
A nova gestão da Secult já iniciou trabalhos. Sei perfeitamente que nestes primeiros meses tratará de se virar com o orçamento planejado pelo sectário passado. Me interessam as idéias. Uma nova feira literária já foi anunciada. Talvez me incomode que em todas as ações, procurem atingir comunidades e associações de todos os tipos, mas não falem nos artistas. Músicos, Atores, Escritores, enfim. A divisão de administração entre a Secult e a Fundação Tancredo Neves (foda-se o novo nome), foi mais um crime do sectário. Criou uma série de órgãos independentes uns dos outros. Cada um atira para o seu lado e ninguém acerta o alvo. Sim, acho que a direção do Waldemar Henrique deve caber a alguém das Artes Cênicas e pronto. Chega de bem intencionados. As coisas não iam mudar? Por enquanto, sei não. Mas voltando à Biblioteca, onde nunca estive como escritor, já que durante mais de vinte anos fui (ainda serei?) persona non grata, quando os escritores vão ser chamados ao menos para conversar? Nós, que durante mais de vinte anos continuamos lutando por conta própria, realizando a Flip, passamos a ser os novos indesejados? A Biblioteca apenas para visitas de estudantes e alguns pesquisadores, lutando contra aparelhos defasados? Há de haver difusão dos escritores atuais em todo o Estado; relançamento de livros importantes; lançamento de novos escritores. Ainda não sei quais são os planos. Não sei sequer o nome da diretora da Biblioteca Arthur Vianna, nem do setor de Literatura. O que era péssimo, vai piorar?
Sou um escritor. Posso dizer isso após 16 livros lançados, quatro deles traduzidos e lançados na França, entre outros países. Tenho orgulho em acrescentar que já estive duas vezes na Sorbonne, Paris, a primeira para falar na Bilipo, Biblioteca de Livros Policiais, a segunda para uma turma avançada de Estudos Lusófonos. Estive, recentemente na Biblioteca Pública de Curitiba e fiquei maravilhado com o trabalho desenvolvido ali. Aqui em Belém, minha cidade natal, para a Biblioteca Pública do Estado, sou um desconhecido. Não somente eu mas diversos outros colegas. Ou é preguiça, ou ignorância, o que desqualifica pessoas que imagino, sejam formadas em Biblioteconomia. Nunca participei da Feira/Farsa de Literatura, até o ano passado promovida pelo sectário de Cultura. Sim, estive por duas vezes lá, a primeira convidado pela Editora da Universidade, a segunda pela Aliança Francesa. Eventos paralelos. Nem por isso, claro. Com outros colegas que sentem a mesma coisa, passamos a realizar a Feira Literária do Pará, com apoio da Livraria Fox e Editora Empíreo. Decidimos fazer por nós. Foda-se. Fazemos porque queremos e não temos verba pública nem particular de ninguém. Agora deu cria, com a Feira de Livros Infantis.
A nova gestão da Secult já iniciou trabalhos. Sei perfeitamente que nestes primeiros meses tratará de se virar com o orçamento planejado pelo sectário passado. Me interessam as idéias. Uma nova feira literária já foi anunciada. Talvez me incomode que em todas as ações, procurem atingir comunidades e associações de todos os tipos, mas não falem nos artistas. Músicos, Atores, Escritores, enfim. A divisão de administração entre a Secult e a Fundação Tancredo Neves (foda-se o novo nome), foi mais um crime do sectário. Criou uma série de órgãos independentes uns dos outros. Cada um atira para o seu lado e ninguém acerta o alvo. Sim, acho que a direção do Waldemar Henrique deve caber a alguém das Artes Cênicas e pronto. Chega de bem intencionados. As coisas não iam mudar? Por enquanto, sei não. Mas voltando à Biblioteca, onde nunca estive como escritor, já que durante mais de vinte anos fui (ainda serei?) persona non grata, quando os escritores vão ser chamados ao menos para conversar? Nós, que durante mais de vinte anos continuamos lutando por conta própria, realizando a Flip, passamos a ser os novos indesejados? A Biblioteca apenas para visitas de estudantes e alguns pesquisadores, lutando contra aparelhos defasados? Há de haver difusão dos escritores atuais em todo o Estado; relançamento de livros importantes; lançamento de novos escritores. Ainda não sei quais são os planos. Não sei sequer o nome da diretora da Biblioteca Arthur Vianna, nem do setor de Literatura. O que era péssimo, vai piorar?
Published on March 29, 2019 04:17
March 22, 2019
6.5
Meu amigo Marcos Quinam costuma dizer que “os de 24 são foda!”. Fazemos aniversário juntos. Durante a adolescência, tive vergonha de ter nascido nesse dia. Vocês sabem, é uma fase em que muitas mudanças acontecem, descobertas e o bullying é forte. Poxa, meu pai poderia ter adiado um dia, ao menos. Quem nasce dia 24 é viado, com certeza, a palavra assim escrita. Em muitos lugares, por minha própria conta, aumentava esse dia para 25, por exemplo. Esse número, por conta do Jogo do Bicho, até agora a perturbar as pessoas. Quando virei adulto, passei a ignorar. Até a dizer sem me perguntarem. Foda-se. Mas na adolescência, colégio somente para meninos, tudo era motivo para bullying. Qualquer gesto mais leve, uma palavra mal colocada e pronto. Todos em momento de afirmação total e alguns, creio, certamente os mais incisivos, escondendo suas reais preferencias. Meus filhos, na pré adolescência, certa vez, revoltados com um brinco que estava experimentando na orelha, aproveitaram um descuido e “chinaram” com o adorno. Hoje são cheios de brincos e tatoos. Meus poucos amigos gays são os melhores. Além do talento e caráter, são cheios de humor, ironia e inteligência para o pensamento veloz, com uma abrangência de conhecimento genial. Isso tudo, de menos. E o que dizer de completar 65 anos? Já li dizerem “ah, eu nunca pensei chegar a essa idade”. Meus ídolos, Caetanos, Beatles, Stones, todos com dez anos acima. Meus discos preferidos comemoram 50 anos de lançados. Divido com os filhos calças, camisas, livros e música. Apesar de não ouvir nada interessante nos novos artistas, acabei de descobrir Royal Trux. Procurem. Leio sem parar e aguardo o lançamento de minha nova obra. É chato, mas mesmo no grupo de peladeiros acima de 50 anos, já sou veterano. As dores nos joelhos já me provocam uma dolorosa despedida dos campos. Não haverá público para a volta olímpica, nem programas de tv com melhores momentos. Apenas não irei jogar, com imensa tristeza. No mais a alegria de estar vivo e produtivo. Uma vez, com Jocelyn Brasil, na época, mais de 90 anos, no carro, olhamos para uma menina bonita que passava. Ele me disse, apontando para a cabeça “aqui tem apenas 15 anos!”. Poderia dizer que os livros me deram o melhor, mas creio que foi o Teatro que me fez gente. Comecei tímido, nem ia aos ensaios. Foi com Cacá Carvalho que veio a reflexão sobre o que desejava dizer e mais inda, os processos de montagem, a harmonia de um coletivo, o exercício da humildade e a certeza de trabalhar para o bem comum. Já sou avô e aguardo mais um ou dois anos para “tomar” o neto de seus pais e sair por aí de mãos dadas, como um acordo íntimo, diria Fernando Pessoa, abrindo os caminhos, como meu avô Edgar fez comigo. Meu Deus, 65 anos, um ancião! Meu pai se aborrecia quando lia em jornal “um ancião de 60 anos”.. Eu também. Eu também. É chavão, sei, mas olho para mim, no espelho do banheiro. Não aquele todo em que passo o aparelho de barba, mas procuro dentro dos olhos, aquele moleque que corria da mãe em volta da mesa de jantar, fugindo de uma chinela certeira, nunca esquecendo de duas frases que me acompanham o tempo todo. Perguntei a meu pai, um dia, o que ele gostaria que eu fosse. Ele me disse que queria que eu fosse um homem bom. Só. E tudo o que isso representa. Quanto a mim, não importam prêmios, medalhas, cargos, nada disso importa. Serei sempre o kuí de farinha de minha mãe Celeste.
Published on March 22, 2019 05:51
March 15, 2019
LUGAR DE SONHO
Quando o Grupo Cuíra teve um teatro, ali na antiga zona de prostituição da cidade, seu primeiro espetáculo não somente falava daquele lugar, como também tinha metade de seu elenco formado, justamente, por prostitutas. O convívio com elas nos trouxe a possibilidade de uma convivência maravilhosa para ambos os lados. Ouvimos suas alegrias e amores, mas também percebemos o tanto de tristeza envolvido na profissão. Ali, no palco, elas se soltavam, livres, sem julgamento ou necessidades financeiras. Uma tarde de segunda feira, veio uma delas, andando pela Primeiro de Março, lateral do teatro. Estávamos ali, na porta de entrada e saída de atores. Conversamos e pediu para entrar um pouquinho. Ouvimos ruído e fomos ver. Corria em volta do palco nu, feito criança, feliz. O lugar do sonho. O lugar feliz. O Teatro é a nossa Igreja. O palco, nosso altar. Quem pisa ali não pode fazê-lo gratuitamente.
É o que fica após assistir “O Grande Circo Místico”, de Cacá Diegues, a partir de um poema de Jorge de Lima, contido no livro “A Túnica Inconsutil”. Antes, foi montado por uma companhia de balé de Curitiba, creio, com a trilha composta por dois deuses da música brasileira, Edu Lobo e Chico Buarque. O filme pretendeu ser o representante brasileiro no Oscar de melhor filme estrangeiro. Não conseguiu. Passou em Belém por poucos dias, uma sessão diária. A falta de público reflete perfeitamente o abismo, a escuridão cultural em que vivemos. Perdemos a percepção da Cultura. O sentimento, a reflexão, o conceito de beleza. Perdemos nosso intelecto. Não nos permitimos mais sonhar, vibrar, nos emocionar com a beleza. Conta a história de um circo chamado “Místico”, surgido em 1910. Na primeira parte, Bruna Linzmeyer faz “Beatriz”, a bailarina, imortalizada na interpretação de Milton Nascimento. “Me ensina a não andar com os pés no chão. Para sempre, é sempre, por um triz”. Tudo é poesia, amor e magia. Ela desce do teto, como uma rainha, seus belos olhos olham em volta uma simples plateia, como sempre, mas ali, como nos melhores picadeiros do mundo. Um palhaço tira a cartola e saem borboletas de um azul profundo e tudo vira sonho. O tempo passa e Jesuíta Barbosa não envelhece, continuando como mestre de cerimônia. Fora do picadeiro, na vida normal, nada é bonito. Amores trágicos, mortes e nascimentos. Gente que foge tentando algo mais, fora do Circo. Há vida fora do Circo? As maldades do mundo de fora são maiores. As pessoas vão passando, pais, filhos, netos. O ótimo Vincent Cassel surge, personagem malvado, querendo vender o Circo de onde acabou fugindo, levando todo o dinheiro. Juliano Cazarré faz um dos últimos donos, atrás da irmã que se foi e volta apenas para engravidar e a família seguir em frente. E então vem Mariana Ximenes, provavelmente em sua melhor performance da carreira, como uma pretendente a ser freira. Trapezista, forçada por todos a casar e ter filhos, tatuou o corpo inteiro com o rosto de Cristo e seus apóstolos. O marido não a tocou mas outro a estuprou, gerando gêmeas. O Circo segue adiante. Uma cena magnífica, momentos antes da função, trapezista rezando com uma vela, domador dizendo segredos nos ouvidos do leão, palhaços com o rosto pintado, melancólicos, fumando cigarros. O melhor lugar do mundo para estar é nos bastidores, cinco minutos antes do pano abrir. O palco é sonho. O mundo, aqui fora é uma desgraça.
É o que fica após assistir “O Grande Circo Místico”, de Cacá Diegues, a partir de um poema de Jorge de Lima, contido no livro “A Túnica Inconsutil”. Antes, foi montado por uma companhia de balé de Curitiba, creio, com a trilha composta por dois deuses da música brasileira, Edu Lobo e Chico Buarque. O filme pretendeu ser o representante brasileiro no Oscar de melhor filme estrangeiro. Não conseguiu. Passou em Belém por poucos dias, uma sessão diária. A falta de público reflete perfeitamente o abismo, a escuridão cultural em que vivemos. Perdemos a percepção da Cultura. O sentimento, a reflexão, o conceito de beleza. Perdemos nosso intelecto. Não nos permitimos mais sonhar, vibrar, nos emocionar com a beleza. Conta a história de um circo chamado “Místico”, surgido em 1910. Na primeira parte, Bruna Linzmeyer faz “Beatriz”, a bailarina, imortalizada na interpretação de Milton Nascimento. “Me ensina a não andar com os pés no chão. Para sempre, é sempre, por um triz”. Tudo é poesia, amor e magia. Ela desce do teto, como uma rainha, seus belos olhos olham em volta uma simples plateia, como sempre, mas ali, como nos melhores picadeiros do mundo. Um palhaço tira a cartola e saem borboletas de um azul profundo e tudo vira sonho. O tempo passa e Jesuíta Barbosa não envelhece, continuando como mestre de cerimônia. Fora do picadeiro, na vida normal, nada é bonito. Amores trágicos, mortes e nascimentos. Gente que foge tentando algo mais, fora do Circo. Há vida fora do Circo? As maldades do mundo de fora são maiores. As pessoas vão passando, pais, filhos, netos. O ótimo Vincent Cassel surge, personagem malvado, querendo vender o Circo de onde acabou fugindo, levando todo o dinheiro. Juliano Cazarré faz um dos últimos donos, atrás da irmã que se foi e volta apenas para engravidar e a família seguir em frente. E então vem Mariana Ximenes, provavelmente em sua melhor performance da carreira, como uma pretendente a ser freira. Trapezista, forçada por todos a casar e ter filhos, tatuou o corpo inteiro com o rosto de Cristo e seus apóstolos. O marido não a tocou mas outro a estuprou, gerando gêmeas. O Circo segue adiante. Uma cena magnífica, momentos antes da função, trapezista rezando com uma vela, domador dizendo segredos nos ouvidos do leão, palhaços com o rosto pintado, melancólicos, fumando cigarros. O melhor lugar do mundo para estar é nos bastidores, cinco minutos antes do pano abrir. O palco é sonho. O mundo, aqui fora é uma desgraça.
Published on March 15, 2019 05:40
NÓS
Nossos signos são do fogo. Áries e Leão. Pessoas ativas, de opinião. Eu escrevo, ela atua e produz. Tem mais de 20 anos. Cada um mora em sua própria casa. Ela gosta de tudo bem arrumado. Eu sou desorganizado. Não gosta de futebol. Eu amo. Discutimos sobre tudo. Argumentamos de todas as maneiras. De vez em quando, concordamos. Tínhamos Antonio, nosso Golden. Agora temos Durval, Nicolau e Maria, a nova rainha da casa. Ela mora em uma casa teatro. Eu em um apartamento biblioteca. Já tivemos um teatro, na zona. Como foi bom! Temos Davi, no último ano do Balé Bolshoi. Somos ansiosos. Ela diz que meu paladar é infantil. O dela é extremamente saudável. Cuida do corpo malhando cheia de disciplina. Eu invento qualquer coisa para escapar. Ela toma cerveja. Eu, coca zero. Nos bares, o garçom sempre erra no serviço. Não temos tantos amigos, mas conversamos tanto que nem sentimos. Às vezes. Ela me empurra para escrever, eu a empurro para atuar. Somos a bela e a fera, nem preciso dizer a razão. A pessoa mais honesta e correta que já conheci. E vamos assim, levando a vida, cheios de projetos, fazendo Cultura e amor. Neste Dia da Mulher, minha homenagem a Zê Charone.
Published on March 15, 2019 05:39
March 8, 2019
CIDADE TRISTE
Domingo, segunda gorda, passeio pela cidade e encontro, quando muito, grupos de até quinze pessoas, talvez, cantando e dançando em blocos de sujos. Me disseram que no Ver o Rio havia uma concentração. E que os Filhos da Glande também reuniram ali na Praça das Mercês. Na televisão, Recife, Salvador, Rio e São Paulo têm as ruas cheias de gente feliz, vestindo qualquer coisa, cercada de amigos dançando e cantando carnaval. Na segunda de manhã, Ipanema, mães e seus filhotes, dançando. Olho para nossas ruas vazias e penso onde foi parar nossa alegria. Tenho uma foto em p&b, antiga, quase apagada, onde meu pai e amigos, na carroceria de um caminhão, fantasiados de anjos, curtiam o tal período momesco. Eram os “anjos de cara suja”. Ali nos anos 70, havia pouca gente nas ruas, fora dos desfiles oficiais. Criança, na Praça da República, entrei em pânico ao ouvir os gritos de guerra dos “peles vermelhas”, que chegavam. Havia também aquele fantasiado de gorila que metia medo em todos. O Doutor Passa o Pau, tantos personagens! De repente, na lanchonete Stop, ali no Largo de Nazaré, passou a reunir uma turma que se auto denominou Bandalheira. Eram todos muito jovens. Um amigo era da “diretoria” e me chamou. Lá fui eu e mais dois irmãos. Já no primeiro domingo de janeiro, começamos a percorrer as ruas do centro, acompanhados por uma bandinha. A verdade é que em poucos domingos depois, muitos outros blocos, cada um com o nome mais criativo, se puseram nas ruas, cantando, dançando e sendo feliz. O ponto principal era a Presidente Vargas. Próximo ao carnaval, até as Escolas de Samba decidiram também passar pelo circuito, mesmo sem fantasias, apenas para participar da brincadeira. Lembro que em janeiro de 1985, véspera de estrear “Angelim, o Outro Lado da Cabanagem”, no Teatro da Paz, atravessei uma Praça da República lotada de pessoas que, sem participar especificamente de qualquer agremiação, aguardavam por sua passagem para simplesmente se divertir. Como era bom! Mas então alguém sugeriu que os blocos participassem do desfile oficial, concorrendo na categoria específica a um troféu. Pronto. Um clima de competição surgiu, acirrando diferenças. Ninguém mais saía aos domingos para não estragar a fantasia e a cidade voltou a ficar deserta. Então veio uma criatura nefasta que ocupou a Secretaria de Cultura. Ao mesmo tempo, a Prefeitura manteve-se absolutamente distante de qualquer coisa chamada Cultura, ficando apenas com o concurso de quadrilhas juninas. Um prefeito construiu um sambódromo. Não acho um bom local, mas lá ele está. Por questões políticas, chegaram a fazer o desfile em Ananindeua. Os blocos sumiram. As escolas foram dominadas por politiquinhos rastaqueras. Recentemente, gente fina criou novamente blocos. Para ficar parecido com Olinda, foram para a Cidade Velha. Para não atrapalhar a ida para Salinas, brincam dois ou três domingos antes. Pior, o desfile oficial de Escolas de Samba também acontece uma semana antes do carnaval. Para não atrapalhar quem? Carnaval é a festa do povo. Deixa o pessoal do “carnaself” fazer o que quiser, mas carnaval é pra quem não tem dinheiro pra abadás e weekends. Murchou, sei lá, murchou. É tristeza? Mais um ja teve? Um povo machucado, sem alegria. A chuva? Os assaltos e assassinatos? Belém virou uma tristeza no carnaval. Tenho tantas idéias para reativar nosso carnaval mas ninguém quer ouvir. Que pena.
Published on March 08, 2019 05:41
March 1, 2019
O MEU CARNAVAL
“Olha aqui seu Nicolau, carregaram com o meu berimbabu. Pega o lalau. Pega o lalau. O meu carnaval, quero fazer na base do berimbau. E eu vou cantando assim, tiritim tiririm tiririm (Jackson do Pandeiro). “Mulata bossa nova, caiu no hully gully. E só dá ela, ieieie, na passarela. Esnobou as louras e as morenas do Brasil” (João Roberto Kelly). “Bandeira branca, amor, não posso mais. Pela saudade que se espalha, eu peço paz” (Dalva de Oliveira e Herivelto Martins). “Quem é você, diga logo, que eu quero saber, seu jogo. Que eu quero arder no seu fogo, que eu quero morrer no seu bloco. Eu sou seresteiro, poeta e cantor. O meu tempo inteiro, só zombo do amor. Eu sou colombina, eu sou pierrô. Mas é carnaval, não precisa mais quem é você, amanhã tudo volta ao normal, deixa a festa acabar, deixa o barco correr, deixa o dia raiar, que hoje eu sou, da maneira que você quiser, o que você pedir eu lhe dou, seja você quem for, seja o que Deus quiser” (Chico Buarque). “Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria, quero que você me assista, na mais linda companhia. Se você sentir saudade, por favor, não dê na vista, bate palmas com vontade, faz de conta que é turista. Hoje o samba saiu, lararaiá, procurando você, quem te viu, quem te vê”(Chico Buarque). “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil. Cidade, maravilhosa, coração do meu Brasil” (André Filho). “Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é? Será que ele é bossa nova? Será que ele é Maomé? Será que ele é transviado? Isso eu não sei se ele é! Corta o cabelo dele! Corta o cabelo dele!”(João Roberto Kelly e Roberto Faissal). “Todos eles, estão errados, a lua é dos namorados. Lua, oh Lua, venha me passarem pra trás. Lua que no céu flutua, lua que nos dá luar. Lua, oh Lua, não deixa ninguém te levar. Todos eles, estão errados, a lua é dos namorados” (Braguinha). “Portela, Portela, o samba trazendo alvorada, meu coração conquistou. Ah, minha Portela, quando ouvi você cantar, senti meu coração apertado, todo meu corpo tomado, minha alegria voltar. Não posso definir aquele azul, não era do céu, nem era do mar. Foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar” (Paulinho da Viola). “Maria Sapatão, sapatão, sapatão. De dia é Maria, de noite é João”. (João Roberto Kelly). “Alalaô, mas que calor. Atravessando o deserto do Saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara!”(Haroldo Lobo e Nássara). “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí. Não vai dar, não vai dar não, eu vou fazer a grande confusão. Eu vou beber, beber até cair, me dá me dá me dá, oi, me dá um dinheiro aí” (Moacyr Franco). “Você pensa que cachaça é água, cachaça não é água, não. Cachaça vem do alambique e água vem do ribeirão” (Marinósio Trigueiro). “O teu cabelo não nega mulata, porque és mulata da cor. Mas como a cor, não nega mulata, mulata quero o teu amor” (Lamartine Babo). “Oh jardineira porque estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu? Foi a camélia que caiu do galho, soltou um suspiro e depois morreu. Vem jardineira, vem meu amor. Não fique triste que este mundo é todo seu, tu és muito mais bonita que a camélia que morreu” (Benedito Lacerda). “Ai ai ai ai, tá chegando a hora, o dia já vem raiando meu bem e eu tenho que ir embora”(Carmen Costa). “Naquela máscara negra, que esconde teu rosto, eu quero matar a saudade. Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval (Zé Kéti). “Viva o Zé Pereira, que a ninguém faz mal, viva a pagodeira nos dias de carnaval”(Zé Nogueira, 1850).
Published on March 01, 2019 06:56
February 22, 2019
MEUS SHOWS INESQUECÍVEIS
Momento 68. Este era o título do show promovido pela Rhodia, indústria de tecidos, que veio até o Teatro da Paz, trazendo entre outros, Caetano Veloso e Gilberto Gil em plena Tropicália. Um espetáculo transformador para quem, jovem, tinha contato com aquelas interações. Mas também assisti Caetano cantando no Ginásio do Clube do Remo, acompanhado pelos Baobás. Sentado em um tapete, o baiano, com cara de filósofo hippie, mastigava uma flor. Eu pensava que aquilo era bem moderno, mas o gosto, ruim. Caetano foi o herói da minha geração.
Eu havia entrado na Ufpa e o cartaz anunciava show de Milton Nascimento no Ginásio do campus Guamá. Era um tempo nervoso, com a revolução, política estudantil, essas coisas. Imaginem Milton no auge, acompanhado por Wagner Tiso, Robertinho Silva, Toninho Horta, o Som Imaginário completo. Lotado. Blackout. Há um crescendo instrumental. Ao final, Milton, no escuro, canta “Chegou no porto um canhão”. Arrepiei, tremi, chorei de emoção. Era tudo muito bonito. E depois veio “porque vocês não sabem do lixo ocidental”. Pqp. Inesquecível. Veio Gal Costa com o show “Índia”. Dominguinhos mostrando sua genialidade e levando o som da sanfona, até então pertencente, digamos, somente ao forró, para os grandes arranjos. Vem a cantora, no ápice de beleza e potencia vocal, senta em um banquinho, toma o violão e fazendo movimentos sensuais, abrindo e fechando as pernas, no ritmo malemolente de “Falsa Baiana”, enlouquece a todos. Usava apenas uma saia estilo indígena. Dezenove, vinte anos, anos 70, aquilo foi demais.Permitam-me incluir o momento em que Antonio Carlos Maranhão cantou a sua “Nêga”, em um festival de música, dançando com uma boneca de pano. Genial.Aí vieram os Pixinguinhas no Teatro da Paz. Alceu Valença, que ia na discoteca da Rádio Clube ouvir Ary Lobo. Gonzaguinha também passou alguns dias, tornando-se figura do Bar do Parque. Lembro Alceu cantando, sozinho, voz e violão, com longas botas e roupas rock and roll, seus repentes geniais. Sobre um praticável, batia com os pés e fazia percussão. Foi ele ou Gonzaguinha? Faltou energia. Alguém acendeu uma vela e o show continuou. Havia também Egberto Gismonti. Várias vezes. Sozinho e com banda. Misturava tradições brasileiras com jazz e rock. Uma figura ímpar, mas de difícil acesso.
A primeira vez em que percebi a poeira no ar foi no Recife, áureos tempos da indústria fonográfica, lançamento de um dos discos de Elba Ramalho, ao ar livre. Emocionante. A poeira sobre a multidão, dançando. Isso se repetiu, para mim, em um Preamar, no estacionamento da Mangueirão. Show da Warilou e a plateia ensandecida. A glória. E assistir Roger Water e o famoso solo de guitarra em “Confortably Numb” no Morumbi? Arrepios, tremor, choro. E atrás de mim, tiozinhos queimando fumo e rindo. E chorar, também, quando Paul McCartney deu os acordes de “All my Loving”, lembrando toda minha infância. E marejar mais uma vez com “and in the end, the love you take, is equal to the love you made”. Os Rolling Stones em seu show eterno. Eu e meu sobrinho Caio, dançando, dividindo emoções, gritando os versos da música. Tiozinhos e garotada em transe coletivo. Amigos, eu vi.
Eu havia entrado na Ufpa e o cartaz anunciava show de Milton Nascimento no Ginásio do campus Guamá. Era um tempo nervoso, com a revolução, política estudantil, essas coisas. Imaginem Milton no auge, acompanhado por Wagner Tiso, Robertinho Silva, Toninho Horta, o Som Imaginário completo. Lotado. Blackout. Há um crescendo instrumental. Ao final, Milton, no escuro, canta “Chegou no porto um canhão”. Arrepiei, tremi, chorei de emoção. Era tudo muito bonito. E depois veio “porque vocês não sabem do lixo ocidental”. Pqp. Inesquecível. Veio Gal Costa com o show “Índia”. Dominguinhos mostrando sua genialidade e levando o som da sanfona, até então pertencente, digamos, somente ao forró, para os grandes arranjos. Vem a cantora, no ápice de beleza e potencia vocal, senta em um banquinho, toma o violão e fazendo movimentos sensuais, abrindo e fechando as pernas, no ritmo malemolente de “Falsa Baiana”, enlouquece a todos. Usava apenas uma saia estilo indígena. Dezenove, vinte anos, anos 70, aquilo foi demais.Permitam-me incluir o momento em que Antonio Carlos Maranhão cantou a sua “Nêga”, em um festival de música, dançando com uma boneca de pano. Genial.Aí vieram os Pixinguinhas no Teatro da Paz. Alceu Valença, que ia na discoteca da Rádio Clube ouvir Ary Lobo. Gonzaguinha também passou alguns dias, tornando-se figura do Bar do Parque. Lembro Alceu cantando, sozinho, voz e violão, com longas botas e roupas rock and roll, seus repentes geniais. Sobre um praticável, batia com os pés e fazia percussão. Foi ele ou Gonzaguinha? Faltou energia. Alguém acendeu uma vela e o show continuou. Havia também Egberto Gismonti. Várias vezes. Sozinho e com banda. Misturava tradições brasileiras com jazz e rock. Uma figura ímpar, mas de difícil acesso.
A primeira vez em que percebi a poeira no ar foi no Recife, áureos tempos da indústria fonográfica, lançamento de um dos discos de Elba Ramalho, ao ar livre. Emocionante. A poeira sobre a multidão, dançando. Isso se repetiu, para mim, em um Preamar, no estacionamento da Mangueirão. Show da Warilou e a plateia ensandecida. A glória. E assistir Roger Water e o famoso solo de guitarra em “Confortably Numb” no Morumbi? Arrepios, tremor, choro. E atrás de mim, tiozinhos queimando fumo e rindo. E chorar, também, quando Paul McCartney deu os acordes de “All my Loving”, lembrando toda minha infância. E marejar mais uma vez com “and in the end, the love you take, is equal to the love you made”. Os Rolling Stones em seu show eterno. Eu e meu sobrinho Caio, dançando, dividindo emoções, gritando os versos da música. Tiozinhos e garotada em transe coletivo. Amigos, eu vi.
Published on February 22, 2019 11:57
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