Cara Marfiza, Quotes

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Cara Marfiza, Cara Marfiza, by Paulo Salvetti
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“Gravidez é o tempo de silêncio mais intenso entre duas pessoas.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“Sobre Adelmino, não o deixe te maltratar. Os homens são tão estranhos. Eles querem ser patrões das mulheres sem pagar salário.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“Marfiza já não podia ver azul nenhum. Nem rosa, roxo, fúcsia. Nem laranja, vermelho, âmbar, dourado. Nem esmeralda, esverdeado, ciano, jade, cáqui. Nem escarlate, triássico, urucum, jambo, carmim, alizarina. Näo via mais quase nada além de branco e preto. Claro e escuro. Dia a dia de páginas de jornal. Escureceu-se.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“[Eu] Tinha selado uma relação com nosso quarto. Aquela janela era a coisa mais amada da vida, teria a levado junto se janelas se movessem com a vista junto.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“Com filho e marido ficava caro viajar. Ser pobre cria barreira para tudo.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“-Queria te levar no baile amanhã.
Marfiza, que partia a laranja ao meio, ficou ser reação aparente. A lâmina em movimento terminava de atravessar os últimos milímetros do bagaço da laranja e continuou o corte até a primeira camada da pele e seguiu em frente, epiderme-derme-hipoderme abaixo. Atônita depois do convite, cortando-se a si e nenhum pio. Até o susto com o sangue em jorro denso. Chafariz pintando o rosto dela e o dele também. Um gritinho baixo, miado e cataploft. Ele desmaiou por entre as pernas dela esguichadas de sangue. Ela atônita pra mim, olhos maiores que a cara: morto?
Adelmino estava vivo. Tão vivo que alguns anos depois se casaria comigo. Pai dos meus quatro filhos. Pamonha ali estatelado.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“Adelmino chegava e engrossava a desordem. Fazia comida para ele e para as crianças debaixo de um berreiro de doer ouvidos. Disse que me matava se eu não virasse gente. Só comendo um quilo de sal juntos para saber quem o outro é.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“Um dia Adelmino chega em casa, já na cidade, e deita na rede. Waldir devia ter uns quatro anos. Depois do cochilo, Adelmino levanta e não encontra a fivela de boiadeiro do seu cinto. Olha para Waldir acocorado do lado de fora. Grita pelo cinturão. O menino gagueja sem resposta. Cadê minha fivela? Waldir não diz nada e é levantado pelo pescoço e arremessado no chão. Depois é um chicote assobiando nas costas do moleque. Ele só chora e geme. Adelmino se cansa e volta pra rede, onde encontra a fivela. Tinha caído do cinto enquanto ele dormia. Ele olha para o menino, pensa em falar algo, mas não diz nada. Volta a dormir. E eu, onde estava? Cinco goles.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“Na segunda-feira seguinte, na fábrica, todos já sabiam. Marfiza era um diabo-espalha-fatos, que inferno. Quando ouvi o primeiro comentário na fábrica, fiquei com um vermelho-roxo no rosto. Ela jamais seria capaz de enxergar. Se estivesse na minha frente, faria escorrer do pescoço dela. Boca aberta. Futriqueira. Venenosa. Rouba-vida. Mexeriqueira. Língua de escorpião. Maldosa. Ressentida. Vilipendiadora. Sonsa.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“Nunca fui boa em dar asas para as coisas de dentro.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“Marfiza me perturbou desde a infância. Ela sentia uma chama passando por seu corpo. Não era calor normal, de dia estufado e suor escorrendo. Era calor de fósforo quando acende muito perto do dedo. Corria ossinho por ossinho das costas até o pescoço, ela dizia.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,
“A gente pensa que domina a memória, e ela é um rio em curso.”
PAULO SALVETTI, Cara Marfiza,