Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei Quotes
Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei
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Alice Vieira402 ratings, 3.94 average rating, 20 reviews
Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei Quotes
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“- É por essa janela que costuma voar?
Joana Ofélia sorriu.
- Qualquer janela serve. Foi Demérita que me ensinou. Basta olharmos através dos vidros, e somos mais livres do que pássaros. As pessoas podem continuar a ver-nos, mas só nós sabemos que há muito que ali não estamos, que voámos com as aves, com o vento, com a poeira da estrada, com a água da chuva.”
― Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei
Joana Ofélia sorriu.
- Qualquer janela serve. Foi Demérita que me ensinou. Basta olharmos através dos vidros, e somos mais livres do que pássaros. As pessoas podem continuar a ver-nos, mas só nós sabemos que há muito que ali não estamos, que voámos com as aves, com o vento, com a poeira da estrada, com a água da chuva.”
― Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei
“Joana Ofélia sorria:
—Não ligue, é feitio dela.
—Não ligo. Só ligo à cor dos seus olhos, que ainda não consegui descobrir qual é.
—Verdes. Os meus olhos são verdes — dizia Joana Ofélia.
—Depende.
—De muitas coisas — respondia Pedro Ruiz. — Da luz do dia. Da cortina a balançar na janela. Das palavras que disser. Das palavras que imaginar. Dos sonhos que tiver.
Uma tarde estava Joana Ofélia a olhar pela janela, perguntou Pedro Ruiz:
— É por essa janela que costuma voar?
Joana Ofélia sorriu.
— Qualquer janela serve. Foi Demétria quem me ensinou. Basta olharmos através dos vidros, e somos mais livres do que pássaros. As pessoas podem continuar a ver-nos, mas só nós sabemos que há muito que ali não estamos, que voámos com as aves, com o vento, com a poeira da estrada, com a água da chuva.
—Palavras sábias lhe ensina Demétria — murmurou Pedro Ruiz, mudando de novo a cor dos seus olhos. («Verdes, definitivamente verdes.»)
—Demétria diz que o meu coração só sabe gostar de palavras... — continuou Joana Ofélia.
Pedro Ruiz mudou de tinta, mudou de pincéis, olhou várias vezes para o rosto que tinha na sua frente.
—...que o meu coração está fechado para as pessoas..
Uma brisa ligeira fazia dançar a cortina de renda. No parapeito da janela, bagas da erva-das-sete-sangrias secavam há muito, num velho boião de vidro.
—Um dia — disse Pedro Ruiz, quase num sopro de voz — alguém vai chegar para a levar daqui, porque é esse o destino das pessoas.
—...que o meu coração não nasceu para ser ligado, e que tudo está no 'Livro de São Cipriano'...
Eram dois murmúrios na tarde a cair, duas estradas paralelas para lá da janela, duas sombras na parede da sala.
—E há de procurar a cor certa dos seus olhos...
(azuis, definitivamente azuis)
—... e não há-de encontrá-la, nem aos seus olhos. Porque os seus olhos nasceram com asas, e os olhos que nascem com asas ninguém consegue aprisionar.
—...e que um dia hão-de ir à minha procura e eu já terei voado.
—Não têm poiso certo, não pertencem a ninguém.
Pedro Ruiz estremeceu de repente. Como se acordasse.
—Gosto das suas palavras. Lembram as palavras de Demétria — disse Joana Ofélia.
—Eu não estava a dizer nada — murmurou Pedro Ruiz — Procurava apenas o tom certo dos seus olhos.
—Verde.
—Vioeta. Definitivamente violeta.”
― Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei
—Não ligue, é feitio dela.
—Não ligo. Só ligo à cor dos seus olhos, que ainda não consegui descobrir qual é.
—Verdes. Os meus olhos são verdes — dizia Joana Ofélia.
—Depende.
—De muitas coisas — respondia Pedro Ruiz. — Da luz do dia. Da cortina a balançar na janela. Das palavras que disser. Das palavras que imaginar. Dos sonhos que tiver.
Uma tarde estava Joana Ofélia a olhar pela janela, perguntou Pedro Ruiz:
— É por essa janela que costuma voar?
Joana Ofélia sorriu.
— Qualquer janela serve. Foi Demétria quem me ensinou. Basta olharmos através dos vidros, e somos mais livres do que pássaros. As pessoas podem continuar a ver-nos, mas só nós sabemos que há muito que ali não estamos, que voámos com as aves, com o vento, com a poeira da estrada, com a água da chuva.
—Palavras sábias lhe ensina Demétria — murmurou Pedro Ruiz, mudando de novo a cor dos seus olhos. («Verdes, definitivamente verdes.»)
—Demétria diz que o meu coração só sabe gostar de palavras... — continuou Joana Ofélia.
Pedro Ruiz mudou de tinta, mudou de pincéis, olhou várias vezes para o rosto que tinha na sua frente.
—...que o meu coração está fechado para as pessoas..
Uma brisa ligeira fazia dançar a cortina de renda. No parapeito da janela, bagas da erva-das-sete-sangrias secavam há muito, num velho boião de vidro.
—Um dia — disse Pedro Ruiz, quase num sopro de voz — alguém vai chegar para a levar daqui, porque é esse o destino das pessoas.
—...que o meu coração não nasceu para ser ligado, e que tudo está no 'Livro de São Cipriano'...
Eram dois murmúrios na tarde a cair, duas estradas paralelas para lá da janela, duas sombras na parede da sala.
—E há de procurar a cor certa dos seus olhos...
(azuis, definitivamente azuis)
—... e não há-de encontrá-la, nem aos seus olhos. Porque os seus olhos nasceram com asas, e os olhos que nascem com asas ninguém consegue aprisionar.
—...e que um dia hão-de ir à minha procura e eu já terei voado.
—Não têm poiso certo, não pertencem a ninguém.
Pedro Ruiz estremeceu de repente. Como se acordasse.
—Gosto das suas palavras. Lembram as palavras de Demétria — disse Joana Ofélia.
—Eu não estava a dizer nada — murmurou Pedro Ruiz — Procurava apenas o tom certo dos seus olhos.
—Verde.
—Vioeta. Definitivamente violeta.”
― Se Perguntarem Por Mim Digam Que Voei
