Princípio de Karenina Quotes
Princípio de Karenina
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Afonso Cruz1,702 ratings, 4.20 average rating, 252 reviews
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Princípio de Karenina Quotes
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“A felicidade sempre foi um negócio e uma obsessão. Os filósofos, desde que que existem, tentam mostrar-nos o caminho. Assim como os padres. E os monges. E os ditadores. E os samanas. E os gimnosofistas. E os cientistas. E os nossos pais. Toda a gente quer encontrar a felicidade e, não sendo eles próprios felizes, pretendem enfiar a beatitude que não conquistaram pela goela dos outros. Quer um copo de água para empurrar? Pegam em discursos, em actos, em ramos de flores, em educação, em dinheiro, em poemas e canções e servem-nos o caminho para a felicidade. Educam-nos com histórias que terminam com o singelo "foram felizes para sempre". E não me refiro só à Bíblia, mas também aos contos de fadas e de príncipes e princesas. E a obsessão é tão grande que até aos aleijados como eu lhes é servida a esperança: o fantasma da ópera, o corcunda de Notre-Dame, Cyrano de Bergerac, a Bela e o Monstro, Pinóquio, o sapo. Haja esperança para todos, incluindo batráquios que se tornam proeminentes membros da monarquia e se casam e, como quem se constipa, ficam com aquela doença do peito, o amor eterno. Nesse processo, há dor e alegria, mas não o estado de euforia permanente. As pessoas felizes não são as pessoas que vivem a abanar a cauda. As pessoas felizes choram e temem e caem e magoam-se e gritam e esfolam os joelhos, porque a sua felicidade independe da roda da fortuna, do acaso, das circunstâncias.”
― Princípio de Karenina
― Princípio de Karenina
“Não existe felicidade na igualdade e na monotonia. As famílias felizes terão de ser imperfeitas (ou seja, diferentes umas das outras), é impossível ser feliz sem dor, como diz a música, pergunte ao seu orixá, o amor só é bom se doer. A felicidade é um estado especial que só pode existir se incluir no seu seio uma certa dose de infelicidade, por muito paradoxal que possa parecer. Sem desequilíbrio nada se move.Um círculo está em constante desequilíbrio, É bom para fazer andar os carros. Os quadrados não têm essa possibilidade. (...) Mas a vida que vale a pena ser vivida precisa do desequilíbrio. De viajar. De abrir janelas.
Os seres vivos são desequílibristas. (...)”
― Princípio de Karenina
Os seres vivos são desequílibristas. (...)”
― Princípio de Karenina
“De resto, não sei se os peixes serão dados a lucubrações filosóficas. Já não me lembro quem contou a história de um peixe que passa por outros dois e pergunta: Então, como está a água? E os outros entreolham-se e interrogam-se: Água? De que é que ele está a falar? O que é a água?(...)
"É isto não é? Não percebemos o lugar onde vivemos porque estamos encerrados nesse mesmo lugar. A nossa água é a nossa rotina, o lar, o senso comum."
(...)
Sim, era tão simples quanto isso. À medida que nos afastamos da rotina, que é a coluna vertebral da moralidade, a nossa água, o costume, a tradição, entramos no caos, no relativismo, no estrangeiro, na barbárie, enfim, na imoralidade. E eu, no meio da água em que vivia, não me apercebia da sua composição, porque essa rotina é também uma forma de cegueira. Não me apercebia de como à minha volta se sofria silenciosamente: a minha mãe, a minha mulher, eu, o meu melhor amigo, a criada, o Dr. Vala com as suas dores nas cruzes, e a esposa dele, sem vida para lá da posição social do marido.”
― Princípio de Karenina
"É isto não é? Não percebemos o lugar onde vivemos porque estamos encerrados nesse mesmo lugar. A nossa água é a nossa rotina, o lar, o senso comum."
(...)
Sim, era tão simples quanto isso. À medida que nos afastamos da rotina, que é a coluna vertebral da moralidade, a nossa água, o costume, a tradição, entramos no caos, no relativismo, no estrangeiro, na barbárie, enfim, na imoralidade. E eu, no meio da água em que vivia, não me apercebia da sua composição, porque essa rotina é também uma forma de cegueira. Não me apercebia de como à minha volta se sofria silenciosamente: a minha mãe, a minha mulher, eu, o meu melhor amigo, a criada, o Dr. Vala com as suas dores nas cruzes, e a esposa dele, sem vida para lá da posição social do marido.”
― Princípio de Karenina
“O amor era cheio de janelas abertas, correntes de ar, milhões de bactérias , fontes de medos, milhões de deimos, o amor podia destruir as paredes que erigíamos com tanto esmero, o amor podia até abraçar o estrangeiro, a distância, podia destruir toda a ética, deixar-nos à mercê do insólito, do inesperado, do horror da surpresa. A minha noção de amor, na juventude, era uma noção de propriedade. Se era algo que podia fazer parte da casa e da sua perpetuação, muito bem, poderia ser considerado. De outro modo, era uma fera, uma ferida, uma doença, tal como o meu pai me ensinara: o amor constrói-se, por isso a escolha deve ser racional e não passional, escolhemos uma pessoa adequada e depois vamos criando um edifício amoroso. O amor que nasce do ímpeto sentimental ou carnal é perigoso. É um ladrão de sobriedade e de objectividade. Barbarifica-nos. Temos de olhar para ele como quem olha para a porta e vê o que está do lado de fora. A passos, devagar e ponderadamente, vai arriscando, conquistando território selvagem e domesticando-o. A exaltação é para as galinhas. Os seres humanos decidem com ponderação, é tão simples quanto isso, não cacarejam nervosos.”
― Princípio de Karenina
― Princípio de Karenina
“O meu pai, sei disso hoje, resumia-se a uma palavra: medo. Toda a aversão ao estrangeiro, ao inusitado, à novidade, ao que está além, era apenas um pânico visceral do mundo, que ele disfarçava transformando esse medo trágico em ética conservadora, em solidez moral. Parecia seguro e inabalável, mas é assim que o medo se veste para sair à rua, para ir à missa, para comentar o tempo e as doeças das vides e o trabalho do lagar.”
― Princípio de Karenina
― Princípio de Karenina
“Havia breves e raros momentos em que a nossa casa sorria, quando de manhã a criada da Mealhada abria as janelas, para arejar a casa, e as cortinas esvoaçavam. Ou quando eu me reclinava nos acordes, como se fossem divãs, que a minha mãe tocava ao piano. Ouvia as notas ao longe, atravessando o longo corredor da casa. Imaginava que as composições que ouvia eram a banda sonora da minha vida e fazia tudo àquele ritmo, saltitava ao mesmo tempo que certas notas, movia-me à velocidade da música, à velocidade do som. O pai nutria pelos acordes o sentimento oposto, tenho a sensação de que a música o aleijava. Quando a minha mãe se alongava na prática, ele aproximava-se e dizia “um pouco de silêncio, por favor”, e a casa, de repente, ficava triste e as cortinas deixavam de esvoaçar.”
― Princípio de Karenina
― Princípio de Karenina
“Um mal absoluto pode obter a redenção de um amor absoluto. Se Deus não for capaz disso, qualquer mãe saberá fazê-lo.”
― Princípio de Karenina
― Princípio de Karenina
“As alcaparras e as azeitonas têm de ser curadas antes de serem consumidas, assim como as pessoas, que são intragáveis se não forem arredondadas pela água do tempo.”
― Princípio de Karenina
― Princípio de Karenina
