Mil Anos de Esquecimento Quotes

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Mil Anos de Esquecimento Mil Anos de Esquecimento by Afonso Cruz
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Mil Anos de Esquecimento Quotes Showing 1-15 of 15
“Temos a certeza de que não estamos perante um sábio quando ele sabe as respostas todas.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“Não o nego, mas cativa-me a ideia da possibilidade, da liberdade. Quando tenho muitos livros para ler, tenho escolha. Quanto menos tiver, mais a minha liberdade está confinada. Ela depende dos livros que não são lidos. Se temos apenas um caminho, não temos liberdade, teremos impreterivelmente de o seguir. Para ela existir, temos de ter possibilidades, muitas, porque só daí pode resultar uma escolha lúcida.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“De resto, uma biblioteca só tem interesse quando olhamos para os livros e percebemos que há uns que não foram lidos, que nos esperam.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“O jogo paralisa as pessoas. Isto não é uma forma literária de o dizer. O meu pai usava o I Ching cada vez que tinha de tomar uma decisão importante. Atirava os paus do milefólio e agia em conformidade com o oráculo. Aos poucos, foi juntando às decisões importantes outras mais frívolas, chegando ao ponto de não ser capaz de decidir absolutamente nada sem a ajuda do livro.
-E isso não diminuiu a qualidade das suas decisões?
Chun-Chi serviu dois whiskies.
-Nem por isso. As nossas decisões já são relativamente arbitrárias. Nem sabemos verdadeiramente de onde vêm. Decidi levantar um copo, mas o meu braço mexeu-se antenada minha consciência. Enfim, o problema não foi esse.
-Qual foi?
(...)
-Para dar um passo, tinha de usar o I Ching. Para pensar, também, e assim chegou àquele lugar sem saída em que tinha de lançar os paus de milefólio para saber se poderia atiraram-los. Agora está imobilizado, na cama.
(...)
Sabe a história do sapo e da centopeia?- perguntou Chun-Chi.
-Não.
-Um sapo perguntou, um dia, a uma centopeia qual era a pata que ela pousava primeiro ao andar. E a centopeia nunca mais conseguiu andar.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“A perfeição só existe quando lhe encontramos imperfeições.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“O jogo paralisa as pessoas. Isto não é uma forma literária de o dizer. O meu pai usava o I Ching cada vez que tinha de tomar uma decisão importante. Atirava os paus do milefólio e agia em conformidade com o oráculo. Aos poucos, foi juntando às decisões importantes outras mais frívolas, chegando ao ponto de não ser capaz de decidir absolutamente nada sem a ajuda do livro.
-E isso não diminuiu a qualidade das suas decisões?
Chun-Chi serviu dois whiskies.
-Nem por isso. As nossas decisões já são relativamente arbitrárias. Nem sabemos verdadeiramente de onde vêm. Decidi levantar um copo, mas o meu braço mexeu-se antes da minha consciência. Enfim, o problema não foi esse.
-Qual foi?
(...)
-Para dar um passo, tinha de usar o I Ching. Para pensar, também, e assim chegou àquele lugar sem saída em que tinha de lançar os paus de milefólio para saber se poderia atirá-los. Agora está imobilizado, na cama.
(...)
-Sabe a história do sapo e da centopeia?- perguntou Chun-Chi.
-Não.
-Um sapo perguntou, um dia, a uma centopeia qual era a pata que ela pousava primeiro ao andar. E a centopeia nunca mais conseguiu andar.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“Hasaba tinha um enorme mocho numa gaiola. Não o queria soltar, não o queria perder, mas tinha pena de ele estar confinado àquele espaço. Por isso, construiu uma gaiola maior. Olhou para o mocho e sentiu que não chegava. Ele já podia abrir as asas, saltar para outro poleiro, mas era pouco. Decidiu então construir uma gaiola ainda maior, uma em que o mocho pudesse voar. A nova gaiola era tão grande que dentro dela cabiam duas árvores: um abeto e uma bétula. Quando Hasaba viu o mocho em cima do ramo de uma das árvores, concluiu que não era suficientemente grande para a ave. O mocho precisava de voar pelo céu. Decidiu então construir uma gaiola que incluísse nuvens e florestas. E mais: que incluísse cidades e países distantes. E estrelas. Hasaba ainda hoje está a construir essa gaiola onde todos vivemos.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“Não sei porquê, mas a felicidade prefere bater à porta do nosso quarto de hotel nas Caraíbas do que à porta do nosso emprego.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“A corrupção já cá anda há tantos anos que mais valia naturalizá-la.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“Disse Stendhal: "A única desculpa de Deus é que não existe." O staretz Miroslav Bursa, quando se deu o massacre de Volynia, e face à quantidade de mortos, de corpos despedaçados e do cheiro a carniça, terá exclamado: "Que falta de omnipresença divina!”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“A democracia é um barómetro que nos diz qual o partido errado: foi aquele em que votámos.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“A beleza, para ser eterna, tem de durar pouco.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“O maior defeito de um velho é ter errado pouco na sua juventude.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“Os porcos gostam de lama, os burros de palha, disse-o Heraclito, e preferem-no ao ouro. Já os nossos senhores, os que regem os nossos destinos, preferem gastar o ouro para se transformarem em porcos. É uma verdadeira magia: gastam-se fortunas em banquetes para que todos os convivas, pessoas da nobreza, se portem como bácoros. Circe, quando transformou os marinheiros de Ulisses em porcos, usou provavelmente esta magia: sentou-os à mesa.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento
“Sempre achei que provar a existência de Deus era uma prova, isso sim, de estupidez. Se Deus precisasse, era porque não existia, e esta é a única prova da sua existência; não precisa de nenhuma. Por vezes, em sonhos, vem-me uma frase à cabeça, "Deus sive natura", que é como quem diz: olha-se para a Natureza e vê-se uma unha do Divino, olha-se para um pássaro e vê-se os lábios de Deus a passarem a língua pelos céus, olha-se para uma pedra e vê-se uma sobrancelha divina, olha-se para o mar e vê-se as nádegas do Senhor, Ele está em todo o lado, não é possível evitá-Lo.”
Afonso Cruz, Mil Anos de Esquecimento