A Gorda Quotes

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A Gorda A Gorda by Isabela Figueiredo
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A Gorda Quotes Showing 1-17 of 17
“Há pessoas que aparecem na nossa vida por uma porta que se abre, inesperada, e rapidamente desaparecem, engolidas por um alçapão escuro, sem que tenhamos tempo de perceber ao que vieram. Há sempre um motivo qualquer, que muitos anos depois conseguimos descortinar. Vieram satisfazer o nosso desejo de admiração alheia ou de beleza e entretenimento. Vieram possibilitar que conhecêssemos aluguem que também entrou e saiu, e foi importante, porque nos levou a um encontro especial, a um dia diferente, num lugar desconhecido, e nos proporcionou um passeio único, uma noite de beijos, riso e copos, ou uma amizade indestrutível, nesses minutos que a morte não consegue destruir. Ou alguém que ficou. Não há no mundo explicação para a entrada e saída de transeuntes e utentes pelas vidas uns dos outros.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Ainda não sou o que vim cá ser.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Do berço ao caixão precisamos de quem olhe por nós, nos guie e nos escute".”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“oriento-me entre aquilo que sonho e o que o destino me autoriza.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Fiquei pensativa o resto do dia, com um entusiasmo triste, como nos dias em que de repente nos acontece o que mais desejamos: um filho, um curso concluído com distinção ou um texto aprovado para publicação, não existindo com quem partilhar a satisfação de um «viste?!». A vitória dos solitários não tem testemunhas e torna a solidão mais só. Ninguém nos olha com orgulho. Ninguém nos dirige uma palavra de apreço. Estamos sempre iguais na solidão, sempre os mesmos, e é por isso que ignoramos os sucessos e nos concentramos no telejornal, como se não houvesse louça para lavar na bancada. E depois lavamo-la. De manhã. Ou à tarde. Depois.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“A culpa da morte de um amor impossível não haveria de ser pior do que a lucidez de o ter perdido.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Não terem acordado ao lado do objeto amado, não terem iniciado os gestos ou as palavras do amor não amputou a paixão. amaram na presença e na ausência. É assim que se faz. O amor não anda ao nosso lado, o amor anda à solta nos peitos, como um pássaro engaiolado. Adormece-nos. Desperta-nos. Faz-nos sair e voltar a casa. Chorar. Rir. E se isto não é viver, o que é a vida?”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Tirando a fantasia que nos arranca à escuridão parada dos dias sucedendo-se indistintamente, o que vale o tempo que nos foi dado ou que viemos procurar?”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“A compreensão é um castigo. Nunca mais se consegue ignorar a jaula nem o jugo.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Ganho assim o tempo necessário para o distanciamento e desapego, porque o que fica longe da vista se vai inexoravelmente afastando do coração.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Sonhei matá-lo, mas, em nome da sua paz, e do que para mim estava perdido, abdiquei do projeto. Não matamos. Aceitamos a derrota. Parece um filme reles, mas o amor é um filme de péssima qualidade.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Nessa ausência de luz precisava de lhe dizer a verdade pela primeira vez. Despejar o saco da frieza e do ressentimnto. Eu era uma miséria de mulher, um torpor, uma dor que já nem dói. Um farrapo de lã que já não aquece. Já não pretendia esconder-me do que tinha sido e fingir uma perfeição que não me assentava. Quebrava-me de novo fragmentos, com se quebra o vidro e as pessoas. E de cada vez que me quebrava não era possível voltar ao que tinha sido antes. E era asim há muito tempo.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“...afundo-me na terra de carne, sangue e fogo, até o cérebro sentir, ao fundo, cada vez mais perto, ao seu redor, uma emanação de dor opiácea, que se mostra e esconde, como o lume num isqueiro gasto que procuro acender. Sacolejando-me, procuro o ponto de ignição, vem coisa imaterial ao redor de mim, vem, e há um instante em que agarro essa névoa por um braço, perna, um farrapo, a agarro toda, a puxo com força, a seguro, tenho-a, prendo-a, e, mantendo-a, deixo-a rebentar no momento em que cruza inteira o tamanho do meu corpo, não sei em que direção, vai, não sei quem sou, não pertenço a lugar algum, sexo e cérebro são uma esfera de luz-prata na qual nos suspendemos por segundos, não mais, cegos, só dor luminosa no lugar do nada, ópio que não pode durar mais ou morremos, e está a ir, os restos tornam-se mais fracos, acaba, agora só a carne usada, dormente, deixando-nos moles, esgotados, humanos de novo, ofegantes, os dois corações pulsando um contra o outro, cada um em seu peito, ignorantes.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“A mamã ensinou-me a viver sozinha. Explicava-me, "nunca temos amigos. As pessoas estão de passagem, por interesses diversos. Quando o interesse acaba, desaparecem. Um dia precisarás mesmo de alguém, e perceberás que afinal não há uma alma disponível para te ajudar. A amizade não passa disto.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Estou só como no dia anterior àquele em que nasci, ainda na barriga da mamã, mas sem a conhecer e ignorando absurdamente a jornada que me esperava. Eu, mistério de carne insatisfeito. Eu, tempestade sobre as quatro estações. Eu, forte e fraca de tudo. Já não me espera a obrigação de vencer, de voar acima da miséria, da desordem e da aparência. Nada me espera, mas lembro-me de que ainda estou na vida. Obrigo-me a comer a sopa de feijão-verde repetindo esta ideia: tens anos para cumprir. Aguenta-te. Isto ainda vai melhorar.
E agora? A mesma pergunta, ciclo após ciclo. E agora? O que me resta sem eles, sem nada por que esperar, a que obedecer, respeitar, cuidar?! Sem amarras, sem âncora, sem desejo de fuga? Como é que se vive?!”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Estou aqui de passagem, é para seguir em frente, sou de ferro e ninguém me dobra. Em silêncio, sou sempre eu e o que em mim se compõe e apruma.”
Isabela Figueiredo, A Gorda
“Por vezes considero que perdi muito tempo, no passado, desgostando de mim, mas reformulo a ideia concluindo que o tempo perdido é tão verdadeiramente vivido na perdição como o que se pensa ter ganho na possessão.”
Isabela Figueiredo, A Gorda