Depois a louca sou eu Quotes
Depois a louca sou eu
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Tati Bernardi1,541 ratings, 3.69 average rating, 148 reviews
Depois a louca sou eu Quotes
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“Você que curte cocaína, ácido, MDMA… me explica: para que se sentir pilhado? Eu me sinto pilhada desde que nasci e… que cansaço, pelo amor de Deus. Jura que você precisa de algo “que te tire de você”? Que “te leve daqui”? Eu só quero algo que me devolva a mim. Que me deixe ficar sentada, quieta, calma. Cansei de ser o balão com uma carinha histérica desenhada, preso por uma cordinha fraca que depende da boa vontade de quem segura.”
― Depois a louca sou eu
― Depois a louca sou eu
“Como pouco, sinto pouco, nado raso, amo o superficial, bebo só as beiradas, belisco a vida. Tudo para me manter imaculada. Tudo para sentir o mínimo possível o mundano das coisas. Tudo para ser quase desumana de tanto negar a vida. Para negar minhas vontades de bicho. Para jamais me lembrar dele. Eu sempre fico com fome, eu sempre acordo antes de o sono acabar, eu sempre paro antes de o peito arrebentar, eu sempre sento antes de a pressão cair, eu sempre tenho prazer antes de sentir prazer. Eu sempre vou até onde é seguro. Eu tenho medo do meu abismo e da soltura do meu bicho. O que ele pode fazer comigo? O que ele pode fazer com você?”
― Depois a louca sou eu
― Depois a louca sou eu
“O embotamento consegue ser muito mais triste do que sentir tristeza.”
― Depois a louca sou eu
― Depois a louca sou eu
“Ensaio incalculáveis vezes, mentalmente, como vou pedir ajuda. “Taxista, eu tô tendo um ataque de pânico, você pode, por favor, ligar para meu plano de saúde e avisar para virem me retirar daqui com um helicóptero equipado com soro, Rivotril e crianças tocando harpa? Eu sei que isso não existe, mas, por favor, finja que está ligando.”
― Depois a louca sou eu
― Depois a louca sou eu
“São os fogos, acho, que deixam tudo com cara de “festejo solene e obrigatório”. Os fogos, quando não estamos comemorando, são como tiros de canhão no peito, lembrando como somos sozinhos e tristes e assustados. São como estouros de tímpanos porque nossa solidão e tristeza e susto não suportam os sons tão altos dos outros em solenes festejos obrigatórios.”
― Depois a louca sou eu
― Depois a louca sou eu
“Por que você ficou frio e sumiu e esqueceu e secou e matou e deletou e resolveu e foi? E você diz que está trabalhando e eu me sinto idiota. Me sinto esfolada viva pelo mundo. Me sinto enganada por anjos. Me sinto inteira uma enganação. Porque a gente estava, sim, se amando, mas você correu para levantar antes a bandeira do “se fodeu, trouxa, o amor não existe”. Justo você que eu escolhi para fugir comigo das feiuras do planeta. Porque você me emprestava a mão vendo TV e queria fazer camarões fritos para mim e escondia as meias suadas quando eu chegava antes do que você esperava. E você me perguntava o tempo todo se eu percebia como era legal a gente. E então, só para fazer parte da merda universal de toda a bosta da vida, você se bandeou para o lado do impossível e se foi e me deixou como louca, escondida no jardim da produtora, chorando, te perguntando para onde foi o amor. E você riu e disse: “mas eu só estou fazendo minhas coisas”. E eu me senti idiota e louca e chata, e isso foi muito cruel ainda que seja tão normal. Normal não me serve não encaixa não acalma.”
― Depois a louca sou eu
― Depois a louca sou eu
“Pode parecer papo de velha, e claro que a coisa piora com a idade. Mas eu já pensava essas coisas aos quinze anos. Eu sempre pensei essas coisas, desde que comecei a pensar coisas. Aos vinte viajei com um namorado para Ilhabela e ele estava realmente preocupado se no dia seguinte “ventaria mais ao norte”, ou algo parecido, para ele praticar kitesurf. “Olha bem pra minha cara”, eu queria dizer a ele. Eu estava preocupada se meus pais morreriam antes do Natal, mesmo ainda sendo eles muito jovens e saudáveis (e sendo ainda jovens e saudáveis até hoje). Estava preocupada se acordaria às quatro da manhã com um ataque intenso de pânico que inviabilizaria estar naquela pousada, namorar, tomar café, ter amigos, trabalhar, ser promovida, ser promovida de novo, ter um parto normal, ter mais um filho, ir passar o Natal na casa dos pais de um marido “x”, andar pelas ruas, fazer compras num supermercado, envelhecer na companhia de alguém, ter alguém próximo a mim no dia da minha morte, não sentir dor ao morrer, ter alguém que eu amasse muito e com quem pudesse ficar muito à vontade para gemer de dor e talvez estar meio suja e talvez precisar de ajuda para ir ao banheiro no dia que eu bem velhinha tivesse que morrer.
E ele preocupado com o vento de Ilhabela.”
― Depois a louca sou eu
E ele preocupado com o vento de Ilhabela.”
― Depois a louca sou eu
