O Luto de Elias Gro Quotes

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O Luto de Elias Gro O Luto de Elias Gro by João Tordo
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“As pessoas são feitas de porcelana, concluiu. Lascam com facilidade, instigam em nós a urgência de não as deixar cair. Partem-se em pedaços se as largamos. E esses pedaços são inconsoláveis. É impossível tornarmos a juntá-los e, se o tentamos, ficaremos para sempre a observar as rachas que inadvertidamente lhes causámos, cicatrizes que não passam. Por mais que as pessoas jurem que são feitas de outro material, acredite em mim quando lhe digo que são feitas de porcelana, da mais frágil e dispendiosa.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“Os pensamentos, como diabos à solta num quarto escuro e abafado, conduziam-me uma e outra vez à mesma conclusão, de que o homem transporta consigo o inferno, e de que o inferno não são os outros mas nós mesmos, quando entregues às nossas ideias mais acérrimas, às nossas intransigências mais cruéis, às nossas dúvidas mais corrosivas.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“Repetimos essas frases muitas vezes, não é?
Que frases?
Tenho de ir. Estou com alguma pressa. Tenho coisas para fazer.
Não percebo.
Parece que o lugar onde estamos nunca é suficientemente agradável. Deixa-me lá ver se acolá se está melhor. E, quando lá chegamos, percebemos afinal que a vida estava a acontecer onde estávamos. Mas agora já estamos acolá e não podemos regressar, porque a vida também acontece acolá.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“Sei agora o que nunca soube – que o amor encontra o seu estado mais puro quando julgamos que o fim chegou; finalmente entendo que o amor pode ser precisamente essa ausência, o deixar de estar, ser capaz de apreciar cada minuto da nossa memória como se segurássemos, entre as mãos, um punhado de brasas num deserto de gelo.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“O louco não é o homem que perdeu o juízo, mas sim o homem cujo juízo suplantou tudo o resto. O louco é aquele que vê causas em tudo, e essas causas remontam a outras causas, e a outras ainda mais distantes, e cada uma dessas causas suscita uma dúvida ou ramifica-se imparavelmente. O Diabo continua a rir-se. O outro caminho que podemos seguir é aquele que silencia e que aquieta os demónios. Não foi por acaso que Bosch ou Bruegel ou Goya pintaram o Inferno como uma amálgama de corpos lancinados e pungidos, de bocas abertas, gritando, implorando e rugindo. São as vozes dentro da nossa cabeça, aquelas que não se calam quando tentamos abarcar o infinito. Não fomos feitos para saber tanto, nem tão pouco. Fomos feitos para aprender a silenciar essas vozes que nos enlouquecem. No fundo, nem precisamos de Deus. Precisamos de alívio. Deus, Alívio. Pouco importa o que lhe chamam.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“E, ainda assim, Ele safa-se sempre. Sempre. Quando a harmonia desce sobre o mundo, é obra Sua. Mas, quando a desgraça se abate, a culpa é nossa. É porque nos falta fé. Falta-nos esperança. Carecemos da humildade necessária para compreender os seus desígnios. Deus escreve direito por linhas tortas. É a desculpa mais esfarrapada de todos os tempos. Destes todos e dos que hão-de vir depois destes.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“Pensei que me apetecia estar numa barcaça à deriva no oceano ou pendurado de um satélite pelo cós das calças. Qualquer lugar onde eu não estivesse; a velha contradição humana.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“Procurava a fé; essa palavra que significa tudo e não significa nada, essa palavra que abraça o crente num cobertor morno, que transforma os homens, mas deixa intacto o mundo.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“Ela afastou ligeiramente o cobertor; um assomo de raiva perpassou-lhe o olhar, endurecendo o rosto, que, a cada dia que passava, ia assumindo os seus contornos adultos. Era a dor; a dor arranca-nos à infância como se arranca uma flor do caule.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro
“Se tu morresses eu ficava triste.
Porquê?
Porque fazes parte da minha história.
Alerta, a membrana rechaçou o sentimento, protegendo-me. Deixei que o corpo se afundasse no sofá e, mesmo que uma espécie de ternura suplicasse por se mostrar, num sorriso ou numa lágrima, limitei-me a resmungar palavras inaudíveis e continuei a ler.”
João Tordo, O Luto de Elias Gro