ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA Quotes

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ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA by Baltasar Gracián
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“299 - Deixar com fome.
Há de se deixar nos lábios o néctar. É o desejo a medida da estima: até a material sede é ardil de bom gosto aplacar, mas nunca acabar. O bom, se pouco, duas vezes bom. É grande o interesse da segunda vez: saciedades de agrado são perigosas, que ocasionam desprezo a mais eterna virtude. Única regra do agradar: aguçar o apetite com a fome que ficou. Se for para irritar, que seja antes por impaciência do desejo que por tédio da fruição: a espera faz o prazer dobrado.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
tags: fome
“284 - Não ser intrometido.
E não serás ofendido. Estime-se, se quiser que te estimem. Seja antes avaro que desprendido de si. Chegues desejado e serás bem recebido. Nunca venha senão quando chamado, nem vá senão quando enviado. O que se empenha por si, se erra, carrega todo o ódio sobre si; e se acerta, não consegue o agradecimento. É o intrometido objeto de desprezo, e assim como se intromete sem pudor, é descartado em burburinho.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“282 - Valer-se da ausência.
Para o respeito ou para a estima. Se a presença diminui a fama, a ausência a aumenta. O que ausente foi tido por leão, presente foi ridículo camundongo. Desgastam-se as virtudes pelo atrito, porque se vê antes a crosta do exterior que a muita substância da alma. A imaginação domina a vista e o engano, que entra pelo ouvido, e vem sair pelos olhos. Aquele que se conserva discreto, conserva a reputação. Mesmo a Fênix se vale do retiro para o decoro e do desejo para o apreço.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“270 - Não ser o único a condenar o que a muitos agrada.
Algo há de bom, pois satisfaz a tantos; e ainda que não se explique, se goza. A singularidade sempre é detestável e quando errônea, ridícula. Antes se desacreditará teu mau conceito que o objeto; ficarás só com o teu mau gosto. Se não sabe topar com o bom, dissimule sua pequenez e não condene a maioria, que o mau gosto ordinariamente nasce da ignorância. O que todos dizem ou é ou quer ser.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“212 - Guarde sempre os truques de sua arte.
É de grandes mestres, que se valem de sua sutileza ao ensiná-la. Conservam deste modo maestria e superioridade. Deve-se ir com arte para ensinar arte; nunca se há de esgotar a fonte do ensinar, bem como a de dar. Com isso se conserva a reputação e a dependência. No agradar e no ensinar se há de observar aquela grande lição de ir sempre cevando a admiração e elevando a perfeição. A discrição em todas as matérias sempre for grande regra do viver e do vencer, e muito mais nas ocupações mais sublimes.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“181 - Sem mentir, não dizer todas as verdades.
Não há coisa que requeira mais tato que a verdade, que é um sangrar-se do coração. Tanto importa sabê-la dizer como para sabê-la calar. Perde-se com uma só mentira todo o crédito da inteireza. É tido o enganado por falto e o enganador por falso, que é pior. Nem todas as verdades se podem dizer: umas porque me importam e outras porque ao outro.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“172 - Não rivalizar com quem não tem o que perder.
É combater com desigualdade. Entra o outro com desembaraço porque traz até a vergonha perdida; rematou com tudo, não tem mais o que perder, e assim se arroja a toda impertinência. Nunca se há de expor a tão cruel risco a inestimável reputação; custou muito a ganhar e vem a perder-se em um ponto de um pontilho. Um sopro congela o honrado suor. O homem de obrigações tem sempre muito que perder. Olhando por seu crédito, olha pelo contrário e como se empenha com atenção, proceder com tal detenção dá tempo à prudência para retirar-se com tempo e cobrar o crédito. Nem com a vitória se chegará a ganhar o que se perdeu com o pôr-se a perder.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“160 - Falar com cautela.
Com os rivais por cautela, com os demais por decência. Sempre há tempo para enviar a palavra, mas não para voltar atrás. Há-se de falar como em testamento, que para menos palavras, menos pleitos. No que não importa se há de ensaiar para o que importa. Há algo de divino no mistério. A fala leviana perto está de ser vencida e convencia.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“158 - Saber usar dos amigos.
Há nisto a arte de ser discreto. Uns são bons para a distância e outros para a proximidade; e o que talvez não é bom para conversação o é para correspondência. Purifica a distância alguns defeitos que eram intoleráveis na presença. Não só há de se procurar o deleite, senão a utilidade. Um amigo é tudo e há de ter as três qualidades do bem: único, bom e verdadeiro. Poucos são os bons amigos, e o não sabê-los eleger os torna raros. Sabê-los conservar é mais que fazê-los amigos.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“105 - Seja breve.
Costuma ser enfadonho o homem insistente. A brevidade é lisonjeira e melhor negociante; ganha pelo cortês o que perde pelo curto. O bom, se breve, duas vezes bom. E ainda o mau se pouco, não tão mal.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA
“4 - O Saber e a coragem se alternam na grandeza.
Porque são imortais, levam à imortalidade; és o quanto sabes, como o sábio tudo pode. Homem sem saber, mundo às escuras. Percepção e força, olhos e mãos. Sem coragem é estéril a sabedoria.”
Baltasar Gracián, ORÁCULO DE BOLSO E ARTE DA PRUDÊNCIA