Cómo trabaja un psicoanalista Quotes

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Cómo trabaja un psicoanalista Cómo trabaja un psicoanalista by NASIO
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“Que diferenças o sr. vê entre as intervenções de um jovem terapeuta e as de um analista experiente?
Poderíamos apresentar assim a evolução das intervenções de um jovem terapeuta:
1. Ele interroga
2. Reformula com outras palavras
3. Amplia o sentido do que foi dito
4. Coteja o que acaba de ser dito com ditos precedentes
5. Repete uma palavra, enfatiza
6. Dá um tema de reflexão para a sessão seguinte
7. Detecta as alusões à situação analítica
8. Completa uma frase do paciente deixada em suspenso
9. Não interpreta, ou interpreta muito pouco
10. Não precede o paciente, não antecipa o que ele vai dizer
11. Não sabe o que procura.
O último ponto caracteriza mais um estado de espírito do que uma intervenção.”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista
“Então, que diferença há entre psicoterapia e psicanálise?
Primeira resposta: um psicoterapeuta não diria que aceita o risco, a atitude de fazer parte de um novo estado mórbido, por exemplo. Além disso, a posição que ele adota é como se esse psicoterapeuta já se situasse na posição do objeto a, enquanto o analista não se situa de início na posição do objeto a. Ele não começa por ali. Ele se situa primeiro em posição de véu, ele se reduz, se reserva, se faz pequeno. No início de uma sessão, ele não diz: “Fale comigo!”, ele diz: “Sim, estou ouvindo, estou escutando”. Mas na verdade “estou escutando” é o único fragmento do objeto “a” que existe para que, logo, ele se converta em véu desse objeto.
Vamos precisar um ponto: o véu do objeto não é apenas o silêncio. Fazer silêncio é a maneira mais certa, mais simples que esse véu adota. Mas há outras maneiras que só se adquirem com a experiência, para que um analista possa estabelecer um tratamento particular com o seu analisando, conservando ao mesmo tempo esse lugar de véu do objeto. Isso faz parte da experiência e da prática.
Evidentemente, o paradigma desse véu é o silêncio. O silêncio é a maneira mais simples, mas também a mais prudente, mais correta, e principalmente mais simples de pensar esse véu. Há outras, muito mais ativas e muito mais delicadas de manejar, que também existem. Por exemplo, o tom da voz, o modo de dizer uma interpretação, como, por exemplo, o modo de fazer uma intervenção explicativa e ampla nos afasta desse lugar.
Mas pode acontecer que um analista, com uma certa experiência de confrontação com esse lugar, possa falar com o analisando depois que este se levantou do divã e, entretanto, não perder esse caráter de enigma do desejo do analista.”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista
“O que é o desejo do analista? É o lugar do objeto recoberto pelo véu de um falo imaginário, opaco e enigmático. É isso o desejo do analista.
A expressão “desejo do analista” não quer dizer o desejo da pessoa do analista. Não é o desejo de tornar-se analista. A expressão “desejo do analista” é uma expressão estrutural. É o lugar do objeto recoberto pelo véu de um enigma. É o objeto apresentado sob sua forma enigmática. É só com essa condição que o analista poderá ocupar esse lugar. Isso quer dizer que todo o seu comportamento — a maneira como faz o paciente entrar, como fala com ele, as palavras que usa para fazer as suas intervenções, a duração destas, o tom de sua voz etc. — contribui para que o analista venha ocupar esse lugar. E é ocupando esse lugar que automaticamente ele institui, sem saber e sem perceber, o grande Outro, o referente, o interlocutor dos novos sintomas que vão aparecer e que vão trazer a significação transferencial.
O analista veste o objeto com o mistério do seu silêncio e da sua recusa, para fazer sentir e lembrar que o objeto é sempre insatisfação. Façamos silêncio em nós, aproximemo-nos do objeto insatisfatório da pulsão, aproximemo-nos da sua imagem enigmática e faremos aparecer o grande Outro. Faremos surgir a autoridade, faremos aparecer o grande Outro referente, instituiremos a autoridade do Sujeito Suposto Saber. Essa autoridade existe em qualquer terapia. Um psicoterapeuta é uma autoridade para o seu paciente, e esta existe qualquer que seja a terapia, mas é somente na psicanálise que essa autoridade, essa dimensão do grande Outro, interlocutor dos sintomas portadores da significação transferencial, nasce graças ao comportamento técnico de um operador, de um prático que sabe evocar a natureza opaca do objeto.
O analista assume pois ter que ocupar esse lugar e, como primeiro efeito, produz-se a instituição do grande Outro, do Sujeito Suposto Saber, da autoridade. Segundo efeito importante sobre o analisando, desta vez: se o analista ocupa esse lugar do enigma, faz silêncio em si, vai exercer sobre o analisando uma certa sedução. O analista vai seduzir, mas seduz de modo diferente do histérico: vai seduzir e vai suscitar no analisando o aparecimento de novos sintomas que trazem a marca da transferência.”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista
“Não posso descrever toda a teoria da pulsão, mas sabemos que a pulsão permanece, por natureza, insatisfeita. Não existe objeto que satisfaça a pulsão. A pulsão quer sempre satisfazer-se, mas nunca se satisfaz. Pois bem, é preciso que o analista ocupe, se aproxime para dar a expressão imaginária, o véu imaginário desse objeto. Se o analista procura se aproximar o mais possível desse objeto, da expressão imaginária desse objeto, então automaticamente ele institui, quase sem saber, sem procurar, a dimensão muito importante de um grande Outro, interlocutor das mensagens que o analisando lhe dirige. É na medida em que o analista vem a encarnar essa expressão imaginária do objeto que automaticamente, sem que ele procure, ele se institui como um grande Outro interlocutor, para quem vão se dirigir as demandas, as mensagens do analisando.”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista
“O que vocês pretendem dizer quando afirmam que a significação transferencial desses sintomas seria uma significação fálica? Isso quer dizer que esses sintomas vão ser conotados com um sentido sexual, transferencial e sexual. Ao invés de dizer “transferencial e sexual”, dizemos mais precisamente, como Lacan: uma significação fálica. A palavra “fálica” vem marcar de modo mais rigoroso o que chamamos de natureza sexual.
Em resumo, poderíamos dizer que a diferença entre as neuroses de transferência e as neuroses narcísicas vai atuar não só no nível matricial, mas também no nível da significação. Nas neuroses narcísicas, isto é, a melancolia, a paranóia, a esquizofrenia, não há significação fálica. Nas neuroses de transferência, isto é, a histeria, a fobia, a obsessão, os sintomas são conotados com um sentido transferencial e sexual.”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista
“Uma coisa é a demanda de amor ser inaceitável; outra é senti-la, experimentá-la, fazer a experiência de ter que revelar o ponto central, o núcleo do Eu, isto é, o ponto no qual o objeto enquanto tal aparece na superfície.
É o que, na teoria lacaniana, se pode chamar de “falta a ser”. O sujeito, o analisando, é confrontado não só com a inaceitabilidade da demanda de amor, mas também é confrontado com a falta a ser. Isso quer dizer que o seu ser é uma falta, que seu verdadeiro ser na análise não é ele, o seu Eu: é o que jaz no Eu. O que jaz no centro do Eu é uma falta. É um ponto fundamental, enigmático. É um ponto central, aquele que chamamos habitualmente, na terminologia lacaniana, de objeto “a” ou objeto de Gozo.
Nesse momento de seqüência transferencial, nesse momento fecundo, o analista deve silenciar. Deve fazer silêncio e, como sabemos, há várias formas de silêncio. O analista deve fazer “silêncio-em-si” para fazer surgir o Grande Outro. É nesse momento que o analista faz com que surja o Grande Outro. Para que ele surja, é necessário que o analista faça silêncio em si. Se o analista faz ativamente silêncio em si, é ele que dirige o tratamento. Se não o faz, ignora quem”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista
“O amor” — conhecemos a definição de Lacan — “é dar o que não se tem”. Dar o que não se tem quer dizer simplesmente prometer. Dou o que não tenho, quando prometo. Durante esse período, o analisando vive na expectativa dessa promessa aberta, desse amor aberto que a análise significa. Não é uma demanda de amor ao analista. O analista não é o objeto de amor nesse momento. É uma demanda de amor no sentido de uma fala em expectativa. Essa demanda de amor se manterá enquanto o analisando não descobrir que, finalmente, é uma demanda inaceitável. Enquanto isso, a sugestão se instala.”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista
“O que quer dizer “retificação subjetiva”? Isso significa que intervimos no nível da relação do Eu do sujeito com os seus sintomas. É por isso que, quando da primeira entrevista, e particularmente nas seguintes, parece-me essencial (e insisto muito nesse ponto) discernir bem o motivo da consulta, a razão pela qual o paciente decidiu recorrer a um psicanalista. Eu não deveria dizer “recorrer a um psicanalista”, mas “recorrer a um terapeuta”. Porque, se o paciente solicita uma consulta e se já consultou um psiquiatra, por exemplo, outro psicanalista, ou mesmo se, na infância, seus pais o levaram a um médico, o que importa é o primeiro momento no qual ele veio consultar ou que o levou a consultar.
Em outras palavras, o sentido, isto é, a relação do Eu com o sintoma, se decide principalmente na relação com o primeiro gesto, com a primeira decisão de recorrer a um outro. É nesse nível que vamos intervir, produzir, introduzir essa retificação subjetiva.
Sempre digo que, na primeira entrevista, há uma demanda maciça por parte do paciente. E é no fim dela que tenho o hábito de lhe dizer: “Bem, vamos parar por aqui a nossa conversa, mas antes eu gostaria de lhe dar a minha impressão, com todos os riscos que isso implica, já que eu não o conheço.”
O que significa “a minha impressão”? “Minha impressão” quer dizer dar uma resposta, que consiste em restituir ao paciente alguma coisa da relação que ele tem com o seu sofrimento. Isso é intervir sobre o próprio ponto em que ele o explica, e é levar em conta a maneira pela qual ele o faz, a teoria que ele tem sobre isso, o porque do seu sofrimento e como ele sofre.”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista
“É preciso dirigir o tratamento. É preciso assumir inteiramente esse papel e, ao mesmo tempo, saber que o objetivo que queremos perseguir, não o atingiremos dirigindo o tratamento. Nós o atingiremos fora dessa direção, fora dessa técnica. Com Lacan, diríamos: ocupar o lugar do semblante do domínio, isto é, o lugar do semblante da direção, o semblante de ser o mestre, sem esquecer que se trata apenas de um semblante. É então que haverá para nós uma ocasião de sermos tocados por uma verdade que seja, ao mesmo tempo, uma verdade para o analisando.”
Juan-David Nasio, Cómo trabaja un psicoanalista