As Coisas Que Faltam Quotes

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As Coisas Que Faltam As Coisas Que Faltam by Rita da Nova
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As Coisas Que Faltam Quotes Showing 1-17 of 17
“Nunca consegui perceber as pessoas que gostam de tudo: na minha cabeça, gostar de tudo é não gostar verdadeiramente de nada. Só quem gosta muito de alguma coisa, por exemplo, de bolo de chocolate, sabe que vale a pena deixar outros bolos de lado. Quem gosta genuinamente de bolo de chocolate sabe que esse bolo, por ser melhor, tem a capacidade de anular os outros - não vale a pena usar as papilas gustativas com bolos assim-assim, quando já se provou o melhor.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Eu tinha a mania, talvez até mesmo o vício, de rever os acontecimentos, sobretudo os tristes, até os conhecer de trás para a frente e de frente para trás. Entrava numa espiral de repetição, como se tivesse uma nova música favorita e a ouvisse sem pausas e sem a intercalar com outras sonoridades.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Somos todos pessoas incompletas a tentar ser um bocadinho menos incompletas a cada dia.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“O que eu ainda não sabia, mas viria a perceber com o tempo, é que o significado dessa palavra - casa - pode alterar-se de um momento para o outro. Ou, pior, pode ir mudando sem que nos apercebamos.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Os caminhos mais diretos e menos tortuosos raramente nos agradam, talvez por parecerem feitos de uma falsa simplicidade.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Apesar disso, tinha dificuldade em usar verbos no passado para falar sobre ele, mas era-lhe ainda mais doloroso perceber que nunca mais poderia conjugá-los no futuro.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Engraçado como o vazio consegue ser tão pesado. Achar-se-ia que não, já que o vazio é só ar, e o ar é só nada, e o nada não existe, logo não pesa - mas só quem se habituou a esperar sabe reconhecer essa pressão, que nos impede de respirar como deve ser.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Cheguei à conclusão de que a minha solidão era inevitável, uma condição com que tinha nascido. Fazia parte de mim como uma daquelas doenças que não matam, mas também não têm cura. Era crónica, no fundo.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Senti-me a atravessar um espelho, a viver agora uma realidade alternativa à minha, onde tudo acontecia do lado oposto. E se tudo acontecia assim, num reflexo contrário, eu esperava que a minha tristeza começasse a transformar-se em felicidade, que a minha solidão deixasse finalmente de existir para dar lugar a algo que eu ainda não conhecia, nem conseguia imaginar, mas que tinha a certeza de ser bom.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Não podia fazer outra coisa senão rever o encontro telefónico da noite anterior e foi isso mesmo que fiz: assim que terminava de recordar a nossa conversa, rebobinava as memórias e escrutinava-as, tentava pegar nelas de outro ângulo, como se a conversa com o meu pai fosse um daqueles cubos que é preciso virar e revirar até que as faces fiquem todas da mesma cor.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“O comboio avançava pela linha a toda a velocidade, mas a minha cabeça tinha ficado parada nas primeiras palavras que trocara com o meu pai; não apenas nas palavras, mas na entoação que lhes tinha dado, nos silêncios, nas coisas que não disséramos um ao outro. Analisando melhor, provavelmente haveria até mais significado no não dito do que nas parcas palavras que me dirigiu.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Ela sabia que nem toda a gente se pode dar ao luxo de trabalhar para viver, por vezes, na maioria das vezes até, a única hipótese que nos dão é a de viver para trabalhar.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Os dias avançavam indistintamente, como aquelas ondas pequeninas na praia, depois da rebentação, que se completam e quase parece que estão a jogar à apanhada umas com as outras, só que nunca conseguem chegar a tempo de tocar na da frente.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Cada pessoa tem a sua experiência neste parque e eu parecia estar destinada a uma montanha-russa de emoções - num momento estava eufórica, logo a seguir ficava profundamente triste. Tão depressa me sentia no sítio certo, como, de repente, o espaço e as pessoas deixavam de me soar bem, algo no ar me dizia que eu não encaixava ali.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Curioso como tínhamos tanto cuidado com os objetos e símbolos da nossa convivência, mas tão pouco com a nossa relação.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Olhei para a árvore delineada, com quadradinhos para colocar os nomes, já tudo tão esbatido por conta das inúmeras fotocópias. Dezenas, centenas, quem sabe milhares de árvores iguais, como se as florestas não fossem mais do que um conjunto interminável de famílias inteiras, todas iguais e todas felizes. E, lá pelo meio, a minha: um galho caído no chão com duas folhas secas.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam
“Demorei alguns segundos a começar, as primeiras palavras saíram-me um pouco enferrujadas, como se a minha boca fosse uma torneira que estivera fechada durante anos. Tive sempre esta dificuldade: as coisas pareciam muito direitas na minha cabeça, as frases seguiam-se com sentido numa coreografia bem engendrada, mas baralhavam-se nos passos mal eu lhes abria a porta para o exterior.”
Rita da Nova, As Coisas Que Faltam