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Perversões
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Discussões > Porque não devolver os livros com gralhas?

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João (joaomaximo) | 7 comments Acabei de enviar o email abaixo ao Círculo de Leitores em relação à edição de "Perversões" que comprei recentemente. Não vos parece que os livros deveriam poder ser devolvidos quando têm defeitos (gralhas, traduções más, etc.) tal como devolvemos uma TV ou um telemóvel que tenha defeitos de fabrico?

Exmos Srs.,

Comprei recentemente a 1ª edição de "Perversões" de Jesse Bering publicado pelo Círculo de Leitores.

Ao contrário da qualidade a que estou habituado no Círculo, esta edição tem tantas gralhas e uma tradução tão deficiente que é impossível compreender o conteúdo de parágrafos inteiros, o que perturba fortemente a compreensão do texto e a fluência da leitura de um livro cujo conteúdo parece ser muito interessante.

Alguns exemplos ao acaso:
p. 101 "A sua paciente tinha um marido bastante mais velho cujas ereções pouco firmes, segundo confessou a Storer, e que não conseguiam satisfazer-lhe o desejo sexual, que era insaciável." (faltará um verbo?)
p. 106 "do relato a respeita da categoria" (a respeita?)
p. 112 "numa tarde de um verão opressivamente quente em 1874" (houve mais do que um verão em 1874?)
p. 117 "Por se turno, apesar de..." (se ?)
p. 120 "A exorbitância sexual de uma pessoa é a lenta manhã de segunda-feira" (significado?)
p. 121 "a TSO média era 2,5. (Não que isso não aconteça mas repare o leitor nos 0,5 que não representam um meio orgasmo.)" (talvez seja: repare que os 0,5 não representam?)
p. 136 "Os pormenores continua a ser um mistério" (continua?)
p. 136 "vejo-me entregue a um campo abandonado de enfermarias geriátricas" (entregue a um campo abandonado?)
p. 191 " nesta paisagem história" (?)
p. 194 "independentemente do facto de um desvio sexual de alguém pode ser danoso para outra pessoa" (pode?)
p. 283 "julgo que este pénis, em particular, nunca tomará conhecimento com o interior de uma vagina" (tomar conhecimento com?)
p. 285 "que ele descreve como «pessoa heterossexual», normal e casada com um negócio independente só seu." (casada com um negócio?)
p. 286 "O nosso próprio Iluminismo é o andamento sem precedentes a que hoje avança a ciência da sexualidade humana" (o andamento a que avança a ciência?)
p. 286 "perante o dilúvio de factos que vai caindo." (um dilúvio em queda?)
p. 287. "como nenhuma sociedade e aventurou, alguma vez que fosse" (e aventurou?)

Face a esta edição defeituosa, venho solicitar que me indiquem se as gralhas e os problemas de tradução foram corrigidos numa edição posterior? Se sim, gostaria de saber como poderei trocar o meu livro por um livro sem defeitos?

Cumprimentos,



message 2: by Daniel (last edited Aug 08, 2017 02:51PM) (new)

Daniel | 2 comments Em primeiro lugar, embora aprecie particularmente o trabalho da editora Temas e Debates, confesso que há obras traduzidas, cujas gralhas superam a inteleção geral de um texto, na medida em que carecem de revisão aturada, antes de entrar no prelo, conforme é o caso do ensaio Porque não existe o mundo, de Markus Gabriel. Em segundo, enquanto aspirante a semiólogo, por formação própria, compreendo, sem embargo, quais a vicissitudes conjunturais em que podem, pois, surgir determinados quiproquós. Em boa verdade, uma tradução destra não se cinge a uma mera paráfrase, constituindo, ao invés, uma laboriosa filigrana que compele, o mais das vezes, à investigação criteriosa, que subjaz, enquanto fundamento pré-empírico, a toda a matriz textual. Todavia, tendo em conta a dimensão do mercado editorial português, bem como à financeirização de setores culturais, afora as derivas dialetais, que contrapõem, amiúde, à estrutura escorreita de uma língua a sua tortuosa simplificação, é já useiro e vezeiro que se não consigne, tampouco, azo, no sentido da execução de um trabalho de excelência, ao tradutor, que se vê sempre a braços com uma pletora de obras que lhe cumpre verter para português, a fim de garantir os seus meios de subsistência. De uma forma geral, para que se concretize o desiderato expresso por vossa excelência - desculpe-se-me o empolamento político - é imperioso que não submetamos o setor livreiro aos corruptos interesses do capital, pondo a prémio, em Pelourinho, os nossos tradutores, senão buscar o salvo-conduto que as profissões intelectuais impetram - não se depreenda, por deferência, desta última asserção uma diametral aquiescência aos princípios comunistas.


João (joaomaximo) | 7 comments Daniel wrote: "Em primeiro lugar, embora aprecie particularmente o trabalho da editora Temas e Debates, confesso que há obras traduzidas, cujas gralhas superam a inteleção geral de um texto, na medida em que care..."

Olá, Daniel. O meu desiderato é apenas o de questionar porque é que nós, os leitores, aceitamos transações comerciais em que pagamos o preço que nos é pedido e recebemos em troca, sem protestar, um produto defeituoso. Se fosse uma TV que não sintonizasse ou um bolo com bolor, não ficávamos tranquilamente resignados como ficamos com um livro mal traduzido e cheio de gralhas.


João (joaomaximo) | 7 comments ATUALIZAÇÃO:
Recebi um email de resposta automático do Círculo de Leitores. Estão de férias e só regressam no dia 16...


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