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Margaret Atwood
This topic is about Margaret Atwood
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Discussões de 2013 > A história de uma serva / The handmaid's Tale: Discussão dos cap. 1 a 12

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message 1: by Telma_Txr (new)

Telma_Txr (telmatxr) | 133 comments Mod
Fica aberto o tópico para deixarem as vossas primeiras impressões sobre o livro.


message 2: by Ana (new)

Ana (ana_a) | 18 comments Posso deixar uma recomendação? Quem não gostar de spoilers, decididamente não pode ler a sinopse. Tenho por hábito só ler as sinopses depois de ler o livro, e neste caso fiquei extremamente feliz. Simplesmente porque aquilo que me dava pica para ler o livro estava explicado na sinopse.


message 3: by Telma_Txr (new)

Telma_Txr (telmatxr) | 133 comments Mod
Ana wrote: "Posso deixar uma recomendação? Quem não gostar de spoilers, decididamente não pode ler a sinopse. "

Ooops?!


message 4: by Telma_Txr (new)

Telma_Txr (telmatxr) | 133 comments Mod
Então aqui vão as minhas impressões sobre os 12 primeiros capítulos.

Nunca tendo lido nada da Margaret Atwood até ao momento estou a gostar imenso da escrita dela. Adoro a forma como ela interliga o passado e o presente. Tudo é muito vivido e visual.
Gosto da forma como o mundo distópico nos é revelado a pouco e pouco e dos flashbacks do tempo do "antes". Também estou a gostar imenso de ser contado na primeira pessoa. Gosto da voz dela.
Há mais perguntas do que respostas que se levantam neste início de historia:
- O que deu origem aquele regime de sociedade?
- Porque é que ela está viva?
- Porque é que não tenta fugir?
- Porque é que há mulheres (azuis) se aparentemente são irrelevantes?
- Porque é que não são todas "econowifes"? (estou a ler em inglês)
Estou fascinada em perceber em que ponto é que ela "quebrou" e aceitou a sua nova realidade com a passividade com que ela agora demonstra.


message 5: by Telma_Txr (new)

Telma_Txr (telmatxr) | 133 comments Mod
Há outras questões que esqueci-me de mencionar ontem à noite e que se prendem com o tema central do livro. É óbvio que a nossa "serva" tem uma função reprodutora mas mesmo assim é impedida de ser sexual ou desejável. No entanto, por ser obviamente, aos olhos de todos, fértil (as roupas vermelhas são como um enorme farol) acaba por incitar o desejo no sexo masculino e a inveja e raiva no feminino que é estéril.


message 6: by Ana (new)

Ana (ana_a) | 18 comments Telma wrote: "Então aqui vão as minhas impressões sobre os 12 primeiros capítulos.

Nunca tendo lido nada da Margaret Atwood até ao momento estou a gostar imenso da escrita dela. Adoro a forma como ela interliga..."


Lembro-me que a pergunta que me surgia constantemente no início era "Como é que aquela sociedade chegou àquele ponto? Como é que deixaram?" e fazia-me imensa impressão aquela impassividade apesar de se notar que, no fundo, ela era uma lutadora.


message 7: by Carla (last edited Sep 19, 2013 01:36PM) (new)

Carla (carlaribeiro) | 10 comments Não vou entrar muito em pormenores, porque já li o livro todo e, como não tenho bem presente o que acontece nos primeiros 12 capítulos e o que acontece depois, não quero spoilar ninguém. Mas, e já disse isto a toda a gente com paciência para me aturar, adorei o livro e há algumas coisinhas que gostava de discutir.

Antes de pegar neste livro, falaram-me nele como uma das grandes distopias. E, como o meu cérebro é um lugar estranho, fez logo uma associação ao 1984. Por isso eu estava à espera de um livro muito bom... mas denso. Vai daí, começo a ler e a primeira coisa que me impressionou neste livro é que não só não é nada denso, como tem um ritmo viciante. Bastaram as primeiras páginas para ficar agarrada à leitura.

Outra coisa que me viciou desde o início é que as regras do sistema não são todas conhecidas à partida e há muita coisa a ser revelada aos poucos, mas há coisas para questionar desde os primeiros capítulos. A autora relaciona muito a sociedade que apresenta e a sociedade anterior, e isso cria um contraste arrepiante. Dava por mim a perguntar-me como seria estar na pele da protagonista e como seria viver assim.

E isso é outra coisa que marca. Não sei se é pela escrita - que acho lindíssima, mesmo nos momentos em que não é lá muito elaborada - se é mesmo pelas circunstâncias, é aterradoramente fácil sentir uma ligação com a protagonista e entrar mentalmente na posição dela. E isso transmite sentimentos tão contraditórios - ora vejo a Defred como indefesa, ora como cheia de vontade de lutar - que fica sempre uma vontade enorme de saber mais sobre o que vem a seguir.

E a sociedade em si, tão bem construída. A ligação ao fundamentalismo religioso, com todas aquelas referências bíblicas, a questão do papel da mulher, o controlo exercido sobre as pessoas... Tudo tão bom.


message 8: by Diana Marques (new)

Diana Marques | Papéis e Letras (diana_papeiseletras) | 162 comments Mod
Finalmente venho comentar este livro! Comecei a ler mais tarde, mas já acabei esta primeira parte até ao capítulo 12.
Tinha algumas expectativas em relação à escrita da Margaret Atwood, porque adorei o estilo dela em Oryx and Crake. Isto foi uma coisa que se confirmou. Nesta parte, conseguimos perfeitamente sentir o clima de desconfiança, medo, opressão onde vive a protagonista. Ainda estamos a tomar conhecimento desta sociedade distópica, temos "flashbacks" da vida como era antes através de algumas memórias que a protagonista (ainda não sabemos o nome dela) tem, mas ainda sabemos pouco.
Achei interessante a completa desumanização do processo de reprodução humana. Porque é um processo. Aquela cena de ela ser examinada pelo médico, geez... Ir ao ginecologista já é aquela coisa meio desconfortável, então sendo completamente despersonalizada, até mete medo. Achei até interessante a expressão dela a dizer que a cara estaria tapada, o que o médico vai examinar é somente um torso. Não uma pessoa.
Não é a mulher que interessa enquanto pessoa, enquanto indivíduo com personalidade e sentimentos. É o corpo dela que é importante porque é ela que gera vida que, pelos vistos, é escassa. As mulheres que engravidam, inclusive, são vistas com inveja.

Estou a gostar bastante desta perspectiva, das interrogações que a protagonista faz e da sua voz que narra esta história. É interessante ver alguns simbolismos que Atwood inclui na narrativa, nomeadamente o uso das cores para identificar cada "género" de mulher. Estou muito curiosa para saber o que aí vem e para saber quem é/era o Luke.


message 9: by Carla (new)

Carla (whitelady) | 68 comments Mod
Como já toda a gente antes de mim, estou a achar interessante a forma como conhecemos o mundo, um pouco de cada vez, conforme o que a personagem principal vai vendo, experimentando e sobretudo relembrando. Achei interessante também não só a questão das mulheres de vermelho (isto lembra-me uma novela :D) serem para reprodução, como toda a sociedade ser sexualmente reprimida e verem nisso, nomeadamente a Aunt Lydia, uma protecção da própria mulher, pois assim não acontecem "coisas" como aconteceria antes, onde havia a tal "liberdade para" em vez desta "liberdade de".

Estou a gostar da escrita, já tinha tido alguns vislumbres com Oryx and Crake mas a altura em que o estava a ler não era a mais propícia e deixei a leitura a meio. Estou a ponderar voltar a ela. O diálogo interno é muito enriquecedor, revejo-me nalgumas passagens, talvez não tanto pelo conteúdo mas pela maneira como as coisas vêm a cabeça. Ver qualquer coisa relembra uma cena do passado ou um pensamento que aparentemente não tem nada a ver. Também é curioso a forma como parece estar dividido, entre actividades diurnas e noite, parecendo as últimas mais solitárias, mais propícias a relembrar o passado e a sentir a isolação.

Até ao momento está também a fazer-me recordar Os Despojados - uma utopia ambígua, pois se nos está a ser apresentado um país com regras morais rígidas, onde não há liberdade, em contraponto temos uma época anterior onde havia essa liberdade (sexual, de pensamento e até de movimento, a tal liberdade para praticamente fazer tudo) mas não havia segurança, coisas más aconteciam ainda que, tal como a personagem diz, pensasse que só aconteciam aos outros.

Quanto às mulheres de azul, não me parece que sejam irrelevantes. Até agora só vemos o azul em Serena Joy, que é velha, provavelmente já passou os seus anos férteis, mas é esposa e como provavelmente o divórcio não é permitido, tem de tolerar, digamos assim, as mulheres de vermelho pois os homens acabam por ser férteis até mais tarde. Também me parece haver uma estratificação social, nem toda a gente parece poder vir a casar. Além disso, há aparentemente uma guerra, o que faz com que provavelmente a sociedade acabe por ser constituída por mais elementos femininos que masculinos. Os elementos femininos com maior importância social (talvez riqueza) podem vir a ser esposas, outras são usadas somente com o fim de procriar.

E a filha? Está viva? Morta? Foi-lhe retirada para ser "educada", como foi a nossa protagonista, e desempenhar o seu papel, talvez reprodutor, nesta sociedade?


message 10: by Diana Marques (new)

Diana Marques | Papéis e Letras (diana_papeiseletras) | 162 comments Mod
Eu acho que as mulheres de azul são as que representam o status social. É suposto um homem casar e ter filhos, mas quem tem filhos são as mulheres de um estrato social mais abaixo, as "Handmaids", enquanto que aquelas que são respeitadas e vistas como superiores são as "Wives".

Não sei se tem alguma ligação ou não, mas como há várias referências e simbologia bíblicas penso que poderá ter alguma importância: a cor azul é a cor da Virgem Maria. Ela tem um filho, mas nada na sua concepção é sexual, tal como acontece com as "Wives". Elas têm que suportar uma espécie de adultério que é justificado, ou visto como algo necessário para a reprodução humana. Por isso, também elas são vistas como superiores (santas?), por terem que suportar aquela vida.

Isto das roupas e das suas cores dá pano para mangas :D


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