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Por si só, um texto não é nada, como uma viagem não é nada em si mesma. É preciso uma alma que reúna os valores desta e as frases daquele, fazendo-os brilhar ao contato dessa luz misteriosa que se chama verdade ou que leva o nome de beleza. O efeito de um livro depende de cada um de nós. Seu último estágio não é o objeto impresso que sai da editora, mas o verbo mental que o próprio leitor produz.
“À escuta de si mesmo” é uma fórmula que equivale a: à escuta de Deus. É no pensamento criativo que habita nosso ser verdadeiro e nosso eu na sua forma autêntica.
Os grandes homens parecem-nos grandes audaciosos; no fundo, eles obedecem mais que os outros. Uma voz soberana instrui-os. É porque um instinto provindo dela aciona-os que tomam, sempre corajosamente e às vezes com grande humildade, o lugar que lhes dará mais tarde a posteridade, ousando ações e arriscando invenções freqüentemente em desacordo com seu meio, sendo até alvo de seus sarcasmos. Eles não têm medo, porque, por mais isolados que pareçam, não se sentem sós. Têm a seu favor Aquele que tudo decide afinal. Pressentem seu futuro império.
Uma vida que intenta alto demais ou que fica num lugar muito baixo é uma vida desorientada.
Quando desgostamos o mundo, ele se vinga; e quando é agradado, o mundo também se vinga, corrompendo. O único recurso é trabalhar longe dele, tão indiferente ao seu juízo quanto disposto a lhe ser útil. O melhor talvez seja que ele rechace você e obrigue-o assim a voltar-se para si mesmo, a crescer interiormente, a controlar-se, a aprofundar-se.
Diante da superioridade de alguém, só há uma atitude honrosa: amá-la, e ela se tornará assim nossa própria alegria, nossa própria fortuna.
O público, em seu conjunto, é vulgar e só ama o que é vulgar.
“Jamais deixa calado, jamais esconde de ti mesmo o que se pode pensar contra teu próprio pensamento”,
Acontece também ao medíocre encontrar uma idéia, como um diamante puro ou uma pérola. O que é difícil é lapidar a idéia, e sobretudo incrustá-la em uma jóia de verdade que será a verdadeira criação.
Você fracassou nisto, o que o prepara para vencer naquilo, para vencer, simplesmente, o que é garantido para qualquer um que tenha valor e se esforce.
A razão ambiciona somente um mundo; a fé dá-lhe a imensidão.
Obter sem pagar é um desejo universal; mas é o desejo de corações covardes e de cérebros enfermos.
O isolamento é inumano, pois trabalhar humanamente é trabalhar com o sentimento do homem, de suas necessidades, de suas grandezas, da solidariedade que nos une em uma vida estreitamente comum.
Como é possível pensar bem com uma alma doente, com um coração trabalhado pelos vícios, dividido pelas paixões, desorientado pelos amores violentos ou culpáveis?
Aqui não se trata mais de provar sua habilidade, de fazer suas faculdades brilharem, como se fossem uma jóia; o que se quer é comunicar-se com a origem da luz e da vida; esse centro é abordado em sua unidade, tal qual ele é; é adorado, e renunciamos ao que se lhe opõe para que sua glória nos inunde. Não será mais ou menos tudo isso que significa a expressão: “Os grandes pensamentos vêm do coração”?
Um ato de ambição no campo da ciência não é mais um ato científico, e quem o faz não merece mais o nome de intelectual.
“Todo estudo é um estudo da eternidade”.
Tudo o que instrui leva a Deus por um caminho seguro. Toda verdade autêntica é, por si mesma, eterna, e sua eternidade orienta-nos à Eternidade de que ela é uma revelação. Através da natureza e da alma, para onde podemos ir senão à sua origem? Se não chegamos até ela é porque houve um desvio no caminho. Com um salto, o espírito inspirado e reto transpõe os graus intermediários e, a toda questão que surge para ele, sejam quais forem as respostas particulares que apresente, uma secreta voz responde: Deus!
“À boa compleição do corpo segue-se a nobreza da alma”.9
Um amigo do prazer é um inimigo do próprio corpo e logo se torna um inimigo da própria alma.
“Os grandes homens têm camas pequenas”, nota Henri Lavedan. É preciso pagar pelo gênio um imposto sobre o luxo. Dez por cento desse privilégio não o arruinarão; não será ele o prejudicado, mas antes nossos defeitos, ou pelo menos nossas tentações, e o lucro então será duplo.
O retiro é o laboratório do espírito; a solidão interior e o silêncio são as suas asas. Todas as grandes obras foram criadas no deserto, inclusive a redenção do mundo.
E todo poeta não tem a impressão de que sua arte é traduzir em versos as misteriosas revelações do silêncio, que ele ouve, segundo a expressão de Gabriele d’Annunzio, como “um hino sem voz”?
Na multidão, perdemo-nos, a não ser que nos mantenhamos firmes, e para tanto é preciso criar essa firmeza. Na multidão, ignoramos a nós mesmos, encobertos por um eu estranho que é um aglomerado.
“A solidão é a pátria dos fortes, o silêncio é sua oração”.
“Não devemos pensar”, escreveu Maine de Biran em seu diário, “que o único e melhor emprego do tempo consiste em um trabalho do espírito regrado, contínuo e tranqüilo. Todas as vezes que agimos bem, em conformidade com a situação em que nos encontramos, fazemos um bom uso da nossa vida”.
A sociedade é um livro que deve ser lido, apesar de ser um livro banal. A solidão é uma obra-prima; mas lembre-se do que disse Leibniz, que nunca encontrara um livro tão ruim que não lhe pudesse oferecer alguma coisa.
Nossos contatos com o exterior deveriam ser como os do anjo, que toca e não é tocado, a menos que o queira; que dá e que nada perde, já que pertence a um outro mundo.
A fala tem peso quando percebemos o silêncio por baixo dela, quando ela oculta e deixa adivinhar, por detrás das palavras, um tesouro que ela distribui como convém, sem pressa e sem uma agitação frívola. O silêncio é o conteúdo secreto das palavras que pesam. O que dá valor a uma alma é a riqueza do que ela não diz.
A contemplação recolhe, a ação despende; uma atrai a luz, a outra ambiciona o dom.
porque a ação exterior agita a alma, e o silêncio a tranqüiliza; mas se o silêncio é levado longe demais também passa a agitar; a confluência de todo o homem em sua cabeça desorienta e dá vertigens; uma diversão é indispensável à vida cerebral; precisamos do bálsamo da ação.
Que é o sonho senão um pensamento separado da comunicação com o exterior, um pensamento que nada quer?
Aprenda a ver; confronte o que se oferece a você com as suas idéias familiares ou secretas. Não veja numa cidade unicamente suas casas, mas a vida humana e a história. Que um museu não lhe apresente quadros, mas escolas de arte e vida, concepções do destino e da natureza, orientações sucessivas ou diversas da técnica, do pensamento inspirador, dos sentimentos. Que um ateliê não lhe fale somente de ferro e de madeira, mas da condição humana, do trabalho, da economia antiga e da moderna, das relações entre as classes. Que as viagens ensinem-no sobre a humanidade; que as paisagens evoquem aos
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Que é a ciência senão a lenta e sucessiva cura de nossa cegueira?
O repouso não pode consistir na disseminação das forças. O repouso é um recuo para longe do esforço, em direção às suas fontes; é uma restauração, não um desperdício insensato.
Faça alguma coisa ou então não faça nada. O que decidir fazer, faça-o ardentemente, com afinco, de modo que o conjunto da sua atividade seja uma série de vigorosas retomadas. O trabalho pela metade, que é um repouso pela metade, não favorece nem o repouso nem o estudo.
Pode-se afirmar sem paradoxo que o mergulho profundo em qualquer ciência desemboca em outras ciências, as ciências na poesia, a poesia e as ciências na moral, depois na política e na própria religião, naquilo que esta tem de humano. Tudo está em tudo, e um enclausuramento só é possível por abstração. Abstrair não é mentir, diz o provérbio: abstrahere non est mentiri; mas com a condição de que a abstração que distingue, que isola metodicamente, que concentra sua luz sobre um ponto, não queira separar do que estuda tudo aquilo que se relaciona mais ou menos diretamente com ele. Isolar assim de
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Os maiores homens sempre se mostraram mais ou menos universais; excelentes em certo campo, foram em outros ao menos curiosos, freqüentemente especialistas, e às vezes até mestres.
Os cientistas cristãos, do início ao fim do século xvii, foram todos teólogos, e os cientistas, cristãos ou não, até o século xix foram todos filósofos.
Estude a Suma, não sem ter antes aprendido o conteúdo da fé. Tenha à mão o Catecismo do Concílio de Trento, que é em si mesmo um maravilhoso resumo da teologia.
Mas é um erro abordar as obras-primas do pensamento, tanto as da arte quanto as da natureza, comparando-as com a idéia vaga e falsamente grandiosa que se tem delas.
Nenhuma energia sustenta-se por muito tempo se não for estimulada pela dificuldade crescente e mantida pelo interesse também crescente por uma trabalhosa escavação.
Quando se sabe a fundo alguma coisa, por pouco que se saiba de todo o resto, esse resto beneficia-se em toda a sua extensão daquela viagem às profundezas. Todos os abismos assemelham-se e todos os fundamentos comunicam-se.
Saiba aquilo que decidiu saber; lance apenas um olhar para o resto. O que não faz parte da sua própria vocação, abandone-o a Deus — Ele cuidará disso. Não seja um desertor de si mesmo, por ter querido substituir a todos.
A inteligência é semelhante a uma criança, em cujos lábios os “por quês” não cessam de brotar.
Nossa alma não envelhece; está sempre em crescimento; perante a verdade, ela é sempre uma criança.
“Tu, ó Deus, vendes todos os bens aos homens às custas do esforço”, escreveu Leonardo da Vinci em suas anotações. Ele mesmo nunca se esquecia disso.
O homem forte ergue diante de si a escada de Jacó, para as subidas e descidas dos anjos que nos visitam.
É preciso buscar sempre, esforçar-se sempre. A natureza leva a árvore silvestre a reflorescer, o astro a brilhar, a água a fluir, descendo as encostas, contornando os obstáculos, preenchendo os vazios, sonhando com o mar que a espera lá embaixo, onde talvez chegará. A criação é em todos os seus estágios uma aspiração contínua: o espírito, que em potência é todas as coisas, não pode por si mesmo limitar suas formas ideais, como não o podem as formas naturais, que são o seu reflexo. A morte o limitará, e também sua impotência: que ao menos sua coragem rompa as fronteiras preguiçosas. O infinito
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Nada mais desastroso do que a dispersão. Difundir a luz é enfraquecê-la em proporções geometricamente crescentes. Ao contrário, concentre-a com uma lupa e o que estava apenas aquecido pela livre radiação queima no foco onde o calor se intensifica.