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Quando alguém começa demonstrando falta de conhecimento numa determinada área, geralmente significa que, em seguida, emitirá uma opinião simplista sobre essa mesma área.
Se havia um tema sobre o qual os Eternos eram quase supersticiosos era sobre “Os Séculos Ocultos”, o tempo entre o 70.000 e o 150.000. Era um assunto raramente mencionado. Somente por sua proximidade com Twissell é que Harlan conhecia um pouco dessa época. O fato é que os Eternos não conseguiam entrar no Tempo em todos aqueles milhares de Séculos. As portas entre a Eternidade e o Tempo eram impenetráveis. Por quê? Ninguém sabia.
Relutantemente, confessou que tais coisas exerciam atração e aceitou a sabedoria que mandava cada Setor da Eternidade viver na escala média de seu respectivo Século, em vez de seu nível mais confortável. Dessa forma, o Setor poderia manter contato com os problemas e “sentir” o Século, sem sucumbir a uma identificação próxima demais com um dos extremos sociológicos. É fácil, pensou Harlan naquela primeira noite, viver com aristocratas.
Poderia contar alguma dessas coisas a ela? Claro que não. Poderia lhe dizer que quase nenhuma mulher se qualificava para a Eternidade porque, por alguma razão que ele não entendia (Computadores talvez entendessem, mas ele certamente não), sua subtração do Tempo tinha dez vezes mais probabilidade de distorcer a Realidade do que a subtração de um homem?
não há graça nenhuma na Eternidade, moça. Nós trabalhamos! Trabalhamos para planejar todos os detalhes de todos os tempos, desde o início da Eternidade até onde a Terra está vazia, e tentamos planejar todas as infinitas possibilidades de tudo o que-poderia-ter-sido e escolher um poderia-ter-sido melhor do que aquilo que é, e decidimos onde, no Tempo, podemos fazer uma pequena mudança para transformar aquilo que é naquilo que pode-ser, e então temos um novo é e procuramos um novo pode-ser, e assim continuamente, continuamente, e é assim que tem sido desde que Vikkor Mallansohn descobriu o Campo
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Somente quando todos os graus de liberdade desapareciam é que ocorria a Mudança. Enquanto houvesse sequer uma possibilidade matemática para ações alternativas, a Mudança não ocorria.
Como era óbvio que a relação havia sido friamente calculada. A garota tinha certos atributos físicos inegáveis e nenhum princípio moral que a impedisse de usá-los. Ela os usou, e isso não teve nada a ver com Andrew Harlan como pessoa. Ele simplesmente representava sua visão distorcida da Eternidade e seu significado.
Um Observador, ou qualquer um atuando como Observador, nunca deveria saber os fins alcançados com sua Observação. Isso o desviava muito da posição ideal de ferramenta objetiva e não humana.
Publicidade! Um artifício para persuadir os relutantes. Importava ao fabricante de veículos terrestres se um determinado indivíduo sentia desejo original ou espontâneo por seu produto? Se o cliente em potencial (era essa a expressão) poderia ser artificialmente induzido ou engambelado a sentir aquele desejo e agir de acordo com ele, não seria bom? Então, o que importava se Noÿs o amasse por paixão ou por cálculo? Era só ficarem juntos pelo tempo suficiente e ela o amaria de verdade. Ele faria com que ela o amasse e, afinal, era o amor que importava, e não sua motivação.
Finge poderia ter provado ele mesmo a existência da superstição. Certamente, a ideia lhe ocorreu, com a tentação constante da presença de Noÿs. Então, ela deve tê-lo rejeitado.
Dizer em voz alta o que ele já sabia em teoria faria com que o assunto fosse rebaixado ao nível do prosaico.
Centenas de coisas ocorreram naquelas fisiossemanas e tudo se confundiu inextricavelmente na memória de Harlan, mais tarde, fazendo o período parecer muito mais longo do que realmente fora.
Era um grande acréscimo à vida de Harlan. Ter alguém com quem conversar, com quem falar sobre sua vida, seus feitos e pensamentos. Era como se ela fosse uma parte dele, mas uma parte suficientemente separada para exigir a fala como comunicação, em vez do pensamento. Era uma parte suficientemente separada para ser capaz de responder de maneira imprevista, por meio de processos racionais independentes.
Poderia ter previsto com antecedência, por exemplo, que seriam os interlúdios apaixonados que ele, mais tarde, raramente associaria ao idílio?
Um homem que conhece seu próprio futuro, em qualquer mínimo detalhe, poderá agir com base nesse conhecimento e, portanto, mudar seu futuro.
O resultado é que a Realidade deve ser mudada o suficiente para não permitir que A e B se encontrem ou, pelo menos, para evitar que A veja B. Então, como nada que se tornou não-Real numa Realidade pode ser detectado, A nunca encontrou B. Da mesma forma, em cada aparente paradoxo da viagem no Tempo, a Realidade sempre muda para evitar o paradoxo, e chegamos à conclusão de que não há paradoxos nas viagens no Tempo e não pode haver.
Harlan emergiu lentamente do atoleiro moral. – O que vamos fazer? – Certamente não isso. Desespero, não.
Ao eliminar os desastres da Realidade – disse Noÿs –, a Eternidade exclui também os triunfos. É enfrentando as grandes dificuldades que a humanidade consegue alcançar com mais êxito os grandes objetivos. É do perigo e da insegurança que surge a força que impulsiona a humanidade para novas e grandiosas conquistas.
Consegue entender que, ao afastar as armadilhas e vicissitudes que perseguem o homem, a Eternidade não deixa que ele encontre suas próprias soluções, boas e amargas, soluções reais que chegam quando a dificuldade é enfrentada, não evitada?
Qualquer sistema parecido com a Eternidade, que permite ao homem escolher seu próprio futuro, terminará optando pela segurança e pela mediocridade,