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Sim, estou apaixonado por Macabéa, a minha querida Maca, apaixonado pela sua feiura e anonimato total pois ela não é para ninguém. Apaixonado por seus pulmões frágeis, a magricela. Quisera eu tanto que ela abrisse a boca e dissesse: – Eu sou sozinha no mundo e não acredito em ninguém, todos mentem, às vezes até na hora do amor, eu não acho que um ser fale com o outro, a verdade só me vem quando estou sozinha.
(Vejo que tentei dar a Maca uma situação minha: eu
preciso de algumas horas de solidão por dia senão “me muero”.)
Nestes últimos três dias, sozinho, sem personagens, despersonalizo-me e tiro-me de mim como quem tira uma roupa. Despersonalizo-me a ponto de adormecer.
Macabéa separou um monte com a mão trêmula: pela primeira vez ia ter um destino.
Macabéa empalideceu: nunca lhe ocorrera que sua vida fora tão ruim.
Macabéa nunca tinha tido coragem de ter esperança.
tudo. Macabéa estava espantada. Só então vira que sua vida era uma miséria. Teve vontade de chorar ao ver o seu lado oposto, ela que, como eu disse, até então se julgava feliz.
desde Moisés se sabe que a palavra é divina.
Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentira tamanho desespero.
sua alma, ainda mais virgem que o corpo,
Enquanto isso, Macabéa no chão parecia se tornar cada vez mais uma Macabéa, como se chegasse a si mesma.
Acho com alegria que ainda não chegou a hora de estrela de cinema de Macabéa morrer.
Eu poderia resolver pelo caminho mais fácil, matar a menina-infante, mas quero o pior: a vida. Os que me lerem, assim, levem um soco no estômago para ver se é bom. A vida é um soco no estômago.
Sim, foi este o modo como eu quis anunciar que – que Macabéa morreu. Vencera o Príncipe das Trevas. Enfim a coroação.
Qual foi a verdade de minha Maca? Basta descobrir a verdade que ela logo já não é mais: passou o momento.

