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Ele vinha colecionando cada sorriso dela, cada beijo, para guardar como joias em um baú do tesouro. Aqueles poucos segundos com ela eram tudo o que tinha, ou jamais teria.
Tom a beijou por todas as madrugadas e manhãs que nunca compartilhariam. Beijou-a com toda a ternura que nunca seria capaz de expressar em palavras e sentiu a reação dela em seu sangue, como se a doçura de Cassandra tivesse lhe chegado à medula. Sua boca sugou suavemente a dela, experimentando com ardor aquele gosto uma última vez… e então se moveu.
A sensação era de que Cassandra o havia desmontado e remontado de uma forma diferente. Por fora, tudo parecia funcionar bastante bem, mas Tom não se sentia o mesmo por dentro. Só o tempo diria de que maneiras ela o transformara. Ele tinha certeza de que não fora para melhor.
Você tem, sim, algumas coisas em comum com Bazzle – argumentou ela calmamente. – Acho que ele faz você se lembrar de coisas que prefere esquecer, coisas que o deixam desconfortável.
As circunstâncias do seu nascimento, ou do meu, não são o problema. Este é o problema. – Encarando-o com raiva, Cassandra bateu com a mão no centro do peito dele e a manteve ali. – Seu coração está congelado porque quer que esteja assim. É mais seguro para você não permitir que ninguém entre. Então que assim seja.
Cassandra se perguntava se algum dia encontraria um homem que estivesse disposto a se sacrificar por ela. Não que algum dia fosse desejar algo assim, mas parte dela queria ser amada tão intensamente, ser tão importante para alguém.
Ela estava tentando tanto sentir alguma coisa, qualquer coisa, por algum daqueles homens agradáveis e solteiros. Mas não conseguia. Era tudo culpa dele.
– É possível obrigar meus sentimentos a fazerem o que eu quero que eles façam? Posso me convencer a desejar alguém? – Não sei – respondeu Pandora. – Mas, se eu fosse você, procuraria descobrir antes de tomar uma decisão que afetaria minha vida para sempre.
A maneira como o marquês olhava para ela era perturbadora. Algo naqueles olhos duros fazia com que Cassandra se sentisse ao mesmo tempo desarrumada e ordinária.
Aquelas palavras a fizeram se sentir ainda pior do que as mãos dele apalpando-a, se é que era possível. Outros homens a viam da mesma maneira? Era aquilo que pensavam? Cassandra teve vontade de se encolher e se esconder. Suas têmporas latejavam, como se houvesse sangue demais na cabeça. Seus seios doíam nos lugares em que ele apertara e beliscara.
Não tenha dúvida – continuou Kathleen, inflamada – de que isso foi uma amostra de como ele a trataria depois do casamento. Só que seria mil vezes pior, porque, como esposa, você estaria à mercê dele. Homens assim nunca assumem a culpa… Eles atacam e depois dizem que foram provocados a fazê-lo. “Olhe só o que você me levou a fazer.” Mas a escolha é sempre deles. Eles machucam e assustam as pessoas para se sentirem poderosos.
Era um trapinho inconsequente de humanidade, no limiar da sobrevivência. Se Bazzle desaparecesse de repente da face da Terra, poucas pessoas se importariam ou mesmo perceberiam. Tom não tinha a menor ideia de por que o destino daquele menino deveria lhe importar. Mas importava.
Ser humilhada publicamente, pensou Cassandra, entorpecida, era como se afogar em águas profundas. Depois de desaparecer da superfície, você continua afundando.
Você tem família – disse Devon, com firmeza. – Tem muitas pessoas que amam você e irão defendê-la. Vamos enfrentar isso juntos.
Você não está reagindo como imaginei. Eu estava aqui chorando e gritando, e você tão quieta… – Tenho certeza de que vou chorar em algum momento. Mas agora só estou me sentindo enjoada e deprimida. – Devo ficar quieta também? – perguntou Pandora. – Não, de forma alguma. É como se você estivesse chorando e gritando por mim enquanto eu ainda não consigo fazer isso. Pandora pressionou o rosto contra o braço de Cassandra. – É para isso que servem as irmãs.
Estamos lidando com um ser desprezível, minha cara – disse lady Berwick calmamente. – Você não tem culpa. Sua conduta não foi pior do que a de qualquer outra jovem na sua posição. Na verdade, foi melhor do que a da maioria, e nisso incluo as minhas duas filhas.
Não consigo suportar a ideia de implorar a alguém que se case comigo por pena – disse Cassandra.
Ora. Essa seria uma mudança revigorante. Cassandra sentiu uma pontada aguda no coração quando voltou os olhos para a porta, onde Tom Severin estava parado.
Tom a encarou diretamente então, e a fachada de descontração desapareceu na mesma hora. Como uma flecha incandescente, o olhar intenso e preocupado pareceu atravessar o torpor que a dominara nas últimas 24 horas. – Não, meu bem – respondeu ele com gentileza, como se não houvesse mais ninguém no cômodo.
Sinto muito pelo que Lambert lhe fez – continuou Tom. – Não há nada mais repulsivo do que um homem que força suas atenções sobre as mulheres. O fato de ele tê-la difamado publicamente prova que, além de assediador, o sujeito é um mentiroso. Não consigo pensar em duas características mais desgraçadas em um homem.
Eu comprei o Chronicle – confirmou Tom, puxando distraidamente um fio do punho da camisa. – Bastou um acordo preliminar de compra e uma boa quantidade de dinheiro. Sei que não será surpresa para você, Ripon, que o editor tenha dado o seu nome como o autor anônimo da coluna.
Tom olhou para Cassandra. Algo em sua expressão provocou uma pontada de calor dentro dela. – Farei o que a senhorita me disser para fazer – declarou ele.
O senhor… – Sim? – perguntou Tom, baixinho, diante da hesitação dela. – O senhor comprou um jornal… por minha causa? Ele pensou por um longo momento antes de responder. Então sua voz saiu em um tom que ela jamais ouvira, baixa e até mesmo um pouco trêmula. – Não há limites para o que eu faria por você. Cassandra ficou sem fala.
Meu bem… você passou por um inferno, não foi? – F-foi horrível – fungou ela. – Foi tão humilhante... Já fui desconvidada para um jantar e para um baile. Não consigo acreditar que lorde Lambert fez uma coisa tão abominável e espalhou mentiras a meu respeito, e que as pessoas acreditaram nele com tanta facilidade! – Devo matá-lo para você? – perguntou Tom, parecendo assustadoramente sério. – Prefiro que não – respondeu Cassandra, chorosa, e assoou o nariz de novo. – Não é gentil matar pessoas, mesmo que elas mereçam, e isso não faria com que eu me sentisse melhor. – O que a faria se sentir
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Obrigada por vir em meu socorro – sussurrou ela. – Sempre.
Eu vou abraçá-la até o fim dos tempos se isso for tudo o que quiser de mim. Mas há muito mais que posso fazer por você… Eu trataria você como a um tesouro. Eu… – Ele se interrompeu e se aproximou tanto que Cassandra teve a sensação de estar se afogando no azul-celeste tropical e no verde-oceano daqueles olhos. – Case-se comigo, Cassandra… e então mandaremos todos eles para o inferno.
Qual é o seu autor favorito? Ele pensou a respeito, e foi contando nos dedos. – Até agora, Charles Dickens ou Júlio Verne, embora Gaskell seja bastante tolerável. As histórias de Austen sobre casamento são tediosas, Tolstói está preocupado com a questão do sofrimento e nada saído de uma pessoa chamada Brontë tem qualquer semelhança com a vida real.
E se um de nós não cumprir o contrato? – Teremos que confiar um no outro. Essa é a função do casamento.
Ganhei quase 6 quilos desde o casamento de Pandora. – E qual é o problema? – perguntou Tom, cada vez entendendo menos. – Cada centímetro do seu corpo é lindo.
Seu corpo não é um ornamento destinado ao prazer dos outros. Ele é somente seu e você é magnífica exatamente como está. Se perder ou ganhar peso, vai continuar sendo magnífica. Coma um bolinho se é isso que você quer.
Você está dizendo que, se eu ganhasse mais 6 quilos, ou mesmo 12, além do que já peso, ainda me acharia desejável? – Meu Deus, sim – respondeu Tom sem hesitação. – Seja você do tamanho que for, vou apreciar cada curva.
Todo o desejo que Tom já conhecera na vida não era nada comparado àquele anseio que parecia rasgá-lo por dentro a cada respiração.
Cassandra – sussurrou ele –, tudo o que eu tenho, tudo o que eu sou, está a seu dispor. Você só precisa me dizer o que quer.
Você é a coisa mais doce que já tive em meus braços – sussurrou. – Quero ser a pessoa que lhe dá prazer. A pessoa a quem você busca à noite. – Ele roçou a boca na dela e mordiscou os lábios macios. – Quero preencher você… lhe dar o que precisar, seja o que for. Minha linda Cassandra… me diga o que tenho que fazer para estar com você. Vou aceitar seus termos, sejam eles quais forem. Eu nunca disse isso a ninguém na vida. Eu…
Foram os sapatos? – perguntou. Aquilo provocou uma risadinha. – Essa parte ajudou – disse Cassandra. – Mas foi a ideia de você aceitar os meus termos. E quero muito mesmo ajudar as pessoas de uma forma mais ampla. – Ela fez uma pausa e ficou séria. – Não vai ser fácil. Nossa vida juntos vai ser um salto no desconhecido, e nunca me senti muito confortável com o novo. Eu poderia ter escolhido um homem menos proeminente, e assim, talvez, não me sentisse tão assustada. Então você vai ter que ser tão paciente comigo quanto pretendo ser com você.
Parece que tenho uma missão à minha frente. – Sim – confirmou Tom, encorajando-a. – Encarregue-se de mim. Seja uma boa influência. Será um serviço de utilidade pública. – Fique quieto – pediu Cassandra, tocando os lábios dele com os dedos –, antes que eu mude de ideia. – Você não pode fazer isso – falou Tom, sabendo que estava levando as palavras de Cassandra mais a sério do que ela pretendera, mas a mera ideia era como uma estaca de gelo cravada em seu coração. – Quero dizer, não faça isso. Por favor. Porque eu… – Ele não conseguiu afastar o olhar do dela. Os olhos azuis de Cassandra, escuros
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Não pela primeira vez, Tom pensou que era impossível entender as mulheres. Não que elas fossem desprovidas de lógica, mas exatamente o oposto. A lógica feminina era de uma ordem mais elevada, complexa e avançada demais para comprovações matemáticas. As mulheres atribuíam valores misteriosos a detalhes em que um homem não prestaria atenção e eram capazes de tirar conclusões pungentes dos segredos mais íntimos desses homens. Tom desconfiava que Cassandra, depois dos poucos encontros que haviam tido, já o conhecia melhor do que amigos que ele tinha havia mais de uma década.
Você não gosta de nenhum tipo de doce? O rosto dele estava acima do dela, os olhos sorridentes. – Gosto. De você – respondeu ele, e roubou um beijo rápido.
Unir os nomes deles com o símbolo do infinito de Euler significa… – Ele fez uma pausa enquanto pensava na melhor maneira de explicar aquilo. – Os dois formavam uma unidade completa… uma união… que continha o infinito. O casamento deles teve começo e fim, mas cada dia foi cheio de eternidade. É um conceito bonito. – Tom fez uma pausa antes de acrescentar, constrangido: – Matematicamente falando.
Tom era um homem eloquente em praticamente todos os assuntos, menos em relação aos próprios sentimentos. Mas havia momentos como aquele, em que ele permitia vislumbres extraordinários do próprio coração sem parecer se dar conta disso. – Me beije – disse Cassandra, a voz quase inaudível.
Você é meu – disse ela baixinho. – Sou – afirmou ele, com um toque de divertimento na voz. – Você inteirinho. – Sou.
Você dorme na sala dos calçados, meu bem? – perguntou com toda a delicadeza. – É uma ótima caminha – disse ele, animado, e deu uma palmadinha no colchão. – Nunca tinha tido uma antes.
Bazzle não pode passar o resto da vida sendo grato por ter só o mínimo, dizendo “Ora, é melhor do que um barraco infestado de ratos”.
Tom, você trouxe esse menino para casa porque viu as muitas qualidades que ele tem. Passou a se importar com ele, mesmo que só um pouco. Agora estou pedindo que se importe mais. Que deixe Bazzle ser parte da família e ser tratado com o afeto e o respeito que ele merece. – E o que faz você achar que ele merece? – perguntou Tom, irritado. – Você merecia – disse ela baixinho, afastando-se dele. – Toda criança merece.
Cassandra sabia que Tom levaria algum tempo para chegar a um acordo com o passado e com os sentimentos que guardara para si por tanto tempo. Ele talvez negasse tudo o que ela dissera, ou se recusasse a falar a respeito. Ela teria que ser paciente e compreensiva, e esperar que o marido reconhecesse aos poucos que ela estava certa.
Sentimentos são coisas inconvenientes – disse Tom. – Por isso decidi limitar os meus a apenas cinco. Durante a maior parte da minha vida adulta, tinha sido fácil manter as coisas assim. Então conheci você. Agora meus sentimentos se multiplicaram como coelhos e pareço ter quase tantos quanto as pessoas normais. O que é excessivo. Mas… se um homem com um cérebro mediano pode gerenciar todos esses sentimentos bem o bastante para conseguir funcionar com eficiência, eu, com meu cérebro poderoso e superior, também posso. Cassandra assentiu, encorajando-o, embora não estivesse entendendo bem o que
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Desde que tinha 10 anos, o trabalho era a parte principal da existência de Tom, e o lar tinha sido o lugar de breves intervalos necessários, onde ele realizava os rituais de dormir, comer, se lavar e se barbear com a maior eficiência possível. Agora, pela primeira vez na vida, ele se pegava correndo com o trabalho para poder voltar para casa, onde todas as coisas interessantes pareciam estar acontecendo.
Lady Cassandra Severin – disse Tom baixinho –, se você vai conseguir nem está em questão. – Ele a encarou com uma expressão irônica. – A verdadeira questão é se vai passar o resto do nosso casamento tentando me elevar aos seus padrões.
Bazzle – disse Tom com a voz arrastada, a cabeça girando. – Você é meu menino. Ninguém vai tirar você de mim. Ninguém. – Sim, senhor.
Você não deveria estar na cama – disse ele ao cachorrinho. – É proibido por contrato. Bingley não pareceu se importar nem um pouco.

