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by
David Sax
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February 19 - March 5, 2025
Minhas opções eram infinitas, literalmente todos os discos e canções já gravados. O que eu queria ouvir? Era como se a facilidade e a conveniência da música digital tivessem drenado todo o divertimento da audição.
“Quando as garotas começaram a comprar vinis, você via o olhar daqueles caras velhos.” Era o olhar do medo. A volta da mulher consumidora de disco, em números cada vez maiores, reforçava a volta da loja de discos ao seu lugar devido na paisagem cultural; onde os jovens vinham para descobrir músicas e uns aos outros. Um lugar cool.
Mas o ato de colocar um disco para tocar parecia mais envolvente e, finalmente, mais satisfatório, do que ouvir aquela mesma música se ela saísse de um computador: a procura física pelas lombadas dos discos na estante, o exame cuidadoso da arte na capa, a forma diligente que se coloca a agulha e aquela pausa de um segundo entre seu contato com a superfície de vinil do disco e as primeiras ondas sonoras ruidosas que emergiam das caixas de som. Tudo aquilo envolvia mais nossos sentidos físicos, exigia o uso das mãos, dos pés, dos olhos, das orelhas e até da boca, pois soprávamos a poeira da
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Toda semana eu andava pela rua e encontrava uma nova loja cujo foco analógico não tinha nada a ver com computadores: cartões e convites de papel, fotografia em filme, bens de couro e relógios feitos à mão, novas revistas impressas, canetas-tinteiro e, claro, discos de vinil. Um café dedicado a jogos de tabuleiro abriu outro dia na esquina do lado de nosso apartamento e tinha uma fila para entrada desde o primeiro dia.
A Vingança dos Analógicos apresenta uma narrativa diferente, contudo. Mostra que o processo de inovações tecnológicas não é uma história da lenta marcha do bom para o melhor e para o melhor ainda; é uma série de tentativas que nos ajudam a compreender quem nós somos e como funcionamos.
Cercados pelo digital, nós agora ansiamos por experiências que sejam mais táteis e humanocêntricas.
Quando o assunto é o fluxo livre de ideias, a caneta segue mais poderosa que o teclado ou a tela.
as restrições naturais que a tecnologia analógica impõe a seus usuários podem aumentar a produtividade, mais do que a reprimir.
A escolha que encaramos não é entre o digital e o analógico. Essa dualidade simplória na verdade é a linguagem que o digital nos condicionou: uma escolha falsa e binária entre 1 e 0, preto e branco, Samsung e Apple. O mundo real não é preto e branco. Não é nem mesmo cinza. A realidade é multicolorida, possui texturas infinitas e camadas emotivas. Ela tem um cheiro esquisito e um gosto estranho e se refestela na imperfeição humana. As melhores ideias surgem desta complexidade,
“A digitalização é o ápice da conveniência, mas o vinil é o ápice da experiência”,
“Com o vinil você fica de joelhos”, White disse à Billboard. “Você fica à mercê da agulha. Você vê o disco girar e é como se você estivesse sentado ao redor de uma fogueira em um acampamento. É hipnótico.” White diz que não há romance no clique de um mouse, e que a tecnologia de gravação física e analógica preserva a música e o som por mais tempo na história do que HDs, que se tornam obsoletos rapidamente. Ele gravou o vinil mais vendido nessa nova era do LP, Lazaretto, um disco tão cheio de curiosidades e detalhes de design – um holograma oculto, uma faixa escondida no
“As pessoas acham que limites são ruins”, disse Mara. “Mas eles fazem o processo andar, de uma boa forma. É fácil se perder no processo. É fácil seguir o plano original quando você tem limites.”
Um computador é apenas uma ferramenta, mas Scott sentiu que o computador estava sendo usado demais e que músicos, produtores e gravadoras estavam fazendo suas músicas para encaixá-las nos padrões tecnológicos. Eles gravavam sons seguros e sem graça para serem editados no Pro Tools. Ficaram preguiçosos.
o papel existe, de uma ou outra forma, há milhares de anos. É a espinha dorsal da base econômica, cultural, científica e espiritual que nós chamamos de civilização.
“Meu foco no design era a abordagem cinestética”, disse ela, descrevendo um método que enfatiza o engajamento sensorial. “Nós como seres humanos precisamos ser estimulados com todos os nossos sentidos, de forma muito física. Com olhar, cheiro, gosto, toque e som.”
O Moleskine não tinha nenhuma característica especial que convidava a isso, fora seu design simples. Apenas aconteceu de ser a tela em branco perfeita para os devotos de Getting Things Done usarem para seus propósitos, uma verdadeira tábula rasa. “Getting Things Done não é um método que depende de papel”, Allen me disse no ano passado. Mas, ele disse, “a forma mais fácil e universal de tirar as coisas de nossas cabeças é o papel e a caneta”. Papel e caneta não requerem fontes de energia, tempo para inicializar, formatação específica de programa ou sintonia com dispositivos externos e com a
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“Você pode perder tempo com todo tipo de coisa”, disse Allen, “mas o mundo digital lhe dá muitas oportunidades de perder muito tempo.” E a perda de tempo era o inimigo declarado do método Getting Things Done.
Em seu livro A mente organizada, o psicólogo cognitivo e neurocientista Daniel Levitin fala sobre o tremendo mal causado sobre nós pelo excesso de informações, que ele diz ser pior para seu cérebro do que a exaustão e do que fumar maconha (ele diz que trabalhar em várias coisas a...
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“Conectados, estamos juntos, mas nossas expectativas em relação uns aos outros são tão diminuídas que nos sentimos completamente sós”, escreveu a professora de sociologia e psicóloga do MIT Sherry Turkle em seu livro Alone Together. “E há o risco de começarmos a ver uns aos outros como objetos a serem acessados – e apenas pelas partes que achamos úteis, confortáveis ou divertidas. Quando nos retiramos do fluxo da vida física, bagunçada e desorganizada... nós nos dispomos menos a sair e nos arriscar.”
“Eu não posso convidar cinco amigos para minha casa e dizer ‘Vamos brincar de nave espacial!’”, disse ele, imitando o tom de uma criança empolgada. “Mas posso convidá-los para jogar um jogo que um amigo fez em um papelão, chamado Vast and Starlit.
Jogos analógicos nos permitem trabalhar com a ficção, mas também com estratégias e táticas [do mundo real] por trás da ficção.”
Quando O’Neal começou a frequentar as convenções da indústria, como a GenCon, ela era dominada por homens. Hoje ele estima que metade de seus frequentadores são mulheres.
“A chave é que as pessoas pagam pelo impresso”, disse Orchard. O impresso, ele explicou, é um modelo de negócios que funciona. A Delayed Gratification não tem nenhuma receita de publicidade, vende quase cinco mil cópias de cada edição, é publicada apenas quatro vezes por ano e fatura mais de 200 mil libras anuais. Ele faz isso ao vender a revista por mais do que ela custa para ser produzida.
Enquanto o digital tem óbvias vantagens na distribuição, o modelo lucrativo para a publicação digital continua altamente incerto. Mesmo com todo o papo sobre a morte do impresso, a maioria das publicações digitais ainda gasta mais do que fatura.
“O impresso é ótimo para a realização de uma experiência de marketing”, disse Vogel, “porque é ininterrupto e você decide. E como você é quem decide, dará mais tempo para isso do que se ele tivesse escolhido você, como um anúncio pop-up online movido por um algoritmo. Quando aquele pop-up aparece, você imediatamente busca o X para
“terminabilidade”: a habilidade que os leitores possuem de terminar uma edição. Uma revista tem começo, meio e fim e chegar àquele fim é incrivelmente satisfatório. “Nós vendemos a sensação de sermos mais espertos ao final”, disse Standage. “É a catarse do encerramento.” Por outro lado, é impossível terminar um site de notícias. É um fluxo constante de histórias, atualizações e matérias especiais cuja principal atração é seu conteúdo infinito.
resposta!’. Uma revista é muito melhor.” As razões são simples: ler no papel é altamente funcional e quase nossa segunda natureza. Envolve os mesmos cinco sentidos que Maria Sebregondi listou quando falou do apelo de um caderno Moleskine. Mesmo que o conteúdo de um artigo na edição impressa da The Economist seja exatamente o mesmo daquele que eu posso ler no site ou no aplicativo, a experiência digital não tem o cheiro da tinha, o som da página farfalhando, a textura do papel nos meus dedos. Isso pode parecer irrelevante para a forma que o texto é consumido, mas não é. Leia num iPad e todos os
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a campanha online mais bonita parece barata em uma tela. O impresso, ela acredita piamente, se tornou um item de luxo. “Se nos disserem que o papel tem uma quantidade obscena de desperdício, então ele é tão luxuoso quanto o couro”, disse Martin.
a pesquisa descobriu que os leitores do Times impresso passavam mais tempo lendo as matérias que os do digital. Eles gostam do acaso da descoberta e de ler histórias nas quais nunca clicariam se estivessem na versão digital e o ritual que envolve a leitura de certas seções em determinadas partes de seu dia. Muitos jovens assinantes da versão impressa falavam de seu desejo de se desconectarem dos dispositivos digitais, mas não do mundo e de suas informações, e alguns mencionaram manter o jornal aberto na mesa de jantar, de forma a dar início a conversas com seus filhos, que normalmente se
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“O apelo que o impresso tem é não estar na web”, disse Tom Bodkin,
Newspaper Club
Havia fortes razões lógicas pelas quais as pessoas escolhiam o impresso – leitores prestam mais atenção, a publicidade funciona melhor, fica bonito e seu modelo financeiro é direto
Como o estudioso judaico do século XII Judah ibn Tibbon disse há quase mil anos: “Faça dos livros seus tesouros e suas prateleiras serão jardins de deleite.”
Vender à mão é uma expressão do mercado editorial que essencialmente quer dizer que os vendedores farão que os livros que os clientes querem ler cheguem a suas mãos. Isso envolve habilidades humanas básicas, tais como a leitura de linguagem corporal, o contato visual, questionamentos sobre gosto pessoal e o uso do julgamento humano para sugerir o livro certo. A Amazon não vende à mão; seu algoritmo recomenda títulos a partir de cálculos que levam em conta a probabilidade do que você gostaria de ler com base no que leu antes e no que outros que leram estes livros também compraram. A maior parte
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Por mais que acreditemos que uma seleção ilimitada seja desejável, nós, como consumidores, desejamos limites. De acordo com cientistas como Barry Schwartz, autor de The Paradox of Choice, nós ficamos paralisados e até mesmo aterrorizados quando temos opções ilimitadas, o que é exatamente o que a Amazon nos oferece. Escolher algo entre todos os livros que já foram publicados parece ser um sonho, até que você seja forçado a peneirar através de centenas de milhares deles em seu Kindle, e todas as resenhas que os acompanham, na esperança de encontrar algo bom.
Somos animais como quaisquer outros e apesar de nossos poderes de imaginação, conceitualização, intelectualização, racionalização e visualização, nós, criaturas físicas, experimentamos o mundo apenas através de nossos cinco sentidos.”
O termo que economistas usaram para isso era requalificação, que é o antídoto do fenômeno de desqualificação que tem sido uma consequência natural do fluxo de trabalho automatizado. Em seu excelente livro sobre o custo da automação, The Glass Cage, Nicholas Carr define a desqualificação: “À medida que mais qualidades são passadas à máquina, ela assume mais controle sobre o trabalho, e a oportunidade do operário de se envolver e desenvolver talentos mais profundos, tais como aqueles envolvidos em interpretação e julgamento, decai. Quando a automação atinge seu nível mais alto, quando ela toma o
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Requalificação busca trazer de volta o julgamento humano ao local de trabalho. “É nossa habilidade de fazer as coisas terem sentido”, escreve Carr, “de costurar o conhecimento que reunimos através da observação e da experiência para a vida, com um rico e fluido entendimento do mundo que possamos aplicar em qualquer tarefa ou desafio. É essa qualidade flexível da mente, que abrange a cognição consciente e inconsciente, razão e inspiração, que pede que os seres humanos pensem conceitualmente, criticamente, metaforicamente, especulativamente, espirituosamente para dar saltos de lógica e de
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“É muito trabalho utilizar estes sistemas de ensino eletrônico. E é muito mais fácil aprender a partir de um livro didático”, disse a professora. “Estes garotos são hábeis com a tecnologia para o entretenimento, mas não tão hábeis na tecnologia para o aprendizado.”
Um dos temas mais quentes na área atualmente é a noção de ensinar as chamadas habilidades do século XXI. Elas são a base para a inovação e incluem palavras chamativas como criatividade, colaboração, pensamento crítico, empatia e fracasso. Elas diferem imensamente dos fundamentos ocidentais da educação clássica, como leitura, escrita, aritmética, ciência, entre outras, pois elas são referidas como habilidades suaves, mais uma série de comportamentos do que conhecimento factual específico. Hoje estas habilidades do século XXI são as mesmas que as empresas dizem que precisam, especialmente na
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Eles estavam ajudando em uma sessão de ensino do Empathy Toy com vinte professores e administradores de faculdade diferentes. “Esse workshop é baseado em brincadeiras, por isso não vamos fazer as palavras saírem só de nossas bocas”, disse Burwell, apontando a sala. “Uma palavra para hoje: tangível. Nós chamamos isso de brinquedo, mas na verdade é uma ferramenta de discussão que muda a forma como nós colaboramos em uma experiência tátil sobre a qual podemos falar depois.”
Enquanto o design thinking pode certamente usar ferramentas digitais em sua implementação, as melhores práticas ao seu redor são completamente analógicas e empregam ferramentas como Post-It, cartolina, Lego, massinha e outros materiais flexíveis criativos.
Para mim, essa mudança é o propósito da educação: sermos pensadores críticos e resolvermos problemas de forma criativa.”
Professores são essenciais para o passado, o presente e o futuro da educação analógica e nenhuma tecnologia poderia ou deveria substituí-los. E não é porque eles têm mais conhecimento, mas porque, sem eles, a educação são só fatos passados adiante. Se você quer fatos, leia um livro. Se quiser aprender, encontre um professor.
“Ensinar e aprender é uma relação entre professores e alunos”, disse Larry Cuban, o professor de educação de Stanford que testemunhou o colapso dos MOOC se desdobrar em seu campus. “As relações são analógicas. Aqueles que forçam a tecnologia não interpretam ensinar e aprender como uma relação, mas como uma entrega de informação. A educação não é vista em termos de relação de forma alguma. É vista como uma maneira de ter mais acesso
“O produto analógico sobrevive por mais tempo”, disse o diretor executivo e fundador da Behance, Scott Belsky, tomando café da manhã em sua casa em Nova York. “Porque dá para lucrar com o acesso limitado.
“Mas o mundo analógico é cheio de fricção”, continuou, mexendo na mesa de madeira rústica. “É uma experiência cheia de fricção. Devemos viver uma vida sem fricção alguma? A criatividade surge de conflitos. Na verdade, é a fricção que gera
Uma das maiores promessas da era da informação era que avanços na tecnologia de comunicação resultariam em mais produtividade. Pesquisas mostraram que isso não aconteceu, mas quase ninguém precisa de dados acadêmicos para reparar – só precisam ver os e-mails se acumulando, as mensagens de texto tocando sem parar no telefone e o grupo de conversa do trabalho que saiu do controle para entender que qualquer tecnologia criada prometendo produtividade tem um potencial real de entregar o resultado oposto.
“Seres humanos são multissensoriais. Temos tantas formas de captar a riqueza das experiências, mas as pessoas estão focando suas atenções mais e mais na tela e em outros aspectos dos sentidos (nosso tato, nosso olfato) não estão se inovando.”
“Somos atraídos por coisas analógicas porque vivemos em corpos analógicos”, disse Kelly,