Perfeito para o papel

by Jewel E. Ann

A mulher me enganou, me distraiu com seu corpo e sua dancinha feliz para conquistar um novo espaço, e depois pá! Bongôs o dia inteiro.

“Jonathan Samuel Anderson, você é perfeito para o papel”. Depois ela o beijava. Eu torcia o nariz de desgosto, mas nunca virava para o outro lado. E meu pai então perguntava: “Que papel é esse, minha querida?” E ela respondia: “O de meu homem, é claro”.

— Bem, é como dizem... regras existem para serem quebradas, e limites são impostos para serem ultrapassados.

Nas últimas semanas, gostei da troca de provocações e do flerte. Talvez só eu tenha flertado, mas ele não me pediu para parar. Acho que ele gosta do jogo, mas fica furioso por gostar.

É difícil entender se a tração por ela é física, ou se tem a ver com como ela alegra o dia do meu filho sempre que se encontram. É ridículo se sentir atraído por alguém por causa da interação dessa pessoa com uma criança, mas foda-se, eu acho que é por isso, em parte.

Flint e eu somos duas bolas de pinball batendo uma na outra e correndo em direções opostas até o próximo choque. Cada encontro parece ser mais explosivo.

— Por que está cantarolando? — Porque — murmuro, olhando para a gravata — isso acalma meu coração.

— Se um homem falasse com uma mulher do jeito que você e Amanda falam comigo, todo mundo diria que ele é um canalha. Mas quando uma mulher fala as mesmas coisas, ela é chamada de descolada. Isso não está certo.

Mulheres. Se eu conseguisse convencer meu pau de que não preciso delas, a vida seria muito mais fácil.

Ela esteve na minha cama, mas não dormimos. Tem uma boa chance de ela roncar música clássica.

— Às vezes o mundo acaba e esquece de te levar. Eu entendo.

Ela tem sabor de perdão e provoca em mim uma sensação de liberdade.

De qualquer maneira, vou continuar fazendo o que faço, porque os dias bons superam de longe os ruins, e houve um tempo em que tive certeza de que os dias ruins acabariam comigo.

— E você é o primeiro sopro de oxigênio que entra em meus pulmões em dez anos — cochicha no meu ouvido.

— Nunca se arrependa de amar alguém. Ame por você, não pela pessoa.

Quero ser sua maior força... e sua maior fraqueza. Quero estar onde ele esconde suas mentiras e encontra sua verdade.

Quero essa vida. Quero Flint demonstrando apreciação pelos meus biscoitos. Quero Harry rindo ao ver cookies esfriando sobre uma grelha. Quero beijos apaixonados prometendo longas noites de corpos colados.

Há mais árvores boas do que homens bons.

Quero essa vida. Quero esse homem. Eu quero o impossível?

Você é bagunceira, barulhenta, e tem ratos. Cruzo os braços e imito a postura dele. — Bom, você tem TOC, vive de cara fechada e é completamente irresponsável em relação a controle de natalidade.

Não é ele. Não sou eu. Somos nós. Desafiamos as leis da existência. Somos perdão e redenção. O que temos não é uma vitória, apesar de todas as chances, é o inevitável.

— Fraldas, trapos fedorentos, cuecas e calcinhas vítimas de um milhão de acidentes durante a retirada das fraldas... baba... — Ele dá de ombros. — Limpar fluidos corporais é noventa por cento do trabalho dos pais. — E os outros dez por cento? — Conseguir dez minutos para transar com o marido.

— É sua vida, Flint. Entra no jogo ou desiste, mas não fica no banco assistindo a todos à sua volta vivendo seu sonho.

— Flint Hopkins, você é perfeito para o papel. Pelo canto do olho, vejo meu pai sorrir. É um sorriso alegre, com uma nota de tristeza. — Que papel é esse, minha linda esposa? — O de meu marido, é claro.