As sete irmãs: A história de Maia (Portuguese Edition)

by Lucinda Riley

Cada uma de nós tinha sido adotada por Pa Salt ainda bebê, vindas dos quatro cantos do mundo e levadas até lá para viver sob sua proteção.

Ele tirara nossos nomes das Sete Irmãs, sua constelação preferida. Maia era a primeira e a mais velha.

Olha, Maia, aquela é a linda estrela brilhante que inspirou seu nome.

Alcíone – que recebeu o nome da segunda estrela das Sete Irmãs

À medida que crescia, ela ia se tornando minha sombra, seguindo-me para todos os lugares, o que me agradava e me irritava em igual medida.

Com seus cachos ruivos caindo pelo rosto e os grandes olhos azuis, Ally tinha um encanto natural que atraía as pessoas, incluindo nosso pai.

Embora Ally tenha estudado música no Conservatório de Genebra e fosse uma flautista altamente talentosa, que poderia ter seguido carreira em uma orquestra profissional, desde que deixara a escola de música tinha escolhido ser velejadora em tempo integral. Agora participava regularmente de regatas e representara a Suíça em diversas competições.

Pa chegou em casa com nossa próxima irmã, a quem deu o nome de Astérope, como a terceira das Sete Irmãs. – Mas vamos chamá-la de Estrela

apenas seis meses depois, outra bebê se juntou a nós, uma garotinha de doze semanas chamada Celeno, nome que Ally imediatamente reduziu para Ceci. Havia uma diferença de apenas três meses entre Estrela e Ceci e, desde que me lembro, as duas forjaram uma estreita ligação. Pareciam gêmeas, conversando em uma linguagem de bebê só delas, e continuavam se comunicando desse jeito. Elas viviam em seu próprio mundo particular, que excluía todas nós, suas outras irmãs.

Taígeta, que apelidei de “Tiggy”, porque seu cabelo escuro e curto nascia em ângulos estranhos de sua cabecinha e me fazia lembrar do porco-espinho da famosa história de Beatrix Potter. Eu tinha então 7 anos e me liguei a Tiggy desde o primeiro momento em que coloquei os olhos nela. Ela era a mais delicada de todas nós e, na infância, enfrentara uma doença atrás da outra, mas, mesmo ainda bem pequena, fora sempre serena e complacente.

Depois que Pa trouxe para casa, alguns meses mais tarde, outra neném, que recebeu o nome de Electra,

Tiggy, que continuamente tinha febre ou tosse. Depois que a diagnosticaram como asmática, raramente a tiravam do quarto para passear em seu carrinho, de modo que o ar frio e a névoa pes...

Electra era a mais nova das irmãs, e seu nome combinava perfeitamente com ela. Eu já estava acostumada com bebês e toda a atenção que exigiam, mas minha irmã mais nova era, sem dúvida, a mais desafiadora de todas. Tudo relacionado a ela era elétrico. Sua habilidade natural de mudar em um instante da água para o vinho e vice-versa fazia nossa casa, antes tão tranquila, reverberar diariamente com seus gritos agudos. Os ataques de ...

Sinceramente, havia momentos em que eu a odiava por toda a perturbação que trouxera a Atlantis. Porém, quando Electra sabia que uma de nós estava em apuros, ela era a primeira a oferecer ajuda e apoio. Assim como era capaz de um enorme egoísmo, sua generosidade em outras ocasiões era igualmente marcante.

Depois de Electra, toda a família esperava a chegada da Sétima Irmã. Afinal, tínhamos recebido nossos nomes em homenagem à constelação preferida de Pa Salt e não estaríamos completas sem ela. Até sabíamos seu nome – Mérope – e nos perguntávamos como ela seria. Mas um ano se passou, depois outro, e outro, e nosso pai não trouxe mais nenhum bebê para casa.

– Pa – disse eu –, o senhor nunca vai trazer para casa nossa sétima irmã?

– Não, Maia, não vou. Porque eu nunca a encontrei.

implorei a ele que me deixasse contar para você, para todas vocês, mas ele me pareceu tão angustiado quando sugeri isso que tive de fazer o que ele queria.

Era desejo dele que o sepultamento acontecesse imediatamente e que nenhuma de vocês estivesse presente.

Maia, a bonita; Ally, a líder; Estrela, a apaziguadora; Ceci, a pragmática; Tiggy, a maternal; e Electra, a bomba-relógio.

eu sabia que o meu “dom” da beleza ajudara a provocar o momento mais doloroso da minha vida, simplesmente porque eu era muito ingênua na época para entender o poder que ele exercia. Então agora eu o escondia, quer dizer, eu escondia a mim mesma.

Você provavelmente acha que sou louca por desistir de uma próspera carreira para andar pelas Terras Altas dia e noite por uma mixaria, mas acho muito mais gratificante.

será que a verdadeira razão do meu incômodo era o fato de cada uma das minhas irmãs ter vidas que iam muito além de Pa Salt e da casa de nossa infância, ao passo que ele e Atlantis delimitavam todo o meu mundo?

– Estrela parece não ter opinião própria – eu dissera várias vezes. – Não faço ideia do que ela realmente pensa sobre nada.

– A arte deve ser vista por todos – dizia ele para mim. – É um presente do pintor para a alma. Uma pintura que tem de ser escondida não vale nada.

É o suficiente para mim ter minhas seis obras de arte humanas: minhas filhas. As únicas coisas na Terra que vale a pena cuidar, porque todas vocês são insubstituíveis. As pessoas que você ama são insubstituíveis, Maia.

pensei em como sua presença física sensual e fascinante não combinava com a garotinha vulnerável que habitava sua alma. Muitas vezes eu via fotos dela em revistas de braços dados com um astro de cinema ou algum playboy rico, parecendo fabulosa e completamente dona de si, e me perguntava se era mesmo a irmã emocionalmente instável que eu conhecia.

Depois de um tempo, concluí que Electra ansiava por constantes demonstrações de amor e atenção para satisfazer alguma profunda insegurança.

acho que nunca se consegue ter essa sensação de conclusão depois de perder alguém que se ama.

Para Electra, as regras existiam apenas para ser quebradas, e ela era a única de nós que discutia de igual para igual com Pa até que um deles vencesse. Ainda assim, eu podia ver o brilho de admiração nos olhos de Pa quando falava de sua impetuosa caçula.

quando tentei entrar no escritório de Pa ontem à noite, a porta estava trancada. Você sabe por quê? – Porque seu pai me pediu que a trancasse para ele pouco antes de morrer. E logo depois insistiu que eu lhe desse a chave. Não faço ideia de onde ele a guardou

sou viciada no bom e velho chá preto inglês cheio de cafeína

todas vão receber uma quantia que será suficiente para sustentá-las, mas nunca vai lhes proporcionar uma vida de luxo. Essa parte, como ele enfatizou para mim, é o que vocês terão que conseguir por si mesmas, como ele o fez.

Os bens do seu pai vão para um fundo de pensão em nome de todas vocês, e ele me concedeu a honra de administrar. Caberá a mim decidir lhes dar ou não ajuda financeira sempre que vocês me procurarem com uma proposta ou um problema.

– Esta casa também faz parte do fundo de pensão, e tanto Claudia quanto Marina disseram que teriam prazer em continuar aqui e tomar conta de tudo. No dia em que a última de vocês morrer, o fundo será dissolvido, a propriedade poderá ser vendida e o lucro dividido entre os descendentes que vocês vierem a ter. Se não houver descendentes, o dinheiro será doado a uma instituição de caridade que seu pai escolheu.

Outro fato interessante é que o mestre de obras que trabalhou no Cristo era judeu, mas, antes do fim do trabalho, ele se converteu ao cristianismo. O Sr. Levy escreveu os nomes de todas as pessoas de sua família e os guardou no coração do Cristo antes de selá-lo na estátua com concreto.

toda a parte externa do Cristo é um mosaico de fragmentos triangulares de pedra-sabão. Mulheres da sociedade passaram muitos meses colando-os a um papel especial para montar grandes painéis, o que garantia que o revestimento externo fosse flexível e, portanto, a estátua não corresse o risco de sofrer grandes rachaduras.

Uma velha senhora que participou do trabalho me contou que muitas mulheres escreviam os nomes de seus amados e uma mensagem ou uma oração na parte de trás dos ladrilhos. E aqui estão, colados para sempre no Cristo.

Gustavo Aires Cabral se casou com Izabela Bonifácio em janeiro de 1929. Eles tiveram uma menina em abril de 1930, chamada Beatriz Luiza. Não há nenhuma certidão de óbito no nome dela, por isso podemos supor por enquanto que ela é a senhora que você conheceu na casa ontem.

Ela se casou com Evandro Carvalho em 1951 e eles também tiveram uma menina em 1956, que batizaram de Cristina Izabela.

– Quem é ela? – Izabela Aires Cabral, cujo primeiro nome está na parte de trás do ladrilho e que pode muito bem ser sua bisavó. Você vê a semelhança, Maia? – perguntou, me incentivando. Olhei bem para o rosto da mulher. Sim, até eu podia ver meu próprio rosto refletido ali.

Ela era considerada, na época, uma das mulheres mais bonitas do Brasil. Casou-se com Gustavo Aires Cabral na catedral aqui do Rio, em janeiro de 1929. Foi o casamento do ano.

Quando perguntou se poderia dar um mergulho, seu pai balançara a cabeça. – Não, querida, você não pode ser vista pelos criados em uma roupa de banho. Só pode nadar quando eles não estiverem por perto. Como os criados estavam sempre por perto, Bel rapidamente percebera que a piscina era simplesmente outro ornamento, um bem imponente que seu pai podia ostentar para impressionar os amigos.

seu pai chegara em casa e anunciara que tinha comprado uma casa no Cosme Velho, um dos bairros mais exclusivos do Rio. – Agora os aristocratas portugueses não poderão mais me ignorar, porque serão nossos vizinhos!

– Porque não basta para o seu pai ser tão rico quanto os aristocratas portugueses do Rio. Ele quer ter o mesmo status deles na sociedade. E conquistar o respeito desses senhores.

os portugueses do Rio encaram com desprezo os paulistas italianos

Loen nascera na fazenda da família. Seus antepassados africanos haviam sido escravos na plantação de café. Quando a escravidão finalmente foi abolida no Brasil, em 1888, muitos escravos libertos deixaram de trabalhar no mesmo dia e abandonaram seus antigos patrões, mas os pais de Loen decidiram ficar. Eles continuaram a trabalhar para os donos da fazenda na época, uma rica família portuguesa, até que, como tantos aristocratas cariocas que ficaram sem a mão de obra escrava para cuidar dos cafezais, os proprietários foram obrigados a vender a propriedade.

Bel, por sua vez, procurara retribuir a bondade e a lealdade de Loen passando os longos e lânguidos entardeceres na fazenda ensinando-a a ler e escrever. Então, pelo menos, pensou Bel com um suspiro enquanto tomava café, elas poderiam se corresponder enquanto estivessem longe.

Lutz fundara a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino havia seis anos e lutava para que todas as mulheres do Brasil tivessem direito ao voto.

– É uma pedra da lua, e dizem que protege quem usa, principalmente se a pessoa está viajando pelo oceano e para longe daqueles que a amam.