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– Que tipo de marido combina com você, Srta. Jenner? – Evie – murmurou a menina, cujas bochechas coraram tanto que ficaram tais quais os cabelos cor de fogo. Ela teve dificuldade para responder, a extrema timidez batendo de frente com um forte instinto de privacidade. – Eu acho que... eu gostaria de a-a-alguém que fosse gentil e... – Interrompendo-se, ela balançou a cabeça com um sorriso autodepreciativo. – Não sei. Apenas alguém que pudesse me amar. Realmente me amar.
Se houvesse um pingo de poesia na alma de Simon, ele poderia ter pensado em dezenas de versos arrebatadores para descrever os encantos dela. Mas ele era plebeu até os ossos e não conseguia encontrar palavras que descrevessem com precisão a atração que sentia. Tudo o que sabia era que a visão de Annabelle à luz brilhante dos candelabros quase enfraquecia seus joelhos.
– Alguma vez já pensou em fazer algo de modo humilde, Sr. Hunt? Apenas por uma questão de educação? – Eu não acredito em falsa modéstia. – As pessoas iriam gostar mais de você se fizesse. – Você gostaria?
Eu não gostaria nem metade do que gosto de você se fosse uma mulher boazinha.
– Minha Cinderela campestre
– Passei a maior parte da juventude carregando peças de carne para a loja do meu pai. Carregar você é muito mais agradável. – Encantador – murmurou Annabelle prostrada e de olhos fechados. – O sonho de toda mulher é ouvir que ela é melhor do que uma vaca morta.
– Não está sendo apenas gentil, não é? – perguntou, inquieta. Inclinando-se sobre ela, Hunt ajeitou umas mechas do cabelo de Annabelle que tinham grudado na testa molhada de suor. Apesar do tamanho de sua mão, seu toque era leve e terno. – Nunca minto para ser gentil – murmurou ele, com um sorriso. – É um dos meus muitos defeitos.
As botinas eram um presente de Simon Hunt, que tinha plena consciência de que um cavalheiro nunca devia dar uma peça de vestuário a uma dama.
– Por favor.. Leve-me até o meu quarto. Hunt inclinou a cabeça dela delicadamente para trás e a fitou com um sorriso nos lábios. – Doçura, eu a levaria até Tombuctu se você me pedisse.
– Se está insinuando que sou mimada, posso assegurar que está muito equivocado. – Pois deveria ser. – Seu olhar convidativo perpassou pelo rosto rosado e pelo torso esbelto de Annabelle, voltando a fixar-se nos olhos dela. Quando falou, seu tom de voz conseguiu deixá-la sem fôlego. – Não lhe faria mal ser um pouco mimada.
– Vai voltar antes de a festa acabar? – perguntou ela, aparentemente concentrada em destrinchar o faisão com a faca. – Depende. – De quê? A voz dele adquiriu um tom bem suave.
A lembrança do único beijo que tinham dado não era nada se comparado ao que experimentava agora – talvez porque ele não fosse mais um estranho. Ela o desejava com tanto desespero que chegou a se assustar.
você não é desses homens que se casam – ela conseguiu dizer brandamente. Ele acariciou a orelha dela, traçando a delicada curva exterior com a ponta do dedo. – Descobri que sou se for com você.
– Porque percebi, durante os últimos dias, que não quero deixar que ninguém tenha dúvidas sobre a quem você pertence. Inclusive você mesma.
– Vamos precisar contratar um bom quadro de ajudantes se formos viver em uma casa adequada – disse Annabelle com atrevimento. – A menos que você pretenda me pôr de joelhos para esfregar o chão e limpar grades. Essa sugestão fez os olhos pretos como café de Hunt se iluminarem com um brilho perverso que ela não conseguiu entender. – Pretendo pô-la de joelhos, querida, mas posso garantir que não vai ser para esfregar o chão.
– Toda vez que a vejo – murmurou Hunt –, acredito que seja impossível que esteja ainda mais bonita... mas você sempre me prova o contrário.
– Você é tão apertada – disse ele com voz embargada. – Eu... sinto muito... – Não, não – conseguiu dizer. – Não se desculpe. Meu Deus – Tinha a voz arrastada, como se estivesse bêbado de prazer.
– Está arrependida agora de nunca ter dançado comigo antes? – Não – murmurou ela por sua vez. – Se eu não tivesse sido um desafio, você teria perdido o interesse. Deixando escapar uma gargalhada baixa, Hunt enganchou o braço em volta da cintura dela e a conduziu para um canto do salão. – Isso nunca teria acontecido. Tudo o que você faz ou fala desperta o meu interesse.
– Se está tentando ser engraçado, pode parar. Estou furiosa com você.
– Por acaso já mencionei que consigo abrir botões com os dentes? Uma risada abafada escapou-lhe, e ela se contorceu baixando a cabeça na direção do corpete. – Não é uma habilidade das mais práticas, não acha? – É útil em determinadas situações. Deixe que eu mostre para você...
– Annabelle – disse ele com a voz rouca –, visitar uma fundição é como olhar através das portas do inferno. O lugar é tão seguro quanto conseguimos deixar, mas, mesmo assim, é barulhento, áspero e sujo. E sim, há sempre a chance de ser perigoso, e você... – Ele parou e passou os dedos pelos cabelos, olhando em volta, impaciente, como se de repente fosse difícil encará-la. Relutante, ele se forçou a prosseguir: – Você é muito importante para mim, não posso arriscar a sua segurança de forma alguma. É minha responsabilidade protegê-la.
– Para o resto da minha vida vou me lembrar do que senti ao saber que você ia morrer junto comigo, sem que eu conseguisse fazer nada para impedir.
Preferia morrer nos seus braços, Simon, a enfrentar uma vida inteira sem você. Todos aqueles intermináveis anos... Todos aqueles invernos, verões... Uma centena de estações querendo e nunca tendo você. Envelhecer, enquanto você teria ficado eternamente jovem nas minhas memórias.
Eu estava errada quando lhe disse que não sabia o lugar a que pertencia. Eu sei. Meu lugar é ao seu lado, Simon. Nada mais importa, exceto estar com você. Você está preso comigo para sempre, e nunca vou escutar quando me pedir para ir embora. – Ela deu um sorriso trêmulo. – Então, pode parar de reclamar e se conforme.
– Meu Deus, não posso suportar isso! Não posso deixar você sair todos os dias, temendo a cada minuto que algo possa acontecer, sabendo que cada grama de sanidade que me resta depende do seu bem-estar. Não posso me sentir assim... É muito forte... Ah, inferno! Vou ficar louco, lunático! Nunca mais vou servir para nada. Se eu pudesse diminuir isso de alguma forma... Amar você pelo menos a metade do que amo... Eu poderia ser capaz de conviver com isso.
– Você é tão linda... – sussurrou Simon. – Por dentro e por fora. Annabelle, minha esposa, meu doce amor... Beije-me novamente. E não pare até que eu peça.

