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Coração das trevas abriu uma janela, uma das primeiras de sua época, para que o mundo olhasse a violência do imperialismo na África.
No Congo belga, então propriedade privada do rei Leopoldo II, cerca de dez milhões de vidas foram ceifadas de forma direta ou indireta. Execuções, trabalho até a exaustão, negligência, doenças. A ganância pela borracha introduziu no continente africano uma prática vista até hoje: a punição pelo decepar de mãos ou antebraços, uma “invenção” belga.
A experiência de ler Coração das trevas é, como dito antes, a de olhar por uma janela, que nos permite ver o abismo da mente humana; o medo do desconhecido; a violência e barbárie que o homem é capaz de infligir mesmo em nome da civilização; como isso era, e é, normalizado; como criamos imagens em nossas cabeças em vez de entender a realidade e sua complexidade. Conrad nos deu uma obra que pode ser lida como uma aventura, como um soco no estômago e como uma amostra do que nos cerca.
O estuário do Tâmisa se estendia à nossa frente como o começo de um canal interminável. No horizonte, o mar e o céu fundiam-se sem emenda, e no espaço luminoso as velas tostadas das barcaças que deslizavam rio acima com a maré pareciam paradas em grupos vermelhos de lona em picos, com brilhos de espichas envernizadas.