Os Detetives Selvagens
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Read between August 16 - August 29, 2024
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Mas a poesia (a verdadeira poesia) é assim: ela se deixa pressentir, se anuncia no ar, como os terremotos que, segundo dizem, alguns animais especialmente aptos a tal propósito pressentem. (Esses animais são as cobras, as minhocas, os ratos e certos pássaros.)
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Este país está se afundando na merda e não sei como vamos resolver isso.
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— Como eu ia dizendo, é uma cidade vagamente desconhecida e vagamente conhecida.
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A livraria, é claro, está a maior parte do tempo deserta, e dom Crispín gosta de ler, mas não desdenha passar horas inteiras falando do que for.
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na realidade jornalistas e funcionários públicos, essa classe de gente triste que nunca sai do centro, de certas zonas do centro, titulares da tristeza na zona compreendida pela avenida Chapultepec, ao sul, e Reforma, ao norte, assalariados do El Nacional, corretores do Excelsior, burocratas da Secretaria de Governo,
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Muito pouco tempo, realmente, o que demonstra a relatividade da nossa memória, que amplia ou reduz à discrição, uma linguagem que cremos conhecer mas que na verdade não conhecemos.
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Outros achavam errado, diziam que era um comportamento de lúmpen. O lumpenismo: doença infantil do intelectual.
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A relação do meu pai com suas posses, sua casa, seu carro, seus livros de arte, sua conta corrente, sempre foi, no mínimo, distante, no mínimo, ambígua. Parecia que meu pai sempre estava se despindo, sempre tirando certas coisas de cima de si, de bom ou de mau grado, mas com tanto azar (ou com tanta lentidão) que nunca conseguia alcançar a ansiada nudez.
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quando todo mundo civilizado desaparecer, o México continuará existindo, quando o planeta se desvanecer ou se desintegrar, o México continuará sendo o México)
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se nos metermos num quarto escuro, sem limite de tempo, se eu os despir e eles me despirem, tudo se acertará, a loucura do meu pai, o carro perdido, a tristeza e a energia que eu sentia e que por momentos pareciam me asfixiar. Mas não lhes disse nada.
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deixe esses papéis em paz, mulher, que a poeira sempre se entendeu com a literatura.
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Acho, permitam-me este adendo, que a vida está repleta de coisas maravilhosas e enigmáticas.
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Ouvi muitas vezes a história, contada por outros, na qual aquela mulher que ficou quinze dias sem comer, trancada num banheiro, é uma estudante da Faculdade de Medicina ou uma secretária da Torre da Reitoria, e não uma uruguaia sem documentos, sem trabalho, sem casa onde descansar.
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Há uma literatura para quando se está aborrecido. Abunda. Há uma literatura para quando se está calmo. Esta é a melhor literatura, acho. Também há uma literatura para quando se está triste. E há uma literatura para quando se está alegre. Há uma literatura para quando se está ávido de conhecimento. E há uma literatura para quando se está desesperado.
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No fundo literatura amarga, cheia de armas brancas e de Messias enforcados, não consegue penetrá-lo até o coração, como consegue, esta sim, uma página serena, uma página meditada, uma página tecnicamente perfeita! Disse isso a eles. Eu os avisei. Mostrei a página tecnicamente perfeita. Eu os avisei dos perigos. Não esgotar um filão! Humildade!
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viver em Paris, é bem sabido, desgasta, dilui todas as vocações que não sejam de ferro, acanalha, impele ao esquecimento.
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Mas não o vi de cara, só sua sombra atravessando o bar. Uma sombra sem metáforas, vazia de imagens, uma sombra que só era uma sombra e que assim já bastava.
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cruza até a Alameda e pára, parece que pára para respirar, depois continua a andar, no mesmo ritmo, pelos jardins, debaixo das árvores, e assim como há mulheres que enxergam o futuro, eu enxergo o passado, enxergo o passado do México e vejo as costas dessa mulher que se afasta do meu sonho, e digo a ela, aonde você vai, Cesárea?, aonde você vai, Cesárea Tinajero?
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Não éramos amantes, só amigos, a verdade é que um dos motivos para que saíssemos juntos de Londres naquele verão foram as relações sentimentais que cada um de nós sofria do seu lado e a certeza de que entre nós aquilo tudo era impensável.
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Depois de Margueritte ler os poemas de Desnos, nesse intervalo de silêncio que se cria depois de se ouvir algo verdadeiramente bonito, um intervalo que pode durar um ou dois segundos ou a vida toda, porque há para todos os gostos nesta terra sem justiça nem liberdade, o cara que estava na outra ponta do terraço se levantou e se aproximou da gente e pediu que Margueritte lesse outro poema.
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Estavam no bar todos os tripulantes do Isobel, todos com cara de enterro, e não era para menos, se bem que, como costumo dizer, se as coisas vão mal para você, só podem piorar se ainda por cima você ficar triste.
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o sono nos pega nos momentos mais inoportunos ou inverossímeis, menos quando deveria nos pegar, quer dizer, à meia-noite em nossa cama, que é precisamente quando o desgraçado do sono desaparece ou se faz de desentendido, e os velhos ficam insones.
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Então um deles abriu a garrafa e verteu o néctar dos deuses nos respectivos copos, os mesmos em que antes havíamos bebido mescal, o que, segundo alguns, é sinal de desleixo e, segundo outros, um requinte dos mil diabos, pois estando o vidro, digamos, laqueado com mescal, a tequila fica mais saborosa, feito uma mulher nua que vestíssemos com um casaco de peles.
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Como se as seqüelas de sua cirurgia transluzissem nas ruas, na gente sem trabalho, nos ladrões pés-de-chinelo que costumavam tomar sol às sete da tarde como zumbis (ou feito mensageiros sem mensagem ou com uma mensagem intraduzível), dispostos automaticamente a terminar mais um entardecer no DF
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Minha história, no entanto, não será tão coerente quanto eu gostaria. E meu papel nela oscilará, como um grão de poeira, entre a claridade e a escuridão, entre os risos e as lágrimas, exatamente como uma telenovela mexicana ou um melodrama iídiche.
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Mas não por mim, não porque me ferissem ou a ferissem, mas porque tentava evitar a proximidade com sua dor, com sua teimosia de mula, com sua profunda estupidez.
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hexâmetros espondaicos
Erwin Maack
Vento que sopra, mar que murmura , céu que cintila.
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Amadeo, disse a mim mesmo, você deve estar mais bêbado do que imagina, perdido na bruma, com apenas uma lanterninha de papel pendurada em meus canhões de proa, mas não me desesperei e encontrei o rumo, passinho a passinho, tocando minha sineta, barco no rio, vaso de guerra perdido na foz do rio da história, e a mera verdade é que àquela altura eu já andava como se dançasse aquela dança de ponta e salto, não sei se ainda se dança assim, espero que não,
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Ah, que alívio chegar à luz, mesmo que esta seja uma vaga penumbra, que alívio chegar à claridade.
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Há escritores desmancha-prazeres, pés-frios, dos quais é melhor sair correndo, acredite você ou não no azar, seja você positivista ou marxista, dessa gente é bom fugir como da peste negra.
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A literatura não vale nada.
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volta de 1975, estavam lá Arturo Belano, Ulises
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Claro, eu não sabia que, com essa decisão, eu estava pondo a corda no pescoço, se soubesse disso, Ulises Lima não teria tirado o pé do DF, mas a gente é assim, impulsiva, e no fim das contas o que tem que acontecer sempre acontece, somos uns joguetes nas mãos do destino, não é mesmo?
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Não fique triste inutilmente, dom Pancracio respondeu, todos os poetas se perdem alguma vez, e avise a polícia.
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Sabe o que é o pior da literatura?, dom Pancracio indagou. Eu sabia, mas fingi que não. O quê?, perguntei. Que você acaba se tornando amigo dos literatos. E a amizade, muito embora seja um tesouro, acaba com o senso crítico.
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Ah, ele, dom Pancracio fez como se acordasse, para dizer a verdade não me lembro mais, mas não se preocupe, o poeta não morre, vai a pique, mas não morre.
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Jacinto, você conhece Ulises, você é amigo dele e sabe como ele é, mas Jacinto dizia que ele havia desaparecido e ponto final, igualzinho a Ambrose Bierce, igualzinho aos poetas ingleses mortos na guerra da Espanha, igualzinho a Puchkin, só que nesse caso sua mulher, quer dizer, a mulher de Puchkin, era a Realidade, o francês que matou Puchkin era a Contra-revolução anti-sandinista, a neve de São Petersburgo eram os espaços em branco que Ulises Lima ia deixando para trás, quer dizer, sua fleuma, sua preguiça, sua falta de senso prático, e os padrinhos do duelo (os cafetinos do duelo, como ...more
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Jacinto respondia que francamente não pensava mais em fazer a revolução de nenhuma maneira, mas que, se uma noite desse com ela por aí, não seria má idéia fazê-la com frases feitas e com boleros,
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Ouvi a última moeda entrar no ventre do telefone público, um barulho de folhas, de vento levantando folhas secas, um barulho de chamas subindo pelo tronco de uma árvore, um barulho como que de fios se enrolando, se desenrolando e se desfazendo por fim no nada.
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e ele então reordenava as peças de sua narrativa e me falava daquelas sombras, seus escudeiros ocasionais, os fantasmas que ornavam sua imensa liberdade, seu imenso desamparo.
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Depois fizemos amor, mas foi como fazer amor com alguém que está e não está presente, alguém que está indo embora bem devagar e cujos gestos de despedida somos incapazes de decifrar.
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Este país é uma merda, Albertito disse. A polícia não funciona, nem os hospitais, nem as prisões, nem os necrotérios, nem o serviço funerário. Aquele cara tinha o endereço de Julita, e a polícia teve a cara-de-pau de interrogá-la por mais de três horas.
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De todas as ilhas visitadas, duas eram portentosas. A ilha do passado, disse, onde só existia o tempo passado e na qual seus moradores se entediavam e eram razoavelmente felizes, mas onde o peso do ilusório era tal que a ilha ia afundando no rio cada dia um pouco mais. E a ilha do futuro, onde o único tempo que existia era o futuro e cujos habitantes eram sonhadores e agressivos, tão agressivos, Ulises disse, que provavelmente acabariam se comendo uns aos outros.
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Não tem pressa, falei, e pensei nos terremotos do México que vinham avançando do passado, devagar e sempre, em direção à eternidade ou ao nada mexicano.
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a literatura mexicana, provavelmente todas as literaturas latino-americanas eram assim, uma seita rígida em que era difícil obter perdão.
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A liberdade é como um número primo.
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Contei a ele então o que vinha rondando minha cabeça. Belano, falei, o cerne da questão é saber se o mal (ou o delito, ou o crime, ou como quiser chamar) é casual ou causal. Se for causal, podemos lutar contra ele, é difícil de derrotar, mas há uma possibilidade, mais ou menos como dois boxeadores do mesmo peso. Se é casual, pelo contrário, estamos fodidos. Que Deus, se é que ele existe, nos perdoe. Tudo se resume a isso.
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porque de minhas leituras só lembro uma cortina quente ou talvez apenas morna, que se mexia com a leve brisa de Roma ao anoitecer, e plantas, e árvores, e ruídos de passos. Uma noite conheci o diabo. Não me lembro de mais nada. Conheci o diabo e soube que iria morrer.
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Como em todo amor louco, não? Se ao infinito se acrescentar mais infinito, o resultado será o infinito. Se você juntar o sublime ao sinistro, o resultado será sinistro. Não?
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Mas qual era a porra do céu do México? A alegria assumida ou o que está por trás da alegria, os gestos vazios ou o que se esconde (para sobreviver) por trás dos gestos vazios?
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