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Dizer a verdade sobre si mesmo, descobrir a si mesmo de tão perto, não é coisa fácil.
Pois, para além da dificuldade de comunicar aquilo que se é, há a suprema dificuldade de ser aquilo que se é.
Esta alma, ou a vida dentro de nós, não combina absolutamente com a vida fora de nós.
Ele, sozinho, vive, enquanto outras pessoas, escravas da cerimônia, deixam a vida passar por elas numa espécie de sonho.
Se pedirmos, pois, a esse grande mestre da arte da vida para nos contar seu segredo, ele certamente nos aconselhará a nos recolher para o aposento interior de nossa torre e ali folhear as páginas dos livros, perseguir fantasia após fantasia enquanto elas dão caça umas às outras chaminé acima, e deixar o governo do mundo para outros.
Retiro e contemplação – esses devem ser os principais elementos de sua receita.
Observe a si próprio: num momento, você está todo animado; no seguinte, um copo quebrado deixa-o à beira de um ataque de nervos. Todos os extremos são perigosos. É melhor ficar no meio da estrada, nas trilhas costumeiras, por mais lamacentas que sejam. Ao escrever, escolha as palavras comuns; evite a rapsódia e a eloquência – mas, é verdade, a poesia é deliciosa; a melhor prosa é aquela que está mais plena de poesia.
Há, talvez, mais das qualidades que importam entre os ignorantes do que entre os estudados.
As almas às quais desejaríamos nos assemelhar, como Etienne de La Boétie, por exemplo, são sempre as mais flexíveis.
“Trata-se de existir, mas manter-se preso e obrigado por necessidade a uma única trilha não é viver” (III, 3).
Assim que começamos a discursar, a agir com afetação, a ditar leis, nós perecemos. Vivemos, então, para outros, não para nós mesmos.
Movimento e mudança são a essência de nosso ser; a rigidez é morte; o conformismo é morte: vamos dizer o que nos vem à cabeça, vamos nos repetir, nos contradizer, deitar fora o mais insensato dos absurdos, e seguir as mais fantásticas fantasias sem nos importarmos com o que o mundo faz ou pensa ou diz.
Pois não dizemos tudo; há algumas coisas que, no momento, é aconselhável apenas sugerir.
Devemos nos manter próximos da natureza humana. “É preciso viver entre os vivos”

