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January 1 - February 8, 2016
Humanos decidindo o que comer sem orientação profissional — coisa que vêm fazendo com extraordinário sucesso desde que desceram das árvores — é algo pouquíssimo lucrativo para uma empresa do ramo de alimentação, fracasso profissional certo para um nutricionista e simplesmente um tédio para um redator ou repórter de jornal.
Mas afirmo que praticamente tudo o que consumimos hoje não é mais, em sentido estrito, comida, e a forma como estamos consumindo essas coisas — no carro, na frente da tevê e, cada vez mais, sozinhos — não é realmente comer, pelo menos no sentido em que a civilização
O surgimento do nutricionismo reflete preocupações legítimas de que a dieta americana, que está quase se tornando a dieta mundial, se transformou de maneira a nos deixar cada vez mais doentes e gordos. Quatro das dez principais causas de morte hoje são doenças crônicas ligadas à dieta: doenças coronarianas, diabetes, AVC e câncer.
O nutricionismo prefere ficar mexendo na dieta ocidental, ajustando os vários nutrientes (diminuindo a gordura, aumentando as proteínas) e enriquecendo alimentos processados a, antes de tudo, questionar seu valor. O nutricionismo é, em certo sentido, a ideologia oficial da dieta ocidental e, assim, não se pode esperar que vá questioná-la de forma efetiva.
O nutricionismo prefere ficar mexendo na dieta ocidental, ajustando os vários nutrientes (diminuindo a gordura, aumentando as proteínas) e enriquecendo alimentos processados a, antes de tudo, questionar seu valor. O nutricionismo é, em certo sentido, a ideologia oficial da dieta ocidental e, assim, não se pode esperar que vá questioná-la de forma efetiva.
A ciência tem muito de valioso a nos ensinar sobre comida, e talvez algum dia os cientistas “solucionem” o problema da dieta, criando a refeição nutricionalmente ideal em uma pílula, mas, por ora, e pelo futuro previsível, deixar os cientistas decidirem o cardápio seria um erro. Eles não sabem o suficiente. Você pode muito bem, e com razão,
A ciência tem muito de valioso a nos ensinar sobre comida, e talvez algum dia os cientistas “solucionem” o problema da dieta, criando a refeição nutricionalmente ideal em uma pílula, mas, por ora, e pelo futuro previsível, deixar os cientistas decidirem o cardápio seria um erro. Eles não sabem o suficiente.
Onde antes os nomes familiares de comestíveis reconhecíveis — coisas como ovos, cereais matinais ou salgadinhos — sustentavam a posição mais importante nos pacotes coloridos que abarrotavam os corredores, termos novos de ressonância científica como “colesterol”, “fibra” e “gordura saturada” começaram a vir estampados em destaque. Mais importante do que simples alimentos, achava-se que a presença ou a ausência dessas substâncias invisíveis conferia benefícios à saúde de quem os consumia.
conceito de nutriente existe desde o início do século XIX. Foi quando William Prout, médico e químico inglês, identificou os três principais componentes dos alimentos — proteínas, gorduras e carboidratos —, que ficariam conhecidos como macronutrientes.
vita”, vida, e “aminas”, compostos orgânicos organizados em torno do nitrogênio).
Parece ser uma regra do nutricionismo que para cada bom nutriente deve haver um mau, para servir de contraste, este um foco para nossos medos e o primeiro para nossos entusiasmos.
Como tantas ideologias, o nutricionismo no fundo depende de uma forma de dualismo, de modo que sempre precisa haver um nutriente mau para os partidários condenarem e um salvador para beatificarem.
Outra fraqueza potencialmente séria da ideologia nutricionista é que, focada de forma tão implacável como está nos nutrientes que pode medir, tem problemas para discernir as distinções qualitativas entre os alimentos. Então peixe, carne e frango pela lente do nutricionista se tornam meros sistemas de distribuição para quantidades variáveis de diferentes gorduras, proteínas e quaisquer outros nutrientes que porventura estejam em seu escopo.
Quando a ênfase está na quantificação dos nutrientes contidos nos alimentos (ou, para ser preciso, dos nutrientes reconhecidos nos alimentos), qualquer distinção qualitativa entre alimentos naturais e processados tende a desaparecer.
Uma crítica],
Mary Enig (que vem alertando contra as gorduras trans desde a década de 1970) e nutricionistas como Fred Kummerow e John Yudkin (que vêm alertando contra os carboidratos refinados, também desde os anos 70), mas esses críticos sempre tiveram dificuldade para ser ouvidos, sobretudo após 1977, quando as diretrizes McGovern efetivamente fecharam o debate sobre a hipótese lipídica nos Estados Unidos.
Vale lembrar que o cérebro humano é cerca de 60% gordura; cada neurônio é envolvido por uma camada protetora dessa substância. As gorduras constituem a estrutura das paredes de nossas células, e as proporções entre seus vários tipos influenciam a permeabilidade das células a tudo, de glicose e hormônios a micróbios e toxinas.
O nutricionismo resolve o problema do estômago fixo, como era chamado no ramo: o fato de que, comparada à demanda por outros bens de consumo, a demanda por comida, no passado, não variava muito. As pessoas só tinham capacidade de comer determinada quantidade, e porque a tradição e o hábito governavam suas opções, tentavam
A teoria é que os carboidratos refinados interferem no metabolismo da insulina de maneiras que aumentam a fome, fazendo com que se coma em excesso e se acumule gordura no corpo.
não é preciso sondar a complexidade de uma cenoura para colher seus benefícios.
Os carboidratos de um bagel serão absorvidos mais lentamente se o bagel for untado de manteiga de amendoim; as fibras, a gordura e a proteína da manteiga de amendoim amenizam a resposta da insulina, suavizando com isso o impacto dos carboidratos.
Do mesmo modo, muito do que sabemos sobre os benefícios para a saúde de uma dieta vegetariana se baseia em estudos dos adventistas do sétimo dia, que distorcem o quadro nutricional abstendo-se de álcool e fumo, bem como de carne. Esses fatores sem relação entre si mas inevitáveis são chamados, com propriedade, de confundidores.
ortorexia
Glicose é uma molécula de açúcar que é a maior fonte de energia do corpo; a maioria dos carboidratos se transforma em glicose durante a digestão. Frutose é uma forma diferente de açúcar, comumente encontrada em frutas. Sacarose, ou açúcar de mesa, é um dissacarídeo que consiste em uma molécula de glicose unida a uma molécula de frutose.
em vez de nos preocuparmos com os nutrientes, deveríamos simplesmente evitar qualquer alimento que tenha sido processado a ponto de ser mais o produto da indústria que da natureza.
Será que um bife de novilho engordado em confinamento com uma dieta de milho, vários dejetos industriais, antibióticos e hormônios ainda é um “alimento puro”? Não tenho tanta certeza. O próprio novilho foi criado com uma dieta ocidental, e essa dieta tornou sua carne substancialmente diferente
Joan Gussow,
NÃO COMA NADA QUE SUA BISAVÓ NÃO RECONHECESSE COMO COMIDA.
Não coma nada que não possa apodrecer
EVITE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS QUE CONTENHAM INGREDIENTES: A) DESCONHECIDOS, B) IMPRONUNCIÁVEIS, C) QUE PASSEM DE CINCO OU QUE INCLUAM D) XAROPE DE MILHO COM ALTO TEOR DE FRUTOSE.