Livro do Desassossego
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Read between November 19, 2017 - February 9, 2018
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Amanhã o que for será outra coisa, e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão.
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Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho.
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Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades.
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A vida é para nós o que concebemos nela.
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Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo.
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Estou cansado de ter sonhado, porém não cansado de sonhar.
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Em sonhos consegui tudo.
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Quantos Césares fui, mas não dos reais.
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Nenhuma ideia brilhante consegue entrar em circulação se não agregando  a si qualquer elemento de estupidez.
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Tenho todas as qualidades, pelas quais são admirados os poetas românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela qual se é realmente poeta romântico.
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Sofro, principalmente, do mal de poder sofrer.
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Sou navegador num desconhecimento de mim. Venci tudo onde nunca estive.
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Tenho álcool bastante em existir. Bêbado de me sentir, vagueio e ando certo.
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Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém.
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dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa.
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Quem sou por detrás desta irrealidade? Não sei. Devo ser alguém.
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Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não posso ser.
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Só não há tédio nas paisagens que não existem,
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Transeuntes eternos por nós mesmos, não há paisagem senão o que somos.
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Nada temos porque nada somos. Que mãos estenderei para que universo? O universo não é meu: sou eu.
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Um terramoto e um massacre não têm para mim diferença senão a que há entre assassinar com uma faca e assassinar com um punhal.
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Assim é o mundo, monturo de forças instintivas, que todavia brilha ao sol com tons palhetados de ouro claro e escuro.
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Não pedi à vida mais do que ela me não exigisse nada.
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Busco-me e não me encontro.
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Devo fazer da minha alma uma coisa decorativa.
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Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada.
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Não me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer falado à costureira que, cerca das nove horas, volta sempre a esquina da direita.
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Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.
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Se eu um dia pudesse adquirir um rasgo tão grande de expressão, que concentrasse toda a arte em mim, escreveria uma apoteose do sono.
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Não sei de prazer maior, em toda a minha vida, que poder dormir.
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se. A violência, seja qual for, foi sempre para mim uma forma esbugalhada de estupidez humana.
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Depois, todos os revolucionários são estúpidos, como, em grau menor, porque menos incómodo, o são todos os reformadores.
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razão, se se acha preocupado com o mal e a injustiça do mundo, busca naturalmente emendá-la, primeiro, naquilo em que ela mais perto se manifesta; e encontrará isso no seu próprio ser. Levar-lhe-á essa obra toda a vida.
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Revolução? Mudança? O que eu quero deveras, com toda a intimidade da minha alma, é que cessem as nuvens átonas que ensaboam cinzentamente o céu; o que eu quero é ver o azul começar a surgir de entre elas, verdade certa e clara porque nada é nem quer.
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Não posso considerar a humanidade senão como uma das últimas escolas na pintura decorativa da Natureza.
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Narrar é criar, pois viver é apenas ser vivido.
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agir. Ninguém pode ser rei do mundo senão em sonho.
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O gato espoja-se ao sol e dorme ali. O homem espoja-se à vida, com todas as suas complexidades, e dorme ali.
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Serei sempre da Rua dos Douradores, como a humanidade inteira.
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Eu mesmo, que sufoco onde estou e porque estou, onde respiraria melhor, se a doença é dos meus pulmões e não das coisas que me cercam?
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Tudo que nos cerca se torna parte de nós, se nos infiltra na sensação da carne e da vida, e, baba da grande Aranha, nos liga subtilmente ao que está perto, enleando-nos num leito leve de morte lenta, onde baloiçamos ao vento.
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Tudo é nós, e nós somos tudo; mas de que serve isto, se tudo é nada?
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E eu, que odeio a vida com timidez, temo a morte com fascinação. Tenho medo desse nada que pode ser outra coisa, e tenho medo dele simultaneamente como nada e outra coisa qualquer, como se nele se pudessem reunir o nulo e o horrível,
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Tudo quanto fazemos, na arte ou na vida, é a cópia imperfeita do que pensámos em fazer.
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Senti-me feliz por não poder sentir-me infeliz.
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Contento-me, afinal, com muito pouco: o ter cessado a chuva, o haver um sol bom neste Sul feliz, bananas mais amarelas por terem nódoas negras, a gente que as vende porque fala, os passeios da Rua da Prata, o Tejo ao fundo, azul esverdeado a ouro, todo este recanto doméstico do sistema do Universo.
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Esta hora poderia eu bem solenizá-la comprando bananas, pois me parece que nestas se projetou todo o sol do dia como um holofote sem máquina.
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Uma só coisa me maravilha mais do que a estupidez com que a maioria dos homens vive a sua vida: é a inteligência que há nessa estupidez.
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Revejo, com um pasmo assustado, o panorama destas vidas, e descubro, ao ir ter horror, pena, revolta delas, que quem não tem nem horror, nem pena, nem revolta, são os próprios que teriam direito a tê-las, são os mesmos que vivem essas vidas.
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A verdade não está com ele nem comigo, porque não está com ninguém; mas a felicidade está com ele deveras.