More on this book
Community
Kindle Notes & Highlights
by
Stephen King
Read between
December 9, 2024 - January 8, 2025
Ele poderia ter dito essas coisas, mas ficou em silêncio. Não porque o sr. Amarelo não fosse compreender, mas porque aquele sorriso sabichão de lábios vermelhos dizia que talvez compreendesse.
— O que quero saber é: por que você não deixou Jimmy Gold em paz? Por que esfregou a cara dele na lama daquele jeito?
Era melhor morrer em fúria do que se acovardando e suplicando.
Era sua falta de imaginação, ele achava, o motivo pelo qual conseguia ler os gigantes da literatura moderna americana, ler e apreciar, mas não ser um.
Mas, no Centro de Detenção Juvenil Riverview, ele só tinha direito a cinco folhas de papel grosso por semana, longe de ser o bastante para começar a escrever o próximo grande romance americano.
Porque ele me fez sentir burro. Porque xingou minha mãe, e só eu posso fazer isso. Porque me chamou de garoto. Porque precisava ser punido por transformar Jimmy Gold em um deles. E, principalmente, porque ninguém com esse tipo de talento tem o direito de escondê-lo do mundo.
Não foi o assassinato que o incomodou, foi o talento desperdiçado. Uma vida inteira de aperfeiçoamento e formação destruída em menos de um segundo. Todas aquelas histórias, todas aquelas imagens, e o que saiu parecia mingau de aveia. Qual era o sentido?
Mais tarde, novamente encarcerado (não na detenção juvenil dessa vez), Morris pensaria: Foi nessa hora que decidi matá-los.
Eu só sabia que eles tinham que sumir, pensaria Morris naquelas noites na cela, quando a barriga cheia dos Estados Unidos estivesse descansando sob o edredom prosaico da noite. Era inevitável.
Morris não estava particularmente nervoso. Talvez o que diziam fosse verdade: depois do primeiro ficava mais fácil.
Ele não queria exatamente escutar os latidos, mas a casa era pequena e era quase impossível não ouvir…
O pai estava apoiado nas muletas, com os olhos vermelhos e as bochechas ásperas de barba por fazer, a mãe segurando a bolsa na frente do peito como um escudo e mordendo o lábio. Era horrível, e a pior parte? Peter os amava.
Ele era um amante. O maldito Rothstein o tinha rejeitado com O corredor reduz a marcha, mas isso não mudava o fato.
Primeiro, uma piada, depois, um elogio. Essas coisas bastaram para convencer Peter de que tinha feito a coisa certa.
Ele não se importaria de procurar nos cadernos para encontrar o começo da história. Para ver se era boa mesmo. Porque não dava para saber se um livro era bom só por uma página, dava?
Ele achava que, se não tivesse esperança e ambições quando era adolescente, estaria fodido mais para a frente.
Cada vez que o poema voltar à sua mente, vai parecer um pouco menos idiota e um pouco mais vital. Um pouco mais importante. Até brilhar, jovens senhoras e senhores. Até brilhar.
Peter não tivera nem uma dor de cabeça desde que desenterrara o baú, mas era o cavalinho de balanço dele, não era? Era. Seu próprio cavalinho de balanço.
Peter não fazia ideia de por que o sujeito fora para aquela cidade depois, nem de por que enterrara o baú, mas tinha certeza de uma coisa: o ladrão sobrevivente jamais voltaria para buscar.
Só que todo enredo se construía a partir de uma ideia, e nesse aspecto ele não estava fazendo progresso.
A professora era legal e muitas vezes tinha coisas interessantes a dizer, mas Peter estava chegando à conclusão de que escrita criativa não podia ser ensinada, só aprendida.
— Sinto muito por Chapel Ridge. Eu queria que o dinheiro não tivesse acabado.
Você pode usar blusas diferentes ou tênis às terças e quintas, pode fazer coisas diferentes no cabelo, mas, em pouco tempo, as garotas más descobrem que você só tem três casacos e seis saias boas para usar na escola.
Peter ficou deitado sem conseguir dormir por bastante tempo naquela noite. Pouco tempo depois, cometeu o maior erro de sua vida.
Para os leitores, uma das descobertas mais eletrizantes da vida era a de que eles eram leitores, não apenas capazes de ler
Um bom escritor não manda nos seus personagens, ele os segue. Um bom escritor não cria os eventos, ele os vê acontecerem e escreve o que vê. Um bom escritor se dá conta de que é um secretário, não Deus.
Ele achava que parte da culpa podia ser do bêbado que comprara uma garrafa de uísque para um menor de idade, mas a culpa maior era mesmo da mãe, e houve uma consequência boa: quando ele foi sentenciado, não tinha sinal daquele sorriso sarcástico. Ele finalmente o arrancara da cara dela.
As coisas do mundo iam ficando de lado, você perdia a velocidade, a visão e a porra do gingado, mas a literatura era eterna, e era isso o que o esperava: uma ilha perdida ainda não vista por ninguém além de seu criador.
Atualmente, ele se vira bem sozinho, mas também porque acredita ser o que Janelle gostaria que ele fizesse.
Agora que a presença do baú estava confirmada, ele teria que tomar cuidado: esse foi seu último pensamento.
Quando o banco tomar este lugar, e meu pai disse que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde, e um Au Bon Pain abrir aqui, vou vir comer um croissant em sua homenagem.
ele sabe que, se pudesse voltar no tempo, provavelmente faria quase tudo igual, porque na época os pais estavam prestes a se separar, e ele os amava muito para não tentar impedir que isso acontecesse.
Holly também devia ter aparecido na TV, pois foi tão corajosa quanto Jerome, e queriam que ela aparecesse, mas, durante aquela fase da vida, Holly Gibney preferiria engolir água sanitária a aparecer na frente de câmeras de televisão e responder a perguntas.
Holly escuta com atenção, e os tiques típicos de quem tem síndrome de Asperger desaparecem, como sempre acontece quando ela está concentrada.
— Pais podem ser muito burros — diz ela, e sai.
O sr. McFarland pode achar que ele está velho demais para ser um lobo, mas o que seu oficial de condicional não sabe é que Morris já matou três pessoas, e dirigir um carro não é a única coisa que parece com andar de bicicleta.
Morris se sente tão vazio quanto aquele baú velho ao luar. Tudo pelo que viveu nos últimos trinta e seis anos foi destruído como uma barraca em uma inundação.
Só tem um jeito certo de descobrir, e só um jeito de descobrir se o velho lobo ainda tem dentes. Ele tem que fazer uma visita ao colega. Seu velho amigo.
— Nada. É bom ter alguém com quem ir ao cinema. Fico feliz de você ser meu amigo, Bill.
Mas é claro que parte dele quer usá-la. Parte dele quer machucar o velho amigo. Porque, independentemente dos cadernos, os dois ainda têm contas a acertar. Afinal, é como dizem: aqui se faz, aqui se paga.
O garoto Saubers leu o que era para ser de Morris e só de Morris. É uma injustiça grave que precisa ser resolvida.
— Quem disse que não sou um lobo, sr. McFarland? — pergunta ele ao escritório vazio. — Quem disse?
Ninguém passeia de graça, e, no final, até os melhores barcos afundam, glub-glub-glub. O único jeito de equilibrar isso, na opinião de Hodges, é aproveitar ao máximo cada dia na superfície.
Não há muito perigo de fuga quando o bandido não consegue nem ir ao banheiro sozinho.
É um cabelo pelo qual alguma garota adoraria passar os dedos, pensa Hodges. Se não soubesse o monstro que ele era.
Sabe que tem alguém no quarto com ele? São perguntas cujas respostas uma equipe inteira de neurologistas adoraria descobrir. Hodges também, e se senta na ponta da cama pensando: Era um monstro? Ou ainda é?
— Espero que seja lá que você esteja agora, Brady. Vagando dentro do seu cérebro semicatatônico e procurando a saída. Só que não tem saída para você. Para você, a ressaca é eterna. É assim? Caramba, espero que sim.