Considerações importantes na escolha de um gestor
Rodrigo Constantino, Valor Econômico
Uma conferência recente de um grande banco de investimento, com os principais executivos das empresas brasileiras de capital aberto, suscitou reflexões acerca da competitividade da indústria de gestão de recursos no país.
O evento estava completamente lotado, com vários rostos novos enchendo o local. Com baixa barreira à entrada, diversas gestoras de recursos nasceram nos últimos anos. Com o grosso do capital nas mãos de poucos distribuidores, alguns negócios crescem exponencialmente, mas a taxa de mortalidade também é elevada.
Como sobreviver e oferecer bom retorno ao longo do tempo nesse setor tão dinâmico e concorrido? Abaixo, pretendo abordar dez pontos que julgo relevantes na hora de escolher um bom gestor de recursos.
1) O alinhamento de interesses é fundamental. Muitas gestoras começam a entregar resultados medíocres porque se transformam em negócios de taxa de administração, perdendo o foco na performance. O ideal é buscar gestores com boa parcela de seu patrimônio nos mesmos fundos dos clientes, e com parcela elevada de capital próprio no total gerido.
2) Investir em capital humano é crucial. Esse negócio depende basicamente das pessoas, e as gestoras que não souberem atrair os melhores, treiná-los e mantê-los motivados dificilmente terão condições de se destacar no longo prazo.
3) A ética das pessoas envolvidas na gestão é fator preponderante na hora de escolher o gestor. Alguns gestores podem parecer superiores aos demais por algum período, mas sem confiança em sua postura ética, cedo ou tarde alguma decepção grande será inevitável.
4) A meta deve ser correr uma maratona, não os cem metros. Os gestores devem ter em mente que um negócio bem-sucedido se constrói ao longo do tempo, gradativamente e com cautela. A tentação de crescer de forma muito acelerada deve ser evitada para se preservar o retorno e o foco no longo prazo.
5) O resultado dessa postura é uma administração cuidadosa do passivo. A concentração elevada em poucos e grandes distribuidores representa risco excessivo para o negócio, pois as reviravoltas no desempenho são inevitáveis, e os resgates em massa de clientes descompromissados podem afetar drasticamente as chances de sobrevivência.
6) Basta olhar em volta para ter ideia de quanta gente preparada, inteligente e disposta a trabalhar duro existe no setor. O corolário disso é que o gestor deve sempre manter extrema humildade, respeitando o mercado. Isso não quer dizer, naturalmente, que este estará sempre certo. Ser um pensador independente e assumir posturas contrárias aos movimentos de manada costumam render bons resultados, especialmente em apostas assimétricas. Mas a arrogância pode ser fatal nessa indústria.
7) Depender da "genialidade" de um gestor pode representar um perigo gigantesco. O melhor é contar com uma equipe capaz e disposta ao trabalho árduo, reconhecendo os limites do poder de previsão do futuro. O processo de decisão deve ser mais importante que o brilhantismo de um único indivíduo.
8) Existem diversas maneiras de se ganhar dinheiro nos mercados, e mais ainda de se perder. Acredito que mais de uma estratégia pode ser vencedora, e o mais importante é adequá-la ao perfil dos gestores. Dependendo da tolerância ao risco, da personalidade, do horizonte, tipos distintos de gestão podem fazer sentido. Tanto a abordagem macro quanto a micro, ou então um misto delas, podem funcionar. Não existe somente uma estratégia certa. O importante é focar nas vantagens competitivas da equipe.
9) O controle de custos é importante e pode ser observado em alguns detalhes aparentemente sem importância. Gestoras que se mostram descuidadas com o dinheiro, gastando muito com bobagens, estão desperdiçando recursos escassos e afetando o retorno dos clientes. É preciso estar preparado para o inverno, pois ele é inexorável nesta indústria, e mesmo os melhores gestores enfrentam momentos delicados de desempenho pífio.
10) Por fim, a sorte é sempre bem-vinda. Claro que quanto mais se trabalha, mais a sorte costuma aparecer. Gestão não é cassino, e quem busca adrenalina deve ir para Las Vegas. Mas é importante reconhecer o papel da sorte no resultado final, até para reforçar a postura humilde diante dos mercados.
Mais importante do que estar certo o tempo todo - tarefa impossível na prática - é ganhar muito quando acertar, e limitar bastante o prejuízo quando errar. Disciplina é crucial, pois os mercados podem permanecer irracionais por mais tempo do que o gestor solvente. Boa sorte a todos!
Uma conferência recente de um grande banco de investimento, com os principais executivos das empresas brasileiras de capital aberto, suscitou reflexões acerca da competitividade da indústria de gestão de recursos no país.
O evento estava completamente lotado, com vários rostos novos enchendo o local. Com baixa barreira à entrada, diversas gestoras de recursos nasceram nos últimos anos. Com o grosso do capital nas mãos de poucos distribuidores, alguns negócios crescem exponencialmente, mas a taxa de mortalidade também é elevada.
Como sobreviver e oferecer bom retorno ao longo do tempo nesse setor tão dinâmico e concorrido? Abaixo, pretendo abordar dez pontos que julgo relevantes na hora de escolher um bom gestor de recursos.
1) O alinhamento de interesses é fundamental. Muitas gestoras começam a entregar resultados medíocres porque se transformam em negócios de taxa de administração, perdendo o foco na performance. O ideal é buscar gestores com boa parcela de seu patrimônio nos mesmos fundos dos clientes, e com parcela elevada de capital próprio no total gerido.
2) Investir em capital humano é crucial. Esse negócio depende basicamente das pessoas, e as gestoras que não souberem atrair os melhores, treiná-los e mantê-los motivados dificilmente terão condições de se destacar no longo prazo.
3) A ética das pessoas envolvidas na gestão é fator preponderante na hora de escolher o gestor. Alguns gestores podem parecer superiores aos demais por algum período, mas sem confiança em sua postura ética, cedo ou tarde alguma decepção grande será inevitável.
4) A meta deve ser correr uma maratona, não os cem metros. Os gestores devem ter em mente que um negócio bem-sucedido se constrói ao longo do tempo, gradativamente e com cautela. A tentação de crescer de forma muito acelerada deve ser evitada para se preservar o retorno e o foco no longo prazo.
5) O resultado dessa postura é uma administração cuidadosa do passivo. A concentração elevada em poucos e grandes distribuidores representa risco excessivo para o negócio, pois as reviravoltas no desempenho são inevitáveis, e os resgates em massa de clientes descompromissados podem afetar drasticamente as chances de sobrevivência.
6) Basta olhar em volta para ter ideia de quanta gente preparada, inteligente e disposta a trabalhar duro existe no setor. O corolário disso é que o gestor deve sempre manter extrema humildade, respeitando o mercado. Isso não quer dizer, naturalmente, que este estará sempre certo. Ser um pensador independente e assumir posturas contrárias aos movimentos de manada costumam render bons resultados, especialmente em apostas assimétricas. Mas a arrogância pode ser fatal nessa indústria.
7) Depender da "genialidade" de um gestor pode representar um perigo gigantesco. O melhor é contar com uma equipe capaz e disposta ao trabalho árduo, reconhecendo os limites do poder de previsão do futuro. O processo de decisão deve ser mais importante que o brilhantismo de um único indivíduo.
8) Existem diversas maneiras de se ganhar dinheiro nos mercados, e mais ainda de se perder. Acredito que mais de uma estratégia pode ser vencedora, e o mais importante é adequá-la ao perfil dos gestores. Dependendo da tolerância ao risco, da personalidade, do horizonte, tipos distintos de gestão podem fazer sentido. Tanto a abordagem macro quanto a micro, ou então um misto delas, podem funcionar. Não existe somente uma estratégia certa. O importante é focar nas vantagens competitivas da equipe.
9) O controle de custos é importante e pode ser observado em alguns detalhes aparentemente sem importância. Gestoras que se mostram descuidadas com o dinheiro, gastando muito com bobagens, estão desperdiçando recursos escassos e afetando o retorno dos clientes. É preciso estar preparado para o inverno, pois ele é inexorável nesta indústria, e mesmo os melhores gestores enfrentam momentos delicados de desempenho pífio.
10) Por fim, a sorte é sempre bem-vinda. Claro que quanto mais se trabalha, mais a sorte costuma aparecer. Gestão não é cassino, e quem busca adrenalina deve ir para Las Vegas. Mas é importante reconhecer o papel da sorte no resultado final, até para reforçar a postura humilde diante dos mercados.
Mais importante do que estar certo o tempo todo - tarefa impossível na prática - é ganhar muito quando acertar, e limitar bastante o prejuízo quando errar. Disciplina é crucial, pois os mercados podem permanecer irracionais por mais tempo do que o gestor solvente. Boa sorte a todos!
Published on February 22, 2011 02:28
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