Prey for the Gods, um Shadow of the Colossus para PC (e o chilique resultante)
Eu não preciso te falar que sou um grandíssimo fã de Shadow of the Colossus porque é difícil conhecer um gamer que NÃO seja. Mas mesmo assim, eu vou te falar.
Shadow of the Colossus capturou minha imaginação desde a primeira vez que vi o trailer. Aliás, é curioso como o framerate do jogo era capenga — eu já sabia, através de comparações no YouTube, que o framerate do release original pra PS2 era sofrível, mas eu tinha esquecido que já era possível ver isso no próprio trailer do jogo. Tínhamos uma tolerância maior naquela época, acho.
Aliás, fui dar uma olhada nas resenhas da época (pra ver se listavam o framerate epilético como demérito do jogo) e me surpreendi com o layout berrantemente escroto da IGN, que era naquele período o site gamer que eu mais visitava. Alguém ainda aguenta ler essa merda?! Aliás, alguém ainda lê a IGN…?
Enfim. Comprei o jogo assim que saiu e zerei em menos de dois dias, tamanha foi a minha conexão com a história. Alternando o Dualshock com meu irmão, ora eu controlava o Wander, ora sugeria ao meu irmão estratégias de como derrotar os colossos. Jogão. Jogão FODA. Existe um motivo pelo qual o jogo sempre consta na discussão “seriam videogames arte?” (que, sinceramente, em 2015 me soa bem datado).
De lá pra cá, é notável o número de jogos que não surgiram se baseando na mesma fórmula. Com exceção de algumas batalhas de chefões do God of War (bom, o primeiro God of War saiu alguns meses antes de SOTC, mas enfim), e mais recentemente o semi-desconhecido Dragon’s Dogma, esse negócio de “bonequinho minúsculo montando em bichões enormes” permaneceu um território relativamente não explorado.
Até agora.
O ambicioso Prey for the Gods — um trocadilho interessante de Pray (rezar) e Prey (presa) — parece finalmente resgatar, uma década depois, aquele gameplay que fez de SOTC uma experiência tão ímpar. Sabe-se pouco sobre o game no momento, além do fato de que a protagonista é uma garota que vive numa região amaldiçoada com um inverno sem fim, e aparentemente a única solução pro problema é matar os próprios deuses a quem a garota (e presumivelmente seu povo) cultua. Esses bichões imensos aí.
A internet obviamente começou a chilicar assim que o trailer apareceu. Versão paraguaia de Shadow of the Colossus, disseram em uníssono. Uma cópia barata e vergonhosa. Nossa, como eu detesto a comunidade gamer as vezes.
Eu acho isso particularmente curioso porque gamers, de forma geral, não são exatamente o grupo que mais preza por direitos autorais. Somos, afinal de contas, a galera que tornou o PS2 o console mais popular no Brasil porque era moleza acumular uma pasta lotada de DVDs piratas. Ou que tomamos banimentos em massa da Xbox Live por tentar a mesma coisa na geração seguinte, mas continuamos acreditando firmemente que nós somos a vítima da situação.
Ou que baixamos ROMs rindo da (agora ultrapassada) recomendação de que só poderíamos manter as ROMs por 24 horas — algo que nunca foi verdade, a propósito. Colocamos vídeos de gameplay no YouTube quer as empresas detentoras da propriedade intelectual queira ou não — e frequentemente elas não querem. Usamos livremente as figuras de personagens de games como identidade virtual em fóruns, sites de redes sociais e o caralho. Somos uma das poucas comunidades que é tão dedicada à pirataria que isso requer gambiarras complexas e hardware específico. Ou tu acha que bootloaders e flashcarts são coisas amplamente conhecidas pela população “civil”?
Por essas e outras, esses berros estridentes reclamando do desrespeito com propriedade intelectual me soa absurdamente hipócrita vindos dessa comunidade. Se tem um subgrupo que definitivamente não deveria atirar pedras por desrespeito com copyright, somos certamente nós.
E não me venham com o argumento de que “ah, o problema não é exatamente o copyright, é a falta de originalidade mesmo!”. Eu aceitaria essa reclamação se não fosse direcionada contra uma indústria que fez 89 Call of Duty, 136 Tony Hawk’s Pro Skater ou 7891 Rock Band. Tem um novo FIFA TODO ANO, todo santo ano, a despeito do fato de que o futebol é essencialmente o mesmo jogo desde os tempos do FIFA International Soccer.
Qual exatamente é a justificativa pra lançarem um novo FIFA todo ano?! Ah, é porque a tecnologia gráfica avança TANTO de um pro outro, o gameplay é remodelado com tanto afinco a cada iteração da série, que no FIFA 54 vai dar pra distinguir cada pelinho da barba dos jogadores e você poderá controlar cada membro individual do corpo do jogador?
Porra nenhuma mano. Só mesmo um total aficcionado pela série, do tipo que lê todos os changelogs entre uma versão de um software pro outra, poderia distinguir com precisão um FIFA novo da versão do ano passado. Aliás, eu arriscaria dizer que se tu colocar alguém pra ver um jogo de FIFA 16 e FIFA 13, a pessoa não conseguiria discernir qual é qual.
Excetuando os menus, evidentemente — através deles é mais fácil distinguir um jogo do outro. Só que eu tenho certeza que você não compra o novo FIFA por causa das melhorias na tecnologia de menus animados então não engane a si mesmo usando isso como argumento.
“Ah mas os uniformes do 16 são diferentes…” se a mudança de uma pequena textura no corpinho dos jogadores virtuais é justificativa suficiente pra lançar um novo jogo — pelo preço inteiro –, acho que você provou meu ponto.
Especialmente quando essa é exatamente a ÚNICA justificativa honesta pra DLC. Não há como os desenvolvedores anteciparem como o uniforme do Itapipoca Esporte Clube mudará ano que vem, ou quem será o goleiro do Pinhalnovense depois do campeonato, então pagar um pouquinho extra pra ter os times atualizados faria sentido pra quem quer. Só que vender um jogo por 200 reais no ano seguinte faz mais sentido pra desenvolvedora, óbvio.
ALÉM DO MAIS, chega a ser realmente surpreendente que a fórmula do Shadow of the Colossus ficou praticamente intocada por uma década. Jogos muito impactantes costumam, pra melhor ou pra pior, render uma série de filhos bastardos — pra cada GTA teve um Saints Row; pra cada Quake, um Unreal; pra cada Medal of Honor, um Call of Duty; pra cada Putt Putt teve… nada, pois Putt Putt foi incomparável.

10/10
Porra, passaram-se 10 anos, galera. O próprio Team ICO, que que está trabalhando no The Last Guardian desde 2007 (!) e que até hoje nos mostrou bem pouco, parece ter abandonado completamente aquele tipo de gameplay. Não vejo absolutamente nada de errado em deixar outra empresa trabalhar com aquilo.
E tem mais. Esses pessimistas profissionais aí já pararam pra pensar que talvez, TALVEZ, Prey for the Gods acaba sendo uma experiência MELHOR que Shadow of the Colossus? Eu sei que estou beirando o sacrilégio, mas não é como se isso nunca tivesse acontecido antes — na época do lançamento de Uncharted, tinha gente dizendo que não era nada senão um plágio de Tomb Raider:

Mimimimi
Hoje, alguém desqualificando Uncharted como “uma mera cópia sem graça de Tomb Raider” soa ridículo, não é? Assim como alguém que chamasse Half Life de medíocre porque “é basicamente (insira qualquer FPS que saiu antes)”. Aliás, sabe o universalmente celebrado Portal?
Aposto que tu não sabia que o conceito dele foi inteiramente copiado de outro jogo:
Se deve haver alguma cautela na sua expectativa por Prey for the Gods, isso se deve mais ao fato de que o time é composto apenas por 3 caras que fazem o jogo no seu horário livre. Vai ser realmente desafiador sair um jogo de alto calibre de um time tão pequeno, mas estou esperançoso de que o jogo será interessante mesmo assim.

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