Cantinho do Céu

13.2.15.jpegQuanto ao nosso terrorista, sou o único que não tem uma história com ele. Vejo as fotos na sua página de Facebook e, de facto, conheço aquela cara. Mas não consigo ligá-la a nenhuma situação em concreto, a nenhum lugar ou momento, e tenho a forte impressão de que nunca falei com a pessoa.


Chego a sentir-me excluído.


Amigos que trabalharam com ele no hospital descrevem-no como um companheirão que lhes tirava fotocópias à borla. Aficionados garantem que ninguém, em toda a ilha, tirava tão boas fotografias de toiros. Circunstantes sem uma ligação em particular, mas com atenção às coisas e às gentes, garantem que era um bom rapaz que, infelizmente, se deixou levar.


Ouve-se muito a palavra “eu”, como sempre nestes casos, e em todos os lugares.


“Mas, então, é um pobre diabo?”, arrisco. Ah, não. É um jihadista, e dos mais perigosos. Não lhe tivesse a CIA deitado a mão e já tinha rebentado com o hospital, a Igreja da Sé e o Monte Brasil. Matéria nuclear ter-se-ia derretido, infiltrado no solo e viciado a própria rotação da Terra. A Coreia do Norte haveria de querer contratá-lo.


A Arábia Saudita.


O Obama.


O nosso terrorista é tão bom quanto isso. Uma pessoa vai no Alto das Covas e o Estado Islâmico pagava-lhe sete mil euros por cada fotografia da base. Desce a Rua da Sé e, quando chega à Praça Velha, o valor vai em sete milhões. Se pensarmos bem, o homem mudou três vezes de carro nos últimos anos. Ou melhor, cinco. Ou melhor, comprou o stand da Toyota. E aquelas máquinas fotográficas, já se sabe, são caríssimas.


Não há pai para o nosso terrorista. O melhor terrorista é o nosso, e ainda bem que estão aí à porta os bailhinhos de Carnaval, que temos muito para botar cá para fora.


* Diário de Notícias, Fevereiro 2015

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Published on February 13, 2015 01:02
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